Carris, 30 de Maio de 2009
O mês de Junho inicia-se com o recomeço da cobrança por parte do Parque Nacional da Peneda-Gerês, da taxa de passagem pela Mata de Albergaria nos postos de controlo situados na Portela de Leonte, Portela do Homem e Bouça da Mó. Não sei que valor será cobrado pela passagem nessas estradas e como de costume muito menos saberemos qual será o destino dado ao dinheiro obtido, destino esse que certamente estará encoberto pelo generalista "...para ser aplicado na melhoria das condições da zona..." ou algo parecido.
Pode-se criticar esta cobrança que no fundo acaba por ser mais um importo do tipo "utilizador / pagador" e certamente que os dirigentes (seja lá do que forem) podem encontrar múltiplas razões para a sua cobrança. Não poderão, jamais, justificá-lo ao nível ético pois fartar-lhe-á certo carácter para o fazer tendo em conta o que se vê nos restantes dias do ano, isto é nada!
Infelizmente não é este o assunto que me leva a escrever esta entrada no blogue. O assunto da cobrança da taxa de passagem é algo que já estará incutido na nossa vivência no parque nacional, algo como uma mentira muitas vezes repetida que acaba tornando-se verdade. O Parque Nacional da Peneda-Gerês torna-se aos poucos uma coutada de alguém que se move numa sombra na qual não conseguimos vislumbrar o seu rosto... algo que se vai movendo sub-repticiamente e que aos poucos vai fechando o cerco a quem muitas horas passa a disfrutar dos seus encantos como um santuário da Natureza que é preservado por quem nele tem um interesse inocente e não baseado num interesse económico representado pela descaracterização da paisagem com a pintura de mariolas ou a pintura de sinais nos trilhos de aventura pagos por grupos de inocentes turistas.
Na semana que se inicia a fiscalização vai apertar sobre aqueles que calcorreiam as montanhas e vales do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Vamos assim ter uma verdadeira polícia secreta a perseguir quem gosta de caminhar pela Serra do Gerês e pelos outros maciços montanhosos que fazem parte do nosso único parque nacional. Assim, parece que todas as datas serão agora escritas tendo por base o antes de 1974 e certamente que um clima de medo e receio se irá instalar pois nunca saberemos se um verdadeiro bufo estará à nossa vigia, a ver se passamos por ali, para alertar as autoridades vestidas de verde pálido ou de azul escuro.
É pertinente perguntar o porquê de isto acontecer? Será que nos tornamos uns verdadeiros destruidores do parque nacional? Será que ao longo dos últimos meses cometemos assim tão graves crimes ambientais para que se tome uma atitude desta magnitude, tipo 'ordem para multar'? Não me parece, porém e certamente, o erro tem de ser nosso pois quem manda não erra. Quem manda nunca admite o erro. Quem manda e é formado, aprende, para mandar e decidir sobre o que será melhor, jamais é capaz de admitir o erro mesmo por muito óbvio que ele seja.
Infelizmente não é assim. Muitos erros ocorrem, nós porém nada sabemos. Infelizmente quem manda não tem a capacidade de organizar um sistema no qual duas formas de 'viver' o parque nacional possam coexistir: o 'viver' preservando e o 'viver' desfrutando... Parece-me algo incrível como quem tem uma formação académica de topo (...) não seja capaz de gerir uma área protegida sem ter de recorrer a uma repressão pura e simples, sem ser capaz de falar com quem tem o parque nacional como um destino quase semanal. Continuar a ignorar e enfiar a cabeça numa areal movediço com um sentido único.
A insipidez de um desconhecimento de uma lei má, escrita por maus legisladores tendo por base maus pareceres de maus profissionais, não pode servir como fio de prumo na gestão de uma área protegida e muito menos como meio de repressão e de indução do receio e do medo em quem quer tirar o máximo proveito no Parque Nacional da Peneda-Gerês de uma forma equilibrada. Já basta a sociedade desrespeitadora do ambiente e da Natureza, não precisamos de um parque nacional que nos desrespeite a nós!
Aos poucos vão-se cortando canais de comunicação que são importantes. Impõem-se uma necessidade de solicitar autorizações para percorrer trilhos e negam-se as autorizações a 90%, dando sugestões de trilhos descaracterizados cujas informações têm de ser pagas que que possamos saber o que estamos a visitar. Pergunto se o Parque Nacional da Peneda-Gerês tirasse proveito financeiro dessas caminhadas se o cenário não seria diferente? Será que se prepara uma cama para um verdadeiro negócio com empresas de suposto turismo ambiental?
Faço um apelo a todos: inundem o Parque Nacional da Peneda-Gerês com pedidos de autorização para as vossas caminhadas nem que seja para passear nas Caldas do Gerês, nem que seja para visitar a Portela do Homem ou sair do carro na Pedra Bela. Querem visitar o Mosteiro de Sta. Maria das Júnias, peçam uma autorização! Querem visitar o fojo do lobo em Fafião, peçam autorização! Querem passear em Leonte, em Lamas de Mouro, visitar o castelo do Lindoso e Castro Laboreito, peçam autorização! Querem rezar na Sr.a da Peneda, peçam autorização!
Por outro lado, faço um apelo a todos que caminham pelas serras do parque nacional: vamo-nos reunir e vamos conversar, debater que protecção é esta e que parque nacional queremos nós?! É um convite de se abre aos habitantes das vilas e aldeias do parque nacional!
Montanhistas do parque nacional, uni-vos!
Fotografia: © Rui C. Barbosa