segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (21 a 28 de Outubro)

 


Dias de Outono e temperaturas a descer nas Minas dos Carris.

domingo, 20 de outubro de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCLXXI) - Amanitas muscaria em Leonte

 


Os bosques do Parque Nacional da Peneda-Gerês assistem a uma fabulosa transformação onde as cores de Outono vão ganhando destaque e onde uma variedade de cogumelos e fungos vão surgindo, tais como os amanita muscaria na Portela de Leonte, Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sábado, 19 de outubro de 2024

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (19 a 26 de Outubro)

 


A próxima semana trará dias típicos de Outono às Minas dos Carris.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Os trabalhos dos Serviços Florestais na Serra do Gerês em 1910-1911 (parte II)

 


De facto, o ano económico de 1910-1911 foi marcante na presença dos Serviços Florestais na Serra do Gerês, consolidando os trabalhos aí realizando e preparando o caminho para acções futuras. Neste ano tentou-se, mais uma vez, resolver a questão que se encontrava pendente com os povos de Vilarinho da Furna.

Após ter sido adquirido o campo das Palas, os Serviços Florestais já haviam adquirido o denominado "Campo de Paços", na encosta da Assureira, no ano económico anterior. Também conhecido como "Fonte do Sapo", o terreno havia sido adquirido em nome pessoal tendo como destino à Mata, para assim não se perder uma oportunidade que então surgiu e a qual não se quis perder.

Meses depois, como apenas havia um documento particular da compra e para evitar dúvidas futuras, fez-se registar o terreno na Conservatória da Comarca em nome dos compradores, pois fora adquirido em nome de pessoas singulares, mas ficando sempre na posse do Estado, a quem de facto pertencia.

Segue a transcrição do documento de registo na Conservatória:

"Manuel Joaquim Gonçalves, bacharel formado em direito pela Universidade de Coimbra, conservador privado do registo predial na comarca de Vieira, etc.

Certifico que a requerimento de Tude Martins de Sousa, casado, regente silvícola da serra do Gerês, freguesia de Vilar da Veiga, desta comarca se lançaram nos respectivos livros de registo os extractos seguintes: Inscrição. No livro F. 3.º a folhas 50 - Número da ordem de apresentação um. Número 2028. Fica inscripto a favor de Tude Martins de Sousa, casado, regente silvícola, da Serra do Gerês, freguesia de Vilar da Veiga, desta comarca a transmissão do prédio descrito sob o número 17.060 a folhas 109 verso do livro B. 41 por o haber comprado pela quantia de 40$000 reis a Sebastião José de Miranda e mulher Maria Vieira da Silva, moradores nas Caldas do Gerês, freguesia de Vilar da Veiga desta comarca. Escripto particular de 7 de Fevereiro de 1910, que fica arquivado no maço número um deste ano, sendo restituído o conhecimento da contribuição de registo 156, passado na repartição de fazenda do concelho de Terras de Bouro, no dia 27 de Janeiro do dito ano, Índice pessoal primeiro da letra T. a folhas 11 verso. O conservador privativo Manuel Joaquim Gonçalves. Descripção. Número 17.060. Prédio rústico «um terreno denominado Quinta por baixo da Fonte do Sapo, e por cima da estrada real», com suas pertenças e servidões, de natureza alodial, sítios nos limites de Paços, Caldas do Gerês, freguesia do Vilar da Veiga, que confronta do nascente, sul e poente e norte com a mata florestal. Valor venal 40$000 reis. E por ser verdade mando passar o presente certificado depois de conferido com o original e revisto por mim o assino - Conservatória da comarca de Vieira, 2 de Julho de 1910. O ajudante da Conservatória, - (a.) Alfredo Artur Correia de Vasconcelos."

Em seguimento das orientações dadas sobre a melhoria da pecuária regional, a 11 de Março de 1911 dava entrada nos Serviços Florestais do Gerês, o cavalo Quanah, reprodutor Luso-Árabe, vindo da Coudelaria Nacional, o qual, findas as épocas de cobrição, continuaria no Gerês para os serviços de fiscalização e polícia da mata.

Continuando ainda de pé as questões da delimitação da mata com os povos de Vilarinho e S. João do Campo, os Serviços Florestais procuraram em dada altura fazer com esses povos um acordo sobre uma demarcação definitiva, para o que se realizaram várias reuniões com o abade de S. João do Campo, que, além de pároco da freguesia, era também natural de Vilarinho da Furna, mostrando-se sempre inclinado a procurar com os Serviços Florestais uma solução conciliadora para a questão pendente.

Assim, esta situação foi comunicada para os serviços superiores, o que deu lugar a que a Direcção Geral da Agricultura expedisse a seguinte ordem de serviços com o n.º 640, de 6 de Junho de 1911:

"Parecendo estar agora os povos de Vilarinho inclinados a resolverem, de acordo com os empregados florestais, a antiga questão de limites dos terrenos que pertencem à Mata Nacional do Gerês e ao referidos povos, determinou S. Ex.ª o Ministro, por despacho de 3 do corrente, que o inspector dos Serviços Florestais e V. S.ª reduzam a auto a delimitação que convencionarem com os referidos povos e que mais equitativa julgarem, procurando no entanto atender a que os povos não fiquem descontentes, ainda que, se tanto for preciso, haja prejuízo para o Estado de algumas dezenas de hectares de terreno e ficando esse auto dependente da aprovação superior, para ambas as partes. - Lisboa, 6 de Junho de 1911 - (a.) Joaquim Rasteiro."

Tendo tomado conhecimento desta ordem, foi então combinado com o abade do Campo uma reunião na Bouça da Mó, a que compareceriam delegados da gente de Vilarinho da Furna e S. João do Campo.

Porém, os planos seriam gorados! Infelizmente, a época agitada de anunciadas incursões monárquicas por aquela parte da fronteira de Espanha, determinou o Governo a mandar para o Gerês vários contingentes de tropas, a cuja chegada e alojamento os Serviços Florestais tiveram de assistir. As primeiras forças chegaram precisamente no dia combinado para a reunião na Bouça da Mó, que assim ficou adiada sine die.

O tempo passaria e a oportunidade de resolver a questão também, não se fazendo o acordo previsto.

Texto adaptado de "Mata do Gerês - Subsídios para uma Monografia Florestal" (Tude Martins de Sousa, 1926)

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCLXX) - Dias de Outono

 


A neblina marca os dias de Outono na Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

"Cogestão do PNPG pede reunião para acertar programa especial"

 


Mas afinal o que se passa? Só agora é que a Cogestão pede uma reunião para acertar o Programa Especial do Parque Nacional da Peneda-Gerês? Isto não deveria ter acontecido antes da Consulta Pública?

