Notícia PÚBLICO: Agora é a mata do Gerês que está arder desde sábado.
Depois do verdadeiro cenário dantesco que vi na noite do dia 10 de Agosto ao descer para as pontes do Rio Caldo e depois ao subir para as Caldas do Gerês, é-me difícil descrever os sentimentos que me preenchem a alma neste momento.
Se para mim aquele cenário era perfeitamente previsível desde as ameaças que foram lançadas há já vários meses, o mar de chamas que pinta de negro a encosta Este do Vale do Rio Gerês só surpreende quem não está a par da realidade e vive num mundo de fantasia.
Juntando este ingrediente a uma criminosa falta de prevenção e a uma total ausência de meios, obtemos como resultado o grande incêndio que consome as encostas geresianas.
Ao se ler os relatórios da Autoridade Nacional de Protecção Civil é-se levado a crer que estamos perante um reacendimento do incêndio que lavrou na encosta da Calcedónia, mas tal não é verdade. O incêndio declarado às 13:15 do dia 10 de Agosto resultará certamente de actos criminosos e é assim um incêndio independente do que deflagrou na Calcedónia. Por outro lado, e a provar esta tese, está o facto de se ter declarado (apesar de não surgir na página da Autoridade Nacional de Protecção Civil) um foco de incêndio perto da Casa Abrigo do Ventuzelo na encosta Oeste do Vale do Rio Gerês que não terá resultado de uma projecção mas sim de uma tentativa de queimar toda a encosta até à Pedra Bela. Felizmente, os bombeiros conseguiram controlar este foco de incêndio já depois das 23:00.
Este incêndio do dia 10 de Agosto levou a que fosse decretado o Plano de Emergência de Terras de Bouro dando origem à evacuação do Parque de Campismo do Vidoeiro. No entanto, nesta altura questiono se esta terá sido uma boa opção ou se terá sido uma atitude alarmista? Se existe a consciência que as forças de combate a incêndios no terreno não são suficientes para garantir a segurança do Parque de Campismo, então a opção tomada terá sido a correcta (apesar de ser preocupente), caso contrário terá sido uma atitude que coloca em sobressalto dezenas de pessoas que provavelmente não terão outro local onde ficar. De referir que o Parque de Campismo da Travanca foi também evacuado a meio da tarde do dia 10 (notícia JN).
Estamos assim perante um cenário bastante deprimente com um Parque Nacional sem meios de prevenção e combate. Teve a situação de chegar a um ponto limite para que fossem accionados meios suficientes para o combate ao fogo.
Em entrevista dada ao Jornal de Notícias, o Secretário de Estado do Ambiente negou "que haja falta de meios no Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), garantindo que todas as viaturas de primeira intervenção estão no terreno." O Secretário de Estado do Ambiente vem assim provar que não está a par da realidade do Parque Nacional da Peneda-Gerês ou então mente deliberadamente aos portugueses e como tal deveria ser demitido ou demitir-se. O Parque Nacional da Peneda-Gerês debate-se há meses com falta de dinheiro, chegando-se ao limite de não haver fundos para se proceder à troca de fltros de óleo de viaturas, à renovação dos calços dos travões de outros, ou mesmo da impossibilidade de se proceder à revisão anual. Todos estes problemas já foram tratados neste blogue. Com o aperto, o actual Secretário de Estado do Ambiente vem referir que apesar da contenção orçamental, o ICNB aguarda a chegada de oito viaturas de primeira intervenção e de mais viaturas para acções de vigilância. Talvez se estas viaturas tivessem chegado mais cedo, não estariamos perante tamanha catástrofe no nosso único parque nacional.
O cúmulo da ignorância do Secretário de Estado do Ambiente é atingido quando "(...) questionado pelos jornalistas sobre a alegada falta de limpeza na zona ardida do parque, o secretário de Estado garantiu que as notícias sobre o assunto "não são verdadeiras". Todos os anos fazemos intervenções de silvicultura preventiva, mas não é possível esperar que a tarefa magna e longa da prevenção fique concluída de um ano para o outro", afirmou." Este senhor é um mentiroso e deve ser imediatamente demitido pois não está a par da realidade do Parque Nacional e como tal não tem a capacidade nem inteligência suficiente para servir o país! Um curto passeio pelas florestas do parque nacional desmascaram por completo esta verborreia política!
Da mesma forma o Governador Civil de Braga deveria pensar nas palavras que proferiu e pedir desculpa aos habitantes da Peneda-Gerês após ter referido que a situação do incêndio de Vilarinho da Furna não ser caótica! A verdade é que a Mata do Cabril corre perigo e contra factos não há argumentos...
Com o surgimento de mais incêndios em Lapela, Adrão e Sobredo, faço aqui um resumo da situação dos incêndios no Parque Nacional da Peneda-Gerês às 00:45:
- Incêndio de Vilarinho da Furna: pelas 21:55 de 10 de Agosto continuava com várias frentes activas, com acessos difíceis e vento forte. Pelas 10:15 o incêndio encontrava-se com várias frentes activas.
