quarta-feira, 30 de abril de 2014

...descansa agora, estás em casa.


Algo impele o homem a testar seus limites, a sobrepor-se ao desconforto e sofrimento, e para lá do limiar da dor, entrar finalmente, no planalto da realidade interior, o lar desse vento ameno, zéfiro de vozes doces, que nos dizem: "descansa agora, estás em casa"...

Texto e fotografia © Alexandre Matos

terça-feira, 29 de abril de 2014

O abrigo pastoril da Serra do Gerês


Tude de Sousa, no seu livro "Gerez - Notas Etnográficas, Arqueológicas e Históricas"- publicado em 1927 - faz-nos uma interessante descrição dos abrigos pastoris existentes na Serra do Gerês:

"(...)

Para o estadio em cada curral tem o pastor, como já dissemos, o seu fôrno, ou cabana, onde se recolhe e abriga. São construções tôscas, ligeiras, de pedras sêcas, mal dispostas geralmente, umas revestidas e outras não de torrões, tapando os intervalos. Cobertas umas de telhas redondas, à portuguesa; cobertas outras de torrão, guarnecendo pedras largas e delgadas.

As suas dimensões e capacidade não são grandes: 2 a 2,50 metros de alto, por 2,50 e 3 metros de comprido, com as portas baixas, por onde o homem passe curvado e por elas não entre o gado. Três a seis, ou oito pessoas, é o máximo que nelas caberão.

A cobertura de uns fornos é redonda, aguçada; a de outros com armação em duas águas.

O pavimento coberto de fetos ou mato meúdo para amaciar a dormida e junto da porta, do lado de fora, em muitos formos, a pia, ou pias, cavadas na rocha firme, ou móveis, para a comida e bebida do cão, inseparável companheiro e amigo da montanha. A porta de serventia, única, tapada apenas por alguns gravetos de mato ou ramaria, indicadores só de uma linha de respeito.

O travejamento é tôsco, como a construção em que se emprega, e fornecido sempre pelos carvalhos mais próximos, que os há com fartura na serra, brotando e crescendo com espontânea pujança naquele solo abençoado.

Esta habitação e os costumes que descritos ficam, são mais ou menos comuns a todos os povos da serra, e não só so de Vilar da Veiga, pelo que, a não ser com alguma variação menor, se encontra nos homens e nos usos de Rio Caldo, de Covide, de S. João do Campo e Vilarinho, de Cabril e de Pitões e por aí fora, até termos de Suajo e Londodo, por um lado; até termos de Barroso e Montalegre, pelo outro.

Segue um ensaio de distribuição geográfica:

Perto da Galiza, o curral da Amoreira, gereziano português, mas no usofruto dos gados e dos vizinhos do lado de lá, um dos maiores da serra, de pedra e de torrão.

Na chã do Carvalho e nos Prados Caveiros dois de pedra e terra, pertencentes a Vilarinho e mais de pedra e telha em S. Miguel e Albergaria, e outros mais.

S. João do Campo tem o seu forno de pedra e telha no curral de Leonte de Baixo, e outros, de um e outro tipo dispersos.

Vilar das Veiga, quási todos de pedra e telha, tem os fornos dos currais dos prados da Messe, do Conho, de Leonte de Cima, e outros, tendo caído em desuso os da Mijaceira e Vidoeiro, por estarem cortados e devassados agora pela estrada pública para a fronteira, e Rio caldo tem o Vidoal, de pedra e telha, ao subir de Leonte e antes de chegar à Borrageira.

Esta é a habitação da serra, único refúgio noutros tempos, com alguma para natural, de quem por lá deambulava, simples caminheiro, contrabandista, ou pastor, hoje já acompanhado pelos numerosas casas da guarda florestal, quebrando a solidão da floresta e das fragas.

O forno dos pastores gerezianos, ligado ao regimen comunalista e pastoril que os seus povos têm, é bem ainda, pelo espírito ancestral que representa, o espêlho liso da tradição em que aquela gente, sequestrada do mundo, vivia noutras eras a vida de paz, a vida simples de fraternidade e de amor, que os novos tempos e as covilizações novas lhes vão dia a dia enfraquecendo e quebrando.

Conservá-lo, é conservar e respeitar uma típica característica geral do passado.

(...)"