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (18 a 25 de Outubro)

 


Teremos um fim-de-semana de tempo outonal nas Minas dos Carris.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Caminhada interpretada às Minas dos Carris

 


No dia 9 de Novembro de 2024 terá lugar uma caminhada interpretada às Minas dos Carris, Serra do Gerês.

Esta é uma caminhada pela História e Natureza da Serra do Gerês com visita às Minas dos Carris pelo Vale do Rio Homem.

A caminhada é organizada por RB Hiking & Trekking e conta com a presença do autor do livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês".

Mais informações aqui.

Postais do PNPG (CCLIV) - GEREZ - Estrada da Chã de Lamas

 


Este postal é baseado numa fotografia da Foto Zalez e foi editado pela Comissão de Iniciativa e Turismo do Gerez na primeira metade do século XX.

A imagem mostra-nos um troço da estrada entre as Caldas do Gerês e o Campo do Gerês construída pelos Serviços Florestais e na altura «recentemente» inaugurada. É de sublinhar o aspecto desértico e rochoso da paisagem.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (17 a 24 de Outubro)

 


Continuam os dias de chuva com o Sol a dar um ar da sua graça por entre as nuvens.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Campo do Gerês vai ter um Centro de Dia Sénior

 


A Junta de Freguesia do Campo do Gerês anunciou, através do seu Presidente, Carlos Costa, que brevemente irá inaugurar o Centro de Dia Sénior que ficará instalado nas antigas instalações da Escola Primária do Campo do Gerês.

Quem desejar frequentar o novo Centro de Dia deverá entrar em contacto com a Junta de Freguesia do Campo do Gerês e fazer a respetiva inscrição.


Fotografias: Junta de Freguesia do Campo do Gerês

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCLXIX) - Ponte do Rio Arado

 


Paisagem de Outono na Ponte do Rio Arado, Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Futuro do PNPG: consulta pública encerrada

 


O dia 15 de Outubro marcou o encerramento do processo de consulta pública do Programa Especial do Parque Nacional da Peneda-Gerês e do seu Regulamento de Gestão.

No total, registaram-se 157 participações neste processo que entra agora na fase de análise das sugestões, reclamações, etc., que foram apresentadas.

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (16 a 23 de Outubro)

 


Os Sábados parecem estar amaldiçoados para as incursões na montanha.

terça-feira, 15 de outubro de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCLXVIII) - Panorâmica do Vale do Cando

 


Uma magnífica panorâmica do Vale do Cando, Serra do Gerês, sendo visível a Roca Negra, o abrigo pastoril do Cando, o Vale do Cando, o Quinão do Meio, a Roca das Pias e o alto de Pradolã (marco triangulado).


Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Último dia para fazeres escutar a tua voz

 


Este é o último dia para poderes dar a tua opinião, fazer a tua reclamação, dar a tua sugestão, fazer uma nova proposta ou concordares com o que o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) propõe para o futuro do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Foram feitas 93 participações públicas no portal participa.pt onde «decorre a discussão pública» do Programa Especial do Parque Nacional da Peneda-Gerês e do Regulamento do Gestão. É um número insuficientemente baixo quando está em causa o futuro do nosso único Parque Nacional.

Baseado num Programa Especial medíocre, o Regulamento de Gestão será a ferramenta que irá substituir o actual Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Este é um regulamento muito restrito para a visitação do nosso único parque nacional e é mais uma tentativa de implementar, mas de forma mais subtil, as intenções que já estavam presentes antes da aprovação do actual Plano de Ordenamento.

O Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) é um território moldado pela presença do Homem ao longo dos últimos milhares de anos, antecedendo a chegada das legiões romanas. Desde o seu começo, o PNPG sofreu das intenções extremistas da protecção de quem não conhece o território que foram ainda mais extremadas ao longo dos anos. A fraca relação com as populações locais, é um triste sinal dessa má relação que se perpetua ao longo dos anos e que sem dúvida será prejudicada com este Programa Especial e com este Regulamento de Gestão onde são estabelecidas regras incompreensíveis de visitação, ao mesmo tempo que se fecha os olhos às actuais obras ridículas a decorrer (Fecha de Barjas e leito do Rio Laboreiro) e ao verdadeiro forró do Verão.

Para que se tenha uma ideia das restrições impostas pelo novo Regulamento de Gestão, o mapa a seguir mostra os percursos que poderão ser utilizados nas actividades de visitação (mesmo quando aconselhados a alterar alguns destes trajectos, como, por exemplo, a ligação entre a Portela do Homem e Pitões das Júnias), os técnicos do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas preferiram fazer ouvidos moucos e continuar a aconselhar um percurso que coloca em risco que o utiliza.


Assim, este é o último dia para participarem no futuro do Parque Nacional da Peneda-Gerês, lendo a proposta que foi criada e fazendo «escutar» a vossa voz com sugestões para que no futuro aquela área protegida não se transforme num couto de poucos.

Fotografias © ICNF

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (15 a 22 de Outubro)

 



Será uma semana passada a chuva nas Minas dos Carris.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

domingo, 13 de outubro de 2024

sábado, 12 de outubro de 2024

Os trabalhos dos Serviços Florestais na Serra do Gerês em 1910-1911 (parte I)

 


O silvicultor Lopes Vieira fez apenas duas visitas ao Gerês, interessando-se, porém, muito pelos seus trabalhos. Os Serviços Florestais no Gerês tiraram muito partido dos conhecimentos de Lopes Vieira, que era tido como um técnico inteligente e sabedor. Infelizmente, a sua morte em 1907, nas condições inesperadas em que ocorreu, fez com que se quebrasse a cooperação recíproca que se esboçava para o futuro do Gerês.


José Lopes Vieira


No entanto, Lopes Vieira havia esboçado algumas ideias para o futuro dos Serviços Florestais no Gerês, nomeadamente à forma como seriam aproveitados os espaços existentes no Vidoeiro e nas Palas.

O local escolhido para centro de reunião e saída de todos os produtos da mata era o campo denominado das "Palas", que se encontrava encravado entre terrenos da Mata Nacional e em continuação do campo do Vidoeiro, até à cascata do Torgo. Este terreno era pertença de Serafim dos Anjos e Silva.

