Pequena caminhada na Serra do Gerês entre a Portela do Homem e a Pala do Ranhado situada da Encosta da Corneda.
A caminhada iniciou na Portela do Homem no topo do Vale de S. Miguel. Esta parte superior do vale foi muito modificada ao longos das últimas décadas, sendo aterrada e ali construídos os edifícios fronteiriços. Já nada resta das construções anteriores e alguns dos marcos miliários ali existentes podem ter sido trazidos de outros lugares (pois as numerações de milhas não correspondem àquele lugar) ou sendo ali mesmo uma zona de fabrico desses mesmos marcos.
Seguindo pelo que terá sido parte do traçado da Geira Romana, enveredamos pela frondosa mata, percorrendo inicialmente o Vale de S. Miguel e passando no Curral de S. Miguel. Mais adiante, seguindo pela estrada, chegamos ao Ribeiro de Monção, descendo de seguida para a Geira Romana e caminhando até à Milha XXXIII na Ponte Feia, passando ao lado das tristes ruínas do Abrigo de Montanha do Académico F. Clube. Aqui, vale sempre a pena a visita à Ponte Feia com vista para o poço do mesmo nome.
Prosseguindo no traçado da Geira Romana, chegámos aos Viveiros da Albergaria e aos restos de duas outras pontes romanas sobre o Rio do Forno e Rio de Maceira. De seguida, enveredamos em direcção ao Ribeiro de Cagademos para pouco depois atingirmos a Encosta da Corneda. Enveredando no bosque, chegávamos pouco depois à Pala do Ranhado (ou Penedo da Pala).
Em Setembro de 1882, Hermenegildo Capello e Leonardo Torres - sócios ordinários da então Sociedade de Geographia, fizeram uma visita à Serra do Gerês que mais tarde seria descrita na revista desta sociedade.
Durante a sua permanência no Gerês, os dois homens participaram numa caçada realizada a 20 e 21 de Setembro, tendo dormido a noite na serra e fazendo a seguinte descrição...
"Na Serra do Gerez ha uns abrigos que chamam fornos, provavelmente por causa das portas que só se pode entrar engatinhando, e dentro d'essa cubata podem dormir nove ou dez homens, deitados em palha e muito unidos.
A pulga e muitas vezes o ganau enxameam aquelles domicilios, que servem de casa aos guardas do gado que á noite o reunem junto d'estes fornos em uns pequenos planos mais abrigados que chamam vezeiros. Vimos dois d'estes cacifres ou casebres, um mesmo na Portella de Leonte e outro em Albergaria; n'este ultimo estava um velho guardador de extensa barba branca, e pelo tempo, local e aspecto fazia sem grande difficuldades a felicidade de um sebastianista ferrenho.
Estavamos condemnados a estacionar e pernoitar no forno de Albergaria, porque a chuva continuava e continuou durante a tarde e durante a noite, quando um dos guias lembrou que era mais limpo o abrigo do Penedo da Palla, no sítio do Ranhado, que nos ficava a uns duzentos passos de distancia; podem lá dormir dez homens e cinco debaixo do penedo que fica logo ao pé, e os sete seguiram logo para o dito forno. Foram dez para o forno, e por esse motivo no abrigo da Palla apenas dormimos sete, perfeitamente abrigados e aquecidos pela constante fogueira que durou toda a noite, sendo alimentada com lenha de carvalhos, que ali se encontram derrocados e não aproveitados."
Escondido por entre o arvoredo, a Pala do Ranhado (ou Penedo da Pala) foi então o local de pernoita de Hermenegildo Brito Capelo, Leonardo Torres, Denis Santiago e Serafim dos Anjos e Silva na noite de 20 de Setembro de 1882, sendo um local histórico situado da Serra do Gerês.
O regresso à Portela do Homem foi feito pela Geira Romada desde a Albergaria e passando pela (nova) Ponte de S. Miguel, onde ainda se vislumbram os restos da antiga ponte romana destruída em 1640.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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