domingo, 30 de junho de 2013
199... Um novo dia (I)
Carris, 29 de Junho de 2013
O dia de calor intenso na Serra do Gerês fez-me decidir completar a caminhada às Minas dos Carris ao final da tarde, aproveitando o arrefecimento e tirando partido dos tens com que a paisagem se ia pintando a cada momento. O Verão acabou de chegar, mas aos primeiros passos parecia que já por cá anda há muito tempo.
A Serra do Gerês vai tendo os seus regatos e nascentes que são habituais durante todo o ano, o que acaba por compensar o suor e a secura de cada brisa de ar quente que nos bafeja a pele. Se em tempo de invernia o trabalho nas minas seria infernal, em tempos de canícula deveria ser como viver dentro de um forno ou de costas para uma lareira em toda a sua pujança.
Os lugares foram-se passando um a um. A Portela do Homem e a ponte sobre o Rio Homem ficam já lá atrás quando nos refrescamos com a água da Fonte da Abelheirinha. Muitas vezes faço aquele percurso dividindo-o mentalmente em etapas que vão encurtando a distância à medida que são vencidas. É a frente da Bela Ruiva antes de chegar à Água da Pala, a própria Água da Pala que nos permite o vislumbre do vale aberto para a Serra Amarela e os seus retransmissores, o Cagarouço, as Febras, o Modorno, o Teixo, as Águas Chocas, as Abrótegas e a Carvoeirinha.
Esta caminhada ia sendo particularmente interessante e a cada novo interesse cada vez mais rica e distinta de muitas outras. Certamente terá sido pela altura do dia em que o calor já não apertava tanta que tantos animais se deram a ver. Começamos pela víbora fugidia que se refastelava ao Sol de final da tarde, passando pela lontra nas alturas do Cagarouço. Enquanto caminhava, procurava a silhueta das cabras selvagens a percorrer a cumeada, porém estas não apareceram nesta altura.
O pôr-do-Sol surgiria por alturas do Teixo já depois de ficarmos encadeados pelos raios de Sol na passagem pelo Modorno onde a sua ribeira surgira como que um oásis no caminho. Por esta altura, cada passo torna-se pesado e o caminho inclina-se perante os nossos pés. A rocha solta, leve memória de outrora de um caminho que então existiu, dificulta por vezes a passada com um traiçoeiro deslizar.
Sentado na rocha quente, vi os raios de Sol a lamberem as beiras da serra e a projectarem sombras pelo vale. Lentamente, o dia ia dando lugar à noite que se ia deitando pela montanha. O Teixo ficava para trás e o caminho trepava para as Águas Chocas, tornando-se mais dócil até chegar às Abrótegas, local onde abastecemos de água na eventualidade de as fontes nas minas estarem secas. Um pouco à frente, no curral cimeiro do Barroco de Trás da Pala, uma manada de vacas dominava o local. Curiosamente, uma destas vacas começou a correr na direcção oposta a nós, o que me levou a pensar que eventualmente se teria assustado com a nossa aproximação. Fazendo-se ouvir por toda a serra, o animal desaparecia por entre a vegetação numa altura em que a nossa visão se encontra confusa com a mudança de luminosidade na montanha. Enquanto as cores vão-se esbatendo, os tons de cinza vão dominando a paisagem.
De repente, num levantar fortuito do olhar, surgem naquela cena dois vultos bastante característicos que não me fizeram ter dúvidas sobre o que via e que me levaram num ápice a entender o porquê da vaca correr e fazer todo aquele ruído. Na manada, duas pequenas vitelas eram protegidas pelos restantes membros do grupo enquanto que os dois lobos percorriam o pequeno alto e desapareciam por entre as sombras que rapidamente iam descendo sobre o local. Este foi um momento que valeu todos os dias na serra, todas as caminhadas e longas horas de silêncio em busca daqueles companheiros de montanha, guardiões de lendas e mitos tão mal tratados pelo Homem. Um momento único, o primeiro, algo a nunca esquecer!
A entrada na Corga da Carvoeirinha é feita já com as luzes das eólicas a marcarem a paisagem e a chegada às velhas ruínas surge envolta na noite, com a linha do Alto dos Carris a marcar a diferença entre a última luz do dia e o negro da noite. A Lua surgiria mais tarde e era tempo de retemperar forças, e arranjar um bom local para o espectáculo do início de um novo dia que teria lugar dali a oito horas...
Fotografias: © Rui C. Barbosa
Finalmente, o lobo!
Há fotografias, que por muito más que sejam, valem todas as caminhadas, valem todos os momentos, valem todos os dias na serra!