Ali viriam, no futuro, dar todos os caminhos os caminhos principais, ali passava a estrada real para a Portela do Homem e ali se estabeleceriam oficinas e outras dependências - algo que ainda acontece nos nossos dias com as actuais instalações do Parque Nacional da Peneda-Gerês - havendo ainda terreno próprio para prados, de onde se obteriam ervas para os animais de serviço.

As quedas de água do Torgo e do Rio da Figueira permitiriam a criação e aproveitamento da força ou energia eléctrica para iluminação e outros serviço.

Na altura, ficou feito o estudo destas quedas de água, desenhando-se plantas e esquemas de futuras instalações, levantando-se também a planta dos campos das Palas.

Era então intenção propor a expropriação destes campos, que seriam todos os terrenos que, do Vidoeiro para cima, possuía também Serafim dos Anjos e Silva, devendo o pagamento efectuar-se em uma ou duas anuidades.

Este era um assunto de especial atenção e estudo, porém, não pode o silvicultor Lopes Vieira diligenciar, sequer, a compra daqueles campos, cuja utilidade tanto a tempo soube ver e advogar. Porém, lançada a ideia, não caiu no definitivo esquecimento, embora só mais tarde se viesse a efectivar: as condições especiais da sua situação, os direitos a usos de águas que possuíam e ainda outros requisitos impunham, por isso, a sua aquisição.

Assim, de facto, em 1910 e por necessidade de terras para construção de alojamentos para o gado suíço e de terrenos de criação de pastos, esteve no Gerês o Director Geral da Agricultura, conselheiro Alfredo Carlos Le-Cocq, grande amigo da serra e dos seus progressos florestais e pecuários, acompanhado de outros altos funcionários, para examinarem os campos do Vidoeiro e Palas.



Alfredo Carlos Le-Cocq


Pedro Roberto da Cunha e Silva

Após a visita à Serra do Geres, e concordando todos na conveniência da aquisição dos referidos terrenos, encarregou-se de tratar das respectivas negociações com o proprietário, que anuiu em fazer com o Estado o acordo que consta do termo de expropriação a seguir transcrito:

Termo de expropriação amigável entre o Estado, representado pelo Inspector dos Serviços Florestais, Ex.mo Sr. Pedro Roberto da Cunha e Silva, e Serafim dos Anjos e Silva e mulher, Joaquina Pereira Gonçalves, proprietários, residentes no Gerês, freguesia de Vilar da Veiga, do concelho de Terras de Bouro.

Aos 12 dias do mês de Setembro de 1910, na secretaria dos Serviços Florestais do Gerês achando-se presente o Ex.mo Sr. Administrador do concelho de Terras de Bouro, Adriano Augusto Leite Ribeiro, comigo Manuel Joaquim Martins, amanuense da administração do mesmo concelho, servindo de secretário, e as testemunhas adiante nomeadas, compareceram como outorgantes por um lado o Ex.mo Sr. Inspector dos Serviços Florestais, Pedro Roberto da Cunha e Silva, representando o Estado, nos termos do despacho do Ex.mo Ministro das Obras Públicas de 2 do corrente e por outro lado Serafim dos Anjos e Silva e mulher Joaquina Pereira Gonçalves, proprietários, residentes no Gerês, freguesia de Vilar da Veiga, do concelho de Terras de Bouro. E perante as testemunhas abaixo mencionadas, foi pelos referidos outorgantes declarado e pactuado o seguinte:

1.º - Declaram os seguintes outorgantes Serafim dos Anjos e Silva e mulher Joaquina Pereira Gonçalves, que são senhores e possuidores dum terreno com superfície de 14 hectares e 510 metros quadrados compreendendo diferentes leiras de lavradio com árvores de vinho, cortes de gado, devesas e tomadas de mato, sito no lugar do Vidoeiro da freguesia de Vilar da Veiga, nas duas margens do Rio Gerês, cujas confrontações são as seguintes: - Pelo Norte a Mata Nacional, pelo Nascente a mesma mata e a estrada real do Gerês à Portela do Homem, pelo Sul terreno de José Maria dos Santos, Mata Nacional e antigo caminho do Gerês para Leonte e pelo Poente a Mata Nacional e a Sociedade de Melhoramentos do Gerês, como se vê da planta junta que ficará fazendo parte integrante do presente termo de expropriação e vai ser rubricada pelo Ex.mo Administrador do concelho, por mim secretário, outorgantes e testemunhas.

2.º - Que nos termos do artigo 42.º do Decreto de 24 de Dezembro de 1901 que organizou os Serviços Florestais e em conformidade com o artigo 4.º, § 2.º do Regulamento de 24 de Dezembro de 1903, o Estado resolveu expropriar os referidos terrenos para serem submetidos ao regimen florestal.

3.º - Que por portaria de 5 do corrente foi encarregado o Ex.mo Inspector dos Serviços Florestais, Pedro Roberto da Cunha e Silva, de outorgar por parte do Estado, o presente contrato de expropriação pela quantia de 6.000$000 reais para em três prestações iguais de dois contos de reis cada uma, a primeira no acto do presente contrato, a segunda no dia 15 de Setembro de 1911 e a terceira em igual mês e dia do ano de 1912.

4.º - Que até ao integral pagamento desta indemnização as prestações em dívida vencerão o juro anual de 5 por cento, devendo ser paga aos segundos outorgantes em 15 de Setembro de 1911, além da segunda prestação, a quantia de duzentos mil reis correspondentes aos juro de quatro contos de reis e em 15 de Setembro de 1012, quando se satisfazer a última prestação, a quantia de 100$000 reis correspondente ao juro de dois contos de reis.

5.º - Que o Estado se reserva, contudo, o direito de antecipar o total pagamento da indemnização liquidando-se, em tal caso, dia a dia, os respectivos juros até à data da completa extinção da presente dívida.

6.º - Declaram os segundos outorgantes que aceitam mencionada expropriação pela soma e com as condições acima estipuladas. E tendo recebido neste acto a quantia de dois contos de reis, declarando que transferiram para o Estado o domínio e posse dos mencionados terrenos, comprometendo-se a fazer boa esta venda por suas pessoas e bens havidos e por haver sujeitando-se a qualquer indemnização originada por direitos de terceiro sobre os mencionados terrenos, de forma que em tempo algum possa ser exigida ao Estado qualquer outra quantia com fundamento ou pretexto da presente expropriação.

