Os trabalhos dos Serviços Florestais na Serra do Gerês em 1897-1898 continuaram sem grandes problemas, tal como Tude Martins de Sousa refere nas suas notas referidas no livro "Mata do Gerês - Subsídios para uma Monografia Florestal" (Coimbra, 1926) que reproduzo a seguir (com as devidas correcções quando necessárias)...
Em Outubro de 1897 requereu a Empresa das Águas do Gerês licença para minar numa fonte pertencente aos serviços florestais, existente junto à estrada para a Preguiça e a uma pequena casa de guarda nos terrenos comprados do Capitão Mor, com o fim de aumentar a nascente e conduzi-la para ponto mais frequentado, deixando no sítio uma torneira de pressão para assegurar a água para a casa de guarda e para os moradores vizinhos.
Teve despacho favorável esta pretensão, que foi comunicada à Empresa, mas nunca chegou a efectivar-se a obra, vindo porém a mina a fazer-se mais tarde por conta dos serviços florestais, que trouxeram a água uns metros adiante, à face da estrada pública.
Mais tarde, em 12 de Fevereiro de 1898, e mesma Empresa das Águas do Gerês requereu licença para atravessar com um encanamento os terrenos do Capitão Mor, a fim de conduzir a água potável da nascente e Poça Fundeira, que ela adquirira, com a obrigação da satisfazer o ónus que sobre a mesma já existia constante do termo da compra pelo Estado, de Junho de 1890, dos terrenos do Capitão Mor, que era o de a Mata se utilizar um dia em cada semana, à 5.ª feira, da água da dita nascente e poça. Tal obra tornava-se urgente para o funcionamento do estabelecimento hidrológico.
Porque assim o reconheceu o silvicultor chefe, informou este por forma que teve a pretensão um despacho favorável, em virtude do qual foi lavrado o seguinte termo:
Concessão para a Empresa das Águas do Gerês poder atravessar com um encanamento um terreno dos Serviços Florestais.
Aos vinte e quatro dias do mês de Abril de mil oitocentos e noventa e oito compareceu na secretaria dos Serviços Florestais do Gerês, onde se achava o Regente Florestal de segunda classe Carlos de Oliveira Carvalho, o representante da Empresa das Águas do Gerês, doutor Augusto António dos Santos Júnior, a quem foi participado que por despacho de dezoito de março do corrente ano, de Sua Excelência o Ministro das Obras Públicas tinha sido diferido o requerimento da mesma Empresa em que pedia para atravessar um terreno pertencente aos Serviços Florestais com o encanamento da nascente do Capitão Mor para as Caldas, sob as seguintes condições: - Primeira - A estabelecer uma pia de divisão junto à nascente, onde correrá constantemente a água para um depósito que ela se oferece construir a suas expensas, no terreno dos Serviços Florestais e que a estes ficará a pertencer. - Segunda - A construir o referido depósito da capacidade de seis metros cúbicos e a fazer para ele um encanamento de calibre bastante para fornecer semanalmente trinta metros cúbicos de água ou sejam quatro metros cúbicos e trezentos litros de água por período de vinte e quatro horas. (1) Igualmente se menciona que esta concessão não dá direito a serventia no terreno atravessado pelo encanamento e que este fica a cargo da Empresa. E por ser verdade, passa este documento, bem como um duplicado e um triplicado, a serem assinados pelo Regente Florestal, pelo representante da Empresa das Águas do Gerês e por António Joaquim Eiras e Sebastião José de Miranda, ambos comerciantes e residentes nas Caldas do Gerês, testemunhas, presentes a todo este acto, e por mim António José Alves, guarda florestal de terceira classe, que o escrevi.
(1) Este depósito e canalização foram efectivamente feitos. Mais tarde, porém, construída a casa da Repartição e por diligências do regente Oliveira Carvalho, foi construída no terreno da Empresa, junto da mina, um pequeno depósito para dar ponto de nível para as retretes e outras dependências do primeiro andar. É deste depósito que a água, recebida directamente da mina, corre para o tanque junto da Repartição, a Norte.
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A 11 de Fevereiro de 1898 apresentou o silvicultor chefe à aprovação superior um projecto de regulamento para a caça grossa - cabrito montês e corço -, o qual foi aprovado e assinado pelo então director geral da agricultura, Elvino de Brito.
Este regulamento, informava o silvicultor Mário Viana que fora feito sobre o mesmo que ela já organizara e apresentara em Agosto de 1896, a fim de evitar questões com os povos, obstar à extinção da caça grossa e obter receita para o tesouro.
Efectivamente, bem precisa era tal regulamentação, ainda actualmente em vigor, por todos os motivos indicados, devendo salientar-se, como a mais importante de todas, a disposição que limita a permissão de caça desde 1 de Setembro até 31 de Dezembro, pois já que em 26 de Janeiro de 1896 o regente florestal do Gerês, Sousa Pereira, oficiara sugerindo e pedindo instruções especiais a propósito da caça ao corço (cervus capreolus, Lin.) porque nas duas últimas caçadas anteriores tinham sido abatidas duas fêmeas, tendo uma um feto e outra dois, a que se calculou cerca de um mês de gestação.
Igualmente em 6 de Fevereiro e em 17 de Novembro de 1897, respectivamente o mestre florestal Serafim dos Anjos e Silva e o regente Carlos de Oliveira Carvalho, oficiavam ao silvicultor, comunicando ocorrências e apresentando alvitres, que foram depois traduzidos nas disposições regulamentares.
Neste ano económico foram feitas as seguintes sementeiras e plantações:
Sementeiras (Fevereiro e Março de 1898)
- Porcas...............17,5 Hect.
- Galeana............31 Hect.
- Vidago..............7 Hect.
- Fecha Ferreiros 1 Hect.
- Vitureiras.........6 Hect. (Total, 61,5 Hect)
As três últimas foram feitas sobre queimadas de incêndios propositadamente lançados pelos povos.
Plantações (Vidoeiro e Forno Novo)
- Acácia.........................85
- Acer pseudo-platanus 82
- Cedros.........................123
- Robínias......................16
- Castanheiros................3815
- Freixos.........................20 (Total, 4141)
Plantações (Chã da Pereira e caminho para o Observatório)
- Acácias........................465
- Acer pseudo-platanus..218
- Cedros.........................168
- Eucaliptos....................127.
- Ailantos........................12
- Choupos brancos..........3
- Robínias.......................25
- Cornogodinhos.............18
- Amoreiras.....................29
- Pinus sylvestris.............300
- Sobreiros.......................32 (Total, 1397)
Plantações (Galeana)
- Castanheiros.................1822
- Sobreiros.......................375 (Total, 2197; TOTAL, 7735)
Texto adaptado de "Mata do Gerês - Subsídios para uma Monografia Florestal" (Tude Martins de Sousa, 1926)
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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