terça-feira, 17 de agosto de 2010

Actualização dos incêndios no PNPG (XLIII)

Quase 24 horas passadas desde que eu fiz a minha última actualização relativa aos incêndios no Parque Nacional da Peneda-Gerês e o actual cenário é muito mais pacífico do que tinhamos então. Por entre uma trabalhada de incêndios dominados e reacendimentos, surgem as afirmações do Ministro da Admistração Interna fazendo comparações absurdas. Também, só podiam mesmo ser absurdas pois é este o reflexo da actuação deste governo perante a catástrofe que se abateu sobre Portugal em geral e sobre o nosso único parque nacional da partícular.

Se ontem tinhamos a notícia de que a área ardida em 2010 era já superior à soma da área ardida entre 2007 e 2009, o governo apressou-se a informar o português desatento que a área ardida em 2010 foi inferior à área ardida em 2003 e 2005, anos em que governava o principal partido da oposição. Não deixa de ser interessante de que se fizermos uma revisão dos anos com as maiores áreas ardidas neste país, eles vão coincidir com os anos nos quais o partido que chefia o actual governo se encontrava na oposição. É uma comparação tão legítima como querer comparar o cenário actual com os cenários vividos em 2003 e 2005. Por outro lado, a única razão que levou a que o ano de 2009 fosse um ano no qual a área ardida foi inferior foi o facto de termos tido um Inverno de 2008 / 2009 muito mais chuvoso do que o Inverno passado.

Assim, por entre a falsidade, mentira e sonegação de dados e factos relativos aos incêndios florestais em 2010, tivemos uma prevenção inexistente nomeadamente no Parque Nacional da Peneda-Gerês aliada ao estado de guerra latente originado pela tumultuosa discussão do Plano de Ordenamento desta área protegida.

Quando o parque nacional se viu afectado pelo incêndio que por pouco não condenava ao esquecimento e á fotografias dos livros a Mata de Albergaria em Março de 2009, muitas foram as promessas de prevenção. A realidade no terreno é muito diferente. Prevenção não existiu, limpeza da zona ardida muito menos. Tiraram-se os pinheiros, ficaram as ramadas secas e muita vegetação que nesta altura do Verão constitui um verdadeiro barril de pólvora que somente espera um ressabiado que atice o fogo.

Quem são os culpados desta hecatombe? Toda a gente: governo por não ter precavido o inevitável; Parque Nacional por não ter sabido conversar, escutar e compreender as populações; estas por não entenderem e apresenterem posições extremadas, e por não serem capazes de resolver problemas antigos; aqueles que utilizam o Parque Nacional por não exigirem um... Parque Nacional; eu, tu e os outros por não apontarem o que estava mal e dar sugestões para melhorar.

Agora que o circo está para acabar e que as luzes dos relusentes e novos veículos da protecção civil vão voltar para Lisboa, pois os campos de golfe assim o exígem, as serras voltam a estar silenciosas. Mas desta vez mais pobres, tristes, revoltadas. As populações que viram anos de trabalho reduzidos a cinzas serão esquecidas até que um novo circo chegue à cidade...

Hoje ao caminhar pelo Vale do Alto Homem observava as nuves de fumo que se elevavam da Mata do Cabril. Aquilo não me parecia um incêndio dominado e pouco depois tive a confirmação de que afinal havia um reacendimento. Coisas acesas não se podem reacender; é a mesma coisa que encher algo que já está cheio ou o contrário, esvaziar o vazio! Mais tarde ao analisar os dados da Autoridade Nacional da Protecção Civil só posso chegar a uma conclusão, mais uma vez fomos enganados e a suposta verdade afinal não passava de uma mentira para esconder a tragédia que ainda ocorria na Serra Amarela: a Mata do Cabril esteve sempre a arder. Porquê? Porque vivemos num país faz de conta... fazemos de conta que está tudo bem e nem estamos para nos chatear. Os pacóvios foram enganados pela informação errada que o governo nos passou através de um de partamento governamental. E assim vamos continuar pios nada nos garante que amanhã pela manhão fogo não volte a surgir da terra e volta a reacender o que afinal nunca se apagou.