7.º - Outro sim declaram os segundos outorgantes que todos os terrenos expropriados são livres e alodiais, que não pesa sobre eles nenhum ónus hipotecário nem doutra natureza nem deles se deve contribuição alguma; e que exceptuando o campo chamado dos Moscosinhos, descrito na Conservatória da comarca de Vieira com o número 9313 a folhas 74 do livro B número 24, nenhum outro prédio incluído na presente expropriação se encontra descrito na respectiva Conservatória.

8.º - Declaram ainda os referidos outorgantes que aos prédios agora expropriados pertencem todas as águas das ravinas das Palas, do Torgo e da Figueira, quatro levadas do Rio Gerês todo o ano quer de Verão quer de Inverno e água do Ribeiro da Quelha Verde todos os Sábados desde o romper do dia até Domingo à mesma hora e desde Segunda-fera até à Terça também ao romper do dia sendo tapada esta água no mesmo ribeiro.

Foram testemunhas presentes Baltazar Domingues da Silva Junior e António Rodrigues, ambos casados e residentes no Gerês sendo o primeiro proprietário e o segundo carpinteiro que vão assinar com os outorgantes depois de lido em voz alta diante de todos. A rogo da segunda outorgante Joaquina Pereira Gonçalves, que não sabe escrever, assina o guarda-florestal António José Alves, casado, residente mo Gerês. Não leva selo por não ser devido em vista da isenção estabelecida na verba n.º 127 da tabela geral do imposto de selo em vigor. E para constar se lavrou o presente termo que eu Manuel Joaquim Martins, amanuense, servindo de secretário, escrevi e assino.

(aa.) Adriano Augusto Leite Ribeiro. - Pedro Roberto da Cunha e Silva. - Serafim dos Anjos e Silva. - A rogo da outorgante Joaquina Pereira Gonçalves, António José Alves. - Baltazar Domingues da Silva Junior. - António Rodrigues. - Manuel Joaquim Martins.

Adquiridos os campos, logo se começou na segunda quinzena de Setembro a construção de uma vacaria destinada ao alojamento de 60 cabeças, edifício este que não chegou a ser concluído, por em certa altura se ter mandado fechar a obra, levantando-lhe segunda empena no ponto em que se estivesse.


Vacaria e viveiro nos campos das Palas

Tendo-se aposentado o Director-geral da Agricultura, conselheiro Alfredo Le-Cocq, sucedeu-lhe uma nova orientação superior de não concordância com o que se estava a fazer e que deu em resultado seguir-se depois por um caminho diverso do anteriormente planeado. Ainda assim, importante foi o que se fez, pois a vacaria, mesmo como ficou, foi um belo e útil edifício, tendo-se ao mesmo tempo construído também uma montureira anexa. 

Tendo o projecto da vacaria sido delineado pelo conselheiro Le Cocq e por ele confiado aos cuidados dos Serviços Florestais, foi a sua construção sempre acompanhada por estes serviços e executada conforme as suas repetidas indicações e detalhes que enviava de Lisboa. A montureira, indispensável e da iniciativa dos serviços locais, foi feita ao mesmo tempo com as sobras da obra principal.

Quanto aos campos, neles se iam realizando os prossíveis trabalhos de preparação e adaptação a mais cuidadosas culturas do que aquelas em que andavam e a melhoramentos que, com o andor dos tempos e sempre com a concordância dos silvicultores sob cujas ordens se serviam, se foram realizando.

Texto adaptado de "Mata do Gerês - Subsídios para uma Monografia Florestal" (Tude Martins de Sousa, 1926)

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCLXV) - O cogumelo e o velho carvalho

 


Mal tratado pelas últimas chuvas, um cogumelo enquadra-se num contra-luz com o velho carvalho no Curral de Rocalva, Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

A carvoaria na Serra do Gerês

 


Não são fáceis de encontrar referências a uma actividade de teve uma importância crucial nas aldeias da Serra do Gerês: a carvoaria.

Em algumas zonas, podemos encontrar as velhas furnas de carvão (tal como a Furna de Carvão de Gestoso, em Seara - Terras de Bouro) ou até escutar histórias soltas sobre o fabrico e a venda de carvão no (Curral do) Teixo, Vale do Alto Homem, ou no Curral do Tirolirão. Era aqui que um Geresiano de nome 'Marujo' permanecia longos dias nos idos dos princípios dos anos 40 do século XX, produzindo carvão numa furna que ardia por 8 ou 9 dias e que era guardada por 5 dos seus filhos. O carvão era depois utilizado para o aquecimento e para as tarefas do dia-à-dia nos ricos hotéis das Caldas do Gerês.


Curral de Tirolirão e Prado Marelo, Serra do Gerês

Na mesma altura o carvão era produzido em diversas zonas da Serra do Gerês, tal como referi no Teixo (imagem inicial), onde ainda se podem encontrar pequenos muros de pedra solta que serviam de abrigo aos carvoeiros. Aqui, o carvão era também vendido vindo às costas em jornadas pela serra desde as aldeias de Fafião, Pincães ou Xertelo. Por outro lado, o grande número de pequenos abrigos de pedra solta em Carris, topo da Corga de Lamalonga ou a caminho do Curral da Amoreiro, também podem ser em parte explicados pela actividade da carvoaria.


Furna de carvão de Gestoso

Um exemplo interessante que surgiu em consequência do fim da utilização do carvão, é o da aldeia galega de Salgueiro. A aldeia de Salgueiro sempre foi uma povoação agrícola e de criação de gado, onde muitas das tarefas eram feitas em modo comunitário. Todos os habitantes tinham gado e, sobretudo, ovelhas e cabras que se vendiam a comerciantes para carne seca. Porém, acima de tudo, foi terra de carvoeiros, ofício que trouxe muito dinheiro à aldeia, mas também penúrias, pois era um trabalho escravo e esgotante. Com o fim da utilização do carvão e o efeito da intensa emigração, a aldeia seria abandonada e hoje é uma povoação silenciosa onde se tenta preservar a sua memória conservando as ruínas ali existentes.

Carvoaria, contrabando, mineração são actividades que marcaram o passado da Serra do Gerês, propositadamente esquecidas num Plano Especial e num Regulamento Geral para o Parque Nacional da Peneda-Gerês que irá (ou pretende) fazer esquecer o passado.

