quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

'Vale da Teixeira'

A propósito da minha passagem ontem pelo Curral do Junco, deixo-vos aqui esta fotografia que apesar de não te muita qualidade, nos mostra o Vale da Teixeira provavelmente em Junho de 1935. A fotografia vem legendada com o seguinte texto no original "Por êste vale passa a Teixeira, o maior ribeiro de tôda a serra, cuja água limpidissima conserva uma frescura deliciosa no meio do calor que dardeja. No meio dêste vale dois grupos de carvalhos, uma dúzia de arvores com a cabana de pedra solta é o curral do Cambalhão. O outro lá no fundo, muito mais pequeno é o curral do Junco. A anfractuosidade na crista das montanhas que dá acesso à Borrageira, chama-se a Garganta da Preza. É por esta altura que termina a zona florestal."

De facto, tanto da Preza (Freza) como ao chegar ao Curral do Junco, existem dois marcos que marcam os limites da antiga zona florestal do Gerês. Um destes marcos está representado na fotografia em baixo.

Fotografias © Rui C. Barbosa


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Trilhos Seculares - Vidoal, Curral do Junco e Raiz

As previsões apontavam para neve que poderia cair aos 200 metros, logo uma razão para mais uma sessão de fotografia na Serra do Gerês tirando partido do que poderá ser o último fôlego deste Inverno. Assim, deixei de parte as minhas tentativas de identificar o Laspedo e o Peito de Escada e dediquei-me a fazer uma curta volta por carreiros já conhecidos.

Saída então da Portela de Leonte já pintada de branco. Se assim era, o resto do caminho prometia! Durante todo o percurso nunca parou de nevar, raramente isso me acontece, mas desta vez foi a levar com neve do princípio ao fim. Subida prudente até ao Vidoal com o Pé de Cabril sempre coberto por um nevoeiro impenetrável. O primeiro vislumbro do seu pitão foi já ao sair do Vidoal em direcção à Preza (Freza)... oportunidade logo para uma foto com o cume como se de uma ilha se tratasse a aparecer por entre as nuvens. A caminhada foi-se fazendo sempre com prudência, a melhor amiga na montanha, pois o gelo cobria grande parte do caminho. Lá nos píncaros em tons de cinza as pinceladas de neve eram muito mais fortes.


Chegado à Preza, um vislumbre enevoado do Camalhão e de Teixeira lá no fundo, levemente pintados de branco. A neve, essa, continuava a cair por vezes calma numa paz profunda, por vezes puxada a um terrível vento frio. Altura para decidir qual o caminho a seguir: ou Raiz ou Lomba de Pau. Já conhecendo a Lomba de pau pintada de branco, decidi-me pela Raiz, assim descida para o Curral do Junco com o seu destruído forno e tanque escondido e posterior ligeira subida para o carreiro que me levaria ao Curral da Raiz que esperava de branco imaculado. Ao longe, a silhueta do Pé de Salgueiro rasgava o horizonte com farrapos de neve e gelo a reluzir com a luz do Sol que agora se fazia sentir, mas com a neve sempre a cair. Mesmo quando por vezes o céu se tornava azul como num truque de magia, os cristais de gelo reluziam suspensos no ar e em correntes que rodopiavam dançando em espirais caóticas.

Na ânsia de encontrar o caminho para a Raiz, acabei por seguir um outro carreiro que me levaria por pequenos prados abandonados com árvores decrepitas. Apesar da vegetação ali crescer como se não houvesse amanhã, notava-se que em tempos teriam sido zonas de pastagem, mas fui incapaz de notar a presença de fornos ou outros abrigos. Cheguei a um ponto numa corga profunda guardada por um gigante granítico. O granito ali forma construções naturais que mais parecem colunas de velhos templos aos deuses de outrora. Agora locais abandonados, escondem certamente outras passagens que antes da chegava da Primavera ainda serão visitados e talvez me levem ao tão desejado Curral do Arenado. O dia chegará...

Para não entrar mais na vegetação fechada, regresso pelo mesmo caminho e sigo então em direcção ao Curral da Raiz que infelizmente por esta altura já havia perdido o seu manto branco. No entanto, a neve continuava a cair mas no chão já não resistia ao calor da terra e desaparecia numa existência efémera como que só ali tivesse aparecido para compor o quadro da minha passagem. Como disse o João Gil, vemos sempre a nossa presença na montanha de forma poética...

