Carris, 28 de Fevereiro de 2006
Alimento-me de sonhos e pesadelos ao por do Sol...
...aguardo a chegada da noite, da escuridão para ver o brilho dos teus olhos...
...procuro no céu a Lua e no seu luar os sinais de um erótico pentagrama...
...escuto ao longe o leve uivar.
No leve luar vejo o esvoaçar do corvo...
Corpos que descansam da longa caminhada por entre os altos picos da montanha...
...no chão frio deixo-me cair, sorvendo as memórias do teu beijo...
...esgueiro-me por entre as sombras que dançam nas velhas ruínas, memórias destroçadas pelo tempo...
Asas negras batem no céu púrpura ao por do Sol...
Escondido por entre os guardiões de granito vejo o teu leve chorar...
...uma lágrima que alimenta o rio de um tormento sem fim...
Sozinho, sedento me escondo na escuridão do teu sonho, procuro os portões das cidades pagãs...
...danças nua à luz da fogueira... silhueta projectada na Saudade...
Tulipas adornam-te os pés, rosas sangram-te a alma...
Esperamos a eternidade que se torna curta tendo-te no olhar...
...o cheiro da tua pele que o vento me rouba...
...anseio as tardes do longínquo Outono, desejo as noites do frio Inverno.
As sombras que crescem com o descer do Sol...
...a majestade da noite que desperta...
...o silêncio que nos conforta... o olhar que nos trespassa...
...o sabor do sangue que faz viver, uma sede...
Carregamos o fardo do tempo...
...desejamos que a areia do tempo não caia tão depressa...
...o desejo... mortal como um veneno que nos corre nas veias...
Fotografia: © Rui C. Barbosa