quinta-feira, 20 de junho de 2024

Trilhos lá fora - Mina das Sombras

 


Este parecia daqueles dias de chuva no Verão.

A paisagem cinzenta, as nuvens a cobrir os cumes, o vento frio e os cheiros de Verão húmidos, fragrâncias que preenchiam o ar revolto e ainda zangado do dia anterior.

Aliás, os vestígios da grande zanga ainda era visíveis nos cantos das ruínas do complexo mineiro Mercedes As Sombras onde o granizo se acumulou. Que grande granizada deve ter sido! Do Campo do Gerês o céu resmungava para aqueles lados e o intenso tom de chumbo enegrecia as nuvens. Sim, por cá também choveu, muito, mas o granizo mal se notou, a não ser na batida rápida na chapa das chaminés

A caminhada seguiu o percurso clássico da 'Ruta da Mina das Sombras' desde a Ermida da Nossa Senhora do Xurés pelo Vale do Rio de Vilameá até ao complexo mineiro. Seguindo inicialmente por um caminho florestal que percorre a encosta d'As Chans e que vai descendo até encontrar o Rio de Vilaméa, o carreiro atravessa o rio à vista d'A Xesta e inicia a «longa» subida até às velhas minas que iniciaram a sua actividade em 1932. O carreiro, bem definido, passa pela Carballosa e pela parte inferior da EScada Paredes, começando a vislumbrar o Pión de Paredes. Chegando ao caminho florestal, são mais 1,2 km até ao complexo mineiro situado na Chan da Viella de Arriba.

Localizada dentro da Zona de Especial Protecção dos Valores Naturais do Parque Natural de Baixa Limia-Serra do Xurés, O complexo mineiro encontra-se "... na vertente oeste do Maciço Sobreiro – Altar dos Cabrões, a uma altitude de 1.250 m, nas fontes do rio de Vilameá."

"O trabalho realizava-se em dois turnos de 8 horas de Segunda a Sexta-feira, apesar de haver muitas denúncias de sobre-exploração. Nos anos posteriores à Grande Guerra a mina deixou de ser rentável e foi abandonada."

"Na actualidade, o complexo está em ruínas, com a casa das máquinas desfeita e a boca da mina fechada com um tabique de bloqueio, restos de ferros, vidros, vigas, e três grandes entulheiras. Deve-se pensar nas Sombras como uma exploração menor se comparada com a sua vizinha dos Carris.”

















O complexo mineiro de As Sombras

Tal como acontece com muitos velhos complexos mineiros por toda a Espanha, também as Minas das Sombras foram transformadas num ponto de visita e de formação ambiental numa área protegida.

Além do seu interesse como local mineiro, onde se pode observar o tipo de jazida e vestígios de obras e instalações, é também um ponto de interesse geológico, para poder compreender a configuração da paisagem e observar a sua geomorfologia.




A boca mina fotografada a 6 de Agosto de 2006

A jazida foi descoberta em 1936, quando os afloramentos de veios começaram a ser explorados de forma rudimentar. A exploração subterrânea foi realizada entre 1952 e 1971. Em 1976 foram novamente realizados trabalhos de relavagem dos rejeitos para recuperação da scheelite que continham, uma vez que durante a exploração da mina maioritariamente se fez a exploração de volframite.

O Instituto Geológico e Mineiro de Espanha - IGME - (1978) indica que as operações mineiras nesta área começaram com as conceções “Mercedes 2ª” e “Extensão a Mercedes”, seguidas de outras realizadas em 1941 e início de 1942. Fruto da reunião de diversas concessões, localizadas na encosta da Serra do Xurés formou-se o grupo mineiro "As Sombras".


Boca mina fotografada a 12 de Abril de 2004


Segundo a informação acessível no Cadastro Mineiro da Galiza, em 2013, constata-se que todos os direitos mineiros que cobrem a área explorada da jazida e a sua envolvente, já caducaram.

A zona mineralizada d'As Sombras localiza-se no granito pórfiro do Gerês, sendo composto por megacristais de feldspato de potássio numa matriz de grãos médios a grossos. Estruturalmente, a fraturação NNW-SSE delimita os grandes corredores graníticos.

