A chegada dos Serviços Florestais à Serra do Gerês veio alterar de forma profunda a forma de vida dos seus habitantes. A imposição de regras que vieram alterar modos de vida seculares, foram recebidas com resistência por parte de várias aldeias.
Anos depois, as tensas relações entre os Serviços Florestais e as populações acabariam por atenuar, só tendo paralelo com a implementação do Parque Nacional da Peneda-Gerês que mais uma vez veio alterar um equilíbrio instável que se havia vivido durante quase 80 anos.
No entanto, ainda nos nossos dias é frequente se escutar que, apesar das interferências que os Serviços Florestais trouxeram a estes territórios, é inegável que as melhorias na floresta estavam visíveis aos olhos de todos em 1970/71.
De seguida, faz-se uma nota histórica dos trabalhos executados na Serra do Gerês pelos Serviços Florestais entre Dezembro de 1888 e Junho de 1890, que marcaram o início das alterações de uma paisagem que chegou até aos nossos dias.
Durante o período referido foram executadas diversas sementeiras que abrangeram um total de 171,57 hectares, dos quais 13,57 ha com penisco (isto é, semente de pinheiro bravo) e erva nas rampas dos caminhos e 158,00 ha com penisco no limite Sul da Mata Nacional do Escuredo à Pedra Bela. Nos nossos dias ainda é possível testemunhar os resultados desta sementeira nas encostas da Assureira.
Procedeu-se à plantação de 18,56 ha com 27.382 árvores, nomeadamente 5.300 abetos brancos na vertente nascente das Caldas do Gerês, bem como 5.400 espruce europeus e 2.000 abetos espanhóis; 4.880 abetos brancos na vertente poente das Caldas do Gerês, bem como 920 espruce europeus: 4.700 carvalhos nas margens dos caminhos; 3.260 bordos (acer) nas margens dos caminhos e 922 carvalhos na Preguiça.
Os Serviços Florestais criaram 0,759 ha de viveiros plantados com 21.139 abetos (espruce europeus, abetos brancos e abetos espanhóis). Neste viveiro - que se encontrava então em terrenos arrendados no Vidoeiro - foram construídos 25 metros de muro de suporte, 67 metros de canos de esgoto e uma ponte de comunicação.
Para a realização de muitos dos trabalhos e de outros futuros, foram realizados trabalhos de limpeza de matos num total de 15,5986 ha, dos quais 2,6725 na mata da Varziela (Bargiela); 1,5315 ha na mata em Albergaria; 0,8212 ha na mata no Ranhado; 0,7580 ha na mata em Bemposta; 0,8520 ha na mata em Leonte; 0,2814 ha na mata em Mijaceira; 1,3820 na mata em Laja; 7,2200 ha na mata em Porcas; e 0,0800 ha na mata do Escalheiro.
Muitos dos caminhos que ainda hoje são utilizados tiveram a sua origem por esta altura, abrindo-se um total de 10.030 metros no período referido. Destes, 300 metros correspondem a caminhos construídos das Caldas do Gerês para os viveiros com 165 metros correntes de muro de suporte e 6 aquedutos; 8.340 metros de caminho construído entre a Preguiça e a Portela do Homem com 418 metros de muro de suporte, 38 aquedutos e 16 pontes; 550 metros de caminho construído à Portela do Homem; 760 metros de caminho entre a Ponte Feia e o Curral de S. Miguel; 50 metros de caminho construído à Cascata de S. Miguel no início do Vale do Alto Homem.
Foram também construídos os caminhos entre as Caldas do Gerês e o Campo do Gerês, bem como se procedeu à abertura do caminho para a Chã da Pereira.
Para além destes trabalhos, executou-se a conservação do caminho para a Portela de Leonte, procedeu-se à reparação do caminho entre as Caldas do Gerês e a Portela do Homem, construi-se uma das primeiras casas florestais e de outra no Vidoeiro, e procedeu-se ao assentamento de uma ponte nova em madeira sobre o Rio Gerês (imagem em cima que mostra também a casa arrendada em 1888 e que serviu de Repartição Florestal), executando-se a conservação dos viveiros, realizando-se plantações na mata da Laja, procedeu-se à conservação do viveiro no Vidoeiro (Abrunheiros).
Texto baseado em "Mata do Gerês - Subsídios Para Uma Monografia Florestal", Tude Martins de Sousa, 1926
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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