A qualidade é má, a fotografia foi tirada com o máximo de zoom digital em situação de fraca luminosidade ao final do dia. Para quem não assistiu àquele momento único será difícil descobrir a silhueta, mas para mim, esta é uma foto lindíssima, pois mostra o meu primeiro lobo ao fim de tantos anos de serra! Agora, tenho o grande prazer de a compartilhar convosco!
Fotografia: © Rui C. Barbosa
sábado, 29 de junho de 2013
Concentração contra as taxas! Junta-te a nós a 28 de Julho!!!
Todos pensávamos que ao longo de 2011 e 2012 haviam sido dados passos importantes na luta contra as taxas que o ICNF ilegalmente cobra tendo por base uma leitura deturpada da Portaria 138-A/2010, de 4 de Março.
Desde o dia da publicação desta portaria que a maioria fazia uma leitura perante a qual não estava prevista a cobrança de taxas para os pedidos de autorização para a realização de actividades de visitação dentro das áreas protegidas nacionais. Somente a tutela e a sua máquina bem oleada faziam uma leitura deturpada com o objectivo de intencionalmente prejudicar as pessoas que de forma responsável gostam de usufruir da Natureza.
Ao longo de todo este tempo, foi-se aguentando os golpes de cintura por parte da governação que na oposição tanto criticou a cobrança de taxas. Ao longo deste tempo, foi-se aguentando o silêncio cúmplice do partido que na altura apoiou a publicação desta portaria. É hora de dizer basta!
Basta o arrastar de um processo que em Julho de 2012 estava a poucas semanas de ser resolvido. Basta de aguentar as mentiras e divagações burocráticas do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, da Secretaria de Estado do Ambiente e do Ordenamento do Território, e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
Todos aqueles que fizeram atrasar este processo, que forma incompetente não souberam escrever uma lei e que depois a interpretam mal, devem prestar contas da incapacidade de manter os cargos que ocupam e devem prestar contas pelos erros que fizeram, prejudicando assim a população e o país ao longo de todos estes meses. Basta de incompetência!
Em Março de 2013, o Provedor de Justiça apontou no sentido de que existe a utilização de elementos imprecisos na indicação da base de incidência objectiva do tributo por parte do ICNF (“prestação de outros serviços não previstos”); refere o excessivo montante da taxa em face do serviço prestado, tanto mais que a taxa é liquidada independentemente do sentido da decisão; sublinha não haver legitimidade para cobrar taxas ao abrigo do Plano de Ordenamento do PNPG; e considera que a Tabela de Taxas anexa à Portaria nº138-A/2010, de 4 de Março prevê as taxas devidas por “autorizações” sem que ali figure a taxa devida pelos pedidos de autorizações para realizar caminhadas.
É tempo de voltar a lutar para que o Governo resolva de uma vez por todas esta situação!!
No dia 28 de Julho comemora-se o Dia Internacional da Conservação da Natureza. Este dia servirá para mostrarmos a nossa indignação pela forma como o Governo nos tem tratado!
Junta-te a nós!
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Dias abertos nos parques
Acredito que eu possa andar um pouco distraído... ou talvez não...
Os interessados poderão inscrever-se até dia 28, contactando o Parque Nacional da Peneda-Gerês pelo telefone 253203480 ou enviando email para pnpg@icnf.pt.
Os interessados poderão inscrever-se até dia 28, contactando o Parque Nacional da Peneda-Gerês pelo telefone 253203480 ou enviando email para pnpg@icnf.pt.
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Acabou a paciência para as taxas!
Não podemos ficar indiferentes a este verdadeiro abuso que está a ser levado a cabo por quem é responsável dentro do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, dentro da Secretaria de Estado do Ambiente e do Ordenamento do Território, e dentro do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
Passou tempo de mais para a resolução de um problema tão simples como é este das taxas que são ilegalmente cobradas pelos pedidos de autorização para a realização de actividades de visitação dentro das áreas protegidas.
Ao fim de tantos meses e falsas promessas, a verdade é que
tudo continua na mesma mesmo depois de o Provedor de Justiça apontar para a
ilegalidade da cobrança das taxas ao abrigo da Portaria 138-A/2010, de 4 de
Março. Esta é uma atitude que leva ao descrédito total em quem lidou este processo por parte do Governo. Tudo não passou de um engodo, de mentiras e de atitudes que tinham como único objectivo adiar este processo, arrastando-o eternamente enquanto que no terreno as pessoas são todos os dias confrontadas com atitudes de perseguição e ameaça ao usufruto responsável das nossas áreas protegidas.
