Pequena caminhada através da Estrada da Geira entre as milhas XXX e XXXII pela Mata de Albergaria, Serra do Gerês.
Uma tarde com temperatura amena e um vento a fazer dançar as ramadas que se vestem de tons de Primavera. Aproveitando os últimos momentos de sossego perante a invasão que virá dentro de dias.
Comecei o percurso em Berbezes, Bouça da Mó, onde se encontra a informação sobre a Milha XXX. Nesta zona, em 1992, foram exumados os restos de uma mutatio e dois marcos miliários. Um apresentava-se quase totalmente soterrado, erecto, podendo por isso estar in situ. Outro encontrava-se incorporado num dos antigos muros dos campos de Vilarinho da Furna. Entre as milhas XXX e XXXI, a quase totalidade do trajecto da Geira foi coberta pela estrada florestal de terra batida criada pelos Serviços Florestais.
Na tranquilidade da mata continuei a caminhar até passar o Ribeiro do Predredo e assim chegar à Milha XXXI. Localizada no Bico da Geira, apresenta magnificas evidências da forma como os miliários eram extraídos dos afloramentos graníticos, distinguindo-se num deles as marcas rasgadas para a implantação das cunhas em madeira, tendo o trabalho sido abandonado já depois de terem sido abertas as cunheiras. Ainda hoje se observa um esboço de miliário que nunca chegou a ser completado.
Neste local, para além da pedreira de onde foram retirados os miliários, foi exumado um conjunto de 21 miliários, dos quais sete conservam as inscrições: Adriano (117-138), Décio (249-251), Caro (282-283), e Licínio (308-324). De realçar que aqui foi também encontrado um pequeno miliário semi-enterrado, que conserva traços de pintura a ocre. Perante esta evidência é possível que também os outros miliários fossem, regularmente, pintados. Para além dos miliário e da pedreira, observam-se restos de uma calçada com pedras bem fincadas, de forma a facilitar a passagem da Ribeira de Pedredo que desce da montanha. Nesta zona a via já transcorre a Mata de Albergaria, um imponente carvalhal, onde também se notam inúmeros azevinhos. De novo, o traçado do caminho romano desta milha à seguinte foi coberto pela estrada florestal.
Na Milha XXXII, situada na Volta do Covo, conservam-se 23 miliários, dos quais 16 são anepígrafes. A bibliografia refere 7 miliários com epígrafes. Um de Adriano (117-138), datável do ano 135; dois de Maximino e Máximo (235-238), datáveis do ano 238; um de Décio (250); um de Caro (282-283); um de Magnêncio (350-353) e outro de Decêncio (351-353).
Não é possível afirmar que os miliários se encontrem in situ, já que teriam sido agrupados, provavelmente, quando se abriu a estrada florestal, tanto mais que parte deles estão junto a uma estrutura muito tardia, já referida por Mattos Ferreira.
Na Volta do Covo tomei um carreiro que vai descendo em direcção ao Rio Homem e que passa pelos restos de uma ruína não identificada, até chegar à Ponte de Palheiros no limite da Zona de Protecção Total. Sobre a ponte, observa-se o esplendor da Mata de Albergaria com os recém chegados tons primaveris e o perfil altivo de Pena Longa.
Depois de uma curta pausa para um café, o regresso fez-se pelo mesmo trajecto.
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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