Fotografia © Rui C. Barbosa

domingo, 27 de abril de 2014

"Carrilheiras de Barroso"


Estão de volta as "Carrilheiras de Barroso",  especialmente desenhadas para os amantes da Natureza. Durante dois dias, 31 de Maio e 1 de Junho,  o visitante é convidado a desfrutar de dois percursos já marcados que o vão guiar por caminhos antigos. Estes ligam aldeias, campos de cultivo e permitem contacto direto com o Povo de Barroso e o seu modo de vida. Com o objectivo dar a conhecer a natureza deslumbrante do território, fica o desafio para se deixar envolver numa actividade que culmina num almoço convívio.

A novidade de 2014 é uma “Caminhada Solidária”, cujos lucros revertem a favor da CERCIMONT (Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Montalegre), com a participação da turma do 12º ano, do curso Profissional Técnico de Restauração, da escola Dr. Bento da Cruz.

sábado, 26 de abril de 2014

Final do dia, olhando para a Nevosa


A qualidade da fotografia não é famosa, até porque é uma reprodução de uma fotografia analógica, porém fica o toque nostálgico de um final de tarde a olhar para a Nevosa há já muitos anos atrás...

Fotografia © Rui C. Barbosa

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Trilhos seculares - No sopé da Picota


Neste dia primaveril invernoso, rumei para uma parte da Serra do Gerês que já não visitava à alguns meses. O objectivo era procurar por velhos currais e visitar uns outros que me pareciam promissores para um trabalho futuro, mas acabei por reconhecer um velho carreiro que calcorreia uma parte da serra que não havia visitado.

Baseando-me na informação proveniente da Carta 31 e do Google Earth, e segundo também a recomendação do Paulo Costa, enveredei por um estradão que se inicia não muito longe do desvio para a Cascata de Cela Cavalos, mas seguindo em direcção a Nascente. O objectivo seria passar pelo que pareciam currais logo junto à estrada e terminar em Sudro, já junto da albufeira da Barragem de Paradela.

Nestas coisas da montanha, por vezes a ansiedade leva-nos a seguir por onde as nossas botas «nos mandam». Foi o que aconteceu, e pouco depois apercebi-me que havia seguido o caminho errado, Porém, há muitos males que surgem por bem e este erro foi um deles pois mais adiante iria proporcionar o acesso a alguns locais muito interessantes.

O caminho começou por nos levar até aos Currais da Picota, dois currais que se encontram junto do maciço granítico característico com o mesmo orónimo e que, há falta de melhor, decidi utilizar para baptizar este trajecto. Daqui, o estradão em terra batida vai-se transformar num carreiro de pé-posto que seguindo a Norte nos irá levar a descer para o Souto da Picota a partir do qual sai um outro carreiro que nos colocaria no estradão pelo qual originalmente deveríamos ter seguido. O Souto da Picota, com os seus castanheiros altaneiros, é um local fantástico que «perto» do Outeiro, na outra margem da albufeira, nos coloca numa floresta mística, virgem e fantástica, povoada de seres mitológicos e de animais mais reais, tal como se poderia constatar pelas marcas deixadas pelos javalis e outros.

Saindo então do souto, o carreiro vai-nos levar até uma calçada, velhos vestígios do esforço do homem em melhorar o acesso àquele local e que ainda hoje será utilizado quando a Natureza decide que é tempo de as castanhas ocuparem o seu lugar no chão. Esta calçada vai-nos então levar para o estradão que segue em direcção a Sudro, destino da nossa jornada, no entanto, antes de iniciar a descida para este local, deparou-se-nos à esquerda um recém aberto caminho que empinava serra acima. Ora, recém aberto não significa caminho novo, antes pelo contrário! Aquele provavelmente seria um dos acessos privilegiados que as populações de Outeiro e Parada de Outeiro utilizariam para aceder ao Gerês profundo e aos seus currais de altitude.

De facto, e se me permitirem a especulação histórica, poderia ter sido por aquele caminho que Domingos da Silva, o jovem jornaleiro de Outeiro, teria seguido nos distantes dias de Junho de 1941 quando encetou a busca do volfrâmio pelas serranias do Gerês. Domingos da Silva acabaria por descobrir o outro negro nas entranhas do Salto do Lobo, fazendo o registo do seu manifesto mineiro a 24 de Junho de 1941.

Este velho caminho, lageado em algumas secções, vai-nos levar a passar junto da Portela de Ramos seguindo depois em direcção a Entre Caminhos. A paisagem é fenomenal mesmo em dia nublados com as nuvens a lamber os picos serranos mais distantes dos Carris, Nevosa e Cornos da Fonte Fria. Perante nós, surgem os Cornos de Candela, o Alto de S. João e a imponência do Compadre que se derrama na Biduiça. Ao fundo, o encaixado vale aprisiona o Rio Dola com a sua impressionante cascata que é visível pouco antes de chegar a Entre Caminhos.

