Estas são as caminhadas propostas por Rui Barbosa - Hiking & Trekking para Fevereiro de 2022 na Serra do Gerês:
Dia 13 - Segredos da Albergaria
Dia 20 - Ao Alto do Borrageiro
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Estas são as caminhadas propostas por Rui Barbosa - Hiking & Trekking para Fevereiro de 2022 na Serra do Gerês:
Dia 13 - Segredos da Albergaria
Dia 20 - Ao Alto do Borrageiro
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Os primeiros raios de Sol iluminam ainda de forma tímida os alcantilados graníticos da imponente Surreira do Meio-Dia, Serra do Gerês.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Os dias vão continuar frios nas Minas dos Carris com as temperaturas a terem tendência para descer ligeiramente a partir de 3 de Fevereiro. Não está prevista precipitação.
Esta foi uma caminhada entre o Campo do Gerês e as Caldas do Gerês aproveitando um dia de Primavera neste Inverno que nos engana com as suas manhãs de geada.
A saída do Campo do Gerês não foi muito madrugadora, pois primeiro era necessário homenagear o 25 de Abril exercendo o acto nobre da Democracia, mesmo que esta sirva para manchar a Assembleia da República com as nádegas sujas dos fascistas e liberais.
Tomando a direcção do Corvelho e Meadei, passamos o Ribeiro da Roda seguindo depois pelas encostas do Monte das Chãs até chegar ao Curral de Bostelo. Daqui, seguimos na margem oposta à Fraga Que Fala e chegávamos à Chã de Junceda passando pela Boca do Rio, prosseguindo da direcção do Miradouro da Junceda já no traçado da Grande Rota da Peneda Gerês (GR50) e do Trilho dos Miradouros (PR6 TBR). Seguindo este, iríamos ainda visitar o Miradouro da Boneca depois da Chã de Lamas e iniciávamos a descida para o Miradouro da Fraga Negra.
Deixando o Miradouro da Fraga Negra para trás, seguimos em direcção à Chã da Pereira (onde se localizava um antigo viveiro florestal e o Observatório Meteorológico) e depois passávamos pela Cascata das Caldas. Ainda no traçado comum à GR50/PR6 TBR, chegávamos ao Miradouro do Penedo da Freira sobre as Caldas do Gerês.
Olhando a Calcedónia, Serra do Gerês, com o céu em tons de nuvens de fumo das inúmeras queimadas neste e noutros dias.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
O desafio está sempre lá, a olhar para nós todas as vezes que passamos Cabril a caminho das terras altas de Xertelo ou para rumarmos a paragens cada vez mais embrenhadas em Trás-os-Montes. Sabemos que a parede não é inexpugnável, mas aquelas vertentes quase a prumo escondem os velhos carreiros seculares que os pastores, carvoeiros, contrabandistas e apanhistas das terras de Cabril foram abrindo por entre as dobras do granito, aproveitando os patamares que a orografia lhes foi concedendo.
Com o passar dos anos, estes trilhos vão-se enchendo de vegetação que esconde a história daquelas gentes que foram fazendo as tréguas possíveis com a serra que os mira silenciosa. É como um Adamastor adormecido que ali se ergue, imponente, rude e sem misericórdia para quem o desafia pensando que - mesmo que o suba - o terá vencido. Não, a montanha apenas teve compaixão por quem a venera e respeita.
É assim a subida da Escaleira iniciando no lugar de Cabril; algo que se deve fazer com respeito e em profunda veneração pela sua imponência que se agiganta a cada vislumbre das paredes alcantiladas da Surreira do Meio-Dia.
O carreiro pelo Vale Pedra Cavalos, recentemente intervencionado pelas gentes de Cabril, vai-nos levar até ao estradão da EDP (que termina no Porto da Laje), descendo depois ligeiramente para os Currais de Virtelo. O carreiro vai sendo assinalado pelas altas mariolas que eventualmente nos levam até ao Lago Marinho.
