sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Actualização dos incêndios no PNPG (XXV) - O engodo


Muita da informação que recebemos sobre os incêndios florestais é controlada. Porque razão? Muitas e várias razões que eu penso que o leitor será capaz de enumerar algumas, mas por exemplo para dar uma certa verdade a estatísticas; para mostrar uma certa obra feita; para esconder a dura realidade do fracasso de decisões tomadas e que custam ao país milhões de euros. O problema é que acabamos por nos habituar a sermos enganados e não nos importamos, o que por um lado demonstra o pouco valor que atribuímos a uma certa «liberdade» conquistada em Abril de 1974.

Somos então enganados e vamos continuando como que mortos-vivos sem vontade própria com o único intuito de alimentar o nosso ser que por cá anda... até um dia termos, possivelmente, o nome inscrito numa lápide de granito, indiferenciada no meio de tantas outras.

A informação que nos é fornecida sobre os incêndios no Parque Nacional da Peneda-Gerês foi controlada desde o princípio para não nos mostrar a verdadeira magnitude do que se passa. Aliás, o problema não se coloca somente no nosso único parque nacional, passa-se em todo o país.

Por muito que queiram pintar o belo cenário, todos estes incêndios eram previsíveis, como já várias vezes referi. Porém, hoje deparamo-nos com duas situações que são demonstrativas do que se passa no parque nacional. Comecemos pelo que disse a Ministra do Ambiente: “o dispositivo previamente organizado na primavera (para combate aos fogos) está a funcionar bem”. Calma! Vamos lá ver de novo, “o dispositivo previamente organizado na primavera (para combate aos fogos) está a funcionar bem”. Estas são palavras da Ministra do Ambiente de Portugal, Dulce Pássaro. E tam mais, “A minha perceção é que estamos a fazer tudo no combate e a situação está absolutamente controlada." Simplesmente, demita-se!

A outra situação está relacionada com a informação que nos é dada sobre o incêndio que agora consome a Mata do Cabril. A informação é dada de forma dissimulada, referindo-se a um «incêndio de Cabril». Felizmente, a informação que foi disponibilizada sobre a sua localização não deixa margem para dúvidas e o pior que se temeu nos últimos dias, veio realmente a acontecer (como já por várias vezes havia aqui levantado a questão)!

Infelizmente, não se aprendeu com os erros do passado quando um incêndio afectou outras zonas importantes do parque nacional e agora sentimo-nos todos mais pobres.

A situação operacional sobre os incêndios no Parque Nacional da Peneda-Gerês é a seguinte:

- Incêndio da Mata do Cabril: declarado às 8:46 e resultante da má coordenação ao combate ao Incêndio de Vilarinho da Furna que passando o Muro atingiu a Mata do Cabril. Pelas 10:46 estava com uma frente activa e no local estava o COS - Comandante Operações Socorro: Comandante do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro (GIPS) da GNR. Às 11:40 estavam a actuar dois aviões bombardeiros espanhóis. Pelas 15:44 continuava com uma frente activa.


- Incêndio da Calcedónia: pelas 8:00 era accionado um helicóptero Kamov e às 8:28 o incêndio encontrava-se com uma frente activa. Pelas 9:33 chegava ao local uma máquina de rastos da Câmara Municipal de Terras de Bouro e às 11:07 encontrava-se no local o COS - Comandante Operações Socorro: Comandante Operacional Distrital (CODIS). Às 14:59 era accionado Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF3). Pelas 15:03 o incêndio mantinha-se com uma frente activa (até às 18:00).

- Incêndio do Mezio/Travanca: às 8:00 era accionado helicóptero bombardeiro pesado Kamov e às 9:15 eram accionados dois aviões bombardeiros pesados Canadair Franceses da Força de Reserva Táctica da União Europeia, sendo accionado um novo helicóptero Kamov às 10:42 e accionados dois aviões bombardeiros pesados Canadair espanhóis. Pelas 14:41 estava a caminho do local o 2º Comandante Operacional Distrital (2º CODIS) de Viana do Castelo e às 15:10 estavam no local o Secretário de Estado da Protecção Civil, Governador Civil de Viana do Castelo, Vereador da Protecção Civil Municipal de Arcos de Valdevez, Comandante Operacional Distrital (CODIS) de Viana do Castelo e Técnico do Gabinete Técnico Florestal (GTF) presentes no local. Uma uma máquina de rastos da Câmara Municipal de Arcos de Valdevez chegava às 16:53. Pelas 17:35 o incêndio contava com 4 frentes activas!!

- Incêndio em Portela do Monte: declarado às 11:27 e às 13:31 tinha duas frentes activas em zonas de difíceis acessos. Nesta altura estava no local o COS - Comandante Operações Socorro: Bombeiro de 1ª do Corpo de Bombeiros de Salto. O incêndio foi dominado às 17:01.

- Incêndio de Vilarinho da Furna: o incêndio foi dado como dominado pelas 5:25, mas às 12:40, e em resultado de um reacendimento, eram accionados dois aerotanques ligeiros Airtractor. Pelas 14:00 estava com uma frente activa passando a 2 frentes activas às 14:57. O incêndio foi novamente dominado às 17:43.


- Incêndio de Fafião: incêndio com 3 frentes activas às 0:41 e com uma frente activa às 6:05. O incêndio foi dominado às 7:02.
 
Edições on-line:
 
Correio do Minho Gerês a arder e Terras de Bouro a complicar
PÚBLICO: Chamas atingem Mata do Cabril no Gerês.
PÚBLICO: Cavaco e Sócrates apelam à responsabilidade civil na prevenção de incêndios.
Diário de Notícias: Combate é "trabalho de todos os portugueses".
Diário de Notícias: Já arderam 18 mil hectares de floresta protegida.
  
Fotografias © Rui C. Barbosa

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