Assim, Ricardo Jorge fala-nos de paisagens conhecidas e das sensações que elas proporcionam começando por uma viagem entre Braga e as Caldas do Gerês...
O texto transcrito abaixo é mantido na sua forma original e com o português que era escrito em finais do Século XIX.
A Villegiatura e a Serra, por Ricardo Jorge
"(...)
Paysagem estreme do Minho derredor da estrada até meio-caminho, até á aldeia de bouro, onde se faz a étape de rigor. A enquadrar o largo da paragem, onde se encontra uma rasoavel locanda, ergue-se nas suas linhas de cantaria o vasto mosteiro cistercense de Santa Maria de Bouro, flanqueado pelo templo de dois campanarios. Merece uma visita o abandonado convento, construido no seculo passado, mas fundado com a nacionalidade portugueza, uma ruina vergonhosa agora. Só a egreja se mantem em regular conservação; o resto cahiu aos pedaços, soalhos e tectos; as hervas ruins tapetaram a ampla quadra do claustro; mais uns annos e até os pannos das espessas muralhas se rasgarão. Lá dentro, pela capella e sachristia, ha ainda preciosidades de talha, mobiliario rico, e azulejos panoramicos, sobre que todo o amador de bibelot passeará os olhos cubiçosos.
A estrada desenrola-se a partir d'alli pela encosta, serpenteando sobranceira ao Cavado, que espuma lá em baixo no seu leito apertado de granito.
O panorama transfigura-se; ao campo arroteado de milhaes, ao quadro agricola caracteristico do Minho, substitui-se quasi de salto a lombada agreste da montanha; apenas socalcos cultivados invadem os corregos aqui e além. Só na chapada do valle estende os taboleiros dos seus campos a aldeia de Parada do Bouro, povoados de casaes, onde se destaca a pyramide acuminada do campanario.
O principal povoado que a estrada atravessa no seu trajecto pela encosta é o de Valdozendo, com os seus socalcos em amphitheatro até ao rio. Do lado d'além continua a desfilar a lombada da serra da Vieira; a sua extensa vertente é agora um painel monstruoso de verdura, encimado pela aldeia do Penedo, antiga estação dos peregrinos do Gerez e cortada pela estrada de Chaves.
De repente ao dobrar uma arseta da montanha surge em cheio toda a cordilheira de Gerez nitidamente destacada pelos seus recortes e pela tonalidade acinsentada, coroada d'espigões em planos sucessivos, como cortinas colossaes descidas sobre o horisonte, afestoadas na franja em tintas peroladas. Lá está o Borrageiro, e o seu cortejo de collinas, a Pedra Bella a encimar a profunda ravina que descahe do desfiladeiro de Leonte e aloja a meio o casario das Caldas que mal de enxerga, e emfim o espigão bifido do Pé de Cabril, o pharol da serra.
(...)"
Imagem cedida por Paulo Figueiredo.
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