Foi um dia majestoso para uma caminhada monumental. Com o intuito de visitar a exploração mineira em Cidadelha, aproveitei para (re)conhecer alguns trilhos seculares pela Serra do Gerês. Esta montanha tão pequena tem ainda tanto para mostrar que a cada novo dia que lá passo, mais é o que quero descobrir... desvendar segredos destes trilhos que em tempos foram utilizados pelas gentes serranas.
Utilizando o antigo estradão da EDP, chegamos rapidamente até à imponência do Fojo de Alcântara e foi a partir daqui que começamos a caminhar. Trilho directo à Mina de Borrageiros pelas quais passamos de relance, pois o nosso primeiro objectivo era atingir a Corga das Mestras e a partir daqui à Corga da Arrocela onde se esconde um belo curral, o Curral de Cidadelha. Porém, antes, a visão de uma queimada para os lados do Conho, marcava a paisagem. O Curral de Cidadelha fica no sopé de Cidadelha e é composto por duas áreas de pastagem tendo um forno cada uma, além de um abrigo com cobertura em zinco. Algumas fotografias e seguimos em direcção a Cidadelha. Já ao longe são visíveis as escombreiras do trabalho mineiro clandestino que teve lugar nesta zona e a sua presença vai marcar a paisagem de forma fincada à medida que nos aproximamos do topo. Aqui os trabalhos de mineração decorreram nos anos 40, mas sem haver qualquer ligação com as Minas dos Carris. Erradamente, na altura, afirmou-se que o local se encontrava dentro do perímetro concessionado à Mina de Borrageiros, o que não era verdade. O filão, bastante mineralizado, foi extensamente explorado.
À medida que íamos subindo fomos surpreendidos pelo correr de duas jovens corças que notando a nossa aproximação se esgueiraram por entre as penedias, refugiando-se da nossa vista. Chegados a Cidadelha a paisagem é deslumbrante abarcando os bordos do Vale do Homem, os Carris e a Nevosa com o seu topo coberto de nuvens, a Roca Negra e a Rocalva, além da forma bem definida de Porta Ruivas. O Céu não é capaz de tanta beleza... A 1467 metros de altitude o vento soprava frio e do Norte vinham nuvens de neve que infelizmente (ou talvez não) não se fez notar, mas fazia-se anunciar.
Seguimos então para Este com o objectivo de almoçar nas Lamas de Homem. Antes disso teríamos de passar pelo Outeiro do Pássaro. Baixando de Cidadelha, apanhamos um velho trilho que nos poderia levar às Abrótegas e a partir daqui seguir o secular caminho para as Lamas de Homem. Porém, queria recordar o «velho» posto meteorológico localizado antes do Outeiro do Pássaro e para tal seguimos um já pouco visível carreiro que partindo do trilho que sai do Curral do Pássaro, nos levou até ao velho posto agora abandonado e vandalizado. Já se encontra assim há muitos anos e ainda me recordo de nas cercanias ter encontrado um velho termómetro da Sociedade Geográfica de Lisboa que na altura deixei ficar no seu lugar. Chegados ao marco triangulado do Outeiro do Pássaro (ou Alto do Pássaro) a paisagem estava composta em parte pelo denso nevoeira que ia descendo da Lage do Sino e da Amoreira, mas era ainda bem visível o caminho para os Carris e o Curral das Abrótegas bem como o Outeiro Redondo.
Baixamos então para os Currais de Lamas de Homem onde a serenidade imperava, local perfeito para o nosso repasto de montanha. Findo este, iniciamos o nosso regresso ao local de partida com uma magnífica descida por um milenar trilho que nos levou a entrar nos Cocões do Concelinho. Foi uma épica descida, mas a sua subida será de arrasar as pernas menos preparadas. O trilho ficou melhor assinalado para os corajosos! Chegados aos Currais dos Cocões do Concelinho, seguimos pelo velho trilho dos mineiros que nos levou à Mina de Borrageiros passando acima do Couce... e que paisagem era aquela!!! Após passar pelas ruínas, rapidamente chegávamos ao carro e ao fim da nossa jornada...
Fotografias e vídeo © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)