De relembrar que a decisão do Provedor de Justiça aponta no
sentido de que existe a utilização de elementos imprecisos na indicação da base
de incidência objectiva do tributo por parte do ICNF (“prestação de outros
serviços não previstos”); refere o excessivo montante da taxa em face do
serviço prestado, tanto mais que a taxa é liquidada independentemente do
sentido da decisão; sublinha não haver legitimidade para cobrar taxas ao abrigo
do Plano de Ordenamento do PNPG; e considera que a Tabela de Taxas anexa à
Portaria nº138-A/2010, de 4 de Março prevê as taxas devidas por “autorizações”
sem que ali figure a taxa devida pelos pedidos de autorizações para realizar
caminhadas.
O Governo através do ICNF insiste em prosseguir com a sua
política de saque a quem pretende usufruir das nossas áreas protegidas.
É tempo de dizer chega! É tempo de dizer basta! É tempo de exigir uma mudança de
atitude! É tempo de exigir respeito! É tempo de continuar a luta!...
GERESÃO já nas bancas!
Já está nas bancas a mais recente edição do jornal GERESÃO.
De desejar assinar o GERESÃO deve enviar um email para jornalgeresao@netvisao.pt.
Fotografia: © GERESÃO
As taxas no debate 'Turismo como factor de desenvolvimento'
No passado dia 24 de Junho teve lugar no Auditório do Centro de Animação Termal das Caldas do Gerês, um debate sobre o tema "Turismo com factor de desenvolvimento" que contou com a presença de vários oradores entre os quais o Secretário de Estado do Turismo, Adolfo Nunes.
Presente este também José Carlos Pires, Presidente da Associação de Defesa e Promoção do Gerês - Gerês Viver Turismo, que entre outros assuntos abordou o temas das taxas que são ilegalmente cobradas ao abrigo da Portaria 138-A/2010, de 4 de Março, entre outros assuntos.
Na fase de debate tive a oportunidade de mais uma vez perante alguém da tutela, de apontar a ilegalidade da cobrança das taxas e os seus efeitos negativos no turismo da região com muitos visitantes a deixarem de passar pelo parque nacional (e certamente por outra áreas protegidas) devido à cobrança desta taxa. Apontei também a perversão da interpretação feita pelo governo desta portaria e os futuros efeitos da mesma quando a Carta de Desporto de Natureza do Parque Nacional da Peneda-Gerês for aprovada.
Como seria de esperar, e mesmo não sendo um problema relacionado com a Secretaria de Estado do Turismo, o Secretário de Estado foi extremamente lacónico perante este assunto. É óbvio o efeito negativo destas taxas no turismo do parque nacional e certamente que este debate pode ajudar a que o processo seja resolvido o mais rapidamente possível.
No entanto, e como para tudo, a paciência tem limites...
Presente este também José Carlos Pires, Presidente da Associação de Defesa e Promoção do Gerês - Gerês Viver Turismo, que entre outros assuntos abordou o temas das taxas que são ilegalmente cobradas ao abrigo da Portaria 138-A/2010, de 4 de Março, entre outros assuntos.
Na fase de debate tive a oportunidade de mais uma vez perante alguém da tutela, de apontar a ilegalidade da cobrança das taxas e os seus efeitos negativos no turismo da região com muitos visitantes a deixarem de passar pelo parque nacional (e certamente por outra áreas protegidas) devido à cobrança desta taxa. Apontei também a perversão da interpretação feita pelo governo desta portaria e os futuros efeitos da mesma quando a Carta de Desporto de Natureza do Parque Nacional da Peneda-Gerês for aprovada.
Como seria de esperar, e mesmo não sendo um problema relacionado com a Secretaria de Estado do Turismo, o Secretário de Estado foi extremamente lacónico perante este assunto. É óbvio o efeito negativo destas taxas no turismo do parque nacional e certamente que este debate pode ajudar a que o processo seja resolvido o mais rapidamente possível.
No entanto, e como para tudo, a paciência tem limites...
terça-feira, 25 de junho de 2013
Projeto Semear Vida em Sítios Desertificados
O Movimento Terra Queimada, apresentou no concurso "A World you like. With a clime you like" do Europe Direct, o projecto "Semear Vida em Sítios Desertificados".
O projecto precisa dos vossos votos para ficar seleccionado e apresentar este projecto inovativo a nível internacional com o objectivo de conseguir apoio para o realizar.
Mais Sobre o projecto:
http://world-you-like.europa.eu/en/success-stories/project-overview/projeto-semear-vida-em-sitios-desertificados/
Para votar:
http://world-you-like.europa.eu/en/success-stories/
choose Country: Portugal, choose Theme: Producing and Innovation.
Desde já obrigado pelo vosso apoio.
Ajude a evitar o mau trato de animais nas Festas Concelhias de Terras de Bouro
Infelizmente, e ao contrário do que seria esperar pois pensava-se que o bom senso iria prevalecer em quem organiza estas festas, Terras de Bouro volta a ter 'vacas da corda' no programa das festas concelhias: http://terrasbouro.blogspot.pt/2013/06/programa-das-festas-concelhias-de.html.
