Talvez um dos topónimos mais intrigantes de toda a Serra do Gerês. Tentar explicar a origem do nome 'Pitões das Júnias' é recuar no tempo e mergulharmos no mais profundo interior daquela aldeia.
Não sendo minha intenção tentar explicar a origem do topónimo em questão, deixo aqui transcrito a explicação que José Dias Baptista nos dá na sua obra "Topónimos de Barroso" (2013), pág. 133 a 135.
"Topónimo de raiz antiga, pré-Latina - Pitt - que significa aguçado, pontiagudo. É, portanto, um topónimo topográfico, o que se confirma pelas características orográficas das redondezas, em que ressaltam os chamados "Cornos da Fonte Fria", "Pala da Vaca", "As Fisgas", "São João da Fraga", "Penedo Grande", "Fraga de Paul", "Lamas da Portela", "Castelo Pé da Moega", "Cascata", etc. - tudo isto com significados de locais de altura e aguçados, aliás, chamadouros de extrema propriedade.
O topónimo antigo parece que era Pitonha, ou antes, Vilar de Vacas de Pitonha, em que entre o étimo citado pitt + o sufixo arcaico onha que indica quantidade ou grandeza. Documenta-se o que dizemos pelas inquirições de D. Afonso III, em 1258. Pelo século XIV ou XV já aparece a forma Pitões que julgo ser simples e lógica abreviatura de Pitonha, diriam Pitonis e daí para o nasalado Pitões. No século XVII ou XVI começa a ser designada por Vilar de Vacas, Vacariça ou Vacaresse de Pitões, o que se comprova com documentos manuscritos (e de inusitado valor histórico-toponímico) da autoria do Padre Diogo Martins Pereira, em «Epítome Familiar e Árvore de Geração de Algumas Casas...».
Já no século XVIII, alguns dos recentes Lousadas (que ainda os há aos trambolhões) fizeram o milagre de ressuscitar-lhe as Júnias, nome erudito com que se pretende eliminar o popular Unhas.
Dizem agora Pitões das Júnias... Mas não há documentos de prova. Há, sim, Santa Maria das Júnias... Ora o topónimo é Pitões, as Júnias são de Santa Maria!
Mas tal forma, Júnias, é duvidosa... Existia, sim, Juynas ou Iuynas - desconhecido palavrão de que não deveremos fazer o latinório Júnias. Com efeito, Júnias foi nome de mulher latina mas não consta que deixasse rasto toponímico em nenhuma parte do império. Quem tal dia, está a fazer ao topónimo Pitões o que Júnio Bruto fez a Júlio César. Este tratava o Bruto por filho e, no entanto, o Bruto encabeçou a cinjura e apunhalou o imperador na mais repugnante cobardia e traição.
O topónimo do Mosteiro dedicado a Santa Maria (Nossa Senhora das Nevas!) era JUYNAS e nada mais. E, escrito assim. é topónimo desconhecido, sem significado, tal como Juriz. Estes nomes Júnias e Juriz não existem! Existe, e já existia em 1258, uma povoação que até era freguesia e pagava idêntica pensão, ao rei, qual pagava Pitões, Vila da Ponte, e outras. Essa povoação chama-se O Gerês e o seu orago era São Vicente. Nunca ninguém encontrou um só documento que falasse de Juriz. Mas há-os de São Vicente d'O Gerês!
Quanto às Juynas, Iuynas ou Juyas há-de ser fórmula errónea de Unhas, importantíssimo elemento da lenda da fundação do Mosteiro. Que se chamava Mosteiro da Senhora das Unhas (Mosteiro da Nossa Senhora das Unhas) está bem explícito nos documentos do P.e Diogo Martins Pereira a que acima aludimos (...). Não ponho as mãos no fogo por Júnias! Antes vejo no termo a tentativa de alguns eclesiásticos acharem sujo o nome Nossa Senhora das Unhas e tudo fazerem para o irradicarem."
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