Carris, 27 de Setembro de 2009
O relógio do Zé Moreira marcava exactamente 5h00 quando iniciamos (mais) uma caminhada em direcção às Minas dos Carris. Desta vez o objectivo era bem estabelecido, 'fotografar o nascer do Sol' visto das Minas dos Carris. Cá no fundo, já tinha saudades de estar sentado no Penedo da Saudade ou num outro ponto alto e com um horizonte livre, e no meio daquele mágico silêncio esperar que o Sol viesse espreitar na bem definida linha do horizonte. Lembro-me sempre de um anúncio televisivo onde dois amigos estão em diferentes países e continentes e enquanto um vê o pôr-do-Sol, outro o vê nascer sentado na Muralha da China. Tocante... acho que tenho de arranjar um amigo, ou amiga, na China... adiante...
Assim, foi... rapidamente (segundo o Zé Moreira em 18 minutos) estávamos a tirar as mochilas para o habitual abastecimento de água na Abilheirinha. E neste dias por aquelas paragens a água vale ouro, pois a chuva já não cai no Gerês há mais de dois meses e muitos dos usuais cursos de água desapareceram ou têm água com muito mau aspecto...
Por entre o pontapear nas rochas e o apagar das lanternas para observar o céu em busca de satélites e para simplesmente nos maravilharmos com a ténue Via Láctea, lá íamos ganhando caminho... e o Zé muitas teias de aranha no nariz... Assim fomos passando a Água da Pala e chegamos ao Cagarouço sem água, coisa que acho nunca ter visto. O Rio Homem acompanhava-nos de forma tímida e por vezes lá nos ia lembrando que ainda resistia àquela seca. O ar quente que percorria o Vale do Alto Homem fazia-nos lembrar dos dias quentes que este Outono nos trouxe no que pode ser um prenúncio de 'melhores' dias.
Depois de passar as Febras e em direcção ao Cagarouço, a nossa atenção foi atraída pela presença de um belo exemplar da cabra selvagem que amedrontada com a nossa presença e com a luz das lanternas, resolveu não fugir encosta acima ficando quase em posse a olhar para aquelas duas aparições no meio do nada... certamente local de milagre... Deixamos a bicha (passe-se a expressão) em paz e prosseguimos o caminho até chegar ao Modorno onde descansamos por uns momentos. Ao reiniciar a caminhada resolvi tirar uma fotografia do vale e obtive um belo ecrã negro... lindo.
Ainda um pouco afastados do Teixo, surgiram os primeiros sinais de alba do dia que ia nascer. Por outro lado, a Estrela de Alba indicava o caminho a seguir tal como dois Reis Magos... fantástico. O dia foi nascendo e nesta altura já prescindíamos completamente das lanternas pois conseguíamos distinguir o aspecto do caminho. O dia ia nascendo e corríamos o risco de perder parto do espectáculo. O passo tornou-se mais acelerado e rapidamente o Teixo, as Águas Chocas e as Abrótegas ficaram para trás. Decidi então deixar o trilho e seguir em direcção a um ponto elevado para que o meu olhar pudesse abranger o imenso horizonte que me esperava do outro lado. Nesta altura, a grande máxima 'por detrás de um ponto alto está outro mais alto' tomou o seu lugar e tive de desenvolver um pouco mais de esforço para finalmente assistir a algo que não se vê todos os dias. Faltam-me as palavras para explicar o que se vê e acima de tudo o que se sente ao ver o Sol e o dia a nascer daquela maneira. As fotografias valem por todas as palavras que poderei escrever...
Com a luz do Sol a banhar os recantos mais elevados da Serra do Gerês, seguimos então em direcção ao Salto do Lobo para tentar concretizar o segundo objectivo desta caminhada que era tentar explorar o seu interior. Foi no Salto do Lodo onde se fizeram as primeiras prospecções de volfrâmio no que mais tarde seriam as Minas dos Carris. No entanto, e desde o momento em que os filões foram esgotados, aquela zona foi esquecida e abandonada á Natureza que lentamente retomou o que era seu. Tentar penetrar no Salto do Lobo é um exercício de força e elasticidade física, contorcionando o corpo para passar ramos retorcidos, evitar silvas e urzes, e tentar não seu surpreendido por algo de totalmente inesperado.
Aquando da Lª Arqueoexpedição às Minas dos Carris realizada em Abril de 2008, foi feita uma primeira tentativa de se entrar nesta área. Prosseguindo pela Lamalonga, seguiu-se o curso do ribeiro e conseguiu-se entrar alguns metros para lá das colunas que marcam o seu fim. Porém na altura o caudal da ribeira impediu uma progressão em segurança e chegou-se á conclusão que a entrada poderia ser mais fácil a partir da Corga da Carvoeirinha e de preferência no final de um Verão muito seco. Estavam assim aparentemente reunidas as condições para que finalmente fosse possível desvendar os segredos que ali possam estar escondidos.
Utilizando umas toscas escada existentes consegui baixar ao que agora sei ser uma pequena represa que provavelmente faria a retenção das águas da ribeira antes desta cair na corga. a vegetação naquele local é intensa e a progressão muito difícil. Consegui descer para lá da parede da represa mas foi totalmente impossível progredir muito mais pois uns metros mais adiante surge uma queda de vários metros na qual é impossível passar. Estando sozinho naquele local, tentei imaginar os dias do volfrâmio... um exercício quase impossível. Assim, parece-me agora que deveria ter optado mais uma vez tentar aceder ao Salto do Lobo através da Lamalonga pois com um caudal tão baixo será agora possível passar por onde era impossível em Abril de 2008.
Finda a exploração do Salto do Lobo seguimos então em direcção aos edifícios passando ao lado da lavaria e da entrada da mina do Salto do Lobo (confusos?). Chegados ás velhas ruínas, tivemos o merecido descanso e alimentamos o corpo. O resto do dia foi passado a deambular pelos edifícios e uma visita à represa dos carris que se encontra com um nível de água extremamente baixo, coisa que já não via há muitos anos.
Findas mais umas sessões fotográficas, regressamos á Portela do Homem descendo o Vale do Alto Homem fugindo ao calor que prometia para a tarde.
Fica a primeira série de fotografias do dia...
Fotografias: © Rui C. Barbosa