Convém salientar que a aproximação a Entre Caminhos encontra-se fora do carreiro que seguíamos, porém (e tal como todo o percurso) esta parte do caminho está bem marcada por mariolas. Em grande parte do percurso foi possível aperceber da existência de velhos currais. No entanto, e sendo esta uma característica de muitas destas estruturas, estes currais não possuam qualquer abrigo pastoril o que pode indicar que estas tenham sido área de cultivo e não de pastoreio como se verifica em outras zonas da serra (apesar de muitos currais geresianos terem esta dupla utilização, como por exemplo o Curral das Abrótegas, os Currais da Matança ou alguns dos currais existentes na Lamalonga).

Na caminhada decidimos não descer a Entre Caminhos pois as condições meteorológicas iam-se degradando a olhos vistos, e com a chuva a chegar e a temperatura a descer também desistimos de baixar para o Dola, decidindo voltar atrás e continuar a seguir o carreiro recém aberto. Foi uma boa decisão, pois o traçado levar-nos-ia até perto do nosso ponto de partida e proporcionou-nos uma outra perspectiva do vale do Cávado na sua caminhada minorante.

Uma pequena nota sobre este percurso recém aberto. Desconhece qual o objectivo dos trabalhos que levaram à (re)abertura deste percurso. No entanto, e sendo qual for a intenção, é uma prova de como se pode valorizar os recursos que a Serra do Gerês pode proporcionar em termos de percursos de montanha. No total foram percorridos cerca de 10 km com uma considerável variedade de paisagens de montanha que certamente seriam do agrado de muitos se o trajecto fosse equipado para se transformar numa Pequena Rota. Parabéns pelos esforços e pela iniciativa.

Ficam algumas imagens do dia...

































Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

As Minas dos Carris na abertura do Gerês Trail Adventure


Tive o prazer de participar na abertura do Gerês Trail Adventure falando um pouco sobre o meu livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" numa sessão que ocorreu na noite do dia 24 de Abril de 2014 no Auditório das Caldas do Gerês.

Um agradecimento ao Carlos Sá pelo convite e parabéns pela iniciativa que vem valorizar o nosso Parque Nacional!

Fotografias © Sílvia Carvalho

segunda-feira, 21 de abril de 2014

III Jornadas das Letras Galego-Portuguesas em Pitões (Programa)


Como o blogue Carris já referiu, terão lugar entre 30 de Maio e 1 de Junho, as III Jornadas das Letras Galego-Portuguesas em Pitões das Júnias.

O blogue Desperta do Teu Sono, divulgou agora o programa deste evento.

Imagem: Desperta do Teu Sono





"Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" na recta final


O livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" entra na sua recta final em termos de disponibilidade de edição com os últimos 100 exemplares disponíveis.

Este livro foi o primeiro a levantar o véu sobre a fantástica história do complexo mineiro dos Carris existente na Serra do Gerês e é fruto de um longo trabalho de sete anos de investigação e foi financiado através de uma campanha de crowdfunding sem a qual seria impossível ter visto a luz do dia.

O livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" terá uma nova apresentação no próximo dia 24 de Abril pelas 21:30 no Auditório das Caldas do Gerês, seguindo-se uma conferência de Carlos Sá (tudo isto inserido no programa do Gerês Trail Adventure

O livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês"

Perdidas na imensidão granítica da Serra do Gerês, as Minas dos Carris representam um património de memórias esquecidas pelo Homem.

Reduzido a um belo conjunto de ruínas que têm como companhia a solidão da montanha e os gelos do Inverno, este já foi um lugar de vida de onde se tirava o volfrâmio das entranhas da Terra.
Para lá destas ruínas jazem lutas pela posse da terra, histórias de mineiros, vivências de um dia a dia de sacrifício e imposições que levaram a uma singularidade deste lugar em todo o Portugal.
Infelizmente esta era uma história por escrever e foi esse o desafio que há já vários anos lancei a mim próprio. Aos poucos fui conseguindo juntar as peças de um puzzle e limpando a poeira de um quadro que cada vez se tornava mais fascinante.

A região é áspera e dura, assim como era a vida daqueles que durante muitos anos lutaram por tirar da terra o parco sustento ou a fugaz fortuna para quem nada tinha e que do dia para a noite conheceu a riqueza no alto de um apogeu endinheirado, mas pronto para o mergulho de volta na mais vil miséria.