No artigo História do povo de Cabril, da Serra do Gerês, dos Carvoeiros e o burro que pegou fogo e pelas palavras do Ulisses Pereira, "e depois havia ainda os carvoeiros, pessoas que passavam muito tempo na serra a arrancar os torgos de urze e a fazer os buracos para o carvão, como diz o "Ti" João da ponte: «Oh pah!! era um trabalho excomungado, era sempre sujo, todo negro, as mãos estavam todas gretadas, mas prontos dava para ganhar alguns tostões.» O "Ti" João da Ponte fala como uma pessoa conhecedora da realidade, ou não tivesse ele feito muito carvão e dormido muitas vezes nas cabanas da serra, e carregado muito carvão para o depósito no Teixo, é também ele que a determinada altura conta a história do burro que pegou fogo: «naquela época andava-se a fazer o carvão no Cambeiro, andavam lá dois ou três homens, já não me recordo, e o Custódio do Luís e ele trazia um burro com ele, para o ajudar nas cargas, eles acabaram de fazer o carvão e carregou o burro e pôs outro saco as costas e começou a subir a serra pelo Curral dos Bezerros até à Cidadelha, onde naquela altura estavam a dormir, e era na cabana que guardavam a comida, e ele foi a cabana botar uma bucha, que era para depois subir a Revolta até ao Teixo, onde estava o depósito de todo o carvão feito na serra. Também havia lá uma loja que vendia pão e vinho e mais umas coisitas, só que enquanto foi a cabana o burro desapareceu, andou para cima e para baixo e nada do burro, foi dar com ele passado umas horas, todo chamuscado, já perto da Arrocela, estava vento e o carvão não estava bem apagado e pegou fogo, coitado do burro, só parou quando as cordas que atavam o carrego arderam, e ele se livrou do fogo. Andaram um mês a carregar o carvão as costas até ao Teixo, pois o burro teve de vir para a aldeia para recuperar, ainda se queimou bem, eram uns tempos... Mas olha que eu ainda me lembro é tenho saudades desse tempo, apesar da miséria, agora para vós é tudo muito fácil, naquela altura não havia nada de nada era trabalhar par sobreviver, era mesmo só para sobreviver...»"

No artigo Histórias do carvão na Serra do Gerês, "conta-nos João Batista, de Cabril, «Numa ocasião, o meu vizinho, coitado, foi à cabana de pedra, que naquele tempo eram cabanas de pedra, foi levar uma bucha e quando voltou viu o seu burro a fugir. O carvão, que ainda não estava apagado ao sair da terra, tinha pegado fogo no saco e o burro enquanto não ardeu as cordas que seguravam os sacos de carvão, fugiu!...»."

Felizmente, também há quem queira conservar o passado em palavras, tal como o livro "Aldeia de Pincães" (2009) e o livro "Para que a memória não se apague" (2013), ambos da autoria de Fernando Guimarães.

No livro "Aldeia de Pincães", o autor dedica um texto à actividade do fabrico do carvão (págs. 93 e 94), referindo "a forma de os mais pobres, os cabaneiros, conseguirem algum sustento, era fazer carvão para trocar por outros produtos.

As cepas da urze, torgas ou torgos, depois de arrancadas com um alvião ou uma enxada, eram queimadas num buraco escavado na terra para o efeito. Fazia-se uma fogueira com as torgas, indo colocando a quantidade máxima possível. Depois de se encontrarem todas em combustão, eram tapadas com terra, estas iam-se apagando lentamente ficando em carvão. Era preciso ter mito cuidado para que não houvesse nenhum orifício por onde pudesse entrar o ar, porque se isso acontecesse as torgas ardiam na totalidade, ficando em cinza. Dias depois, no mínimo dois, destapava-se a furna. Ensacado, o carvão era vendido por alguns centavos para o sustento da família. No livro de Rogério Borralheiro 'Montalegre Memórias e História', página 219, pode ler-se sobre Cabril: «(...) porém, como de tudo hé pouco pella aspreza da terra para passarem a mizerável vida a maior parte delles vive, de fazer carvão...»

O Padre Diogo Martins Pereiratambém faz referência a esta actividade no seu Manuscrito de 1744.

Todos os lavradores tinham uma forja e uma bigorna para fazer e reparar algumas alfaias agrícolas, afiar picos, ponteiros, brocas e ferrar as éguas ou cavalos. O consumo de carvão era grande. Obtido da raiz da urze, de boa qualidade, chegava ao povoado e a outros lugares transportado por burros. Com a melhoria das comunicações chegou a comercializado em Braga."

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Faltam 4 dias!

 


Faltam 4 dias para poderes dar a tua opinião, fazer a tua reclamação, dar a tua sugestão, fazer uma nova proposta ou concordares com o que o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) propõe para o futuro do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Até à data em que este texto é escrito, vi que foram feitas 25 participações públicas no portal participa.pt onde «decorre a discussão pública» do Programa Especial do Parque Nacional da Peneda-Gerês e do Regulamento do Gestão. É um número insuficientemente baixo quando está em causa o futuro do nosso único Parque Nacional.

Perante este cenário, estou já a imaginar no futuro os queixumes sobre as limitações que o ICNF poderá vir a impor. Nessa a altura, certamente que a participação terá sido de centenas, senão milhares!

Baseado num Programa Especial medíocre, o Regulamento de Gestão será a ferramenta que irá substituir o actual Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Este é um regulamento muito restrito para a visitação do nosso único parque nacional e é mais uma tentativa de implementar, mas de forma mais subtil, as intenções que já estavam presentes antes da aprovação do actual Plano de Ordenamento.

O Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) é um território moldado pela presença do Homem ao longo dos últimos milhares de anos, antecedendo a chegada das legiões romanas. Desde o seu começo, o PNPG sofreu das intenções extremistas da protecção de quem não conhece o território que foram ainda mais extremadas ao longo dos anos. A fraca relação com as populações locais, é um triste sinal dessa má relação que se perpetua ao longo dos anos e que sem dúvida será prejudicada com este Programa Especial e com este Regulamento de Gestão onde são estabelecidas regras incompreensíveis de visitação, ao mesmo tempo que se fecha os olhos às actuais obras ridículas a decorrer (Fecha de Barjas e leito do Rio Laboreiro) e ao verdadeiro forró do Verão.

Para que se tenha uma ideia das restrições impostas pelo novo Regulamento de Gestão, o mapa a seguir mostra os percursos que poderão ser utilizados nas actividades de visitação (mesmo quando aconselhados a alterar alguns destes trajectos, como, por exemplo, a ligação entre a Portela do Homem e Pitões das Júnias), os técnicos do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas preferiram fazer ouvidos moucos e continuar a aconselhar um percurso que coloca em risco que o utiliza.