Eu enviei um email para o Presidente da Câmara, Dr. Joaquim Cracel Viana, que certamente terá uma palavra a dizer sobre as autorizações para tal violência, pois Terras de Bouro não deve ser um arauto deste tipo de espectáculos cruéis e só quem não sabe pelo que o touro passa nestes eventos, não tem consciência do seu sofrimento. O que os olhos não vêm o coração não sente e não não vemos muitos dos maus tratos a que estes animais são submetidos antes e após estes espectáculos cruéis que em nada dignificam o concelho de Terras de Bouro.
Assim, faço um apelo para que todos enviem um email ao Presidente da Câmara de Terras de Douro, pedindo-lhe para não autorizar este tipo (e outros tipos de ventos tauromáquicos no seu concelho). Podem utilizar o texto em baixo ou então criar um texto pessoal e enviar para jcracel@cm-terrasdebouro.pt ou geral@cm-terrasdebouro.pt.
Ajude-nos a evitar o mau trato de animais em Terras de Bouro!
"Mais uma vez escrevo-lhe tendo em conta um assunto que eu esperava não voltar a ver este ano nas Festas Concelhias de Terras de Bouro e como tal espero que este email mereça a sua total atenção.
Como destino turístico por excelência, Terras de Bouro deve-se pautar por iniciativas de dignifiquem o concelho, que o façam distinguir entre muitos e que o tornem como um destino apetecido por milhares. Terras de Bouro tem sido um exemplo de dinamismo e empenho na melhoria das condições de vida dos seus habitantes e tem-se esforçado em oferecer bons serviços a quem o visita.
Assim, e tal como aconteceu no ano anterior, não consigo compreender a insistência na realização de um espectáculo no qual o abuso e mau trato de animais, nomeadamente a que se dá o nome de 'vacas da corda', sobre o falso pretexto de se tratar de uma tradição no concelho, que certamente não o é. E mesmo que fosse, a tradição não pode ser utilizada como uma justificação para este acto abusivo.
Sendo um concelho que se orgulha de possuir no seu território um verdadeiro santuário da protecção animal, a realização deste acto bárbaro em nada o dignifica, nem mesmo as suas gentes. Este é um espectáculo cruel que somente é realizado por influências externas ao concelho de Terras de Bouro por parte de uma industria em decadência no nosso país.
Assim, e tendo em conta que tenho conhecimento do seu gosto pessoal pela Natureza, venho por este meio solicitar que reconsidere a autorização que terá sido dada para a realização deste acto de violência para com um animal, tendo em conta que o número daqueles que possivelmente possam não visitar Terras de Bouro nesse dia será certamente em muitos milhares superado pelo número daqueles que verão em Terras de Bouro um exemplo de um concelho no qual os animais merecem o digno respeito e que como tal terão todo o interesse de visitar Terras de Bouro ao longo de todo o ano.
Na esperança que este email não fique sem a devida resposta, subscrevo-me com os melhores cumprimentos"
segunda-feira, 24 de junho de 2013
72º aniversário das Minas dos Carris
Se existe alguma data a qual se poderá apontar como a data de nascimento das Minas dos Carris, é o dia 24 de Junho de 1941, pois foi neste dia que Domingos da Silva fez o registo mineiro da mina do 'Salto do Lobo', génese que mais tarde daria origem ao complexo mineiro dos Carris englobando três concessões principais: Salto do Lobo, Lamalonga n.º 1 e Corga das Negras n.º 1. Em torno destas concessões seriam também feitas pequenas minerações e mesmo outras concessões maiores seriam exploradas utilizando em certa parte as infra-estruturas do Carris (Mina do Castanheiro) ou mesmo englobadas nas minas (Mina do Borrageiro).
O registo mineiro do Salto do Lobo é assim feito numa Terça-feira, dia 24 de Junho de 1941, por Domingos de Sousa na Câmara Municipal de Montalegre. Este registo viria mais tarde a ser contestado por um outro grupo de pretendentes e originaria um contencioso com ambas as partes a fazerem uma sucessão de registos mineiros em torno do registo principal para assim impedirem o respectivo acesso às diferentes concessões. Este contencioso só seria resolvido em 1943 com o aparecimento da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., uma empresa fachada que servia os interesses alemães, que iria explorar as minas em 1943 e 1944, ano em que as abandona e estas ficam sobre a alçada de uma comissão liquidatária. Seriam reabertas em 1951 pela Sociedade das Minas do Gerês, Lda., que daria o verdadeiro impulso no desenvolvimento mineiro da região até 1957 com a construção de um acampamento mineiro desenvolvido. Uma nova onda de exploração surgiria entre 1970 e 1974, sendo definitivamente abandonadas em 1975 para se transformarem nas tristes ruínas que hoje podemos visitar devido ao desmazelo e falto de interesse de conservação do património arqueológico por parte do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Fotografia: © Rui C. Barbosa
domingo, 23 de junho de 2013
Minas dos Carris: 72º aniversário (III)
Após um fim-de-semana árduo de pesquisas pela serra, todo aquele trabalho dera finalmente resultado. Em tempos, já alguém havia feito um registo mineiro perto do marco geodésico dos Carris, mas este não se confirmou numa concessão e portanto a zona estava «aberta» a outras inspecções.
