Este foi o texto escrito numa Ficha de Participação que entreguei no dia 12 de Novembro de 2009 na sede do Parque Nacional da Peneda-Gerês com o meu comentário do que deveria ser um 'Trilho das Minas dos Carris'.
"O Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) deve ser um santuário da protecção ambiental, cultural, etnográfica e arqueológica. Em todo o seu território encontramos elementos que assinalam as diferentes fases da passagem do Homem ao longo dos anos e desde os tempos mais remotos.
A proposta para o novo Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês (POPNPG), assinala em todo o seu território os diferentes pontos de interesse natural e humano.
Sendo uma zona de uma beleza paisagística ímpar, de interesse ambiental incomparável e com uma História contemporânea por descobrir e contar, as Minas dos Carris não mereceram qualquer destaque neste POPNPG, tal, aliás, como tem vindo a acontecer ao longo dos anos.
Hoje as ruínas das Minas dos Carris são um testemunho silencioso do passado, mas o seu potencial ao nível do turismo de montanha (na sua vertente paisagística e histórica) e da educação ambiental encontra-se extremamente subaproveitado.
É assim, com o intuiro de dar a conhecer ao visitante do PNPG uma das zonas mais bonitas do nosso único parque nacional, que proponho a criação de um trilho de pequena rota (PR) denominado 'Trilho das Minas dos Carris'.
O Trilho das Minas dos Carris iria percorrer parte de uma área que agora se encontra dentro dos limites da Zona de Protecção Total (ZPT), mas tirando partido do estradão entre a ponte sobre o Rio Homem e que percorrendo o Vale do Alto Homem, chega às velhas ruínas do complexo mineiro.
Os utilizadores deste trilho teriam assim a oportunidade de tirar partido de um enquadramento ambiental. arqueológico e histórico que não existe na actualidade e que é único em todo o PNPG.
O PR teria início na ponte sobre o Rio Homem e seguiria o antigo estradão de acesso às minas construído nos anos 40 do século passado. Ao longo do trilho sewriam criados pontos de observação e interesse, nomeadamente no Bosque da Abilheirinha, Água da Pala, Ponte do Cagarouço, Curvas das Febras, Modorno (com a sua vista panorâmica sobre o vale), Teixo, Águas Chocas, Abrótegas, turfeira / campo de futebol, Salto do Lobo, antes da chegada às Minas dos Carris. Nestes locais seriam colocados painéis explicativos ou placas numéricas indicativas para a descrição do respectivo enquadramento.
Ao chegar às ruínas das Minas dos Carris o visitante seria encaminhado por sinalética específica que p levasse a percorrer e tomar conhecimento do complexo mineiro passando numa volta circular pelas zonas de interesse (edifícios de apoio mineiro tal como o refeitório, casas para casais, casas de habitação, secretaria, casa do pessoal superior da mina, enfermaria, lavarias, poços sinalizados, bocas de mina, represa, etc.). Além de tirar partido das ruínas o PR estaria valorizado pelos diversos panoramas paisagísticos (Lamalonga, Garganta das Negras, Nevosa, horizonte do Planalto da Mourela / Pitões das Júnias até Montalegre).
Quais os benefícios deste PR?:
- por ser uma zona sensível permitiria conduzir o visitante para áreas nas que não interferisse directamente com a preservação;
- o enquadramento natural, histórico e arqueológico do local dando o valor a uma parte esquecida da História da Serra do Gerês e das suas gentes;
- afastar os visitantes dos locais de maior perigo; - a beleza paisagística de um local único em todo o PNPG;
- criação de uma área destinada á arqueologia industrial (não só mineira) na área do PNPG (um aspecto totalmente descorado pelo PNPG desde a sua criação) e que estaria localizada no Centro de Educação Ambiental do Videoeiro ou na Porta de S. Joao do Campo;
- a recuperação em termos paisagísticos das Minas dos Carris com a eliminação de focos de poluição visual e paisagística e a recuperação parcial do estradão no acesso final ao complexo mineiro.
Como fazer? Sabendo da limitação de recursos orçamentais para projectos deste tipo, propõe-se a realização de campos de trabalho voluntário para a limpeza, acomodação, recuperação parcial e caracterização das instalações mineiras e do PR, além do encorajamento do mecenato cultural no apoio logístico e criação de documentação referente ao PR.
Localizadas nos pontos mais altos da Serra do Gerês e a poucas centenas de metros da fronteira luso-galega, as Minas dos Carris são o local do PNPG sem qualquer acesso rodoviário mas que mais visitantes atrai. Pode-se questionar quais as razões deste interesse na criação de um PR? O longo trilho que percorre o Vale do Alto Homem com toda a sua beleza natural, ambiental e paisagística, o misticismo das ruínas mineiras dos Carris, o interesse por uma história esquecida e desconhecida, a vontade de abranger os grandes espaços e que impele muitos para aquelas paragens, etc. Todas estas são razões que levam dezenas de pessoas todas as semanas a percorrer o penoso caminho até aos Carris.
Infelizmente o PNPG nunca reconheceu o verdadeiro potencial arquológico-industrial das instalações mineiras em abandono e ruína desde os anos 80. Foi sempre ignorada uma história que se iniciou em Junho de 1941 com os povos serranos a perscrutarem os solos e as entranhas da terra em busca do volfrâmio, um verdadeiro ouro negro que fazia fortuna e trazia a ruína da noite para o dia.
Com três distintas fases de exploração, o complexo mineiro foi crescendo e atingiu o seu auge nos anos 50, mas a queda do valor do volfrâmio após o fim da Guerra da Coreia, traçou o destino das minas. O aparecimento do PNPG selou por completo, e bem, uma vontade de reactivar e criar um grande complexo mineiro da Serra do Gerês desde as Minas dos Carris, passando pelas Minas do Borrageiro e para área da Arrocela e Cidadelhe.
Assim, a criação deste trilho PR poderia colmatar uma lacuna que há muito existe nos destinos deinteresse no PNPG recordando assim parte de uma memória colectiva da Serra do Gerês e que mesmo sendo uma ferida aberta na preservação ambientaç deverá merecer, tal como acontece em outras áreas protegidas internacionais, o devido lugar da sua História."
Fotografia © Rui C. Barbosa