Continuação dos dias frios nas Minas dos Carris com baixa possibilidade de precipitação.
A neve havia sido anunciada no dia anterior. Pela noite, os primeiros flocos de neve surgiam tímidos entre os pingos da chuva e mostravam-se à luz da iluminárias. O cenário compunha-se nos muros da aldeia que acordaria silenciosa, tipicamente silenciosa coberta de branco, como "nos grandes nevões de outrora!"
A paisagem da Serra do Gerês, escondida pelos véus das nuvens cinzentas carregadas de humidade, compunha-se de tons plumbeos, ora mais claros, ora mais escuros, numa dança açoitada pelo vento. O frio tolhia os corpos que caminhavam tropegos pelos velhos carreiros que nos levaram ao sopé dos espigões do Pé de Cabril. Já na descida para a Portela de Confurco, o olhar fixou-se na dança das cortinas nebulosas que por vezes deixavam passar o Sol e os contornos da montanha surgiram em tons de cinza a pintar um cenário dos mundos fantásticos de Tolkien. O Pé de Cabril elevava-se no horizonte próximo como um titã e a Quelha dos Olhos Caveiros surgia como uma memória do passsado onde a serra era conhecida pelo seus nomes.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Os dias frios vão continuar, mas descarta-se a possibilidade de um novo episódio de neve nos próximos dias.
Como é tradição, o blogue Carris apresenta um conto de Natal da autoria de Luís Vendeirinho para esta quadra de 2025.
O Presépio Incompleto
A queima do madeiro era o momento esperado na noite de consoada, o corolário da festividade que reunia a gente da aldeia no adro da capela, depois da reunião das famílias no redor das mesas fartas de carnes e de doces, que rivalizavam com a arte dos melhores chefes de cozinha pelo carinho com que eram confecionados. Bem regados, todos vinham aquecer-se até altas horas ao lume, o que era mais um pretexto para continuarem a emborcar os néctares destilados das videiras, entre canções e desafios à boa disposição de cada um.
As camponesas que tinham ajudado a restaurar as três figuras do presépio, concebidas em cartão e tecidos finos para decorarem a rua, gabavam-se do seu trabalho, enquanto as mais velhas ficavam à janela entregues às suas lengalengas. O presépio de rua fora construído sob um telheiro, não fosse nevar sobre as santas imagens, que era suportado por um ferro enterrado na calçada de granito, mas naquele ano um espírito iluminado decidiu que umas luzinhas coloridas iam compor a obra da arte colectiva. E assim foi, iluminaram o presépio ante o qual todos se benziam e alguns oravam a pedir pela protecção do céu.
“Vá, compadre! Diga-nos então se na sua cidade há obra como esta! Vossemecê é cá dos nossos, mas falta-lhe uma decoração assim lá na selva donde vem, como usa dizer. E madeiro que arda tão bem como este também não deve ser fácil atear à porta dos vossos palácios.”
“Diz bem, diz sim senhor.” – Respondeu o convidado da terra, congeminando numa fracção de segundo como ia entalar o outro. E fê-lo inspirado no pequeno altar natalício, tão presente no seu espírito, apesar de turvado pelas bebidas que já tinha no bucho, e onde, se ainda podia raciocinar, o Menino se aquecia com o bafo da vaca e do burro.
“Diz-me que o nosso presépio não está como devia? Olhe que, se lhe falta a vaca, pelo menos vossemecê podia aqui dormir a fazer de burro.” – Toda gente ria, sem excepção, sem ressentimentos entre os gracejos que faziam parte da festa.
Um dos velhotes que lhes fazia companhia, até ali muito calado, resolveu dar sinal da sua presença e disse bem alto, para que todos ouvissem: “Não há vaca? Ora esperem por mim que vou buscar a minha bezerra à loja e ato-a eu mesmo aqui ao poste. Pelo menos esta noite havemos de ter presépio completo, meio completo quero eu dizer.” – E foi rua acima.
De regresso, para espanto geral, viu-se que o velho não se tinha consolado em trazer só a bezerra. Trazia a bezerra por uma mão e, triunfante, um burro pela outra, cada uma das criaturas presa às cordas que atou ao poste. A festa continuou até o cansaço vergar cada folião por sua vez, indo-se recolher enrolados nas mantas que a noite pedia.