Naquela altura, e ao contrário do que acontece nos nossos dias, o Salto do Lobo era uma corga na qual se podia entrar facilmente e somente com vegetação rasteira. A passagem da água foi limpando o leito do pequeno riacho e desgastando a rocha naquela zona, expondo o filão de volfrâmio à superfície.
Provavelmente, a descoberta terá ocorrido a 21 ou 22 de Junho de 1941. Domingos de Sousa teria de regressar a Outeiro e depois fazer o seu registo mineiro na Câmara Municipal de Montalegre de forma a garantir todos os direitos que lhe cabiam por esta descoberta.
Fotografia: © Rui C. Barbosa
sábado, 22 de junho de 2013
Minas dos Carris: 72º aniversário (II)
Naqueles dias o Verão era inclemente na Serra do Gerês. Caminhar por entre as penedias em busca do volfrâmio, qual demónio negro que brotava da terra, era uma tarefa árdua e desgastante.
Na Europa que sangrava e sofria os horrores da guerra, o monstro estava cada vez mais sedento de matéria prima e as industrias tinham de ser alimentadas. O preço do volfrâmio subia todos os dias e todos os dias se faziam fortunas que eram gastas de forma miserável nos dias que se seguiriam.
Este febre de ter uma vida melhor à custa daquele ouro negro levou muito para as serras de Portugal. Domingos da Silva, natural e residente de Outeiro - Montalegre, foi um dos muitos que calcorreou os píncaros do Gerês e naquele dia encontrou nas profundezas do Salto do Lobo o minério que daria lugar ao vil metal. Porém, ele não era o único que percorria aquelas paragens agrestes... quase uma ante-câmara do Inferno!
Fotografia: © Rui C. Barbosa
quinta-feira, 20 de junho de 2013
Minas dos Carris: 72º aniversário (I)
Por estes dias, passam 72 anos desde que uma verdadeira febre do ouro negro invadiu a Serra do Gerês.
Os primeiros manifestos mineiros na zona dos Carris surgiram em Março de 1941, mas supõe-se que por estes dias há 72 anos terão sido descobertos os filões de volfrâmio que viriam a dar origem ás Minas dos Carris com inúmeras pessoas a calcorrear todos os recantos do Gerês (e não só) à procura do mineral negro.
Naqueles dias, a guerra abalava a Europa como uma onda destruidora e sedenta de matéria prima com a qual o governo de Salazar ia mantendo uma neutralidade no conflito, «ajudando» ambas as partes beligerantes.
Fotografia: © Rui C. Barbosa
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Minas dos Carris, uma oportunidade perdida
Hoje, o Jornal PÚBLICO noticia que o complexo mineiro de Boticas foi classificado como sítio de interesse público. Mal li a notícia, voltei a recordar a oportunidade perdida que constituiu o abandono e esquecimento a que foi deitado o complexo mineiro dos Carris.
Pelas suas características, história e localização, as Minas dos Carris são exemplo único em Portugal. No entanto, desde o seu início que o Parque Nacional da Peneda-Gerês o viu como uma nódoa negra no seu território, ignorando por completo a sua potencialidade futura ao nível turístico, arqueológico e ambiental.
O aspecto turístico da sua preservação parece-me por demais óbvio. Localizadas nos píncaros serranos, as Minas dos Carris deverão ser o complexo mineiro a maior altitude em Portugal. O seu conjunto de edifícios, agora quase totalmente irrecuperáveis e em ruína avançada, percorre duas fases de exploração mineira nos anos 40 e 50 do século XX. Os efeitos dos passar dos anos, das estações e do vandalismo, levaram a que estes edifícios não fossem aproveitados.
