terça-feira, 12 de novembro de 2024

A sazonalidade no «Gerês»

 


Um dos problemas que aflige o concelho de Terras de Bouro, ou pelo menos parte dele, é a denominada "sazonalidade".

O Conselho das Finanças Públicas define a sazonalidade como "a presença de variações que ocorrem em intervalos regulares específicos inferiores a um ano, tais como a frequência diária, semanal, mensal ou trimestral. A sazonalidade pode ser causada por vários fatores, como o clima, os períodos de férias, fins-de-semana e feriados, e consiste em padrões periódicos, repetitivos, geralmente regulares e previsíveis nos níveis de uma série cronológica."

Aparentemente, o turismo na Serra do Gerês, ou pelo menos em parte dela, sofre desta «grave» síndrome desde sempre. O ambiente começa a «mexer» em Maio, mas em meados ou finais de Setembro, os números do turismo caiem e é ver restaurantes a fechar, hotéis e alojamentos encerrados. A vila termal regressa a uma tranquilidade por muitos indesejada... ou talvez não.

Há já vários anos que a promoção turística é baseada nas cascatas e lagoas, enquanto o resto do ano vai-se aguentando como se pode. Porém, a realidade da segunda quinzena de Setembro ou mesmo o mês de Outubro mostra que poderia ser diferente.

Sim, a sazonalidade afecta outra regiões de montanha não só em Portugal como noutros países. Veja-se o exemplo do Parque nacional dos Picos de Europa onde os meses de Inverno levam muitos restaurantes e estabelecimentos hoteleiros a fechar. Mas, por que é que isso acontece? Bom, acontece porque o acesso à montanha torna-se impraticável para muitos, pois os carreiros e estradas de montanha estão encerradas por metros de neve. Mesmo assim, o afluxo turístico é constante (apesar de baixo), o que leva o sector do turismo a fazer umas férias em Janeiro.

A montanha está lá, sem cascatas, sem lagoas e é sempre um destino turístico todo o ano.

O que se passa por cá? A fotografia em cima mostra o estacionamento da Portela do Homem no dia 10 de Novembro de 2024. Um dia cinzento e com alguma chuva. No entanto, quem encheu o estacionamento não estava ali para usar as cascatas e lagoas do Rio Homem. Estava ali para ver um produto ignorado nas festas de Maio, ignorado pela promoção turística do concelho: a Mata de Albergaria no Outono ou as montanhas do Gerês. E eram «muitas» as pessoas que caminhavam pelos bosques apreciando a beleza natural da Serra do Gerês, e apesar de «muitas» quase que nem se notavam. Estas pessoas vieram visitar o Parque Nacional, não vieram para a praia...

Quando pertenci a uma associação de promoção turística do Gerês cheguei a sugerir a ideia de se fazer um Festival de Outono na Mata de Albergaria para de certa forma atrasar a maldita sazonalidade. Fui ignorado. Cheguei a sugerir a promoção de um turismo de Inverno numas montanhas nas quais se pode caminhar, mesmo com dias de neve. Não quiseram saber. Interessam festas de bruxedo sem qualquer base na cultura do território e outras que tais.

Infelizmente, dá-se primazia a um turismo desordenado, medíocre e que não respeita o território. O "Gerês" é sempre visto como um destino que deve ser barato e que deve oferecer as condições do Mónaco ou das praias de Ibiza. O resultado está à vista com visitantes que não se respeitam e não sabem respeitar.

Assim, continuaremos felizes e contentes, mas sempre a queixarmos da sazonalidade que podemos diminuir... todavia não queremos.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (12 a 19 de Novembro)

 


Os próximos dias irão trazer uma mudança no padrão meteorológico com um acentuado arrefecimento e precipitação. Com a linha de congelamento acima dos 1.800 metros de altitude, será pouco provável a queda de neve.