Assim, têm 4 dias para participarem no futuro do Parque Nacional da Peneda-Gerês, lendo a proposta que foi criada e fazendo «escutar» a vossa voz com sugestões para que no futuro aquela área protegida não se transforme num couto de poucos.

Fotografias © ICNF

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCLXIV) - Cabeço de Cancela

 


O Cabeço de Cancela é uma paisagem bem conhecida para quem percorre o Vale do Alto Homem, Serra do Gerês. Localizado a meio do vale, é o limite da Encosta do Sol e constituiu um magnífico cenário juntamente com a Água da Laje do Sino por onde se despenham as águas da Ribeira da Teixa das Albas.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (11 a 18 de Outubro)

 


Os dias de chuva vão-se manter no final desta semana e prolongam-se para a próxima. Céus azuis teremos possivelmente a partir do dia 19 de Outubro.

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

"Queda de árvores corta estrada em Terras de Bouro"

 


Notícia do jornal O Minho para ler aqui.

A estrada florestal que liga às freguesias de Campo do Gerês, Covide e Carvalheira, em Terras de Bouro, encontrava-se cortada, na manhã desta quinta-feira, pela queda de árvores, devido ao meu tempo que ontem assolou a região do Minho.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

O Aliados chegam às Minas dos Carris

 


Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o governo de Salazar cria uma Comissão Governamental que tem como função a inventariação dos bens alemães abandonados nas instalações mineiras.

A 18 de Fevereiro de 1946, o Ministro da Economia nomeia uma Comissão Administrativa para as sociedades que eram então classificadas como germânicas e dirigidas pelo grupo Minero-Sílvicola. Esta Comissão era composta por Carlos Vasco Michon de Oliveira Mourão, Leonard Dismore, Herman Kasper e Bernard Blanger, estando sediada nas antigas instalações da Minero-Sílvicola no Porto. Ao mesmo tempo, era nomeada uma Comissão Liquidatária, também liderada por Carlos Mourão, que teria como função vender os bens alemães existentes nas concessões mineiras.

A 26 de Fevereiro de 1945 é elaborada uma listagem por parte da Embaixada dos Estados Unidos em Portugal, que refere as concessões mineiras na posse da Alemanha em território português. Das dezenas de concessões referidas, surgem 16 concessões em nome da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., nomeadamente a concessão do Salto do Lobo, Salto do Lobo 2, Carris 2, Carris 3, Garganta das Negras, Castanheiro, Corga das Negras 2, Lamalonga 1, Lamalonga 2, Lamalonga 3 e Pinhedo, na freguesia de Cabril - Montalegre e destinadas à extracção de volfrâmio; Carris 4 e Carris 5, na freguesia de Cabril e destinadas à extracção de berílio; Cidadelhe e Altar de Cabrões, na freguesia de Vilar da Veiga - Terras de Bouro e destinadas à extracção de volfrâmio.

A 31 de Janeiro de 1946 chegavam a Portugal os três membros de uma Comissão que seria responsável pela inventariação e posse dos bens alemães. Esta Comissão era composta por Bernard A. Blanger (França), Leonard H. Dismore (Grã-Bretanha), Herman Kasper (EUA) e Carlos Vasco Michon de Oliveira Mourão (nomeado pelo Ministério da Defesa Português).


Carlos Vasco Mourão


Leonard H. Dismore

Após procederem à posse dos bens no edifício da Companhia Mineira Lisbonense, e que também servia de sede da Companhia Minero-Silvícola, localizada no n.º 441 da Rua da Constituição, Porto, a 4 de Fevereiro, os membros da Comissão, acompanhados por um funcionário da Inspecção do Comércio Bancário (de apelido Pedroso), deslocaram-se à Serra do Gerês a 6 de Fevereiro.

O complexo mineiro dos Carris era então considerado a segunda mais importante instalação mineira em propriedade da Alemanha em Portugal. O relatório da Comissão descreve a sua localização numa "região extremamente selvagem e montanhosa, a cerca de vinte minutos a pé da fronteira Espanhola." O relatório da Comissão refere que "devido à natureza difícil da zona e por apenas ser servida por uma estrada, estas minas estão completamente afastadas da civilização durante o mau tempo e em ocasiões no passado, o pessoal teve de ser abastecida por meios aéreos."

Após referir que além da extracção de volfrâmio, a mina (abrangendo mais de 249 concessões - certamente referindo-se às concessões na posse da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda. na Serra do Gerês) fornecia esmeraldas, níquel e águas-marinhas, os membros da Comissão foram recebidos por José Rosas Bastos, que chegava ao complexo num carro alugado desde o Porto. Segundo o próprio José Rosas Bastos, ele seria o responsável pelos guardas da mina e pela manutenção da estrada. Questionado sobre a sua presença naquele momento nas Minas dos Carris, Bastos responde que havia sido informado de que a Comissão havia visitado as Minas de Bejanca, referindo que normalmente visitava as Minas dos Carris três vezes por semana. Porém, devido às más condições meteorológicas que haviam ocorrido nos últimos dez dias, não teria conseguido visitar as minas mais cedo. Este facto foi confirmado posteriormente por um Guarda Florestal que acompanhou os membros da Comissão.

Durante a permanência no complexo mineiro, os membros da Comissão examinaram as instalações referindo a existência de um armazém, posto de primeiros socorros, um conjunto de edifícios idênticos, uma cabana, edifício de escritórios, cantina e armazém, um galpão de abrigo de maquinaria, lavaria, galpão de motor, edifícios de armazenagem, cozinha, casa para os casais, vários edifícios de armazenagem com diverso equipamento.

No final da visita, os guardas foram avisados para que não permitissem o acesso ao complexo mineiro por parte dos antigos donos da Sociedade Mineira dos Castelos.

Durante a estadia em Portugal, os membros da Comissão composta pelos representantes Aliados visitaram vários edifícios e instalações que foram utilizados pelas empresas mineiras alemãs. A Garagem Imperial, no Porto, foi visitada por esta Comissão, mas sendo um espaço público, não se pôde proceder à sua selagem para segurar as viaturas, tendo a Comissão feito uma lista das mesmas e avisado o proprietário de que os antigos donos não poderiam ter acesso às mesmas.

Apesar de registadas em nome de outras companhias mineiras, as seguintes viaturas teriam sido utilizadas durante as operações de mineração registadas nas Minas dos Carris pela Sociedade Mineira dos Castelos.