O aspecto arqueológico, na sua vertente industrial, foi completamente descuidado não se fazendo um registo histórico da utilização do espaço e uma memória das vivências. Em todos estes anos, a única referência feita pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês foi a realização de uma exposição no Centro de Educação Ambiental do Vidoeiro montada tendo por base os estudos e registos investigados pelo autor deste blogue. A maior parte dos equipamentos utilizados na exposição (cedidos por particulares ou obtidos nas Minas das Sombras, Galiza - Espanha) encontrar-se-ão armazenados. Esta situação não é compreensível, pois a exposição foi pensada para ser uma amostra itinerante, mas nunca foi exibida para lá das Caldas do Gerês. Porque não utilizar os painéis numa pequena exposição na Porta do Campo do Gerês? A resposta parece-me óbvia à luz do plano de ordenamento e dos objectivos daquela área protegida.
O aspecto ambiental das Minas dos Carris adquire dois pontos importantes mas de diferentes impactos. Enquanto que ainda existem lamas não tratadas dentro da área do complexo mineiro, os seus poços mineiros tornaram-se local de abrigo de morcegos e de aves que ali nidificam. Será que o Parque Nacional da Peneda-Gerês alguma vez estudou este aspecto?
Assim, é todo um potencial ao abandono irrecuperável graças a uma política ambiental e conservacionista extremista que nunca foi capaz de conciliar a protecção da Natureza com a presença do Homem naqueles espaços, ao contrário dos objectivos da criação do Parque Nacional enumerados pelo Eng. Lagrifa Mendes, seu primeiro director e fundador.
Por tudo isto, as Minas dos Carris constituem um não-paradigma da conservação e preservação histórica no nosso país!
Fotografia: © Rui C. Barbosa
Canyoning no Parque Nacional (II)
Aproveito para divulgar uma informação do clube ECDC sobre a prática de canyoning no Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Fotografia: © Rui C. Barbosa
Canyoning no Parque Nacional
Será que alguém ligado ao canyoning me pode esclarecer que «potencialidades» existem para a prática deste desporto no Parque Nacional da Peneda-Gerês que mereçam uma visita desta equipa e acima de tudo uma recepção desta natureza como é referido em "TPNP recebe equipa da canyoning da Adidas"?
Será que isto terá tão boa recepção por se ver aqui uma vertente comercial? Será outro negócio à lá Pan Parks, a tal que diz que a Natureza não é para todos? É que tudo isto é muito interessante tendo em conta que até há pouco tempo havia uma verdadeira caça aos praticantes deste desporto na Peneda-Gerês!
Fotografia: © Rui C. Barbosa
terça-feira, 18 de junho de 2013
Visitar as Minas dos Carris - um manual para tótós (Reloaded)
Nunca é demais voltar a publicar este texto que já surgiu aqui no blogue há algum tempo e aconselho também a leitura desta publicação.
Nos últimos anos, as Minas dos Carris na Serra do Gerês têm-se tornado
um destino, um objectivo preferido de muitos montanheiros e afins.
Situadas nos píncaros geresianos, estas minas são vistas não só como um
objectivo em si, mas também como um local rodeado com uma certa aura de
mística e mistério, certamente devido ao seu entorno e às ruínas que
tornam aquele local tão especial.,
Podemos chegar às Minas dos Carris percorrendo vários caminhos, uns mais
fáceis do que outros mas sempre constituindo longas caminhadas. Antes
de falar destes caminhos, convém desmitificar a situação destas minas
perante o actual ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Muitos
são aqueles que em busca de informações são mal informados tanto pelos
serviços do parque nacional como dos postos de turismo da zona.
Infelizmente, o facto de alguém trabalhar nestes locais não lhe garante o
total conhecimento sobre os condicionalismos que são impostos à visita e
acabam por mal informar os visitantes. Assim, desde já convém referir
que NÃO É PROIBIDO VISITAR AS MINAS DOS CARRIS! Por outro lado, as Minas
dos Carris não se encontram dentro da zona de protecção total do Parque
Nacional da Peneda-Gerês, o que implica que não é necessária qualquer
autorização para a sua visitação. Porém, o mesmo já não acontece com
alguns dos caminhos que terão de ser percorridos.
Durante a visita às ruínas convém ter extremo cuidado aos nos
aproximarmos dos poços mineiros bem como de algumas ruínas, nomeadamente
na lavaria. Não convém também esquecer que este é um património único e
que apesar de desprezado pelo Parque Nacional da Peneda-Geres, deve ser
devidamente conservado e respeitado! Qualquer acto de vandalismo ou
destruição do património deve ser comunicado ao PNPG ou à GNR.
Falemos então de como chegar às Minas dos Carris. Como é óbvio existem
vários caminhos para chegar ali. Destes vou indicar três opções, sendo
que duas delas percorrem em parte a zona de protecção total. O que é que
isto implica? Implica que caso queiram percorrer estes caminhos terão
de pedir uma autorização ao Parque Nacional da Peneda-Gerês. É claro que pedindo esta autorização e
caso depois esta seja recusada, certamente estarão
sujeitos à fiscalização tanto do PNPG como do SEPNA. Caso não peçam a
autorização e não informem o PNPG, estão a jogar uma roleta russa...
