quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Feliz 2015!


E chegamos então ao final de mais um ano. A fotografia em cima (de 31 de Dezembro de 2014) simboliza metaforicamente e em toda a sua plenitude o ano que termina.

Espero que 2015 seja um ano cheio de sucesso e prosperidade a todos os leitores e amigos do blogue Carris e que todos tenhamos finalmente a coragem de tomar o futuro nas nossas mãos e transformar este país num local onde de facto valha a pena viver.

Sem determinação e força as nossas lutas não serão bem sucedidas!

Bom 2015 para todos!

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Histórias Mineiras na Serra do Gerês



Ainda estão disponíveis exemplares do livro 'Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês'. Para saber como comprar, pode contactar o autor.

Perdidas na imensidão granítica da Serra do Gerês, as Minas dos Carris representam um património de memórias esquecidas pelo Homem.

Reduzido a um belo conjunto de ruínas que têm como companhia a solidão da montanha e os gelos do Inverno, este já foi um lugar de vida de onde se tirava o volfrâmio das entranhas da Terra.

Para lá destas ruínas jazem lutas pela posse da terra, histórias de mineiros, vivências de um dia a dia de sacrifício e imposições que levaram a uma singularidade deste lugar em todo o Portugal.

Infelizmente esta era uma história por escrever e foi esse o desafio que há já vários anos lancei a mim próprio. Aos poucos fui conseguindo juntar as peças de um puzzle e limpando a poeira de um quadro que cada vez se tornava mais fascinante.

A região é áspera e dura, assim como era a vida daqueles que durante muitos anos lutaram por tirar da terra o parco sustento ou a fugaz fortuna para quem nada tinha e que do dia para a noite conheceu a riqueza no alto de um apogeu endinheirado, mas pronto para o mergulho de volta na mais vil miséria.

Nos nossos dias, as Minas dos Carris encontram-se em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, uma área protegida que para além de salvaguardar as riquezas naturais de uma região poderia ter feito mais pela riqueza de um património que se perde a cada dia que passa.

Desde a sua criação em meados dos anos 40 com a presença da Alemanha Nazi, passando pelo seu ponto alto nos 50 com a formação de um complexo mineiro socialmente avançado, passando pelo seu declínio e ressurgimento nos anos 70, até ao seu fecho irrevogável em finais dessa década, o livro ‘Minas dos Carris – Histórias Mineiras na Serra do Gerês’ constituí um esforço individual de investigação de mais de sete anos por entre arquivos, milhares de quilómetros percorridos a pé, contactos pessoais e ligações além mar que me permitiram reunir um vasto espólio de memórias escritas e milhares de fotografias que retratam todas as épocas das Minas dos Carris. Todas elas encontram-se agora neste livro.

Este emocionante trabalho individual pretendeu acima de tudo ir explorando a cada nova descoberta a história daqueles que do nada transformaram a desolação granítica da Serra do Gerês num local de vida, mas também fazer ver com essa história o quanto temos de preservar na nossa memória colectiva.


Pequeno incêndio no PNPG


Um pequeno incêndio deflagrou no Parque Nacional da Peneda-Gerês no dia 29 de Dezembro de 2014.

O incêndio ocorreu na zona entre a Fraga do Suadouro e Redondelo, tendo sido combatido pelos populares de Campo do Gerês.

(Actualizado com a informação sobre quem combateu o incêndio)

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Procuro fotografias antigas das Minas dos Carris


A História das Minas dos Carris conta-se por palavras mas também por imagens. Este blogue foi um primeiro passo para tentar escrever a história das Minas dos Carris, história essa que muitos ajudaram a escrever no livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês".

No entanto, existe uma lacuna no que diz respeito aos registos fotográficos das Minas dos Carris em relação aos anos 60 do séc. XX. Certamente que existirão fotografias desta época «escondidas» nos baús dos registos fotográficos familiares ou naqueles álbuns de fotografias arrumados no sótão. Todas estas fotografias podem ajudar a preencher este maravilhoso puzzle que se vais construindo a cada registo encontrado. No entanto, todas as fotografias de outras épocas têm interesse para ajudar nesta tarefa!

Para tal peço a quem tiver registos fotográficos sobre as Minas dos Carris que me enviem as suas fotografias para assim ajudar a escrever uma parte da nossa história que ainda se mantém escondida.