Na garagem encontravam-se os seguintes veículos: 

- Graham 1934 com a matrícula AC-95-92 da Companhia Mineira das Beiras

- Chevrolet 1939 com a matrícula HF-10-93 da Companhia Mineira Lisbonense

- Chevrolet 1940 com a matrícula HD-11-05 da Companhia Mineira Lisbonense

- Buick 1935 com a matrícula AD-46-60 da Companhia Mineira das Beiras

- International Ambulance com a matrícula AB-13-60 da Companhia Mineira das Beiras

- Ford 1937 com a matrícula FB(?)-10-22 da Companhia Mineira Lisbonense

- Klöckner-Deutz 1943 com a matrícula NT-10-59 da Companhia Mineira Lisbonense

- Klöckner-Deutz 1942 com a matrícula NS-10-88

- Studebaker 1938 com a matrícula CC-10-69 da Companhia Mineira Lisbonense

- Mercedes-Benz (em reparação nas Oficinas Palhinhas)

- Lancia (na altura a ser utilizado por Carl Heinrich Jakob e que foi ordenado para ser depositado na Garagem Imperial).

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCLXIII) - Ponte Feia

 


A passagem da Ponte Feia, Serra do Gerês, com o ruidoso Rio Homem após uma noite de chuva e vento forte.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)


quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Obrigado!

 


Pessoalmente, agradeço trabalho realizado por estes militares na protecção do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

O Plano Operacional da Peneda-Gerês (POPG) assume-se como um instrumento proativo, de gestão operacional conjunta, que permite planear, organizar e coordenar um Dispositivo Conjunto de Defesa da Floresta Contra Incêndios no Parque Nacional da Peneda-Gerês (DCDFCI – PNPG), constituído por meios e recursos das entidades intervenientes, de forma a salvaguardar as áreas consideradas de maior interesse.

O período de vigência do presente Plano é de 1 de julho a 30 de setembro de cada ano, sendo ativado ou desativado, quando a análise das condições meteorológicas e operacionais, assim o justifiquem.

Nesta senda, para assinalar o término desta missão conjunta, a Companhia de Intervenção de Proteção e Socorro 11 recebeu uma pequena lembrança, oferecida pelo Posto de Busca e Resgate em Montanha do Parque Nacional da Peneda-Gerês, pelo bom relacionamento e espírito de camaradagem vivido no período em que partilharam as mesmas instalações.

Fotografia: GNR - UEPS

Voluntariado - Descasque de austrálias

 


Esta acção de voluntariado na Serra de Soajo irá decorrer a 19 de Outubro de 2024.

Os trabalhos dos Serviços Florestais na Serra do Gerês em 1909-1910 (parte II)

 


Esta é a segunda parte do artigo sobre os trabalhos realizados pelos Serviços Florestais na Serra do Gerês no ano económico 1909/1910. A primeira parte pode ser lida aqui.

Tendo ocorrido em Dezembro de 1909 grandes temporais por todo o país, foi solicitado aos serviços presentes no Gerês a elaboração de uma informação sobre todos os efeitos desse mesmo temporal na Serra do Gerês. Esta informação foi enviada a 31 de Janeiro de 1910...

O período de intensas chuvas que teve o seu término nos últimos dias de Dezembro, com consequências desastrosas em todo o território - sobretudo as zonas banhadas pelos rios Tejo e Douro - passou pelo Gerês sem deixar más consequências, nem nada de perdurável, pois nada originou de anormal.

Não foram registados desmoronamentos, enxurradas ou mesmo árvores arrancadas, como seria de esperar pela violência do temporal; apenas aqui e ali se registou uma quebrada de monte e uma ou outra rara árvore caída, o que, aliás, não causou qualquer estranheza, até porque casos destes já tinham ocorrido de maior vulto.

Porém, foi referido que, "é possível que nas regiões altas e mais afastadas da serra, onde agora não é possível ir, houvesse alguma grande desagregação de monte, devida à completa desnudação em que ainda se encontra e onde a acção corrosiva das águas poderia operar intensamente, mas na bacia do rio, que vem de Leonte ao Cávado e na vertente de Leonte ao Homem, e no curso deste rio, desde a sua nascença, até ao ponto em que sai do Perímetro Florestal do Estado, nada se produziu de extraordinário: as ravinas cresceram abundantemente, despejando-se nos vales, onde as águas encontravam os seus cursos de derivação para os grandes rios, mas a queda das águas fazia-se e faz-se sempre sem desmandos, porque todas as ravinas destas vertentes são fartamente arborizadas."

Por esta mesma razão, as encostas - quase todas revestidas nas vertentes dos rios Gerês e Homem - estabelecem já bem a regular distribuição das águas pela superfície do terreno, não produzindo arrastamento notável de terra ou de pedras, como acontecia ainda não há muitos anos, o que levava à inundação dos campos de cultivo situados a altitudes mais baixas.

Nas Caldas do Gerês estas situações eram, então, bem recentes, bem como era o efeito produzido na povoação pelo estrondo originado pelo choque de grandes rochas que eram arrastadas rio abaixo.

Este arrastamento de pedras ainda se produzia nesta altura, porém, não de pedras que provinham da montanha, mas das que o rio tinha no seu leito e que a pouco e pouco vão rolando à mercê das fortes cheias que aconteciam. No entanto, este facto era explicado pelo grande desnível e curta distância que o rio percorre entre Leonte, onde se encontra a sua nascente, até à sua entrada no Cávado. 

Curiosamente, e para evitar a possível ocorrência de "perigosas corrosões e escavações futuras" chegou-se na altura a sugerir a construção de "uma série de sólidas barragens que se estabelecessem desde a extrema sul do Perímetro até à Mijaceira e Água de Mourô, que é onde começam a afluir as ravinas que mais água trazem ao rio."

"Não permite a ignorância e a teimosia dos povos vizinhos afirmar que eles creiam na utilidade dos trabalhos florestais, sob este ponto de vista especial, mas é certo também que bastantes indivíduos há já, que veem, sentem e reconhecem esses benefícios e os confessam."

Por esta altura, as encostas de Nascente e de Poente, desde a extrema Sul até às vizinhanças do maciço de Leonte, estavam quase todas completamente revestidas de sementeiras de penisco de diferentes idades, caminhando do vale para os altos, e de arborização espontânea, esta sobretudo nas ravinas; a bacia de Leonte ao Homem e Portela tem bastante arborização natural e alguma sementeira, e as vertentes do Homem - aparte do percurso de S. Miguel até à sua origem e daí para diante, tinham por igual muito arvoredo, devendo assinalar-se o grande maciço de Bargiela e a encosta de Palheiros, onde todas as grandes clareiras estavam ocupadas por pinhal.

