terça-feira, 31 de outubro de 2023

Trilho das Bruxas 2023 - Evento cancelado

 


Devido às condições meteorológicas extremamente adversas previstas também para o próximo fim de semana, a Associação Gerês Viver Turismo foi obrigada a cancelar o evento Trilho das Bruxas deste ano. 

A organização estava ansiosa para proporcionar-vos uma experiência incrível, no entanto, as Bruxas continuam a “assombrar” este evento.

Serra do Gerês - Entre o Campo do Gerês e a Albergaria por Junceda e Leonte

 


A última caminhada de Outubro de 2023 levou-me desde o Campo do Gerês até à Mata de Albergaria, com regresso ao ponto de partida pela Estrada da Geira.

A parte inicial do percurso levou-me até à Chã de Junceda e à Casa Florestal de Junceda seguindo o traçado da Grande Rota da Peneda-Gerês. 



Iniciando a caminhada junto da Igreja do Campo do Gerês, segui em direcção ao Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna e Museu da Geira na Porta de Campo do Gerês. Depois, segui a estrada municipal por cerca de 400 metros, na direção da aldeia, flectindo à direita, no sítio identificado por um marco miliário para um caminho rural que acompanham um pequeno ribeiro. Mais adiante, atravessei o ribeiro por uma pequena e a partir daqui, inicia-se a subida até Junceda, seguindo nos primeiros quilómetros pela vertente da corga do Coval, um vale profundo, de vegetação abundante, formado pelas nascentes do Cabeço de Pinheiro, até chegarmos à Chã do Salgueiral e depois à zona do Cabeço de Pinheiro.

Aqui, o percurso atravessa uma zona relativamente húmida, alagada em períodos de forte pluviosidade. O tipo de vegetação que aqui ocorre enquadra-se no habitat “urzais-tojais mediterrânicos não litorais”, considerado uma das comunidades de conservação prioritária no Parque Nacional. Ao longo do caminho, no período da floração, observam-se várias espécies da flora natural da região, destacando-se os tapetes de tormentelo e as orquídeas selvagens, como o satirão-macho, valores naturais que devem ser protegidos.



Chegado à Chã de Junceda, vemos que o local é marcado pela presença de uma antiga casa de Guarda Florestal, atualmente abandonada, em volta da qual se dispõe uma área florestal, com uma grande diversidade de espécies, entre os quais pinheiro-silvestre, bétulas, carvalhos e cedros. Daqui, tomei por breves instantes o traçado do Trilho da Silha dos Ursos, abandonando-o logo de seguida para subir um pouco até ao Vale do Meio e depois Manga de Tojeira.

Baixando para a Boca do Rio, segui até perto da Fonte de Gamil, enveredando de seguida na direcção do Prado ao ladear a Fenteira do Prado. Como é usual nestes períodos de chuva, o Prado estava alagado, dificultando um pouco a passagem até ao curral. Deixando o Prado, segui então em direcção ao Vale do Rio Gerês para atingir a base dos espigões do Pé de Cabril passando antes por Onde Cria a Pássara e iniciando então a descida para a Portela de Leonte passando pela Portela do Confurco.

Chegado à Portela de Leonte, e após um pequeno descanso com café feito na hora, segui para a Mata de Albergaria, apreciando o espectáculo da Natureza em tons de Outono.

Ficam algumas fotografias do dia...



























Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (31 de Outubro/7 de Novembro)

 


As previsões começam a ser cautelosas quanto à neve que poderia cair no Pico da Nevosa.

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCCVIII) - Carvalhos da Raiz

 


Os carvalhos do Curral da Raiz, Serra do Gerês, são os testemunhos dos dias da vezeira passados na serra. 

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Outros trilhos - Entre S. Sebastião da Geira e o Campo do Gerês, em passeio pela Geira Romana

 


Decidi-me, em dia de chuva parca, percorrer as milhas entre S. Sebastião da Geira e o Campo do Gerês num percurso que pretendia seguir o traçado da Geira Romana.

Esqueci-me, porém, da possibilidade dos cursos de água estarem revoltosos com a chuva dos últimos dias. Esqueci-me, mas lembrei-me logo após começar a caminhar! De facto, em duas ocasiões tive de fazer largos desvios que vieram a aumentar um percurso que deveria ser de 18 km para uns agradáveis 22,3 km.

O caminho leva-nos a passar em vários conjuntos de marcos miliários (a descrição das milhas é retirada daqui)... Não faço a descrição da Milha XVIII e da Milha XIX porque não passei por lá devido a desvios para evitar cursos de água de forte torrente.

Milha XVII - Na milha XVII, no Ribeiro de Cabaninhas, na freguesia de Chorense, a uma altitude de 450 metros, conservam-se 4 miliários, três dos quais epigrafados. De acordo com Martins Capella um dos miliários será de Caracala (198-217), datável do ano 214, outro de Décio (250) e um terceiro de Caro (282/283). Segundo Martins Capella os dois últimos estavam tombados, numa propriedade contí­gua ao caminho, pelo que recomenda que sejam colocados junto à via, o que se terá concretizado em data muito recente, pois que Amaro Carvalho da Silva os observou erguidos em 1986/7.