Nos nossos dias, as Minas dos Carris encontram-se em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, uma área protegida que para além de salvaguardar as riquezas naturais de uma região poderia ter feito mais pela riqueza de um património que se perde a cada dia que passa.

Desde a sua criação em meados dos anos 40 com a presença da Alemanha Nazi, passando pelo seu ponto alto nos 50 com a formação de um complexo mineiro socialmente avançado, passando pelo seu declínio e ressurgimento nos anos 70, até ao seu fecho irrevogável em finais dessa década, o livro ‘Minas dos Carris – Histórias Mineiras na Serra do Gerês’ constituí um esforço individual de investigação de mais de sete anos por entre arquivos, milhares de quilómetros percorridos a pé, contactos pessoais e ligações além mar que me permitiram reunir um vasto espólio de memórias escritas e milhares de fotografias que retratam todas as épocas das Minas dos Carris. Todas elas encontram-se agora neste livro.

Este emocionante trabalho individual pretendeu acima de tudo ir explorando a cada nova descoberta a história daqueles que do nada transformaram a desolação granítica da Serra do Gerês num local de vida, mas também fazer ver com essa história o quanto temos de preservar na nossa memória colectiva.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

III Jornadas das Letras Galego-Portuguesas em Pitões


Entre 30 de Maio e 1 de Junho terão lugar as III Jornadas das Letras Galego-Portuguesas em Pitões das Júnias.

Para mais informações aqui.

Fotografia © http://despertadoteusono.blogspot.com.es

quinta-feira, 17 de abril de 2014

"Não perturbes as águas"


"Não perturbes as águas", disse Aragorn ao pequeno hobbit...

(Na fotografia, o vale do Rio Parrade na Serra Amarela)

Fotografia © Rui C. Barbosa

Programa comemorativo do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios - Portas do Parque Nacional da Peneda-Gerês


Porque nunca é tarde...

Entre os dias 12 e 19 de Abril (em datas específicas), as Portas do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) vão promover visitas acompanhadas para o público em geral, no âmbito do programa comemorativo do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.

Mais informações aqui.


terça-feira, 15 de abril de 2014

2º lugar no top de vendas da Centésima Página


O livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" atingiu o 2º lugar no top de vendas do mês de Março na Livraria Centésima Página.

Obrigado a todos!

domingo, 13 de abril de 2014

209... Expedição aos Carris


Carris, 12 de Abril de 2014

Existiria forma melhor de comemorar o Dia da Cosmonáutica sem ser com uma caminhada até às Minas dos Carris? Provavelmente até haveria, mas certamente que não seria a mesma coisa...

Eram 8h00 quando o «Emssemblent» teve lugar no Parque de Campismo da Cerdeira, Campo do Gerês. Noite calma, tranquila e sossegada, retemperadora para uma jornada que seria igual a tantas outras até aos píncaros serranos do Gerês. O trajecto não traria, à partida nada de novo, porém nestas caminhadas nunca se sabe... isto é, de facto a primeira novidade seria o grupo que acompanharia ao longo do dia. O objectivo era conhecer aquela parte do Parque Nacional e a história do complexo mineiro. Em tudo isto, é sempre gratificante ver a forma como as pessoas reagem à paisagem e aos retalhos históricos que se vão recordando ao longo do caminho. Estes foram muitos, desde a abertura daquele caminho pelas encostas do Vale do Homem, passando pelas histórias dos nevões e das vidas das pessoas, sem esquecer os detalhes mais gerais sobre o complexo mineiro. Foram estes pequenos episódios que foram preenchendo os minutos ao dia que nos levou às Minas dos Carris e à Mina das Sombras.

Curiosamente, desde o princípio surgiu o desejo de se avistar as cabras selvagens e este desejo parece ter ecoado ao longo do vale porque mais tarde lá estariam elas, como que sentinelas das paragens mais altas ou como guardiãs daquelas paragens.

As Minas dos Carris e as velhas ruínas lá estavam, silenciosas... ou quase não fosse a música de fundo de um irritante rádio que estrepitosamente debitava aqueles sons que em nada se adequava ao entorno onde nos encontrávamos... quase uma heresia dentro de um templo, mas cada um tem a sua maneira de estar na montanha.

O dia terminou com uma passagem pela piscina de água termal da Calderia de Lobios, um momento relaxante para o corpo e para a alma antes do jantar no restaurante do Parque de Campismo da Cerdeira.

A próxima expedição é a 10 de Maio e os lugares são limitados!!!

Algumas imagens do dia...









































































Fotografias © Rui C. Barbosa