Todos os direitos serão reservados aos autores das fotografias que poderão ser utilizadas aqui neste blog ou em trabalhos posteriores.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Vale do Alto Homem em 2014


As paisagens do Vale do Homem, Serra do Gerês, vistas desde a passagem do Modorno ao longo de 2014.

Vídeo © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

domingo, 28 de dezembro de 2014

Cruz do Touro na toponímia geresiana


A minha recente passagem pela Cruz do Touro pôs-me a pensar sobre este topónimo (orónimo) da Serra do Gerês.

A questão surge mais uma vez devido à diferença existente entre a folha 30 da Carta Militar de Portugal com trabalhos de campo de 1949 e a folha 30 da Carta Militar de Portugal com trabalhos de campo de 1993.

Assim, a Carta 30 de 1949 parece-nos indicar o orónimo 'Cruz do louro', enquanto que a Carta 30 de 1993 nos indica 'Cruz do Touro'. Esta pode parecer uma questão de menor importância, porém ao olharmos novamente para as duas cartas reparamos que a encosta a Norte da Cruz do Touro é designada por 'Louro'. Levanta-se assim a questão: 'Será que o orónimo que surge na Carta 30 de 1949 está certo?'



De facto, tem-se verificado que a Carta 30 de 1993 apresenta vários erros na localização de vários orónimos, o que nos torna um pouco cépticos em relação à sua qualidade. De salientar que em 1949 muitos dos trabalhos de consolidação da informação existente na Carta Militar de Portugal beneficiou de facto de trabalhos de campo, coisa que provavelmente não aconteceu com a carta mais recente, baseada em imagens de satélite e na interpretação (ou cópia) da informação existente nos documentos de 1949, o que por si só poderá ser um elemento de introdução de erro.

Então de que forma atestar o verdadeiro nome daquele ponto geográfico? Tal como foi feito para o orónimo 'Carris', a melhor maneira será consultar informação mais antiga que possa referir o verdadeiro nome.

Sabendo que aquele ponto foi utilizado como ponto de delimitação da área do Gerês Florestal em finais do séc. XIX, a minha primeira referência foi a utilização de um mapa de Tude de Sousa existente no livro "Serra do Gerez - Estudos, Aspectos, Paizagens" editado em 1909. Infelizmente, tal mapa não foi de grande ajuda pois somente surge o Alto das Eiras como ponto limítrofe naquela zona. Teria então de optar por outra fonte.

Interessava-me saber ali a delimitação da área florestal. No livro "Vilarinho da Furna - Memórias do passado e do futuro" (2005), Manuel de Azevedo Antunes dá-nos a delimitação completa do Gerês Florestal. A sua informação é baseada na "nota cadastral" anexa ao Decreto de 9 de Setembro de 1904 e este refere o 'Marco triangulado da Cruz do Touro'. 

Esta informação parece então confirmar a veracidade deste orónimo e o facto de na Carta 30 de 1949 surgir 'Cruz do louro' poderá dever-se simplesmente ao facto da parte superior do 'T' ter sido sobreposta pela delimitação da fronteira na carta topográfica; curiosamente, na Carta 30 de 1949 o texto surge ligeiramente deslocado para a esquerda para evitar o mesmo problema.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Extractos das Folhas 30 de 1949 e 1993: Instituto Geográfico do Exército

sábado, 27 de dezembro de 2014

Cabeçalho 2015


Como vem sendo hábito a 27 de Dezembro apresento o novo cabeçalho do blogue Carris para o novo ano que se aproxima.

A nova imagem que irá acompanhar as actividades deste blogue em 2015 é um trabalho gráfico de Alexandre Matos baseado numa fotografia de Rui C. Barbosa obtida nas Minas dos Carris a 13 de Dezembro de 2014.

Alexandre Matos, autor do blogue Mundo da Alma, tem colaborado com o blogue Carris na criação das imagens que servem de capa de apresentação do blogue, tendo sido o autor das imagens que foram utilizadas em 2013 e 2014 como capas do blogue, contribuindo assim para a valorização deste trabalho que entra no seu 9º ano de existência.

