quinta-feira, 30 de junho de 2016

Caminhada poética com Luís Miguel Vendeirinho (inscrições encerradas)


Estão encerradas as inscrições para esta caminhada!

O blogue Carris vai organizar no próximo dia 13 de Agosto, uma caminhada poética com o escritor Luís Miguel Vendeirinho.

O percurso irá decorrer entre a Portela de Leonte e o Campo do Gerês, passando pela base do Pé de Cabril, Prados e Gamil.

A participação neste evento está limitada a 12 pessoas. A inscrição provisória deve ser feita através do envio de email.

Nota biográfica

Luís Vendeirinho nasceu em Lisboa, a 20 de Setembro de 1957.

Foi funcionário do Ministério da Educação entre 1972 e 1976, e do Ministério da Justiça desde então até 2003. Desde jovem tentou algumas incursões no domínio poético, publicando tardiamente, em 1981, o primeiro livro de versos. Depois de alguns opúsculos dedicados ao conto e a reflexões várias, o rumo essencial da escrita levou à publicação dos romances RequiemCátedra de Mármore e Uma Farpa na Clareira. Tem visto publicados, em algumas colectâneas e em periódicos, tanto alguns contos como crónicas.

A formação académica fê-la – desde o liceu – sempre de par com a actividade na administração pública; formação essa dedicada aos Estudos Portugueses, aos Estudos Europeus e ao Jornalismo. Desde adolescente que o convívio com a realidade social, sobretudo a rural, o tem cativado, e coabitado com o montanhismo (q.b. entenda-se).


Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Porta Roibas, uma passagem para Trás-os-Montes


Porta Roibas (ou Porta Ruivas) não passa despercebido àqueles que caminham pelo coração selvagem da Serra do Gerês.

Na divisão administrativa entre o Minho e Trás-os-Montes, Fernando da Silva Cosme no seu livro Pela Serra do Jurês e ao Longo da Jeira (2015), fala-nos de Porta Roibas como "uma entrada para algum sítio de difícil acesso, por exemplo para uma fraga, de que são exemplo as Portas Ruivas de São Ane: são rochas de um lado e do outro e entre elas ficam espaços como de portas".

Muitas vezes, Porta Roibas é confundida com as 'Sombrosas' devido ao erro de posicionamento deste topónimo na carta militar.

Na fotografia em cima. Porta Roibas é vista desde o Curral de Soengas. Em último plano, ao centro do lado esquerdo, encontra-se Borrageiros.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Os fornos - o abrigo pastoril na Serra do Gerês


O abrigo pastoril na Serra do Gerês é uma das características da arquitectura popular e rural que mais impressiona aqueles que demandam as lonjuras e profundezas serranas. Muitos destes abrigos mantêm a sua constituição original, enquanto que outros foram abandonados e substituídos por edifícios que fogem da traça original do abrigo pastoril geresiana, apesar de, talvez, oferecer maior conformo a quem os utiliza.

Memória singular da Serra do Gerês, a recuperação de muitos destes abrigos pastoris, denominados 'fornos', deveria ser uma «obra» prioritária de conservação do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Porém, a verdade é que o Parque Nacional põe inúmeras barreiras à recuperação deste singelos pequenos edifícios. Como disse Tude de Sousa, "Conservá-lo, é conservar e respeitar uma típica característica geral do passado."

Nos nossos dias estes abrigos poderiam ter outras funções, nomeadamente de abrigo no caso de situações de resgate na montanha, tal como foi o caso de uma ocorrência em Fevereiro de 2016.

Tude de Sousa, no seu livro "Gerez - Notas Etnográficas, Arqueológicas e Históricas"- publicado em 1927 - faz-nos uma interessante descrição dos abrigos pastoris existentes na Serra do Gerês:

"(...)

Para o estadio em cada curral tem o pastor, como já dissemos, o seu fôrno, ou cabana, onde se recolhe e abriga. São construções tôscas, ligeiras, de pedras sêcas, mal dispostas geralmente, umas revestidas e outras não de torrões, tapando os intervalos. Cobertas umas de telhas redondas, à portuguesa; cobertas outras de torrão, guarnecendo pedras largas e delgadas.


As suas dimensões e capacidade não são grandes: 2 a 2,50 metros de alto, por 2,50 e 3 metros de comprido, com as portas baixas, por onde o homem passe curvado e por elas não entre o gado. Três a seis, ou oito pessoas, é o máximo que nelas caberão.