O IGME (1985) descreve o sítio mineiro como formado por um denso pacote de veios de quartzo e feldspato que se enquadram no granito do “batólito de Lovios-Gerês”. Estes veios formam uma faixa com o granito alterado que os contém, faixa com contactos nítidos e bem definidos. Esta estrutura mineralizada apresenta orientação quase norte-sul, com profundidade entre 2 e 3 m e comprimento superficialmente reconhecido de aproximadamente 1.100 m.

A mineralização é composta principalmente por volframite e scheelite, mas também há importantes teores de molibdenite e alguma cassiterite e bismutina. Localiza-se espalhado nos veios e nos contactos, e também no granito alterado que se encontra entre os veios, diminuindo sensivelmente em profundidade.

Na mina d'As Sombras existem diferentes corpos mineralizados, que podem fazer parte do mesmo processo genético. Por um lado, os veios e veios quartzo-feldspatos parecem derivar da solidificação do magma residual, com exsudação de uma fase aquosa silicatada nas fissuras iniciais. Devido às fracturas do granito encaixado, após a formação dos veios quartzo-feldspáticos, inicia-se um fenómeno de greisenização que prossegue com a abertura dos veios de quartzo até a deposição dos sulfetos.

Segundo os resultados das investigações realizadas pelas empresas Peñarroya-España e Minas de Almagrera, no início da década de 1980, foram avaliados recursos de 280.000 t de mineral com teores entre 0,5 e 0,89% de W03, dos quais mais de 75.000 t seria recuperável.

Na pequena estação de tratamento, existente na mina nos últimos tempos da sua actividade, foram extraídos um concentrado rico com 70% de W03, outro concentrado com 57% de W03, e alguns mistos com 20% de W03, 2,8%. S2Mo, 7,4% Sn02 e 2,7% Bi.

História da mineração

Os primeiros trabalhos de mineração na área consistiram em trabalhos superficiais em veios mineralizados e, a partir de 1952, foi realizada a exploração subterrânea. As obras mais antigas do tipo vala localizam-se na parte Norte da área trabalhada, e na parte sul está a dolina transversal que corta os pacotes de veios.

Na parte Norte da área de trabalho podem ser identificadas algumas trincheiras mais ou menos contínuas, com menos de 2 m de largura, que acompanham o pacote de veios mineralizados numa extensão próxima de 200 m e seguem uma orientação submeridiana. A vegetação arbustiva esconde na maioria essas tarefas, tornando perigosa a sua abordagem. Demarcando as valas e imediatamente junto aos vestígios das antigas e novas instalações da central de concentração, encontram-se as principais lixeiras de resíduos grossos e finos resultantes da actividade mineira.
Na cota de 1.340 m, localiza-se a dolina transversal, com secção de 2 m de largura e até 4 m de altura, que dá acesso à obra. Foi explorado em vários níveis num troço de mais de 200 m e uma altura de cerca de 35 m. A exploração foi efectuada através de galerias de direcção e câmaras elevadas, para as zonas acima do nível de entrada, e mediante contrafuros, galerias de direcção e câmaras de reentrância abaixo desse nível. As câmaras tinham 2 m de altura e largura igual à potência do pacote mineralizado. Entre as câmaras e a galeria foram deixados maciços no sentido que eram interligados a cada certa distância por drenos.



A exploração foi intermitente, devido, entre outros motivos, à dureza do clima. Por volta de 1976, foram feitas tentativas de acesso ao local mediante acessos feitos em cotas inferiores, para facilitar a entrada no inverno.

O conjunto foi transportado em carroças de ferro até uma pequena planta de concentração gravimétrica, localizada bem próxima à entrada da mina. Ainda se podem ver os restos da via-férrea por onde, em vagões, os resíduos eram levados da moderna central de concentração para a lixeira.
Texto adaptado de "Mina de As Sombras" (https://patrimonio.camaraminera.org/gl/lugar/mina-de-sombras)

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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