O mesmo autor refere um miliário de Tito e Domiciano (79-81), datável do ano 80, já desaparecido na altura em que redigiu a sua obra.

Nesta milha a «VIA NOVA» inflecte para norte, até à milha XIX, embora acompanhando sempre o relevo e mantendo a mesma cota (450 m), com ligeiras oscilações que o caminhante pouco sente. O caminho está em bom estado desde a milha XVII em diante cerca de duzentos metros. Logo no iní­cio entre os 145 aos 195 metros, conserva-se uma calçada, que cruza a Ribeira da Igreja. Nota-se, também, uma possí­vel pedreira antiga, cerca de 216 metros depois dos marcos da milha XVII, do lado sul da estrada. Daqui para a frente o percurso é irregular devido ao denso mato e outros factores de degradação. De qualquer modo distingue-se uma segunda calçada entre os 328 e 340 metros. Entre os 850 e 865 metros a Geira foi cortada por uma estrada de terra batida A partir dos 865 metros o caminho volta a estar bem conservado. Registam-se vestí­gios de rodados de carro aos 775, 849 e 954 metros. Entre os 1190 e 1234 metros existe uma terceira calçada. Novamente, aos 1380 metros, distinguem-se traços de rodados.

Entre os marcos da milha XVII e os da XVIII a distância é de 1709 metros. Ao longo do seu traçado, no percurso que descrevemos, a via é protegida por um muro de suporte, em pedra solta.



Milha XX - Actualmente conservam-se dois miliários, em Penedo dos Ladrões, lugar de Saim, freguesia de Chorense, a uma altitude de 430 metros. De acordo com Amaro Carvalho da Silva, um dos miliários pode ser atribuí­do ao imperador Carino (283-285) e o outro será anepí­grafe. Segundo o mesmo autor foram descobertos durante uma campanha de limpeza da Geira, por uma equipa de funcionários da Câmara Municipal de Terras do Bouro e jovens integrados num programa de ocupação de tempos livres.

O traçado entre esta milha e a seguinte está, genericamente, bem conservado. A via cruza uma ribeira aos 159 metros. Ocorre um tramo lajeado entre os 470 e 493 metros, atravessando uma segunda ribeira (Ribeira da Pala da Porca). Neste troço (entre os 470 e 493 metros) está ligeiramente degradada. Cruza uma terceira ribeira aos 683 metros, coincidindo com a calçada de cerca de trinta metros entre os 683 e 700 metros. Foi cortada por uma estrada de terra batida a 1256 metros, caminho que dá acesso a várias propriedades. Pouco depois é atravessada pelo caminho municipal que liga Vilar a Travassos.

A distância entre os marcos das milhas XX e XXI é de 1650 metros.

Milha XXI - Na milha XXI, no lugar de Travasso, freguesia de Vilar, a uma altitude de 460 metros, conservam-se dois marcos, um com inscrição, outro com o texto muito apagado, de difí­cil leitura. O primeiro, de acordo com vários autores é de Heliogábalo (218-222), datável do ano 219. Quando Martins Capella o observou estava tombado no leito de uma ribeira, salientando que alguns das letras já não se distinguiam. Segundo Amaro da Silva, o marco anepí­grafe a que se refere aquele autor não é o mesmo que actualmente se observa no local. Assim a esta milha corresponderiam três marcos.


Próximo do ponto onde se situam os miliários nota-se uma possí­vel pedreira antiga. Aos 40 metros cruza um ribeiro. Neste ponto notam-se vestí­gios de rodados.

Deste ponto em diante pode observar-se uma série de calçadas: entre 1125 e 1240 metros; aos 1378 metros; aos 1497 metros; entre os 1581 e 1594 metros, cruzando uma ribeira; entre os 1619 e 1628 metros.

Amaro Carvalho da Silva, no lugar de Pontido, no termo do lugar de Travassos, recolheu fragmentos de tegulae. Assim sugere que nesse ponto poderia ficar a Mansio Salatiana.

Entre os conjuntos de marcos das milhas XXI e XXII contam-se 1700 metros.

Milha XXII - Em Ervosa, lugar de Santa Comba, na freguesia de Chamoim, a uma altitude de 470 metros, na milha XXII registam-se dois marcos, um com inscrição e, outro, quase anepí­grafe. Segundo vários autores um seria do imperador Adriano (117-138), datável do ano 135. Quanto ao segundo a inscrição está muito apagada, sendo a sua leitura bastante difí­cil.

O trajecto entre esta milha a seguinte é marcado por várias oscilações de cotas e, consequentemente, por um maior numero de calçadas. De um modo geral associados a estas calçadas ocorrem cursos de água. Como é de esperar nos tramos lajeados são habituais as marcas de rodados de carro. Junto aos cursos de água, devido à falta de manutenção a via encontra-se mais degradada.