Fica aqui o meu agradecimento ao Alexandre pelo trabalho e pela companhia nas longas caminhadas pelas serranias geresianas.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Trilhos seculares: Cruz do Touro e Laje das Eiras


Hoje decidi voltar-me para o 'outro lado' da Serra do Gerês e visitar o seu limite a Poente, sem no entanto chegar a Eiras que marca o limite a Oeste do antigo Gerês Florestal.

É sempre discutível estabelecer os limites de uma montanha, principalmente no caso da Serra do Gerês. Dizer que a serra termina aqui e começa ali, pode ir em contra aquilo que os naturais consideram os seus limites no terreno, e assim essa discussão académica e popular deixo para outra altura. Para este texto irei considerar o limite da Serra do Gerês como sendo estabelecido pelo Rio Cabril na continuação a Norte do Ramisquedo.

A hora de Inverno impõe sempre um acordar ainda com a luz do dia ausente. O frio da manhã barra-se no rosto assim que se abre a porta de casa e é aqui que, se alguma réstia de sono houvesse, ele desaparece por completo. A romagem ao Gerês faz-se enquanto que a noite se vai escondendo num dos quatro cantos do mundo e ali chegados a serra é iluminada por uma luz tímida que se esforça a atravessar as nuvens e os farrapos de nevoeiro que vão resistindo às primeiras horas da manhã.


O destino e os objectivo neste caso estavam bem traçados: iria «conquistar» a Cruz do Touro e descer à Laje das Eiras. Porquê estes destinos... porque sim, e chega! O trajecto, de certa forma já conhecido, não seria difícil. O percurso leva-nos por entre paisagens dominadas pela albufeira de Vilarinho da Furna e, nos dias claros, pelas antenas do Muro, na Louriça.

O vento frio e o nevoeiro marcaria a jornada até à Cruz do Touro impedindo o registo fotográfico dos grandes espaços. A maleita meteorológica, dissipar-se-ia já no final do percurso, permitindo ver o céu azul e penalizando um levantar tão temperano.

Depois de alcançar o tipo da Cruz do Touro, baixamos para a Laje das Eiras e daqui tomamos um velho caminho que nos levaria até à Chã, permitindo aqui regressar ao percurso que havia-mos feito de manhã.

De certa forma, ficou a ida ao ponto que nos havíamos proposto, mas a insatisfação pela falta dos grandes horizontes. Fica assim prometido para 2015 uma ida ao Alto da Eiras para satisfazer o ego...

Do topónimo (orónimo) Cruz do Touro ficou a dúvida sobre a sua veracidade... será um assunto para uma publicação posterior.

Algumas imagens do dia...























Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Programa de visitas guiadas às Minas dos Carris


O Parque de Campismo de Cerdeira juntamente com o blogue Carris irá realizar em 2015 uma série de visitas guiadas mensais às Minas dos Carris.

Estas visitas serão feitas ao longo do Vale do Rio Homem até ao complexo mineiro, regressando pelo mesmo percurso. No programa está incluída uma visita guiada pelas ruínas mineiras e o enquadramento histórico das mesmas.

As visitas serão realizadas a 25 de Janeiro, 22 de Fevereiro, 22 de Março, 12 de Abril, 10 de Maio e 7 de Junho.

Para mais informações devem contactar o Parque de Campismo de Cerdeira.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

As Minas dos Carris em livro neste Natal


Para quem ainda não se decidiu sobre o que oferecer neste Natal, porque não oferecer a história das Minas dos Carris em livro?

Estando já a poucos dias do dia de Natal, já não será possível enviar a tempo o livro pelo correio, assim, e para quem reside perto de Braga ou do Gerês, há a possibilidade de entregar o livro em mão!

Em final de edição, o livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" pode ser a sua prenda de Natal especial.

O abrigo tosco


O caminhar na montanha potencia os extremos de emoções. A nossa pequenez torna-se evidente perante tamanha grandeza e imensidão.

Num mundo de rocha e largos espaços, por vezes o melhor conforto surge num muro de pedra solta que forma o nosso abrigo tosco para a noite fria que se avizinha.

Na imensidão por detrás do Compadre, alguém um dia teve a necessidade de se abrigar para a noite e junto daquela grande pedra improvisou um abrigo. Depois da noite, lá ficaram as pedras, marca da presença, efémera, do homem naquele local.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

O Gerês que se ergue perante nós


Subindo a Corga da Abilheira, no seu topo, a Serra do Gerês ergue-se majestosamente perante nós.