Segundo Carlos M. Ribeiro (que o refere como 'Lagoa do Marinho'), o Lago Marinho está "(...) situada no sector sudeste da Serra do Gerês, dentro da bacia de drenagem do ribeiro do Couce (afluente do rio Cabril), a Lagoa do Marinho é uma área endorreica - o escoamento das águas faz-se através de uma depressão interior, sem saída para o mar.
Parte da sua área envolvente está ocupada por uma moreia terminal em forma de arco. Para os menos conhecedores da matéria, as moreias são um amontoado de sedimentos com diversas dimensões, que foram transportados e acumulados pelo glaciar à frente e aos lados da língua glaciar, até quando e onde este se fundiu. Quando observadas ao pormenor, permitem a reconstituição do movimento glaciar, e são um indicador fundamental dos limites de máxima extensão da glaciação. Significa isto que, o limite de um dos glaciares que ocupou a Serra do Gerês, foi a Lagoa do Marinho.
Com uma orientação nne-ssw, esta é ocupada por uma turfeira com cerca de 100 metros de comprimento por 50 metros de largura. A título de curiosidade, as turfeiras são habitats naturais de elevado valor biológico que ocorrem em biótopos permanentemente encharcados. São consideradas um dos maiores reservatórios de carbono do planeta, e a acumulação do CO2 é vista como uma das alternativas para atenuar o aquecimento global - na sua maioria são atapetadas por musgos (género Sphagnum), onde coexistem também bolas de algodão (Eriophorum Angustifoliumas), Urzes (Calluna Vulgaris), Tojos (Ulex Minor) e plantas insectívoras como a Orvalhinha (Drosera Rotundifolia).
Topograficamente, esta lagoa posiciona-se dentro de uma área de relevo aplanado sobre um substracto granítico a cerca de 1200 metros de altitude. A esta altitude, ainda que relativamente baixa, e na presença de uma maior concentração de raios ultra-violetas e de uma menor poluição atmosférica, o azul do céu já é dominante (...)."
Taboucinhas guarda a história do "Ti" Secundino. Na verdade, ninguém sabe dizer de onde veio o "Ti" Secundino, apesar de ainda existir muita gente que o conheceu. Dizem que apareceu em Cabril com uma filha, pois antigamente aparecia assim muita gente que ficava a dormir nos palheiros. Havia muitos pobres, muita gente a fazer esse modo de vida. Ninguém sabia qual era a terra dele, alguns dizem ser de Cabeceiras, outros de Fafe e ainda aqueles que afirmam ser de Celorico. Veio para Cabril como resineiro e acabou por ficar, fixando residência no lugar de Cavalos, no sítio da Balteira e por lá ficou, até que teve a possibilidade de comprar uma parcela de terreno a comissão fabriqueira de Cabril. Porém, o pedaço de terreno era muito longe das aldeias, demasiado longe, e estava localizado em Taboucinhas, mesmo no começo da serra. Isso não o desanimou o "Ti" Secundino, que murou o pedaço de terreno, cavou, lavrou, procurou água, fez duas poças, construiu casa.
O homem passou a morar em Taboucinhas, cultivava batatas e milho na sua época, couves, vinho, tinha árvores de fruto, chegou a criar porcos e galinhas. Apesar de ter a residência na aldeia de Cavalos, o "Ti" Secundino e o seu burro, só desciam quando as condições eram muito adversas.
Com a morte do "Ti" Secundino, tudo em Taboucinhas e na sua "mini" branda morreu. A casa acabou por arder, restam as paredes. As cerejeiras caíram, as vides morreram, as couves e as batatas deram lugar a silvas, tojos e fetos, sinais do tempo...
Após um curto descanso em Taboucinhas, inicia-se a jornada final até Cabril, descendo pela Corga do Gavião, Gavião, Cavada, Queixadoiros, Buracos e Azerim, através de uma refrescante sombra proporcionada pelo arvoredo que nos fez ter uma trégua do Sol. Descíamos então pela Encosta do Carvão para o Carvalhal - por onde havíamos passado de manhã - e enveredamos por São Ane, atravessando o Rio Cabril e finalmente chegando ao nosso ponto de partida depois de uma jornada de 16,9 km com 941 metros D+.
Ficam as fotografias do dia...