quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Trilhos seculares - Pelo Barroco de Trás da Pala à Mina de Borrageiros

 


Esta caminhada levou-me a percorrer um vale da Serra do Gerês pelo qual já não passava há muitos anos, o Barroco de Trás da Pala.

O Barroco de Trás da Pala é um vale que liga o Curral de Cabanas Novas (ou do Conde de S. Lourenço), na Chã das Abrótegas, à Corga de Sabroso, sendo um dos tributários do Rio Cabril.

Para aceder ao Barroco de Trás da Pala, subi o Vale do Alto Homem, começando a jornada na Portela do Homem. Chegando à Chã das Abrótegas, abandonei o caminho mineiro e atravessei o Curral de Cabanas Novas, iniciando então a descida do vale até chegar ao carreiro que liga o fundo da Lamalonga aos Currais do Couço, passando no Curral das Cadeiras.


Define-se "Barroco", como um derivado de "Barroca", isto é, 'lugar onde há barro' (1). Por outro lado, Fernando Cosme - na sua obra "A Região do Gerês e a Estrada da Jeira - Dialetologia, História, Arqueologia e Etnologia na Toponímia" (Agosto de 2022) - refere "Barroca e Barroco são nomes vivos e com numerosos topónimos no Jurês - são "buracos, covas"." Ainda, os "Barrocais" são definidos como lugares onde existem grandes pedras (barrocos) ou morros.

De facto, ao descer o Barroco de Trás da Pala, que corre paralelamente à Lamalonga, são visíveis grandes blocos graníticos que podem explicar a origem do topónimo, pois não vislumbrei a presença de barro ou de grandes buracos, ou covas.


Chegando ao carreiro, já pouco visível, que liga a Lamalonga ao Curral das Cadeiras, segui para Poente até atingir os muros deste que será um dos currais menos conhecidos da Serra do Gerês. Abandonado no percurso entre os Currais do Couço e a Lamalonga, o curral é composto por duas áreas delimitadas com pedras, mas só uma delas possui um abrigo que aproveita uma grande rocha para uma das paredes.

Seguindo o carreiro, este levou-me ao Curral do Adega, já após ter cruzado o Ribeiro do Couço, e segui para o Curral do Carreira, passando pelo seu abrigo pastoril. Daqui, iniciei a subida pela corga que me levaria às ruínas da Mina de Borrageiros.

O manifesto mineiro para a mina de ‘Borrageiros’ foi entregue na Câmara Municipal de Montalegre a 18 de Setembro de 1916 por José Frederico Lourenço da Cunha, de 32 anos e residente em Caminha, que descobriu naquele local por inspecção de superfície uma mina de volfrâmio e outros metais. O ponto de partida para a demarcação da concessão mineira 949 ficou definido a 300 metros a partir do alto dos Borrageiros medidos no rumo nascente, seguindo até ao Penedo Redondo, daqui até ao Ribeiro do Couce e o curso do mesmo ribeiro até à sua nascente, confrontando pelo nascente com o marco geodésico de Chamições (Chamiçais), do poente com Carris, do Norte com Matança e do Sul com Cidadelha (Cidadelhe). Por endosso, a mina seria cedida a Paul Brandt, cidadão suíço de 37 anos residente no Porto, e a António Lourenço da Cunha, de 43 anos residente em Caminha e gerente da Empresa Hidro Eléctrica do Coura, Lda. Em Outubro os vários filões são estudados pelo Professor F. Fleury, do Instituto Superior Técnico, o qual procede à recolha de amostras que submete para análise pelo Professor Charles Laspierre. Em Novembro, Paul Brandt e António Lourenço da Cunha, requerem o reconhecimento oficial do jazigo. O Engenheiro Chefe de Repartição de Minas, Manuel Roldan y Pego, emite os éditos de concessão a 17 de Novembro, sendo publicados no Diário do Governo a 22 de Novembro de 1916.


Sem meios de acesso para viaturas, os trabalhos na mina sempre foram rudimentares e inicialmente executados à superfície. O minério obtido no Verão de 1917 era transportado por muares para a casa do juiz de paz de Cabril, José Maria Afonso Pereira, onde ficava depositado. No local da mina não existiam habitações confortáveis e capazes de resistir aos rigores invernais da Serra do Gerês. Após os primeiros trabalhos no Verão de 1917 onde terão sido obtidos cerca de três toneladas de minério, os dois detentores do registo mineiro solicitam a 26 de Dezembro que lhes fosse permitida a transferência do minério para Frades do Pinhedo.

A Mina de Borrageiros tem assim uma história mais antiga do que as Minas dos Carris, porém, infelizmente, parte dela perdida para sempre.

Deixando a Mina de Borrageiros, segui para a Cigarra no topo da Corga das Mestras, vislumbrando o velho e morto Pinheiro da Cigarra. O caminho levou-me depois para o topo da Corga de Arrocela, seguindo depois na direcção dos Currais de Cidadelhe e depois para o Curral do Pássaro, seguindo pelos carreiros seculares que cruzam a Serra do Gerês.

Por entre o silêncio da tarde que já se inclinava para o seu final, subi então até ao marco triangulado de Lamas de Homem, vislumbrando os contornos serranos que já se iluminavam com a luz do Sol de Outono. Descendo para o caminho mineiro, chegava às Águas Chocas e encetava então os quilómetros finais até à Portela do Homem.








































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

(1) - Porto Editora – Barroca no Dicionário infopédia de Toponímia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-10-17 15:05:11]. Disponível em https://www.infopedia.pt/dicionarios/toponimia/Barroca


3 comentários:

Francisco Ascensão disse...

Rui, a outra casa/abrigo dos currais de cidadelhe, aquela maior com a chapa de zinco, foi renovada? Parece-me mesmo que sim!

Rui C. Barbosa disse...

Sim, Francisco, foi recentemente renovada. Estava num estado lastimável.

Francisco Ascensão disse...

Parece me também que foi aumentada. (com um espaço para o gado?) Será que lhe vão dar algum uso? Está mesmo bonito o abrigo!