Há já muito tempo que aquele vale fechado, aquela corga, estava na wish list de visitas na Serra do Gerês. Aproveitando a necessidade de complementar um trabalho em curso, juntou-se o útil ao imediatamente agradável e percorreu-se a curta distância entre o Porto da Lage e a Corga do Salgueirinho.
O objectivo era tentar descobrir o enigmático Curral do Salgueirinho, mas as indicações não eram muito favoráveis a que se fosse «descobrir» algo de impressionante ou transcendental em comparação com outros currais da zona, como Porta Ruivas, Touça ou Laço. O suposto curral há já muito que deixara de ser usado o que por si só é indicação de muito mato e pouco cuidado nas possíveis estruturas que ali existissem. Mais recentemente surgiu a informação de que o forno estaria alagado, isto é, destruído. Isto não é novidade, mas por outro lado puxava a imaginação ajudado pela imagem que temos de outros currais e foi com essa imagem que se partiu à busca do Curral de Salgueirinho.
E assim foi... autorizações concedidas e sem medo de represálias, lá se percorreu aquele longo e interminável estradão que nos levou entre Xertelo e o Porto da Lage, passando pela Chã de Susana, Lages dos Infernos e Lagoa, descendo pelo imenso vale do Rio da Pigarreira. Este longo estradão foi aberto pela EDP a quando da construção da pequenas barragens que fazem a confluência de alguns cursos de água em direcção da Barragem de Salamonde.
O percurso a pé seguiu parte do Trilho da Vezeira de Fafião entre o Porto da Lage e o Curral da Touça. Após este, segue-se na direcção do vale do Rio da Touça mas logo adiante flecte-se para a esquerda seguindo umas tímidas mariolas que entram pela Corga do Salgueirinho. Esta corga (vale estreito) termina junto do Curral de Soengas mais acima entre Fichinhas e Iteiro d'Ovos, estando alinhada na direcção da Mourisca.
De um lado e do outro do curso de água que percorre a corga, notam-se estreitos carreiros que nos facilitam a progressão e nos davam alento na nossa busca. A presença de carvalhais e de pequenos bosques dispersos seriam bons indicativos de que poderíamos de facto encontrar um curral por entre aquelas paredes graníticas alcantiladas que nos iam rodeando. No entanto, e à medida que nos íamos aproximando do «fundo» da corga, tornou-se evidente que não iríamos encontrar um curral, ou pelo menos algo no espaço que pudéssemos identificar como tal. É verdade que uma ou outra zona poderia ter servido de zona de abrigo para os animais e as próprias paredes íngremes do vale fariam o resto, mas faltava algo que pudéssemos identificar como um abrigo. É certo que este nos pode ter escapado ao nosso insistente olhar que percorria toda a zona em busca de algo que pudesse ser identificado como tal, porém, não conseguimos descortinar algo que se parecesse com um forno, mesmo alagado.
Sem sucesso na nossa busca, regressávamos então para o Curral da Touça quando numa sugestão de que deveríamos procurar por um abrigo que não um forno, a atenção do nosso olhar foi captada por um pequeno conjunto de pedras junto de uma grande rocha na margem esquerda do ribeiro. Atravessadas as águas chegamos então junto de uma grande rocha que em forma de pala formava um abrigo guarnecido por dois muros de pedra solta encoberta pela vegetação. Alguns dos espaços abertos eram também resguardados por pedras soltas. Este poderia ser o abrigo que procurávamos, se bem que a sua localização (apesar de junto de um pequeno carreiro) não afigurar a presença de um curral naquela zona. Porém, de facto, não é este o abrigo de Salgueirinho (o abrigo de Salgueirinho está localizado mais acima junto de um carvalhal e ao lado do pequeno ribeiro, tendo sido aproveitado uma grande rocha com uma pala). Registo fotográfico feito e com as respectivas coordenadas gravadas, prosseguimos o nosso curto passeio pelas entranhas do Gerês com um pequeno repasto na Touça e depois uma visita ao miserável Curral do Porto da Lage e ao Curral de Virtelo, já no regresso a Xertelo.
Algumas imagens do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)