Vídeo © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

domingo, 21 de dezembro de 2014

Água da Lage do Sino no Vale do Homem


Ninguém fica indiferente quando passa perto da Água da Lage do Sino junto do Modorno no Vale do Rio Homem.

Vídeo © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sábado, 20 de dezembro de 2014

Exploração mineira junto do Compadre


No seu livro "O Gerês: de Bouro a Barroso - Singularidades patrimoniais e dinâmicas territoriais", Rosa Fernanda Moreira da Silva apresenta na pág. 169 um interessante mapa da Serra do Gerês onde estão assinalados os pedidos de solicitação dos direitos de concessão de dezenas de explorações mineiras. Uma lista deste pedidos surge na obra "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", de Rui C. Barbosa, págs 88 a 91. 

No entanto, ao consultar este mapa bem como a listagem referida, um aspecto curioso salta à vista. Todos os pedidos se referem ao concelho de Terras de Bouro, pois tanto o mapa como a listagem têm como referência os Livros de Registo de Minas existentes no Arquivo Municipal de Terras de Bouro. Assim, uma grande parte da Serra do Gerês terá sido deixada de parte no que diz respeito à sinalização destes pedidos de concessão. Terá sido mesmo assim? De facto, não! Infelizmente, o arquivo da Câmara Municipal de Montalegre foi destruído por um incêndio no qual se perderam muitos registos importantes no que diz respeito à exploração mineira daquele concelho.

Em resultado desta situação, e partindo do princípio que outros registos semelhantes não existem (nomeadamente no Instituto Geológico e Mineiro ou nos arquivos do Ministério da Economia), torna-se uma tarefa árdua conhecer todas as pequenas e micro-explorações que ocorreram na Serra do Gerês limitada ao concelho de Montalegre. Isto é importante no que diz respeito às suas localizações relativas e às suas designações.

Numa recente incursão na Serra do Gerês deparei-me com uma pequena escombreira resultante de actividades de mineração situadas entre os Cornos de Candela e o Compadre, mais precisamente entre o Corgo de Candela e o Corgo das Lamas de Compadre. A exploração terá sido pequena aproveitando um afloramento do volfrâmio (?) à superfície. As trincheiras abertas foram entulhadas com o escombro após o final da exploração.



Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

8º aniversário do blogue Carris


O dia 19 de Dezembro de 2014 marca o 8º aniversário deste blogue.

Ao longo destes 8 anos muitos têm sido os textos aqui escritos, notas pessoais para não deixar esquecer as Minas dos Carris, na Serra do Gerês, e o resultado tem sido fabuloso.

A edição do livro 'Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês' marcou um marco importante neste blogue e o livro é a prova de que os conteúdos da chamada blogosfera são também importantes nos registos da nossa identidade como país e como povo.

Como seria de esperar, o conteúdo do blogue extravasou o seu objectivo inicial, transformando-se numa base referencial sobre a Serra do Gerês, em particular, e sobre o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), em geral. Infelizmente, o tempo não é suficiente para cobrir as outras serras que integram o PNPG, mas o trabalho vai-se fazendo, como o lento caminhar pelos carreiros serranos.

Resta-me agradecer a todos aqueles que se mantêm fiéis à leitura do blogue e que me têm acompanhado nas dezenas de caminhadas que todos os anos lá vou fazendo tanto pelo Gerês como pelas Minas dos Carris e que compartem comigo o silêncio e a calmaria do lento passar das eras.

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Trilhos seculares - Da Abilheira a Céu Rubio, uma incursão num Gerês profundo


Fazer-se uma caminhada na Serra do Gerês e sair de lá com a sensação de que muito mais há para descobrir, é ter um dia de montanha ganho! Pois foi com esta sensação que terminei esta visita à Serra do Gerês, naquela zona mais perto de onde nasce o Sol.

Muitos colegas e amigos dizem que eu conheço bem o Gerês. Respondo-lhes com um sorriso e digo-lhes que cada vez que mais o conheço, aumenta em mim a certeza de que pouco sei. E isto é o suficiente e o segredo de tornar cada caminhada uma nova descoberta. Por muita experiência que possa ter a caminhar pelo Gerês, sei que jamais o irei conhecer... até porque a montanha não se dá a conhecer. A montanha só a conhece quem ela quer, sem folclore...

