A principal entrada do Castelo de Castro Laboreiro, a Porta do Sol, Serra da Peneda.
A praticamente 1000 metros de altitude, e localizado em pleno sistema montanhoso da Peneda-Gerês, numa linha interior da fronteira entre o Alto Minho e a zona de influência de Ourense, o castelo de Castro Laboreiro é um dos mais emblemáticos monumentos militares nacionais, mais pela localização geográfica aberta aos planaltos galegos, que pela sua pretensa importância no quadro da história militar portuguesa.
As suas origens são-nos completamente desconhecidas, mas a maioria dos autores que se lhe referiram coincide no facto de a fortaleza ter desempenhado importantes funções desde a primitiva (re)conquista do território. É desta forma que podemos compreender a ligação da família condal de D. Hermenegildo à fortaleza, na primeira metade do século X e em consequência do chamado repovoamento de Afonso III. As escavações aqui efectuadas, na década de 70 do século XX, revelaram materiais da Alta Idade Média, esperando-se, para breve, conclusões mais objectivas acerca desse espólio (LIMA, 1996, p.89, nota 21).
No século XII, no âmbito da afirmação de Portugal como reino independente, a vila de Castro Laboreiro foi alvo de constante atenção por parte de D. Afonso Henriques, cujo castelo conquistou em 1141. Desconhecemos quais as obras então patrocinadas e a organização estrutural adoptada. Deveria compor-se de um pátio interior com torre de menagem isolada, à maneira dos castelos românicos, mas as múltiplas transformações porque passou levaram à total reformulação dessa primitiva estrutura.
Cento e cinquenta anos depois, no reinado de D. Dinis, teve lugar a reforma que conferiu o aspecto geral que a fortaleza ainda mantém e que, por essa altura, estaria parcialmente arruinada (ALVES, 1987, p.67). Se a acção deste monarca no Alto Minho é mais conhecida pela criação de póvoas ribeirinhas ao longo do curso final deste rio, a campanha do castelo de Castro Laboreiro testemunha, por outro lado, a atenção que a raia seca mereceu à coroa, fruto de um reinado que concedeu especial importância à defesa activa do território.
O projecto então concebido compôs-se de dois recintos muralhados, de dimensão e funcionalidade diversa. No topo, muito provavelmente correspondendo ao primitivo reduto do século XII (ou anterior), edificou-se o núcleo principal, com torre de menagem e cisterna, que corresponde ao verdadeiro centro militar do conjunto. Para Sul, um segundo recinto, de maior amplitude e acessível apenas por uma porta, servia para "recolher gados e bens em épocas de invasão" (ALMEIDA, 1987, p.182). Esta característica parece ser única no nosso país e prova como a actividade ganadeira foi primordial na vivência das comunidades serranas medievais de Castro Laboreiro.
A descrição que Duarte d'Armas fez da fortaleza, nos inícios do século XVI, mostra um castelo altaneiro perfeitamente isolado do povoado, este situado a uma cota consideravelmente inferior. O núcleo militar era reforçado por cinco torres quadrangulares (incluindo a de menagem), e possuía duas portas, a do Sol, que levava ao interior do recinto maior, e uma outra que colocava em comunicação os dois redutos.
Parcialmente reformulado ao longo da Idade Moderna, o castelo de Castro Laboreiro não mais voltou a ser alvo de um programa reformador do mesmo nível do projecto dionisino. Nas guerras de armas de fogo, Laboreiro foi importante apenas pela sua localização estratégica, numa zona interior de difícil acesso. Os próprios caminhos do restauro do Portugal novecentista relegaram a fortaleza para segundo plano. Quando, por todo o país estado-novista, os castelos eram objecto de intervenções que visavam a recuperação de uma suposta originalidade medieval, actuando, por essa via, como elemento de propaganda do próprio regime, Laboreiro permaneceu à margem desse vasto processo, decorrendo os indispensáveis trabalhos de restauro numa data já tardia (1979-1980) e tendo-se limitado a actuações de consolidação e de reforço estrutural, sem adulterações assinaláveis.
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