Quando lemos as descrições do naturalista alemão Link, de escritores portugueses como Ramalho Ortigão ou de naturalistas nacionais como Ricardo Jorge, ou mesmo quando imaginamos o pintor portuense Arthur Loureiro maravilhado com as paisagens da Portela de Leonte, dificilmente imaginamos como seria chegar aos profundos e fechados vales que se entrepunham entre o Vilar da Veiga e as Caldas, e as zonas mais recônditas da serra.
Caminhar então na Serra do Gerês, era caminhar por frondosos bosques comparáveis às florestas britânicas ou alemãs, nas palavras de Link, através de um caminho que era usado para levar a vezeira para as pastagens de altitude. Passando pelas Caldas do Gerês, o caminho seguiria pelo Curral do Vidoeiro, passando a Corga da Quelha Verde, Corga da Figueira e Secelo, subindo à Preguiça, Curral da Laja e Curral da Mijaceira, antes de seguir por perto da Cascata de Leonte e Escalheiro, chegando então à Portela de Leonte. Daqui, baixava perto do Curral de S. João do Campo, passava o Rio Maceira e seguia junto da Pala da Barrosa, passando depois pela Encosta de Corneda e Ranhado. Continuava para a Albergaria, passando o Ribeiro de Cagademos, e o Rio do Forno já perto dos velhos Currais de Albergaria das gentes de Vilarinho da Furna. Algures na Albergaria, o caminho entroncaria com a Geira Romana na sua direcção para a Portela do Homem.
Nos nossos dias ainda conseguimos vislumbrar os restos do velho caminho que vencia a distância e a altura para a Portela do Homem, pequenos troços tomados pelo bosque e escondidos pela folhagem de décadas de desuso. Outras partes foram cobertas pela nova estrada que inicialmente ligou as Caldas do Gerês à Portela de Leonte, e que mais tarde - em 1942 e 1943 - se prolongou pela Mata de Albergaria para ligar à Mina do Salto do Lobo.
Hoje, chegamos à Portela do Homem em 15 ou 20 minutos de automóvel, porém, há cerca de 150 anos, a ida à Portela do Homem era uma longa jornada por entre árvores seculares, riachos que desciam vertiginosos as encostas da serra e grandes rochas que faziam contornar o caminho. O Homem foi-se adaptando à montanha numa simbiose quase perfeita.
Isto mostra que a ocupação do território é milenar e não de poucas dezenas de anos como o Parque Nacional da Peneda-Gerês ou os ambientalistas radicais nos querem fazer querer. Estuda-se e conta-se a História que está à vista e faz-se por esquecer a outra parte da presença do Homem neste território.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)