Estas incursões implicam sempre um acordar antes da chegada do Sol. O dia vai despontando durante a viagem e quando se chega ao «local de partida», o dia ainda se espreguiça. O Sol subia vagaroso e enublado para os lados da Serra do Barroso e aos poucos ia iluminando a Corga da Abelheira, porta de entrada neste Gerês profundo. É no topo desta corga onde temos uma daquelas visões de Holywood nas quais o plano nos mostra a vasta paisagem que vai surgindo no horizonte. É o próprio caminhar que nos proporciona a sensação livre das amarras de uma tela que esconde sempre o que se passa para lá daquela linha onde a luz se perde. Aqui, não! O rodar da cabeça mostra-nos a tela da vida real, ali, no meio daquele nada que é tudo. Naquele silêncio tão profundo quebrado pelo passar do vento e pelo cair desamparado das águas que lá ao fundo vão formando o Ribeiro Dola.



O meu objectivo estava ali, no meio daquela nada que é tudo, encoberto, talvez, pelas nuvens que desciam em cascata a vertente da montanha vinda das terras Galegas. Deixando para trás a Abelheira, segui rumando aos Currais da Biduiça com a sua nova cabana. Esperava poder ali atravessar o Ribeiro de Biduiça, mas a prudência e umas botas demasiado gastas e cansadas de milhares de quilómetros, levaram-me a caminhar na sua margem para montante à procura de passagens mais seguras. Todas as que iam surgindo pareciam relativamente fáceis a certa distância, mas dissuasoras na proximidade.

Decidindo regressar ao carreiro, este levou-me até ao Curral de Rochas de Matança já com o objectivo de prosseguir para o Curral de Lamelas de Cima, mas de soslaio noto que o ribeiro se estreita ali na viragem para o Corgo de Lamelas e dá-me a oportunidade de o atravessar.



O bom destes velhos percursos é que as mariolas ali permanecem para a eternidade, dando-nos a direcção através dos segredos que se escondem nos recortes da serra e por detrás dos grandes rochedos. Ora acompanhado pelos ribeiros, ora mais solitário e silencioso, vou chegando ao Curral de Lamelas de Baixo ao mesmo tempo que lá atrás, para os lados dos bordo do Vale da Ribeira das Negras, se dá a interessante luta entre a névoa que quer resistir ao pouco calor do Sol. Vencendo parte da montanha, a onde vai-se dissipando quando mergulha no relativo abismo.

Tal como em todo Gerês, estes currais são como que oásis no meio do deserto. Isto tem mais significado no pico de um Verão tórrido onde podemos encontrar o conforto das sombras que vegetação que por ali vai-se mantendo. Por esta altura, o solo alagado, faz-nos lembrar que mais dias de chuva e neve estão para chegar. Isolados e longínquos, diz-se que o tempo ali passa mais devagar... assim parece. Estas paragens têm o seu «quê» de mágico e místico, como se estas montanhas fossem habitadas por fadas e duendes, ou parecem um palco onde o profano é sempre mais forte do que qualquer ladainha que se possa murmurar nos momentos de maior aperto. Nunca se sabe o que estará por detrás de uma giesta...


O caminho vai prosseguindo até chegar ao Curral de Lamelas de Cima. Protegido a Norte pelas vertentes que terminam no Alto de Lamelas, este é local de paragem e pernoita. Se o forno do Curral de Lamelas de Baixo estava relativamente bem visível, o forno do Curral de Lamelas de Cima encontra-se todo tomado pela giesta e só um olhar atento o descobre. Faltando ainda um longo percurso na minha jornada, não me demoro muito tempo, apenas o suficiente para aquecer a alma com uma cevada retemperante e para retirar as cartas topográficas da mochila, descobrindo então que a carta mais importante para o percurso teria ficado em casa. Paciência!

E nesta parte da Serra do Gerês onde se encontram muitos percursos esquecidos, encobertos pela vegetação, mas lembrados pelas mariolas cobertas de líquenes, atestando a sua antiguidade. Se em tempos a zona era percorrida pelas vezeiras, nos nossos dias só os animais tresmalhados ou os cavalos semi-selvagens para aqui se refugiam. Isto faz com que por vezes seja um pouco complicado atravessar carvalhais espontâneos ou zonas de maior vegetação. Há sempre que parar e dar lugar ao instinto para ver onde estará a próxima mariola para não corrermos o risco de desvios desnecessários. A mariola que se vislumbra demasiado longe pode ser sempre um efeito natural da rocha ou uma ilusão que vai custar muito «sobe e desce».