A cobertura de uns fornos é redonda, aguçada; a de outros com armação em duas águas.


O pavimento coberto de fetos ou mato meúdo para amaciar a dormida e junto da porta, do lado de fora, em muitos formos, a pia, ou pias, cavadas na rocha firme, ou móveis, para a comida e bebida do cão, inseparável companheiro e amigo da montanha. A porta de serventia, única, tapada apenas por alguns gravetos de mato ou ramaria, indicadores só de uma linha de respeito.


O travejamento é tôsco, como a construção em que se emprega, e fornecido sempre pelos carvalhos mais próximos, que os há com fartura na serra, brotando e crescendo com espontânea pujança naquele solo abençoado.


Esta habitação e os costumes que descritos ficam, são mais ou menos comuns a todos os povos da serra, e não só so de Vilar da Veiga, pelo que, a não ser com alguma variação menor, se encontra nos homens e nos usos de Rio Caldo, de Covide, de S. João do Campo e Vilarinho, de Cabril e de Pitões e por aí fora, até termos de Suajo e Londodo, por um lado; até termos de Barroso e Montalegre, pelo outro.


Segue um ensaio de distribuição geográfica:


Perto da Galiza, o curral da Amoreira, gereziano português, mas no usofruto dos gados e dos vizinhos do lado de lá, um dos maiores da serra, de pedra e de torrão.


Na chã do Carvalho e nos Prados Caveiros dois de pedra e terra, pertencentes a Vilarinho e mais de pedra e telha em S. Miguel e Albergaria, e outros mais.


S. João do Campo tem o seu forno de pedra e telha no curral de Leonte de Baixo, e outros, de um e outro tipo dispersos.


Vilar das Veiga, quási todos de pedra e telha, tem os fornos dos currais dos prados da Messe, do Conho, de Leonte de Cima, e outros, tendo caído em desuso os da Mijaceira e Vidoeiro, por estarem cortados e devassados agora pela estrada pública para a fronteira, e Rio caldo tem o Vidoal, de pedra e telha, ao subir de Leonte e antes de chegar à Borrageira.


Esta é a habitação da serra, único refúgio noutros tempos, com alguma para natural, de quem por lá deambulava, simples caminheiro, contrabandista, ou pastor, hoje já acompanhado pelos numerosas casas da guarda florestal, quebrando a solidão da floresta e das fragas.


O forno dos pastores gerezianos, ligado ao regimen comunalista e pastoril que os seus povos têm, é bem ainda, pelo espírito ancestral que representa, o espêlho liso da tradição em que aquela gente, sequestrada do mundo, vivia noutras eras a vida de paz, a vida simples de fraternidade e de amor, que os novos tempos e as covilizações novas lhes vão dia a dia enfraquecendo e quebrando.


Conservá-lo, é conservar e respeitar uma típica característica geral do passado.


(...)"

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

PJ do Porto investiga misterioso desaparecimento de homem no Gerês


Segundo o 'Amarense', "A Polícia Judiciária do Porto está, desde ontem, no Gerês a liderar uma investigação pelo desaparecimento de um homem, José Carvalho, com cerca de 50 anos, natural de Nogueira da Maia, proprietário de uma carrinha que foi encontrada abandonada, no sábado, por um pastor. Durante a semana passada, a casa do homem, na Maia, foi incendiada, suspeitando-se de fogo posto. Neste momento, ao que “O Amarense” apurou, a investigação tem em equação todas as hipóteses, estando em cima da mesa as possibilidades de suicídio ou até de homicídio."

O resto da notícia pode ser acedida aqui.

Imagem: O Amarense

Paisagem imutável: a passagem do Modorno


De todas as zonas que encontramos ao longo do caminho do Vale do Alto Homem para as Minas dos Carris, sem dúvida que a passagem ao Modorno é aquela que nos proporciona uma paisagem de grandiosidade daquele vale.

Por essa altura já fomos surpreendidos pela cascata que se despenha nas paredes do vale em direcção ao Rio Homem. A Água da Laje do Sino é uma das maiores quedas de água de todo o Parque Nacional. Imponente, a queda de água costuma gelar nos dias mais frios de Inverno, tal como mostra a fotografia em cima datada de Janeiro de 1951.

A imagem mais abaixo mostra a zona das Águas Chocas em Janeiro de 1951.



Fotografias © Paulo Gaspar / Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Um estudo visual das Minas dos Carris em 1951


Estas fotografias mostram a zona industrial das Minas dos Carris (Mina do Salto do Lobo) em 1951.

