Que esconde o teu olhar?
Mistérios insondáveis que habitam o interior do teu ser
Para além das palavras esculpidas em gelo
Resta o calor tépido dos lençóis e o clamor dos dias que se anunciam do fim
São fugazes as sombras que vivem nos recantos agora escuros e frios da memória
E são silenciosamente vazios os momentos nos quais existimos
Os dias passam em sentido único construindo um passado que não existe
O meu lugar jaz, ali, vazio e nem a memória da sombra persiste.
Verei o último nascer do Sol
Sentirei o seu ínfimo calor ao ver as sombras que correm para se esconder
Depois...
Depois será um nada cheio de espaços vazios e em silêncio; a eternidade será o meu conforto na escuridão
Irei viver nas memórias de um ser etéreo, belo, de pele clara e olhos negros.
O meu último sorriso será solitário e para mim próprio, ver-me-ei no lugar onde te procurei e nunca te encontrei...
Depois...
Depois serei a brisa do vento numa manhã quente de Verão
...serei o raio de Sol numa tarde de Inverno
...serei o vislumbre da estrela errante numa noite de Outono
...serei o veludo das pétalas no primeiro dia de Primavera
...serei a água que te corre sobre a pele
...o teu conforto num momento de solidão
...um reflexo fugaz nas ondas de um lago
...a voz que grita por ti numa noite de tempestade
...a Lua numa noite fria
No fim, serei uma folha branca repleta de palavras cor de gelo.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)