- Incêndio da Calcedónia (deveria ter outra designação!): pelas 22:09 o incêndio tinha 3 frentes activas e pelas 23:42 o Secretário de Estado do Ambiente, Governador Civil e Presidente da Câmara Municipal estavam no local. De notar que este incêndio dirige-se para a albufeira da Barragem da Caniçada, ameaçando casas e a Central Hidroeléctrica da caniçada. É possível que a Casa Abrigo da Bela Vista tenha ardido! Pelas 7:53 o Comandante Operacional Distrital estava a caminho do teatro de operações. Às 8:00 o incêndio encontrava-se com duas frentes activas ao mesmo tempor que eram accionados dois helicópteros bombardeiros pesados Kamov. Pelas 10:20 incêndio com 2 frentes activas.
- Incêndio do Mezio / Travanca: pelas 20:21 o combate estava a evoluir favoravelmente. Pelas 21:21 o incêndio encontrava-se com 2 frentes activas. Pelas 10:20 o incêndio encontrava-se com uma frente activa em zona de acessos difíceis.
- Incêndio de Lapela: declarado às 21:46. Pelas 23:23 encontrava-se no local o Comandante das Operações de Socorro (COS) - 2º Comandante do Corpo de Bombeiros de Salto. Incêndio com uma frente activa. O incêndio estava dominado pelas 2:53. Reacendimento às 8:01. Pelas 10:00 o incêndio estava com uma frente activa e encontrava-se no local o COS - Comandante Operações Socorro: Bombeiro de 3ª do Corpo de Bombeiros de Salto.
- Incêndio de Adrão / Soajo: declarado às 21:47. Encontra-se no local (22:06) o Comandante das Operações de Socorro (COS) - Bombeiro de 1ª do Corpo de Bombeiros de Arcos de Valdevez. Pelas 0:11 do dia 11 de Agosto o incêndio estava com uma frente activa e pelas 0:12 chegava o Vereador da Protecção Civil de Arcos de Valdevez e Técnico do Gabinete Florestal. O incêndio estava dominado pelas 7:18.
- Incêndio de Sobredo: declarado às 21:51. Pelas 0:07 do dia 11 de Agosto o incêndio encontrava-se com 2 frentes activas. O incêndio estava dominado pelas 2:33.
- Incêndio de Touvedo: pelas 22:56 o incêndio encontrava-se com 2 frentes activas. O incêndio estava dominado pelas 2:21.
7 comentários:
O que dizer? Já está tudo dito... Vendo a pagina da protecção civil só se lê PNPG, PNPG... incêndios a começar as 21h e por ai adiante...
inacreditável!
Relativamente à entrevista desse fantoche, aldrabão mandatado para proferir umas palavras de circunstância, escudando a ministra que deve estar de ferias, convém salientar a seguinte afirmação: "Em 2006 houve um incêndio na mata do Ramiscal e muita gente disse, na altura, que se perdera a mata, mas não, ela sobreviveu,o mesmo pode suceder em Cabril, se o fogo lá chegar, pois há árvores de grande envergadura que podem sobreviver"
O vendedor de banha de cobra já está a preparar terreno?
Esta é a verdadeira constatação de que o incêndio já poderá ter chegado à Mata do Cabril!
Rui, o JN já noticia isso na sua edição de hoje.
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1638326
Os incendios de Adrão, Lapela e Sobredo começam todos por volta das 21h45 em zonas bem distintas do PN. Neste mundo há com cada coincidência!
Estive perto da algumas das frentes dos incêndios activos perto da Vila e é incrível a falta de coordenação de toda aquela gente. O caso mais gritante foi evacuarem o Parque de Campismo e em seguida cortarem as estradas...
No mínimo exige-se que rolem cabeças, ou seja, que haja vergonha na cara e que apareçam demissões.
Rui, muitos são os dias em que visito o teu blog e fico com um enorme sorriso graças ao que o pn tem de melhor, as vistas, os trilhos, as caminhadas, mas desde domingo que tem sido a origem da minha completa má disposição e tristeza e mais ainda não presenciei tais crimes com os meus olhos mas tenho a certeza que quando o fizer vai ser chocante. Não há maneira de cair uma chuvada, pois todos nós sabemos que é a única maneira de acabar com isto, isto numa visão muito redutora e pessoal porque o que me remete para a verdadeira tristeza é todo esse ecossistema em risco, que isso sim é muito mais importante do que uma visão pessoal.
Ontem da parte da tarde a frente que progredia para a Mata do Cabril estava dominada. O Secretário de Estado tem noção da realidade? Não me parece.
O que está a acontecer no parque era previsível, a ameaça pairava no ar. Inacreditável é a descoordenação existente no incêndio de Vilarinho das Furnas onde andam meia dúzia de gatos pingados sem qualquer logística a efectuar combate com material sapador.
O PNPG arde todos os anos e de ano para ano o que melhora? Nada. Não existe um único plano de prevenção contínuo, dá ideia que o parque pouco se importa que arda ou não o Gerês.
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