A primeira memória descritiva dos edifícios a construir na concessão mineira do Salto do Lobo apresentada a 2 de Março de 1944 pelo então Director Técnico Francisco da Silva Pinto, incluía uma casa de habitação para o pessoal superior da mina, um bloco de casas para casais, escritórios e cantina, uma enfermaria e um balneário. A segunda memória descritiva incluía o dormitório, os armazéns (n.º 1, 2 e 3), os armazéns (n.º 4, 5 e 6) e as camaratas dos guardas e serviçais. A construção dos edifícios terá começado pouco tempo depois da sua apresentação ao governo.

Em todos os arquivos com documentação das diversas sociedades mineiras que operaram nas Minas dos Carris e que foram consultados para a escrita do livro Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês (Rui C. Barbosa, Dezembro de 2013), não existem referências à construção dos edifícios industriais e de tratamento de minério.

As fotografias desta publicação mostram que os edifícios como a serralharia e forja, o edifício dos compressores, o poço n.º 1 e a lavaria velha que seria mais tarde adaptada e usada como moagem, classificação e flutuação dos pré-concentrados vindos da lavaria nova, foram construídos em 1943/1944.

Ainda nesta zona são visíveis trabalhos a céu aberto na zona que mais tarde daria lugar ao Poço Mestre para extracção de minério dos pisos inferiores ao Piso 3.

As ruínas destes edifícios ainda hoje são visíveis no complexo mineiro.


A lavaria velha da concessão do Salto do Lobo nas Minas dos Carris


Um aspecto geral da zona industrial das Minas dos Carris


Um aspecto geral da zona industrial das Minas dos Carris: à esquerda em baixo, a lavaria velha, e à direita em baixo, a serralharia e forja.


Um aspecto geral da zona industrial das Minas dos Carris: à esquerda no centro, a lavaria velha, e à direita no centro, a serralharia e forja.


Um aspecto geral da zona industrial das Minas dos Carris


A lavaria velha da concessão do Salto do Lobo nas Minas dos Carris


A lavaria velha da concessão do Salto do Lobo nas Minas dos Carris

Fotografias © Paulo Gaspar / Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

terça-feira, 28 de junho de 2016

Desafio para 2016 (XVIII) - Aldeia de Vilarinho da Furna


Aqui lancei o desafio para o ano de 2016: visitar os 44 pontos de interesse existentes na Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés (Projecto VALOR GERÊS-XURÉS).

A aldeia mártir de Vilarinho da Furna é o desafio n.º 15.

Submersa pelas águas da albufeira que bebeu do seu nome, a aldeia de Vilarinho da Furna vai surgindo à superfície nos anos nos quais a cota da barragem desce o suficiente para mostrar as ruínas das casas, os velhos caminhos e eiras, e permite de forma mais intensa recordar a sua memória quando as concertinas ecoam pelos rochedos que a protegiam.







Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Desafio para 2016 (XVII) - Aldeia de Pitões das Júnias


Aqui lancei o desafio para o ano de 2016: visitar os 44 pontos de interesse existentes na Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés (Projecto VALOR GERÊS-XURÉS).

A aldeia de Pitões das Júnias é o desafio n.º 18.

Da Câmara Municipal de Montalegre, "Herdeira natural da velhíssima freguesia de São Vicente do Gerês, nas profundezas do rio Beredo, que recebe águas de vários ribeirinhos na montanha, Pitões é a povoação mais alta de Barroso, na cota dos 1100 metros. Este facto contribuiu em grande medida para a elevada qualidade do presunto e fumeiro desta localidade. Sempre foi conhecida por ser terra de gente lutadora e mesmo guerreira: não resistiu à destruição do Castelo, nem do Mosteiro, nem da sua “república ancestral” (conjunto de normas comunitárias e democráticas dos seus habitantes) mas resistiu aos Menezes, condes da Ponte da Barca, a quem um rapaz de casa do Alferes foi raptar uma filha com a qual casou; e resistiu à pilhagem e assaltos sistemáticos que os Castelhanos organizavam durante a guerra da Restauração. Em 1665, “um grande troço de infantaria e cavalaria, sob comando de D. Hieronymo de Quiñones atacou Pitões mas não só não conseguiram queimar o povo como este lutou bravamente pondo em fuga o inimigo e sem perdas”. Alguns dias após (com os pitonenses a ajudar, em represália) o capitão de couraças João Piçarro, com 800 infantes, atacaram Baltar, Niño d’Águia, Godin, Trijedo e Grabelos “donde trouxeram 400 bois, 1500 ovelhas e 20 cavalos”. E resistiu ao florestamento da Mourela, com pinheiros, o que levaria à perda das suas vezeiras. Resistiram sempre e ainda bem resistem! Nesta aldeia pode visitar a corte do boi do povo, agora reconstruída como pólo do ecomuseu."



Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Trilhos seculares - "Só se lembra dos caminhos velhos..."


De memórias, caminhos velhos, paisagens de mistério, corgas profundas, paredes alcantiladas. Histórias de mitos, abrigos escondidos e outros nem tanto, pequenos regatos, mariolas antigas... o toque do vento, o suor na pele que arde com o Sol refulgente da manhã na esperança de prados argênteos e o vislumbre da sombra fugaz e ligeira que se esconde do olhar... E pronto, o Gerês é isto...

Manhã fresca e o vento balanceia os cedros que marcam a paisagem na Portela de Leonte. A caminhada tem de ser rápida, mas não tão apressada, pois a volta é pequena, mas o suficiente para algumas paragens... o fôlego e as vistas assim o exigem.

Passa-se o velho caminho que se embrenha na floresta com as marcas de outros tempos quando os homens chegaram e tomaram à força a serra. Essas memórias são agora histórias confusas e linhas de tinta nos livros, novos ou velhos. O rio corre sem se importar comigo e os raios de Sol atravessam as ramadas formando rendas com pontos de fuga. Tento capturar como um caçador de imagens, mas cedo me apercebo que a captura em vão... tal como acontece com os caçadores, pois a beleza vive-se naquele momento e não fixada num conjunto de 'uns e zeros'.

O percurso abandona a estrada e entra num estreito carreiro que me vai levar à ponte de madeira sobre o Maceira. Passo para a outra margem. Mais adiante, a Pala de Maceira surge como um monumento ao silêncio e à escuridão de outros tempos. O buraco é escuro, húmido e estreito, "eram tempos difíceis, sabe senhor!"

Para uns momentos, quero registar na memória o som dos pássaros e o jogo entre o vento e o rio. O curral está só, como tantas vezes está. O Sol, mesmo nas horas temperanas, está quente. O vale estreito prolonga-se mais adiante, terminando nos cumes rochosos e pontiagudos num jogo perspicaz do granito. Da fonte jorra uma água fresca que acalma a pele e sacia a sede.



Atravessa-se de novo o rio para a outra margem. Nesta altura é possível, pois o caudal é curto e as águas segue calmas por ali. O pequeno carreiro jaz escondido ali atrás da vegetação... '...da outra margem não o veria, senhor!" Mais adiante surge a Para do Canudo ou Pala da Sónia. Tal como em muitos locais serranos, o aproveitamento é engenhoso. A um bloco saliente juntam-se pedras ao alto e faz-se uma entrada. O abrigo pastoril do Gerês é fruto da necessidade do homem na sua milenar luta contra os elementos.

O carreiro estreito vai então serpentear encosta acima ora passando por pequenos bosques, ora tornando-se quase indistinguível por entre a urze e a carqueja. Em pouco tempo vislumbramos grande parte do vale, a Encosta de Maceira, Tábua, a Corneda, a Corga dos Cantaros, Carris de Maceira e Pé de Medela a rasgar os céus. Ali ao lado, Bemposta assinala o local de vigia das legiões que demandavam a região... há já dois mil anos atrás!

Chega-se ao Cabeço de Lavadouros e vê-se já o Vidoal que aos poucos vai ganhando cores de Verão... inexoravelmente, o Inverno vai chegar! A paisagem mostra-nos o Pé de Cabril como pano de fundo, mas estende-se para os píncaros da Serra Amarela e da Serra de Sta. Eufémia coberta com as neblinas que vêm do Rio Lima. A descida deve fazer-se com cuidado por entre a pedra seca ou coberta em alguns pontos pelo visco da humidade. Passamos então a pequena cascata que se despenha numa pequena lagoa e tomamos o carreiro que nos levará á fonte que mata a sede ao Vidoal. A descida será fácil e já muito conhecida, levando-nos à Chã do Carvalho ao lado da Corga do Mourô e terminamos na ruidosa Portela de Leonte...

Algumas imagens do dia...








































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados) cedidas por autor devidamente dientificado