A aldeia acordou como nada o fazia prever. Um garoto corria, de casa em casa, gritando na sua aflição que acontecera uma desgraça.
“O burro comeu o Presépio! O burro comeu o Presépio!” – Numa algazarra geral a minha gente veio saber se era verdade. Pois era. O burro tinha-se consolado com as palhinhas do Menino e, não contente com a sua sorte de burro, tinha esfarrapado as Santas Figuras com a dentadura rija. Quando o pároco perguntou pelo autor da ideia luminosa do burro e da bezerra, todos se calaram, solidários no despertar original.
Segundo publicação do Município de Terras de Bouro nas redes sociais, "a habitação na zona da Preguiça, que tinha sido devastada por um incêndio, foi totalmente recuperada numa parceria entre o Fundo Ambiental, o ICNF e a Câmara Municipal de Terras de Bouro.
O que antes era um cenário de destruição deu lugar a um novo recomeço. Foram entregues, no passado dia 18 de dezembro, as chaves da casa florestal da zona da Preguiça aos seus moradores, assinalando o fim de um período de incerteza após o trágico incêndio que, no passado mês de dezembro, deixou a habitação em ruínas e sem condições de habitabilidade.
A recuperação célere do imóvel só foi possível graças a um protocolo de colaboração entre o Fundo Ambiental, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e a Câmara Municipal de Terras de Bouro. O momento contou, para além da presença do Executivo da Câmara Municipal e da Diretora do ICNF, com a presença do Secretário de Estado do Ambiente, Dr. João Manuel Esteves. O investimento conjunto permitiu a reconstrução profunda da estrutura, garantindo que a casa mantivesse a traça característica da região do Gerês, mas agora com condições reforçadas de conforto e segurança, num investimento protocolado entre o ICNF e o Fundo Ambiental de aproximadamente 100.000 euros, com IVA, e acrescido de verba do orçamento municipal. A Câmara Municipal de Terras de Bouro agradece à Sr.ª Ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, pela dedicação e prontidão no apoio à resolução desta situação.
"Ver esta família regressar ao seu lar é o culminar de um esforço coletivo para repor a normalidade na vida de quem dedica o seu dia-a-dia a cuidar da nossa serra", afirmou o Presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro durante o ato simbólico da entrega das chaves.
Desde o dia do sinistro, os moradores tinham sido acompanhados pelos serviços da Proteção Civil Municipal. Com a conclusão das obras de reconstrução, a família finalmente retomou a sua rotina e vigilância no coração do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
A intervenção não se limitou à recuperação das paredes e telhado; incluiu também melhorias na eficiência térmica da habitação, assegurando que os profissionais que zelam pela floresta tenham a dignidade habitacional necessária para o desempenho das suas funções em pleno território protegido.
Fotografias © Município de Terras de Bouro (Todos os direitos reservados)
O blogue Carris deseja a todos os seus leitores e amigos umas Boas Festas e um Próspero Ano de 2026!
Nesta espectacular fotografia de um dia de neve na Serra do Gerês, a Roca d'Arte surge-nos em primeiro plano tendo «atrás de si» o Cabeço da Cântara. Este é o perfil das grandes montanhas geresianas.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Segundo uma publicação nas redes sociais, o Município de Terras de Bouro anunciou o reforço da cogestão do Parque Nacional da Penerda-Gerês com a assinatuta de novos apoios do Fundo Ambiental.
Segundo o município, "na qualidade de Presidente da ADERE-PG, o Presidente do Município de Terras de Bouro, Manuel Tibo, formalizou, no Centro de Educação Ambiental do Vidoeiro, a aceitação da candidatura destinada à capacitação técnica da Comissão de Cogestão do PNPG para o biénio 2025-2026. Manuel Tibo reafirmou o seu compromisso com a preservação e valorização do território ao participar, no passado dia 18 de dezembro, na cerimónia de assinatura dos Termos de Aceitação das candidaturas ao apoio do Fundo Ambiental, que contou com a presença do Secretário de Estado do Ambiente, João Esteves.
