Carris, 1 de Junho de 2008
Há alguns meses atrás tive a oportunidade de expor aqui um acto de vandalismo praticado nas ruínas das Minas dos Carris por um grupo de pessoas que se diziam pertencer a um movimento escutista nacional, nomeadamente ao Corpo Nacional de Escutas, movimento do qual faço parte desde 1982. Digo "que se diziam pertencer" porque não vi naquelas imagens aquilo a que nós podemos chamar de "Escuteiros". Não, também não me interessa a verdadeira definição de "Escuteiro", sim essa que está a pensar procurar no dicionário para depois me contrapor... Isso não adianta até porque estes comentários são moderados e obviamente que só aqui entram aqueles que eu quero! Tenho dito!
Neste momento o CNE... (não é a Comissão Nacional de Eleições!) só é a maior associação de jovens a nível nacional. Sendo uma associação que tem como um dos seus objectivos a protecção "...das plantas e dos animais" (apesar de haver escuteiros que gostem e apoiem as touradas, mas isso é outra estória) o CNE é um pólo potencial para, juntamente com outras associações de protecção da natureza (onde para este caso incluo grupos de montanhismo e afins), poder colaborar com o Parque Nacional da Peneda-Gerês para a sua protecção e preservação.
No entanto, deixem-me contar aqui algumas situações que no passado me fizeram pensar (sim, porque ainda perco tempo a fazer essa coisa que rareia neste país). Há vários anos iniciei uma série de Campos de Trabalho no parque nacional. Esses campos de trabalho, denominados "Projecto Escutista de Vigilância Florestal do Parque Nacional da Peneda-Gerês" (só pelo nome já merecia uma condecoração!), tinham como objectivo auxiliar o parque nacional nos meses de Verão a combater a verdadeira praga do campismo selvagem, das merendas fora dos locais a elas destinadas e dos fogos florestais. O parque nacional dava-nos um grande apoio logístico e durante 31 dias sentíamo-nos como os verdadeiros "Guardiões do Templo" como na altura o Jornal de Notícias (sim, esse jornal que apoia as touradas... lhéc!) nos chamou. No entanto pude constatar a opinião que muitas pessoas dentro da área do parque nacional (e mesmo a maioria dos funcionários do parque nacional no terreno) tinha sobre os escuteiros... no fundo, eram aqueles quase arruaceiros que só faziam asneiras, destruíam as casas de abrigo, acampavam fora dos locais autorizados e a sua conduta não era uma conduta... de escuteiros. Bom, obviamente que este era só um dos lados da moeda! Havia quem não gostasse pura e simplesmente dos escuteiros e então quando surgiu um projecto de apoio à vigilância florestal, fomos quase um alvo a abater.
Com o passar das semanas de trabalho em campo essas opiniões foram-se alterando (ok, há sempre os velhos do Restelo... mas sobre esses não vou gastar as molas deste teclado...) e a opinião no final era de que os escuteiros podiam ser uma força (de trabalho) útil no parque nacional.
Claro que há escuteiros e escuteiros... Há aqueles que colaboram, ajudam e deixam o mundo um pouco melhor... Há aqueles que só a sua presença é um mero factor de distúrbio. Basta em Carris procurar um pouco e vemos as marcas nas paredes desses valorosos escuteiros...
Fotografia: © Rui C. Barbosa