Curiosamente, já nesta altura Tude Martins de Sousa apontava uma diferença que ainda nos nossos dias é evidente: "Da Portela do Homem e em grande parte da linha divisória do reino desce sobre a Galiza a vertente espanhola da serra do Gerês, que está nua e onde os incêndios são continuados no verão, o que para nós constitui uma péssima vizinhança."

As fortes chuvas de Dezembro afectaram de forma significativa o Xurês, pois "ali houve desastres importantes e a pequena povoação de Vila Meã, que fica em baixo no vale, teve prejuízos calculados em mais de 2 contos de reis. Duas pontes perto de Vila Meã (...) que ficavam sobre pequenos rios que correm da Portela do Homem e do Altar de Cabrões, foram arrastadas na corrente e o vale e muitos campos ficaram inundados."

Não se pode dizer que os dias que noutros pontos do país ocorreram desastres devido às fortes chuvas, fossem no Gerês os de maior pluviosidade. O Posto Meteorológico da mata acusou 44 mm de água no dia 23 de Dezembro, quando já nos dias 17, 19 e 20 havia registado - respectivamente - 50, 59 e 64 mm.

A temporada de chuvas foi de facto longa, começando a 27 de Novembro, foi interrompida até 12 de Dezembro, faltando os dias 13 a 15 para continuar até 25 de Dezembro, parando depois até ao fim do mês.

No seu relatório, Tude de Sousa remata com a referência a uma enxurrada na ravina da Galeana que, saindo do seu curso no ponto onde ela entra no terreno particular de Emílio Biel, que atravessa, veio abrir caminho na encosta e cortar em baixo a estrada real entre Braga e o Gerês. Porém, este incidente ocorreu devido ao facto de a abertura da parede da propriedade do alemão, além de insuficiente, se ter tapado com paus e ramadas, e a água, não encontrando ali a sua corrente natural, parou e depois, encostando-se à parede, veio-lhe cavando os alicerces, lançando-a por terra, causando assim alguns prejuízos ao proprietário do terreno e menos à mata do Estado.

As alturas máximas que atingiu a água nos rios Gerês e Homem, acima do seu curso normal, foram, respectivamente, 1,85 metros e 4 metros, medidas tomadas sobre rocha e o cunhal onde assenta a ponte junto do Estabelecimento Termal (Rio Gerês)  e sobre rocha na Ponte Feia (Rio Homem).

Texto adaptado de "Mata do Gerês - Subsídios para uma Monografia Florestal" (Tude Martins de Sousa, 1926)

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCLXII) - Rio do Forno na Albergaria

 


O Rio do Forno na sua passagem pela Albergaria, Serra do Gerês, após uma noite de tempestade.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Rio do Forno e Rio Homem após a tempestade Kirk

 


Os caudais do Rio do Forno e do Rio Homem extremamente volumosos após uma noite de chuva e ventos fortes na Serra do Gerês devido à tempestade Kirk.


Rio do Forno na Albergaria


Rio Homem no Poço da Ponte Feia


Rio Homem no Poço da Ponte Feia


Rio Homem

Vídeos © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCLXI) - Poço da Ponte Feia

 


O irreconhecível Poço da Ponte Feia após uma noite de chuva e ventos fortes na Serra do Gerês devido à tempestade Kirk.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (9 a 16 de Outubro)

 


O dia 10 de Outubro deverá trazer uma acalmia nas condições meteorológicas para que os dias 11 e 12 nos voltem a brindar com mais chuva.

Arqueologia, o parente pobre das áreas protegidas

 


Enquanto olhava a chuva que caia e ao pensar nas oportunidades que se perderam no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) ao fim de 53 anos de existência, constatei - numa verdade já há muito consciencializada - que a arqueologia, em todas as suas formas, é o parente pobre das nossas áreas protegidas e em especial no PNPG.

Não é que espere ver um arqueólogo assumindo o papel de um Indiana Jones a percorrer as montanhas, vales e planícies das serranias do PNPG, mas numa proposta de futuro para o nosso único Parque Nacional surgir uma lista do que apenas está à vista, é um mau trabalho e um mau presságio.

De facto, nem o PNPG preserva o seu próprio património histórico - onde pára o arquivo dos Serviços Florestais ou mesmo o arquivo dos primeiros anos do PNPG? Estará na cave da sede do PNPG, naquela sala bafienta e a cheirar a humidade? Terá sido arquivado? Ou, ao melhor costume nacional - e tal como acontece com muita da documentação que estava nas instalações do Vidoeiro - foi todo parar ao lixo?

Posso estar enganado, mas que trabalhos recentes foram realizados pelo ICNF/PNPG? O que se descobriu, o que se preservou?

Porque é que na listagem elencada no Programa Especial do Parque Nacional da Peneda-Gerês não surgem as figuras rupestres de Absedo, as inúmeras construções existentes em pequenos vales e corgas das serranias do PNPG (como, por exemplo, no Curral do Pássaro, Serra do Gerês), as inúmeras áreas mineiras que constituem um património mineiro e uma memória colectiva destas montanhas, a possível anta em Lomba de Pau, a listagem das referências físicas que ajudaram a cartografar o território e construídas no século XIX? Porque se esconde as histórias e existência de velhos povoados medievais? Porque se ignora a História da presença dos Serviços Florestais nas serras do PNPG e o que se fez para preservar o seu património material e imaterial? 

A resposta é simples, tão simples que até dói: pois isto acontece porque quem dirige o PNPG simplesmente não quer gente no território e assim esconde-se ou ignora-se o que por lá possa existir para além daquilo que «já está à vista»!

A Arqueologia é a parente pobre da cultura e necessita de ser apoiada.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Aviso meteorológico - Protecção Civil de Terras de Bouro

 


A Protecção Civil de Terras de Bouro emitiu um aviso meteorológico por precipitação e vento forte entre as 21h00 do dia 8 de Outubro e as 9h00 do dia 9 de Outubro.

Os residentes do concelho devem adoptar medidas preventivas, segurando os seus bens materiais e evitando deslocações desnecessárias.

Especial cuidado às primeiras horas de luz do dia 9 de Outubro quando se deslocaram para os postos de trabalho e na deslocação para os estabelecimentos de ensino.