terça-feira, 25 de junho de 2024

Serra do Gerês - Pela Mata do Beredo

 


A Mata do Beredo e as encostas sobranceiras a Pitões das Júnias escondem segredos dos tempos passados. Estes surgem em paisagens de horizontes próximos, pequenos muros, ruínas esquecidas e carreiros escondidos pelo passar dos dias. Foi por entre bosques e ribeiros que neste dia partiu-se à descoberta, daquelas descobertas que marcam caminhadas.

Seguindo o traçado da GR50 Grande Rota da Peneda-Gerês a partir de Pitões das Júnias, caminhou-se em direcção à ponte que nos faz ligar as duas margens do Ribeiro de Campesino. Aqui, fomos surpreendidos por um grupo que percorria a GR50 a cavalo, num cenário que nos fez lembrar tempos medievos.


O caminho segue pelo frondoso bosque da Mata do Beredo seguindo a margem esquerda do Ribeiro do Beredo até chegar à Portela da Fairra e passando ao lado do fojo de cabrita ali existente. Seguindo pela vertente Norte do Alto da Mulher Calça, o caminho vai descer e bifurcar-se mais adiante. Aqui, a GR50 segue em direcção a Parada de Outeiro, mas nós enveredamos pela margem direita do Ribeiro do Beredo, seguindo mais adiante pela base dos Cabeços da Fumarada ao longo de um carreiro que foi limpo de vegetação. Porém, este conforto terminou mais rapidamente do que esperamos e iniciamos em alguns troços uma verdadeira luta contra o mato, tentando seguir o antigo carreiro que eventualmente nos levaria até ao traçado do Trilho do Pastoreio e à Ponte do Pereira.

Infelizmente, com o gradual abandono das zonas rurais e dos bosques, os velhos caminhos e carreiros que faziam a ligação entre os lugares e aldeias através das florestas vão-se perdendo. Perde-se assim uma memória colectiva e as histórias que definem as comunidades que moldaram o território, agora definido como o Parque Nacional da Peneda-Gerês. E convém nunca esquecer que foram essas comunidades que criaram a paisagem e a razão de ser do nosso único Parque Nacional ao longo de milénios de vivência no território, ora num equilíbrio simbiótico, ora num desequilíbrio que é característico da presença humana marcada com os seus erros que a fez evoluir.

Seguindo o traçado o PR, chegávamos às imediações do Porto da Laje, local escolhido para um já mais do que merecido descanso. A parte final da jornada levou-nos pelas ruínas da aldeia velha do Juriz e do Castelo.



O Castelo é uma elevação que se encontra a pouca distância da aldeia de Pitões das Júnias e que exibe as marcas do que poderá ter sido uma fortificação que existiria há época da aldeia Medieval de Sancti Vincencii de Gerez, referida nas Inquirições Afonsinas de 1258, cuja ocupação se terá desenvolvido durante a Idade Média até inícios da Idade Moderna. A cerca de 1.000 metros para Sudoeste da aldeia de Pitões das Júnias e camuflado por um denso carvalhal encontra-se este povoado. Aqui conservam-se vestígios de cerca de 40 casas de planta quadrangular, construídas com blocos graníticos, alguns toscamente aparelhados. Os arruamentos entre as casas estão também bem conservados, sendo que ainda mantêm o lajeado. O espaçamento entre as casas é de cerca de 3/4 metros, algumas conservam pouco mais de um metro de parede, mas consegue-se imaginar, sem grandes esforços a arquitectura desta aldeia. Os carvalhos vão invadindo, pouco a pouco o interior de cada casa, conferindo a este sítio uma beleza rara. Situa-se na encosta do monte do Castelo, relativamente abrigada e rodeada de linhas de água. Relativamente ao abandono desta aldeia os motivos apontados, como a peste, não passam de meras especulações, pois não temos evidências que o possam comprovar. A poucos metros do povoado e junto à linha de água encontram-se abundantes restos de escória.





Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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