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCLXXXIX) - Final de tarde de Outono no Vale do Alto Homem

 


Os curtos dias de Outono e a palete de cores próprias da estação, oferece-nos cenários únicos na Serra do Gerês, tais como os finais de tarde no Vale do Alto Homem.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

domingo, 10 de novembro de 2024

sábado, 9 de novembro de 2024

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Serra do Gerês - "Já que estou aqui!..." Da Fonte de Lamas à Portela de Leonte, Preguiça, Pedrogo e Fraga Negra

 


Um bom exercício de caminhada num dia de Outono que me levou desde a Fonte de Lamas à Portela de Leonte e, como já estava por ali, segui para a Preguiça, Pedrogo e Fraga Negra, terminando a jornada com uma passagem pela Boneca e, de novo, pela Chã de Lamas, num total de 21,1 km com 1.007 D+.

Manhã típica de Outono na tranquilidade da Fonte de Lamas onde apenas se escutava o cair da água da fonte. Mochila pronta para uma jornada «curta», pois apenas tinha por objectivo chegar às faldas do Pé de Cabril e regressar pelo mesmo caminho. O dia levar-me-ia às Caldas do Gerês!

Caminhando pela Chã de Lamas, segui o traçado da GR50 Grande Rota da Peneda-Gerês que me levou até ao Miradouro de Junceda. Por esta altura, a vila termal estava ainda mergulhada na sombra o Vale do Rio Gerês e coberta por uma leve névoa de vapor de água e fumo dos fogões a lenha. Passando pela Casa Florestal de Junceda e pela sua fonte, seguia já o carreiro que me levaria a passar o Vale do Meio e a Manga da Tojeira, chegando até perto da Boca do Rio, e seguindo depois o desvio para a Fenteira do Prado. Daqui, passaria pelo Prado - com o seu abrigo pastoril - e em breve entrava na parte superior do Vale do Rio Gerês, chegando então aos pés dos espigões do Pé de Cabril.




As faldas do Pé de Cabril seriam o ponto mais elevado da jornada, iniciando a descida para a Portela de Leonte, passando pela Portela de Confurco e pelas imediações do Curral de S. João do Campo, na extrema da freguesia do Campo do Gerês onde se situa a Casa Florestal de Leonte.

Neste local, é mais uma vez possível apreciar a obra dos inúmeros imbecis que uma promoção turística errada traz para este território, com as casas de apoio à Casa Florestal todas cheias de tags e pinchagens vandalizadoras de um património florestal que se encontra ao abandono e que aparentemente deve estar à espera um investidor capitalista para as transformar em edifícios de luxo ou então para servir de apoio a um teleférico qualquer...




Não indo a manhã adiantada, e já que estava por ali, decidi alongar um pouco mais a caminhada e rumei para as Caldas do Gerês! Passando o Curral do Vilar da Veiga e tomando o velho Caminho Real, passei pela Fonte do Escalheiro e desci para as imediações da Cascata de Leonte, seguindo depois o traçado do Trilho da Preguiça que me levaria até junto da Casa Florestal da Preguiça, seguindo depois para Secelo e, utilizando velhos carreiros, passava o Ribeiro da Figueira e chegava ao Vidoeiro. O descanso chegaria finalmente junto da Casa Florestal do Vidoeiro.

Retemperadas as forças, o caminho levou-me a passar Pedrogo até chegar à Cascata do Zanganho (Cascata das Caldas), tomando aqui o traçado da GR50 que me levaria a passar pelo Campo da Figueira e, pouco depois, pelo Mirante da Fraga Negra. Enveredando encosta acima, por entre a infestação de mimosas, cruzava o Ribeiro de Salas em direcção à Boneca e chegava de novo à Chã de Lamas, terminando a caminhada no ponto de partida.

Ficam algumas fotografias do dia...
























Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (MDCLXXXIV) - A Pala do Ranhado

 


Local histórico situado na Encosta da Corneda, Serra do Gerês, foi sítio de pernoita de Hermenegildo Brito Capelo, Leonardo Torres, Denis Santiago e Serafim dos Anjos e Silva na noite de 20 de Setembro de 1882. A Pala do Ranhado (ou Penedo da Pala) é um local único em todo o Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Trilhos seculares - A Pala do Ranhado e os Prados da Messe

 


Caminhada na Serra do Gerês com um regresso aos Prados da Messe iniciando a caminhada na Portela de Leonte.