Nesta altura decido então regressar ao ponto de partida percorrendo o carreiro repartido entre a Costa ad Cantina e a Corga de Mouro em direcção à estrada nacional. Porém, e um pouco depois de deixar o Curral da Raiz para trás, reparo numa mariola que certamente me levaria ao meu destino mas seguindo um trajecto «novo». Assim, imbuído de um espírito de conquista (...isto é poético, não é?), arremessei as botas ao caminho e em pouco tempo estava em plena Corga de Mourô vendo velhas paisagens através de novas perspectivas. Por vezes, o conhecimento da serra leva-nos a ignorar certos sinais e foi assim que durante muito tempo estes pequenos troços de história me passaram despercebidos... eu não os via, mas eles estavam lá. Possuído (...) de renovada energia, dei comigo no velho carreiro de acesso ao Vidoal, mas agora em sentido contrário. Um pouco mais abaixo decidi seguir por um caminho alternativo que me levaria um pouco mais abaixo na estrada nacional, mas com a oportunidade de vislumbrar o Curral de Cubatas.

A neve já havia desaparecido de Leonte, mas continuava a cair em pequenos flocos de gelo como que num último respirar, o último fôlego, deste Inverno... ou talvez não!

Algumas fotografias do dia...

Fotografias © Rui C. Barbosa

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Plantação no Campo do Gerês

Tem lugar no próximo dia 2 de Março uma plantação no Campo do Gerês. Esta actividade terá lugar num terreno em frente da albufeira de Vilarinho das Furnas. 

O Parque de Campismo de Cerdeira e a Associação de Compartes ofereceram 500 carvalhos para esta acção.

O almoço e o lanche serão partilhados.

Quem quiser participar deverá comparecer no Campo do Gerês (S. João do Campo) às 10h00.

Fotografia © Rui C. Barbosa

O Laspedo

O Laspedo é um daqueles orónimos que há muito terá desaparecido das conversas sobre a Serra do Gerês. Talvez só os pastores mais antigos e alguns locais se recordem do nome e saibam a sua localização. Com a confusão que por vezes é introduzida com as cartas militares, muitos dos velhos topónimos e micro-topónimos vão desaparecendo da cultura popular, perdendo-se assim um valioso património etnográfico que não fica registado.

Há já algum tempo que venho falando sobre a localização do Laspedo. Aqui são dadas algumas possíveis dicas sobre a sua localização e o Laspedo pode ser nos nossos dias o Junco. Será? A fotografia que ilustra esta entrada no blogue não ajuda muito devido à sua má qualidade (já agora, foi tirada em Julho de 1933), mas ela mostra o Laspedo e tem a seguinte legenda: "Ao cair da tarde 'junto' à casamata de Albergaria no fundo do Peito da Escada, cerrando o horizonte, as três grandes massas do Laspedo, os Picos de Bargiela e de Eiras, estes últimos do lado do poente, por isso só os cimos do Laspedo sobressaem incandescidos pelos derradeiros fulgores solares como enorme fogueira, por entre a qual correm luzidios fios de ouro que são águas correndo de salto em salto para o vale." O texto fala-nos de uma «casamata de Albergaria» e «cerrando o horizonte, as três grandes massas do Laspedo, os Picos de Bargiela e Eiras», estando no final da tarde só o Laspedo iluminado pelos raios de Sol.

O mapa a seguir, elaborado em Junho de 1935, mostra-nos a localização relativa do Laspedo. Podendo conter informação errada, o mapa mostra o Laspedo já muito perto do Vale do Rio Homem na mesma linha de Varziela (Bargiela) e como se estivesse «à frente» do Cantarelo. O Junco, por seu lado, está muito mais a Sul, no entanto resta saber se este 'Junco' se refere ao alto do mesmo nome ou ao Curral do Junco localizado acima do Camalhão e em nada relacionado com este maciço.

Voltando ao Laspedo... este parece ficar junto do Peito de Escada, o canto que termina o Vale de Leonte ligando-o com o Vale do Homem ao lado do Prado de S. Miguel.

Agora, uma teoria... a 20 de Março de 2012 percorri um velho trilho que me levou desde o Rio de Monção até aos Prados Caveiros. Podem ler sobre esse caminho aqui. Na altura achei curiosa a existência de um marco triangulado que dominava o vale sobre Leonte e do qual não sabia (nem sei) qual a sua designação. A foto do marco triangulado vem a seguir...
A segunda fotografia mostra (à esquerda) a Varziela (Bargiela). Pergunta: será este o Alto do Laspedo? Se tivermos em conta que a casamata de Albergaria não é a Casa Abrigo da Albergaria, mas sim as antigas casas dos Guardas Fiscais, então o horizonte será dominado por esta encosta e ao por do sol em Junho, estará iluminada pelos derradeiros fulgores solares, enquanto que a encosta de Varziela estará já à sombra.

Este texto é em parte baseado em conjecturas e num mapa que pode não estar com a precisão desejada, mas será um contributo para uma saudável conversa sobre o Laspedo.