Aqui a montanha enruga-se e flecte os músculos pondo à prova as palavras do poeta. Profundos vales e escarpas alcantiladas, trazem-nos o desejo de explorar e aqueles malditos «traços» na paisagem parecem sempre novos caminhos a percorrer. Chegarão os dias, mas agora são demasiado curtos para incursões mais atrevidas.

Depois de passar o Curral de Lamelas de Cima e de ponderar se as nuvens me iam fazer entrar num mundo à parte, prossegui em direcção ao carvalhal que há muito andava para visitar. De facto o local é fascinante com a cores de Outono a contrastar com a rudeza cinza do granito que ali assume a pose de um rei. Encontrando velhos carreiros e em busca de sinais de velhos currais, segui o curso de água até ter a oportunidade de o atravessar. Ali não havia estruturas ou estarão escondidas pela abundante vegetação.

Na realidade procurava dois currais indicados pelo Paulo Costa, o Curral da Fraga do Paul e o Curral de Céu Rubio. Ao primeiro sabia de antemão que seria complicado chegar, mesmo tendo tempo o nevoeiro não me deixaria progredir muito. Assim, segui na direcção do Curral de Céu Rubio. Não faltou muito para chegar a um primeiro curral, do qual não sei o nome. O seu forno está destruído e em parte tomado pela vegetação, mas o espaço é agradável. Na realidade fica no início do pequeno vale que mais tarde me levaria ao Curral de Fornalinho de Cima. Saindo deste primeiro curral, e caminhando poucas centenas de metros, acabaria por encontrar o Curral de Céu Rubio. Na altura tinha dúvidas sobre o seu nome, mas mais tarde ao comparar com outras fotografias, confirmei que de facto aquele era um dos currais que procurava. Alegria!

Já perto do Inverno, foi-me oferecido um dia ameno, apesar do vento frio que por vezes se fazia sentir. Poré, àquela hora e deixando o Curral de Céu Rubio para trás, sentia o calor do Sol na pela suada. Esta sensação acompanhou-me por longos minutos, passando o Curral de Fornalinho de Cima no qual finalmente «descobri» o seu velho forno tomado pelas giestas.

À medida que estes currais iam ficando para trás, começava a surgir a questão de como atravessar a Ribeira de Biduiça quando chegasse a hora. A dúvida surgia pelas mesmas razões que já referi e sem dúvida que esta era a altura de me começar a preocupar com isso, pois se a decisão fosse tomada mais adiante poderia implicar um grande desvio. Sem dúvida que certas decisões devem ser tomadas no momento certo e sem dúvida esta foi uma delas.

Teria então de regressar aos currais de Lamelas e isso implicava ter de ladear o Compadre a Norte. Saindo do Corgo de Candela teria de entrar no Corgo das Lamas do Compadre e daqui encontrar uma passagem para os currais de Lamelas. A certa altura, enquanto procurava um possível carreiro mais no fundo do corgo, reparo numa pequena escombreira. A aproximação confirmou que se tratava de uma antiga exploração mineira da qual já me haviam falado quando não muito longe tinha reparado num pequeno muro de pedra solta que provavelmente esteve em tempos associado aos trabalhos ali realizados. Registo fotográfico feito para a posteridade, comecei a descer a corga procurando um local para atravessar o ribeiro. Na outra margem lá surgiu o que resta de um rufenho carreiro que abandonaria mais adiante quando comecei a subir a vertente Norte do Compadre. Em breve encontraria um velho trilho mariolado que me levaria directo ao Curral de Lamelas de Cima, onde teria um merecido descanso.

Não querendo regressar à Biduiça pelo mesmo trajecto pelo qual havia aqui chegado inicialmente, resolvi não seguir pelo Corgo de Lamelas, mas subir um pouco mais e entrar no vale seguinte já no Ribeiro de Biduiça. Aqui tinha a certeza que conseguiria atravessar o ribeiro e o caminho até ao Curral das Rochas de Matança era já conhecido. Depois deste último curral, os Currais de Biduiça são já ali...

Algumas imagens do dia...
































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)