As Velas Brancas são daqueles locais no Parque Nacional da Peneda-Gerês que nos ficam gravados na memória desde a primeira vez que os vemos! A imensidão das escarpas que se debruçam sobre Fechinhas e a imponência do quadro montanhoso que se eleva desde as profundezas de um abismo, mostram que as montanhas geresianas têm sempre lugar por entre o imaginário de qualquer um de nós que percorra aquelas paisagens.
Neste dia, e ao longo de mais de 18 km, percorri algumas das paisagens mais deslumbrantes da Serra do Gerês e do nosso único Parque Nacional.
Se o dia anterior havia sido fresco pelas alturas da Serra da Peneda, este dia nasceu com cara de querer trazer o calor do Verão de volta, e assim foi! No entanto, caminhada começaria na Portela de Leonte com uma brisa fresca que incentivava ao caminho que logo começou a subir na direcção da Chã do Carvalho, seguindo pela velha calçada pastoril que leva às pastagens mais altas daquelas paragens. É um caminho habitual para quem usualmente demanda aquela área geresiana e que vai sendo agraciado com a vista do Pé de Cabril que domina a paisagem até esta se expandir para os horizontes da Serra da Peneda e da Serra de Soajo, e mais para além para as lonjuras galegas. Por si, a Serra do Gerês mostra então os píncaros do Pé de Salgueiro, por um lado, e do Pé de Medela e Carris de Maceira por outro, ou então fazemos o olhar mergulhar no mar de verde que a Mata de Albergaria nos oferece, um tapete que se forma antes da rudeza das encostas da Serra Amarela.
Chegados ao Prado do Vidoal o nosso olhar prende-se no abismo da Corga dos Cântaros e nas paredes da Roca d'Arte encimada pelo Cabeço de Lavadouros e pelo Cabeço de Cinzeiros, enquanto a sombra do Outeiro Moço vai-se diluindo nas horas da manhã que passa.
O caminho leva-nos então ao Colo da Preza, varanda privilegiada sobre o Vale de Teixeira que em tempos foi candidato à construção de um sanatório devido à pureza dos seus ares. Tomando o carreiro à esquerda, este leva-nos a Chã da Fonte e daqui segue-se caminho para passar nas Lamas de Borrageiro e seguir pelas Gralheiras em direcção à Lomba de Pau. Queria tomar um velho carreiro que me levaria perto da Meda de Rocalva e que se inicia já junto da descida para o Curral do Conho. Porém, as mariolas perdem-se por entre o matagal fechado, forçando-nos a descer pelo carreiro «normal» na direcção do Conho e tomar um desvio à direita que nos levaria a passar sobre a Lameira de Mourisca, chegando então perto da Meda de Rocalva. Nesta zona, e virando a Nascente, seguimos pela Chã de Trás da Meda através do traçado do Trilho da Vezeira de Fafião até atingir o colo sobre a Ribeira de Salgueirinho.
Com os velhos caminhos a perderem-se na memória e no espaço físico, sobram as velhas mariolas que nos indicam a direcção das Velas Brancas. Caminhando em direcção às vertentes do abismo que nos espera mais adiante, o colosso granítico do Iteiro d'Ovos marca a paisagem que fica para trás, tendo a Roca Negra e a Meda de Rocalva os seus perfis desenhados no horizonte não muito longínquo. Adiante, os promontórios de Porta Roibas e o alto do Pinto começam a sobressair na paisagem que se forma diante de nós.
Em pouco tempo, somos chegados aos limites daquele conjunto que se denomina por 'Velas Brancas' ('Vela Branca', 'Bela Branca') e parece que chegamos à proa de um barco que navega por entre o mar de granito que torna a paisagem num oceano imenso. Lá ao fundo o Curral de Fechinhas surge como um oásis amarelado queimado pelo Sol do Verão, um santuário por entre o granito. A paisagem é toda ela uma imensa paleta de altos e ravinas que tentamos identificar... Muro, Iteiro d'Ovos, Meda de Rocalva, Roca Negra, Borrageiro, Albas, Cantarelo, Torrinheira, Cidadelhe, Carris e Nevosa, Borrageiros... A enormidade daquilo que se eleva perante nós é indescritível, bem como a profundeza dos abismos perante os quais nos recolhemos na nossa pequenez.
São nestes lugares feitos de tranquilidade, pensamentos e sentimentos imensos, que sentimos o pulsar da montanha que nos envolve como um manto de leveza. Aqui, somos abraçados por aquela sensação de algo conquistado, o regresso a uma paisagem que já não via há muito tempo, apesar de estar sempre ali, à espera do regresso.
E após minutos de contemplação - bem como a merecida paragem para o repasto - inicia-se o regresso, passando pelo Curral de Soengas e pelo Cocão de Iteiro d'Ovos, chegando à fonte existente no Curral de Iteiro d'Ovos.
Segundo José Cunha-Oliveira na publicação "Outeirinho, Outeiro" no seu blogue "Toponímia galego-portuguesa e brasileira", iteiro é uma variante dialectal de 'outeiro', 'oiteiro' e 'eiteiro'. Por outro lado, o blogue "Beijós XXI (2005-2009)" na sua publicação "Iteiro" refere que "Normalmente um cerro / morro que se destaca como acidente de terreno. Em várias regiões serviam como limites, términos, marcos da confluência de diferentes territórios, em particular nas civilizações pré-romanas. É esse o significado toponímico de Itero em Castela e Leão." Vejamos uma interpretação para Iteiro d'Ovos! Sem dúvida que se trata de uma elevação característica naquela zona serrana e a sua localização situação nos limites concelhios de Terras de Bouro e de Montalegre. Uma interpretação mais difícil será os 'Ovos'; penso que este nome poderá estar relacionado com a grande quantidade de pedras que compõem aquele morro ou então poderá estar relacionado com um antigo local de nidificação de aves de rapina. Nenhuma destas tentativas para explicar o nome 'Ovos' tem base científica e é apenas a minha especulação.
Seguindo na direcção do Curral do Vidoeirinho e depois para o Curral de Rocalva, tomando então o caminho para as alturas do Borrageiro. A parte final do percurso leva-me através das Lamas de Borrageiro até à Fonte da Borrageirinha e daqui na direcção do Vidoal e Portela de Leonte.
Ficam algumas fotografias do dia...
Sem comentários:
Enviar um comentário