O caminho mais curto para chegar às Minas dos Carris percorre o fabuloso
Vale do Alto Homem, famoso no Verão pelo Rio Homem e pelas suas lagoas
naturais. O caminho tem uma extensão de cerca de 9,5 km e vai subindo a
montanha. O seu estado é muito mau devido à incompreensível falta de
conservação por parte do PNPG que o levou a uma degradação extrema. No
entanto, não deixa de ser o caminho mais curto, apesar de penoso. Este
caminho percorre a zona de protecção total quase desde o seu início até à
entrada na Corga da Carvoeirinha, já quase no final do percurso.
A segunda opção será tentar chegar às Minas dos carris passando pelas
galegas Minas das Sombras. Podem iniciar a caminhada na Ermida da Nª.
Sra. do Xurés (Vilaméa) e seguir a Ruta das Sombras. Ao chegar às Minas
das Sombras deve-se tomar um trilho de pé posto que se inicia junto do
velho barracão dos mineiros e daí atingir a fronteira na Amoreira.
Seguindo o trilho em direcção ao marco geodésico dos Carris, terão de
percorrer cerca de mais 2 km para chegar às Minas dos Carris. Entre a
Amoreira e o marco geodésico dos Carris, estarão a percorrer a zona de
protecção total. Muito azar se algum guarda aparecer por aqui, mas nunca
se sabe!...
A terceira opção será utilizando o trilho que se inicia em Chã de Suzana
(Xertelo) e seguir em direcção ao Castanheiro onde se pode observar os
restos de mineração das Minas do Castanheiro. Percorrendo sempre em
trilho de pé posto, o caminho seguirá o bordo do Vale da Ribeira das
Negras em direcção aos Currais das Negras e daqui subir ao paiol ou
então seguir em direcção à Garganta das Negras até atingir a linha de
fronteira e depois virar à esquerda, atingindo a represa dos Carris. Uma
outra opção será atravessar a Ribeira das Negras e após passar no sopé
da Matança, atingir a Lamalonga e daqui subir em direcção à lavaria.
Este percurso nunca entra na zona de protecção total e como tal não é
necessária qualquer autorização para grupos inferiores a 10 pessoas
(pois percorre em parte a zona de protecção parcial Tipo I).
É óbvio que existem outras opções (por Pitões das Júnias, pelo Vale da
Abelheira, pela Lagoa do Marinho, por Sáa (Galiza)), mas estes serão os
percursos mais interessantes.
Fotografia: © Rui C. Barbosa
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Lugares esquecidos da Serra do Gerês (IV)
Falar de lugares esquecidos na Serra do Gerês na zona das Minas dos Carris, daria para manter este blogue durante muitas semanas. Naquela zona, um observador bem atento fica surpreendido com o número de abrigos em pedra solta que por ali abundam.
Se por um lado parece óbvia a existência destes abrigos (que nos levam para uma época na qual ainda não existiriam as actuais construções mineiras), por outro o seu número não deixa de ser surpreendente.
Haveria muitos destes abrigos que poderia indicar, mas existe um em particular que denota um requinte e um toque especial por quem um dia reuniu naquele lugar aqueles muros de pedra solta. Porquê? Simplesmente, porque a escolha do local é sublime. Dali, e localizado perto da represa dos Carris, o abrigado poderia contemplar um vasto vale e uma paisagem que o levava desde o Pico da Nevosa até às alturas do Larouco ao lado de Montalegre, tendo toda uma serra «a seus pés». Certamente, foi alguém com grande paixão pela montanha... ou então não o deixaram construir em mais lado nenhum!
Fotografias: © Rui C. Barbosa
domingo, 16 de junho de 2013
Currais do PNPG (XXIX) - Curral dos Bezerros versus Curral da Abilheirinha
As informações aqui constantes resultam de diversas tentativas para se apurar os nomes dos currais através do contacto com diferentes pessoas de diferentes lugares da Serra do Gerês. Não sendo definitivas, as informações e os nomes referidos para os currais devem ser tomadas com cuidado.
Actualização a 13 de Fevereiro de 2020: A designação "Curral da Abilheirinha" não existe e este é na realidade o "Curral de Bezerros".
Quando se procura a verdade das coisas por vezes surgem opiniões distintas sobre um mesmo assunto e este tema dos currais não é excepção, bem antes pelo contrário. Infelizmente, isto deve-se ao facto de a memória sobre os topónimos geresianos ser na sua maioria uma memória oral que vai passando de geração em geração. Até aqui, não houve um trabalho exaustivo de registo de fácil acesso sobre este topónimos que nos permita dissipar as dúvidas.