Situação operacional às 22:00 e notas sobre alguns incêndios:


- Incêndio do Mezio/Travanca: pelas 00:11 do dia 17 de Agosto o incêndio encontrava-se com várias frentes activas e assim se manteve até às 11:00. Entretanto eran accionados vários meios de combate tais como 2 aviões bombardeiros pesados Canadair (7:10) e um helicóptero hombardeiro pesado Kamov. Pelas 8:28 estava no local o COS - Comandante Operações Socorro: Comandante da Força Especial de Bombeiros (FEB) e às 9:00 o COS - Comandante Operações Socorro: Adjunto de Operações Distrital (ADOD) de Lisboa. O incêndio era dado como dominado às 12:16. Ao descer o Vale do Alto Homem encontrei uma paisagem muito distinta da que havia observado de manhã. A visibilidade para a Serra Amarela era quase nula resultante do facto de o fumo deste incêndio estar a ser arrastado por um vento Oeste para o vale.

- Incêndio de Fafião: pelas 0:30 do dia 17 de Agosto o incêndio continuava com uma frente activa, mantendo-se assim até às 9:55 altura em que passou para 2 frentes activas. O incêndio manteve-se nesta situação até às 15:42 altura em que era dominado. Ao longo do dia foram accionados os seguintes meios: 4 aviões bombardeiros médios (7:20) e um helicóptero bombardeiro pesado Kamov (13:35). Pleas 12:30 encontrava-se no terreno o COS - Comandante Operações Socorro: Chefe de Equipa dos Sapadores Florestais e às 13:39 o COS - Comandante Operações Socorro: Bombeiro de 3º do Corpo de Bombeiros de Salto. Convém referir que este incêndio teve início perto da Malhadoura e percorreu a Serra do Gerês até atingir a Rocalva!

- Incêndio de Sobredo: este incêndio foi pela primeira vez declarado às 21:51 do dia 10 de Agosto. Pelas 0:07 do dia 11 de Agosto o incêndio encontrava-se com 2 frentes activas. O incêndio estava dominado pelas 2:33. O incêndio de Sobredo volta a estar na lista da Autoridade Nacional da Protecção Civil a 17 de Agosto mas desta vez não surge identificado como estando no interior do Parque Nacional da Peneda-Gerês! É declarado às 17:16, estando às 19:16 com duas frentes activas. Nesta altuara encontra-se no local o COS - Comandante Operações Socorro: Bombeiro de 3ª do Corpo e Bombeiros de Ponte da Barca. Às 19:31 chega ao local o Adjunto do Presidente da Câmara Municipal de Ponte da Barca. O incêndio é dado como dominado às 19:51.


- Incêndio da Mata do Cabril: supostamente dominado às 10:40 do dia 15 de Agosto, este inc~endio teve um «reacendimento» pelas 11:12 do dia 17 de Agosto. De facto, este reacendimento ocorre muito mais cedo como se poderá constatar pela fotografias em baixo. Nesta altura o incêndio tinha uma frente activa (que se manteve até às 18:25). Pelas 11:15 são accionados 2 aviões bombardeiros pesados Canadair e um helicóptero bombardeiro pesado Kamov. O incêndio é dominado pelas 18:55 mantendo-se em vigilância.

- Incêndio de Carris: este incêndio não ocorreu em Carris e esta informação fornecida pela Autoridade Nacional de Protecção Civil terá como referência a pirãmide geodésica mais perto da deflagração do mesmo. De facto, o incêndio desenvolveu-se no topo Nordeste da Lamalonga perto da Matança supostamente no Vale da Ribeira das Negras.

Imagens do incêndio na Mata do Cabril a 17 de Agosto de 2010

Estas três imagens foram obtidas às 9:27




As seguintes imagens foram obtidas às 9:56:



As seguintes imagens foram obtidas às 10:07 desde o Modorno:






As seguintes imagens foram obtidas ás 14:46:



A seguinte imagem foi obtida às 15:18:


As duas seguintes imagens foram obtidas desde o viaduto sobre o Rio Cabril:



O seguinte esquema mostra o risco de incêndio 'muito elevado' e 'elevado' para o território do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Fotografias © Rui C. Barbosa

Fotografias © José Moreira


Fotografia © Instituto de Meteorologia, IP Portugal

1 comentário:

Alice Lobo disse...

Parabéns pelo trabalho demonstrado!