O apoio agora formalizado insere-se no plano de Cogestão de Áreas Protegidas 2025-2026. Este financiamento, destina-se especificamente à capacitação técnica das Comissões de Cogestão. Na prática, permitirá a contratação de técnicos qualificados que darão apoio permanente e operacional às decisões da comissão, garantindo que a gestão do Parque Nacional seja mais eficiente, próxima das populações e capaz de responder aos desafios da biodiversidade."
Para o Presidente da ADERE-PG, Manuel Tibo, esta assinatura constitui um passo fundamental para consolidar o modelo de gestão partilhada, afirmando "a presença ativa de Terras de Bouro neste processo garante que as especificidades do nosso concelho e as necessidades dos nossos munícipes sejam ouvidas na gestão do único Parque Nacional do país. Com técnicos dedicados, teremos maior agilidade na implementação de projetos de conservação e promoção turística sustentável."
Na sessão, foi sublinhada a importância da cooperação institucional. Além do Secretário de Estado do Ambiente, que conhece profundamente a realidade do território, tendo presidido anteriormente à Comissão de Cogestão do PNPG, o evento reuniu diversos autarcas da região e membros do Conselho Diretivo do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Com este novo fôlego financeiro e técnico, os parceiros da cogestão preparam-se para executar um plano de ação ambicioso focado na: valorização dos recursos naturais e endógenos, na melhoria da comunicação com as comunidades locais e na promoção do desenvolvimento económico sustentável do Gerês.
Fotografias © Município de Terras de Bouro (Todos os direitos reservados)
Finalizado este episódio de neve com a chegada do Inverno, o tempo frio irá continuar como esperado, mas sem previsão de precipitação pelo menos até dia 30 de Dezembro.
A paisagem invernal do Prado do Vidoal e do Outeiro Moço, Serra do Gerês, a 22 de Dezembro de 2025.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Enquanto o Vale do Rio Gerês se cobria com um nevoeiro frio, o Sol brilhava acima das nuvens fazendo realçar a textura da neve recém caída (22 de Dezembro de 2025) e que cobria o Curral da Raiz, Serra do Gerês, com os seus grandes carvalhos.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Os velhos edifícios das Minas dos Carris trazem mais dramatismo às paisagens de neve na Serra do Gerês.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Segundo publicação do Município de Terras de Bouro, no dia 18 de Dezembro procedeu-se à renovação anual do compromisso histórico do tratado dos limites de fronteira entre Terras de Bouro e Lobios.
Nesta cerimónia, foram reafirmados os laços históricos e institucionais através do reconhecimento anual dos limites fronteiriços que unem Portugal e Espanha. "A cerimónia, carregada de simbolismo e tradição, foi presidida pelas entidades máximas de cada concelho, Manuel Tibo e Maria Del Carmen Salgado, que se fizeram acompanhar pelos respetivos vereadores para proceder à assinatura da ata de confirmação que valida a demarcação territorial entre as duas regiões."
"Este ato solene dá cumprimento ao que foi estipulado no Tratado de Limites de Fronteira, um documento histórico que data de 29 de setembro de 1864 e que, desde então, tem servido de base para a convivência harmoniosa nesta zona da raia. O tratado exige que, anualmente, os representantes locais verifiquem a integridade das linhas divisórias, garantindo que a fronteira permanece devidamente identificada e respeitada por ambas as nações.
Mantendo o protocolo de alternância que caracteriza esta celebração, o evento deste ano decorreu em território concelhio de Terras de Bouro, após a edição anterior ter tido lugar no município galego de Lóbios. Mais do que uma mera formalidade administrativa, o encontro serviu para estreitar as relações de cooperação transfronteiriça, celebrando a identidade comum das populações que habitam o território do Parque Nacional da Peneda-Gerês e do Xurés, onde a proximidade cultural e social supera as barreiras geográficas estabelecidas há mais de um século."
Fotografia © Município de Terras de Bouro (Todos os direitos reservados)
Já me escapava há algum tempo, mas agora faz parte da minha biblioteca temática sobre a Serra do Gerês e o Parque Nacional da Peneda-Gerês.
"A Fronteira da Portela do Homem", da autoria de José Araújo - ex-Presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro - relata a história da fronteira minhota e, com um cunho muito pessoal, todos os passos para a sua abertura definitiva.
Esta é uma edição de autor feita em Junho de 2001.
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)