Fotografias © Rui C. Barbosa

Currais do PNPG (XXIV) - Curral do Rio do Forno


Escondido na Mata de Albergaria, o Curral do Rio do Forno encontrava-se numa passagem através de um vale fechado que daria acesso aos Prados Caveiros. O caminho serra acima já há muito tempo que se perdeu com a vegetação a tomar o seu velho lugar, mas o pequeno curral continua ao lado do Rio do Forno com os seus muros cobertos de musgo e as suas memórias a desvanecerem a cada dia que passa...


Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Faça nascer uma floresta

A Associação da Vezeira de Fafião irá promover no próximo dia 23 de Março, uma plantação de árvores. Esta é uma boa tradição que é promovida de forma anual por esta associação de Fafião. Serão plantadas 1.500 árvores.

A concentração é às 9h30 em Fafião.

Se desejarem participar podem se escrever aqui.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Trilhos Seculares - Do Arado às alturas da Arrocela

Dia frio e ventoso por vezes a ameaçar chuva e com a neve a cair muito timidamente em Teixeira. A jornada começou no Arado, empinando escadas acima em direcção ao Curral de Giesteira com o seu perfeito forno, o seu peculiar carvalho e as pedras à espera de uma nova land art em dias mais amenos. O Curral de Giesteira é mais um paraíso bucólico no meio da agrura granítica que caracteriza aquela zona da Serra do Gerês. Bom, de facto não é só ali, mas as andanças do Arado parecem particularmente propícias àquele caos.

Do Curral de Giesteira seguiu-se caminho em direcção ao Curral de Coriscada e depois fui à procura do curral do momento. Não é caso único na Serra do Gerês, haver dois currais com abrigos tão próximos um do outro. Neste caso, o desnível acentuado entre os dois locais talvez explique em parte a sua existência. De qualquer das formas, nesta altura desconheço a designação daquele local (isto para não lhe chamar Curral de Gurveira por se encontrar perto da corga com o mesmo nome).


Deste curral partem três carreiros: um deles foi o que utilizei e que o liga ao Curral de Coriscada, um outro irá ligar à Malhadoura e Tribela, e um terceiro que segue em direcção ao vale do Rio Conho. Não tendo um outro objectivo a seguir, decidir tomar este último. O trilho segue pelo bordo do vale permitindo-nos a paisagem dos Portelos de Rio Conho e o majestoso Cutelo de Pias (ou Roca de Pias) a encimar o vale. A paisagem é deslumbrante e convidativa a se perder largos minutos em contemplação ou a esperar pelo melhor enquadramento das nuvens para a fotografia do momento. No bordo do vale o carreiro parece não ter continuação, porém um olhar mais atento vai vislumbrar vários sinais de passagem por entre a vegetação e mais adiante a recompensa de uma velha mariola indica-nos que provavelmente só iremos parar nas alturas da Arrocela.

À medida que vamos percorrendo o caminho, o vale vai-se deslocando para trás e aproximamo-nos de Arrocela. Sendo um trajecto pouco utilizado, por vezes é necessário parar e observar as passagens caso contrário corremos o risco de entrarmos em escarpas que só irão dificultar a progressão. O caminho, esse está sempre lá, se bem que por vezes é necessária alguma imaginação e experiência para determinar a sua passagem. A fase mais complicada será já na base do cume de Arrocela. A orientação é auxiliada por um velho portelo e a partir daqui o caminho torna-se mais intuitivo. Numa parte mais plana já no Alto de Arrocela, uma velha mariola indica a direcção do cume, mas esta só deve ser seguida se realmente é o cume que queremos! Daqui a paisagem é magnífica com o Cutelo de Pias, a Meda de Rocalva e a Roca Negra, num trio perfeito, além das escarpas íngremes e dos vales encaixados. Aqui e ali, pequenas mariolas indicam a direcção de outros dias... haverá tempo para tudo!


Com o Curral de Arrocela à vista, decido seguir em direcção a Teixeira. É nesta altura que o vento sopra mais frio e mais forte, como que avisando da borrasca para os lados dos píncaros dos Carris e da Nevosa. A serra ainda está coberta de neve nas suas cotas mais altas e ali perto, o Borrageiro confirma isso mesmo. O caminho levar-me-á ao fim do Rio do Arieiro quando este se junta com o Rio do Camalhão. O Curral de Teixeira estava já ali e foi o local do repasto do dia.

Após o almoço prossegui em direcção ao Curral da Lomba do Vidoeiro e depois ao Curral da Carvalha das Éguas de onde desci por um caminho manhoso até ao estradão que me levaria de volta à Ponte do Arado e ao final da jornada.

Ficam algumas imagens do dia...



































Fotografias © Rui C. Barbosa