Aqui e aqui, já havia falado sobre a minha busca pelo nome de dois currais situados para lá dos Prados da Messe. Um deste currais fica à sombra de Porta Roibas e o outro fica na base da Torrinheira (ou Cabeço da Cova da Porca). De há muitos anos para cá que conhecia o curral na fotografia em baixo como 'Curral dos Bezerros'.
Porém, a quando de uma visita a Porta Roibas passei por um curral abandonado (imagem em baixo) do qual não sabia o nome...
Perguntando a quem saberia, foi-me dito que este era na realidade do Curral dos Bezerros. Ora, perante isto instalava-se a dúvida sobre a verdadeira denominação destes currais.
Há poucos dias, e para confundir um pouco mais a questão, surgia a informação de que afinal este último curral perto de Porta Roibas seria o Curral de Abilheirinha e que o curral junto à Torrinheira seria de facto o Curral dos Bezerros.
Será o final deste mistério?...
E é este o mundo fantástico de se descobrir os segredos da Serra do Gerês...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
Trilhos Seculares - De volta a Lagarinho
Um belo percurso circular através da Serra do Gerês passando por vários currais da zona de Fafião.
A caminhada começou cedo saindo da Tribela e percorrendo o carreiro que nos levou através da Ponte de Cervas até ao Curral de Pinhô com o seu forno bem escondido. Daqui, seguimos pela Carvalhosa até atingir o Curral de Bicos Altos depois de passar por Pousada. O Curral de Bicos Altos permanece como um belo oásis no meio da agrura granítica do Gerês, o local de refúgio por excelência ao qual os currais da Amerela e de Lagarinho não lhe ficam atrás.
Prosseguindo o caminho em direcção ao Curral da Amarela tivemos a nossa surpresa do dia quando atravessámos no caminho de uma solitária e curiosa corça. Pudemos contemplas o belo animal durante alguns minutos enquanto ela procurava entender o que eram aquelas duas coisas que acabavam de surgir no sossego da serra. Acabaria por desaparecer a grande velocidade, urrando para certamente avisar as companheiras que estariam por perto.
O Curral da Amerela apresenta-nos como pano de fundo o magnífico Iteiro de Ovos, uma paisagem única fruto de um enquadramento perfeito por parte da Natureza. A localização deste curral contrasta com a localização do Curral de Lagarinho, escondido num pequeno vale e ladeado por grande carvalhos. O acesso ao Lagarinho encontra-se marcado com os efeitos da época e só mesmo chegando perto do caminho é que se tem noção por onde ele passa. A ligação entre a Amarela e o Lagarinho deve ser feita com cuidado e toda a precaução que os carreiros pouco utilizados recomendam. O mesmo acontece com a vertiginosa descida entre Lagarinho e o Rio Laço. O caminho foi aberto há poucos meses, mas a Primavera entreteve-se a decorar a encosta com a vegetação que em muitos locais fica suficientemente abrigada da luz solar para se manter húmida durante grande parte da manhã. Uma descida não muito aconselhável a vertigens e que requer todo o cuidado.
Chegados ao Rio Laço decidimos fazer um curto descanso no Curral da Touça antes de atacar a subida para o Estreito. Nesta altura, final da manhã, o calor já apertava mas fomos bafejados pela sorte de correr uma fresca brisa que nos ajudou a ir superando o desnível que se ia suavemente acentuando até ao Curral do Laço. Daqui, o carreiro empina montanha acima e a progressão tornou-se mais lenta até ao Estreito. As paragens que se iam fazendo era utilizadas para a contemplação transcendental do vale que se ia afundando aos nossos pés da montanha que se ia elevando lá ao fundo, traçada pelo estradão que leva ao Porto da Lage.
O nosso objectivo era o de almoçar e desfrutar um pouco do Poço Azul e assim baixamos do Estreito para o Vale do Rio Conho. O caminho também foi recentemente aberto e a progressão é fácil, exceptuando a fase inicial que requer o devido cuidado das descidas por caminhos com alguma vegetação e pedra solta. Já no final da descida encontramos três caminheiros que corajosamente embarcavam na subida daquela encosta até ao Estreito e com destino ao Cutelo (Roca) de Pias.
Depois de uma curta conversa, prosseguimos até ao ribeiro e chegamos ao Curral de Entre-Águas, prosseguindo depois para o Poço Azul onde nos refrescamos com um mergulho. A saída da água foi mais rápida do que a forma como se mergulhava!!! O almoço foi servido junto ao abrigo de Portelos de Rio Conho e depois terminamos a jornada regressando ao ponto de partida após percorrer um pouco mais de 11 km.
Algumas imagens do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa
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