Sem dúvida que a grande travessia por excelência que se pode fazer no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) é iniciada na Portela do Homem e finalizada em Pitões das Júnias. Percorrer os velhos carreiros que a Serra do Gerês nos oferece, é uma experiência única tanto a nível físico como pessoal (da maneira como a quiserem entender!).
Já referi que, em tempos, um dos antigos directores do PNPG perguntava-se como era possível os visitantes não terem um percurso que ligasse estes dois extremos do Parque Nacional na Serra do Gerês? Decorridos tantos anos, tal ainda não existe e, na verdade, não vejo que venha a existir, mas pelo que se tem visto nos últimos tempos, se calhar é melhor que assim seja.
Esta caminhada foi um evento organizado por RB Hiking & Trekking que nos levou desde a Portela do Homem até à aldeia de Pitões das Júnias num magnífico dia de montanha pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês. Neste dia fez-se um percurso de cerca de 27 km, cuja primeira parte envolveu a travessia do Vale do Alto Homem.
Vencido o Vale do Homem, inicia-se uma verdadeira demanda por Pitões das Júnias. Neste tipo de caminhadas, onde o percorrer quilómetros para se atingir o objectivo se torna a prioridade, a concentração é um dos aspectos mais importantes a ter em conta. Saber dosear o esforço tanto a nível físico, como a nível psicológico (sendo este talvez o mais importante) é o segredo para atingir o final e isto torna-se particularmente importante num dia quente, como foi o caso!
Relativamente à travessia que se quer fazer entre a Portela do Homem e Pitões das Júnias é importante referir o total desconhecimento por parte do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e do Parque Nacional da Peneda-Gerês, do estado dos carreiros de montanha. A utilização abusiva e viciantemente aditiva das ferramentas de escritório e o desconhecimento do terreno, leva a que por vezes se proponha a quem desejar fazer uma actividade deste tipo, trajectos que não são os mais aconselhados. Com a justificação de que "não se devem abrir novos caminhos", sugerem-se traçados de percurso que não são utilizados há muitos anos, levando a uma perda de tempo e um despender de esforço nestas actividades que não é aceitável.
Por outro lado, sabemos que partes da serra já não são percorridas pelas vezeiras, perdendo-se os seculares rituais e deslocações que mantinham os caminhos abertos. Isto leva a que por vezes se tenham de percorrer verdadeiros campos de mato o que, associado à má selecção da roupa, possa levar a um certo desespero por parte de quem se desafia a estas aventuras.
Neste dia, prosseguindo pelos velhos carreiros e tomando a orientação das mariolas, seguiu-se na direcção do Salto do Lobo percorrendo a sua margem direita até descermos a Corga de Lamalonga. Daqui, seguimos para o Curral de Lamalonga (Curral do Teixeira) e iniciamos a descida para os Currais da Matança, atravessando de seguida a Ribeira das Negras em direcção à mariola bifurcada. Neste ponto, seguimos para o Curral das Rochas de Matança (já no Vale da Ribeira de Biduiças) e, caminhando na margem direita da ribeira, chegávamos enfim ao Curral de Biduiças. Estávamos assim num mundo de quase silêncio onde os grandes blocos de granito compunham a paisagem por entre o caos e a saudade, numa paisagem glaciar onde a profusão de moreias assinala tempos em que o planeta estava mais frio.
Aqui, perante uma ribeira que se extingue a cada dia que passa neste Verão intenso de calor, tivemos oportunidade de um descanso e de saciada a sede. Seguia-se, talvez, a parte mais dura do percurso.Sempre com o colosso dos Cornos de Candela à nossa esquerda, entrou-se na Corga de Pala Nova e seguimos em direcção ao velho Curral d'Arrabeças e daqui subimos para Currachã, perante a magnífica paisagem que nos proporcionavam os Cornos da Fonte Fria e os campos de Pitões das Júnias.
Nesta altura, o grupo teve de se dividir, pois uma situação inesperada levou a que tivesse de tomar a decisão de não permitir que um dos elementos do grupo continuasse o seu desafio. O calor, a quase desidratação e o cansaço, foram os sinais para um «socorro» em Currachã.
O resto do do grupo prosseguiu a sua demanda, atravessando o Ribeiro de Teixeira já com os olhos postos no objectivo final da caminhada. Porém, faltava ainda a passagem pelo Fojo de Pitões das Júnias (um belo fojo de cabrita) e o Carvalhal do Teixo, tomando então o caminho para a Mata do Beredo e para o Porto da Lage, iniciando então a «interminável» subida para Pitões das Júnias.
Ficam as memórias e algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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