Entre os marcos desta milha e os da seguinte contam-se 1660 metros.

Milha XXIII - A milha XXIII, em Esporões, lugar de Padrós, na freguesia de Chamoim, a uma altitude de 450 metros, conserva três marcos miliários, todos anepí­grafes, segundo Amaro da Silva. Um inteiro e dois fragmentos.

De acordo com Martins Capella existia um quarto marco, do imperador Constâncio (292-306), que registou. Todavia, da leitura não é possí­vel deduzir a indicação da milha.


A partir deste ponto a Geira abandona a vista do Rio Homem e entra no vale da Ribeira da Roda, um tributário daquele rio. Segue ao longo deste vale encaixado, na sua vertente sul, na direcção oeste até ao Cruzeiro de Sá (Covide) onde alcança a Veiga de Santa Eufémia, que adiante descrevemos com pormenor.

Logo a seguir ao iní­cio da milha, aos 113 metros, a via atravessa uma ribeira, observando-se uma calçada. Outra calçada ocorre aos 195 metros. Contudo, aos 378 metros a «VIA NOVA» é cortada por uma estrada municipal em asfalto, a EM 535, que se dirige para a sede do concelho. Cerca dos 385 metros depois é possí­vel retomar a «VIA NOVA», mas apenas até aos 509 metros. Neste ponto o traçado da Geira desaparece, novamente, sendo cortado pela Estrada Nacional número 307, cerca do km 37. Andam-se cerca de 247 metros na EN307, cujo traçado coincide com o da via, sendo então possí­vel retomar, de novo, o trajecto da Geira. O percurso da antiga via romana cruza uma ribeira aos 1085 metros, numa zona onde se notam vestí­gios de rodados. A partir dos 1350 metros a via foi destruí­da por uma violenta quebrada, cuja data Amaro Carvalho da Silva não logrou apurar. De acordo com o seu relato terá sido anterior à abertura da EN 307, sendo referida por autores do século XIX. São referidos dois nomes para este deslizamento de terras: Quebrada das Cabaninhas e Volta de Abrixin.

Entre marcos das milhas XXXIII e XXIV a distância estimada é de 1668 metros.

Milha XXIV - A milha XXIV fica situada no lugar de Cabaninhas, na freguesia de Carvalheira, a uma altitude de 420 metros.

De acordo com Amaro Carvalho da Silva relacionam-se com esta milha cinco miliários. Destes desconhece-se o paradeiro de quatro, que foram referidos pelo Padre Mattos Ferreira. Desta série um deles seria do imperador Licí­nio (308-324). Quanto aos outros três restantes nada se sabe.

Numa das várias operações de limpeza e estudo da Geira, efectuadas pela Câmara Municipal de Terras do Bouro, foi descoberto um novo marco, registado por Amaro Carvalho da Silva. Pode ser atribuí­do aos imperadores Maximino e Máximo (235-238), datável do ano 238.

Aquele autor contou entre a milha XXIV e XXV 1450 metros. Entre as duas milhas há uma subida acentuada de cerca de 90 metros, da cota 420 para a 510.

Neste trajecto, depois de ultrapassar o velho caminho que desce de Padrós para Cabaninhas, saindo da mata de eucaliptos, a Geira rodeia quintais e moradias recentes. Depois, termina o traçado original quando a via encontra de novo a EN 307, que a leva até ao lugar de Sá, onde se localiza o miliário-cruzeiro.

Milha XXV - O miliário que sustenta uma cruz em pedra assinala, segundo diversos autores, a milha XXV, localizada no Cruzeiro de Sá, lugar de Sá, freguesia de Covide, a uma altitude de 510 metros. A primeira referência deve-se ao Padre Mattos Ferreira. O marco foi erigido no reinado do imperador Décio (250).

A partir do Cruzeiro de Sá e até à freguesia de Covide, a via romana corresponde, mais ou menos, à EN 307, por onde abandona a vertente norte da Serra da Abadia/Santa Isabel para entrar na zona ocidental da Serra do Gerês. Atravessa a Veiga da Santa Eufémia, onde são inúmeros os vestí­gios arqueológicos dos tempos romanos e medievos. Daqui dirige-se para o lugar de Várzeas, cruzando, uma vez mais a Nacional 307, a caminho da milha XXVI.

Após a Milha XXV, enveredei pelas ruas da aldeia de Covide e entrei no traçado do trilho PR15 TBR Trilho do Bom Jesus das Mós que me leveu até ao Campo do Gerês.


Tirando as passagens por entre as manchas de eucaliptos, e tirando os episódios de chuva, foi uma agradável jornada de pouco mais de 22 km entre S. Sebastião da Geira e o Campo do Gerês com passagem pela aldeia de Covide e com a visão final sobre a Curvaceira e Calcedónia. A parte inicial do trajecto seguiu o traçado do PR9 TBR Trilho da Geira e parte do traçado do PR4 TBR Trilho dos Moinhos e Regadios.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)