A parte inicial seguiu a estrada atravessando a Mata de Albergaria com uma passagem pela bela Pala do Ranhado (ou Penedo da Pala). Descrita no relatório da Sociedade Geográfica de Lisboa sobre uma expedição à Serra do Gerês, este foi o local de pernoita de Hermenegildo Brito Capelo, Leonardo Torres, Denis Santiago e Serafim dos Anjos e Silva na noite de 20 de Setembro de 1882.




Em Setembro de 1882, Hermenegildo Capello e Leonardo Torres - sócios ordinários da então Sociedade de Geographia, fizeram uma visita à Serra do Gerês que mais tarde seria descrita na revista desta sociedade.

Durante a sua permanência no Gerês, os dois homens participaram numa caçada realizada a 20 e 21 de Setembro, tendo dormido a noite na serra e fazendo a seguinte descrição...

"Na Serra do Gerez ha uns abrigos que chamam fornos, provavelmente por causa das portas que só se pode entrar engatinhando, e dentro d'essa cubata podem dormir nove ou dez homens, deitados em palha e muito unidos.




A pulga e muitas vezes o ganau enxameam aquelles domicilios, que servem de casa aos guardas do gado que á noite o reunem junto d'estes fornos em uns pequenos planos mais abrigados que chamam vezeiros. Vimos dois d'estes cacifres ou casebres, um mesmo na Portella de Leonte e outro em Albergaria; n'este ultimo estava um velho guardador de extensa barba branca, e pelo tempo, local e aspecto fazia sem grande difficuldades a felicidade de um sebastianista ferrenho.

Estavamos condemnados a estacionar e pernoitar no forno de Albergaria, porque a chuva continuava e continuou durante a tarde e durante a noite, quando um dos guias lembrou que era mais limpo o abrigo do Penedo da Palla, no sítio do Ranhado, que nos ficava a uns duzentos passos de distancia; podem lá dormir dez homens e cinco debaixo do penedo que fica logo ao pé, e os sete seguiram logo para o dito forno. Foram dez para o forno, e por esse motivo no abrigo da Palla apenas dormimos sete, perfeitamente abrigados e aquecidos pela constante fogueira que durou toda a noite, sendo alimentada com lenha de carvalhos, que ali se encontram derrocados e não aproveitados."




Depois de passar o Rio do Forno, enveredei Costa de Sabrosa acima mergulhado nas magníficas paisagens que compunham o cenário que me rodeava com uma variedade de cores outonais. A «longa» subida termina na Lameira das Ruivas após passar o caos granítico da Sabrosa, continuando pelo topo da Corga da Água dos Vidros e seguindo para a Lomba de Burro, descendo então para a tranquilidade dos Prados da Messe.

O merecido descanso foi aqui mesmo, por entre a passagem da brisa e o restolhar das folhas que deixaram já as ramadas dos grandes carvalhos. Ali, ainda se podem ver os efeitos dos fortes ventos da última grande tempestade que partiram galhos e tombaram árvores.




Com o corpo restabelecido, seguiu-se jornada passando o bordo do Curral da Pedra e depois o Porto de Vacas, iniciando a subida para o belo Curral do Conho. Pelo caminho, o cruzamento com um casal inglês maravilhado com as paisagens do nosso Parque Nacional.

No Curral do Conho fiz uma pequena paragem para trocar a água e segui caminho em direcção à Lomba de Pau, onde as sombras já se alongavam nestes dias de Outono. O caminho prossegue no bordo das Torrinheiras, Chã do Caçador e Lamas de Borrageiro, antes de subir ligeiramente para nos oferecer uma magnânima paisagem sobre o Poente geresiano. Daqui, inicia-se a descida, seguindo pelo Enfragadouro e Colado da Preza, antes de descer para o Vidoal, Chã do Carvalho e, finalmente, Portela de Leonte, calcorreando o velho lajeado pastoril.

Ficam algumas fotografias do dia...


































Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)