quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
Paisagens da Peneda-Gerês (CCX) - Ribeira das Negras
Indubitavelmente correndo em direcção ao Rio Cávado, a Ribeira das Negras, Serra do Gerês, depois da passagem pelos Currais de Matança.
Fotografia: © Rui C. Barbosa (todos os direitos reservados)
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
Histórias do povo de Cabril - Os fojos e batidas ao lobo, e a difícil convivência entre o homem e o animal
O lobo sempre foi uma figura envolta em lendas e superstições ao longo da história. Nas aldeias serranas este predador foi gerando mitos e contos assombrosos, muitas das vezes repetidos e ampliados nas longas noite de Inverno, sobre o crepitar das fogueiras aos sempre animados serões.
Os povos das várias aldeias da freguesia de Cabril, que grande parte deles vivia da pastorícia, nunca manteve um relacionamento pacífico e a coexistência foi sempre muito ténue. O lobo desde sempre foi considerado um animal destruidor de rebanhos, feroz e que matava por prazer tanto os animais miúdos, como os de grande porte - cavalos e vacas - e muitas das vezes iam aos animais domésticos como os cães.
Era também um animal que o povo acreditava que transmitia a doença da "lobagueira " que somente se manifesta no porco doméstico. Nalgumas aldeias do Barroso ainda existe a "gola do lobo " que é um pequeno troço da traqueia do lobo que servia para curar a tal peçonha. O povo dizia que quando os bois orneavam de noite era porque o lobo andava por perto. Os dias chuvosos e de nevoeiro cerrado, eram dias que era preciso redobrar a atenção, e era quando eles aproveitavam para atacar. Nesses dias o povo dizia, e diz -"hoje é dia de lobo".
O lobo foi e sempre será um animal lendário, quase sempre perseguido, muitas poucas vezes compreendido e muito menos respeitado. Foi sempre um símbolo de crueldade e de sangue.
Os povos da Serra do Gerês combatiam-no, eram organizadas batidas, que eram sempre muito concorridas, quer por graúdos como por miúdos. Enquanto os homens se colocavam nas esperas e nos pontos altos das fragas, os mais novos iam fazendo a batida, ora tocando nos cornos e nas buzinas, alternando com o bater de mato e latas, e com grandes gritos como só os homens da serra o sabem fazer, sempre à espera que o bicho deixasse o seu esconderijo e fosse de encontro aos homens que os esperavam avistar do alto das suas esperas.
Estas batidas foram proibidas pelo Decreto-lei 193/90, de 27 de Abril, que veio regulamentar a lei 90/88, que estipula a proibição de matar, maltratar ou outras formas de contribuir para a extinção dos lobos.
Nas comunidades mais isoladas e embutidas no meio da serra e de difícil acesso, essas batidas realizaram-se até bem mais tarde.
Quando um lobo era morto, o que era raro, tornava-se um motivo de festa e enorme regozijo nas aldeias e suas populações, a quem os participantes nas batidas faziam questão de o mostrar e fazer desfilar. Na maior parte das aldeias eram recebidos com uma salva de tiros, toda a gente saia de casa, novos e velhos faziam questão de ir ver o bicho. Muitos ofereciam dinheiro e géneros alimentares, outros maltratavam e preferiam enormes palavrões, tal era o ódio e a repugna que eles lhe tinham, o atirador virava herói, o nome passava a ficar eternizado, pois era muito raro matar um lobo. Ainda nos dias de hoje são comentados e lembrados os nomes de vários matadores de lobos, que já faleceram há dezenas de anos, muitos deles só são recordados pelo nome ou apelido pois eram homens de um tempo muito antigo, um tempo que já quase ninguém se lembra, eram os descendentes daqueles que construíram os fojos para combaterem os animais carnívoros, o que implicava um grande engenho e muita mão de obra, pois são paredes com dois metros de altura, o que implicava a mobilização de toda a aldeia. Eram milhares de pedras carregadas a tracção animal, cujo o objectivo era dizimar o lobo que atacava os animais e rebanhos.
Na freguesia de Cabril existem quatro fojos, todos eles de paredes convergentes, feitos por duas paredes que convergem para um buraco, que implicava que houvesse uma batida que envolvia toda a aldeia e as aldeias vizinhas. Os batedores tocavam o lobo para o fojo de forma a ele cair no buraco que era previamente escondido com vegetação. Existem dois fojos de serra alta, o fojo de Alcântara que está em ruínas e o de Pincães, situado no Alto do Sobreiro, que foi recentemente recuperado e que é talvez o mais antigo, visto que possui uma pedra com a data de 1184?
Junto às aldeias existem os outros dois, o de Fafiao, que também está em excelente estado de conservação, e que é talvez o último a ter uma batida com sucesso, pois no mês de Dezembro de 1948, num dia feio e enevoado e frio, foram abatidos pelo menos três lobos. Finalmente existe o de Xertelo, o último a sofrer uma intervenção de recuperação e talvez aquele que tem o registo mais antigo, com 244 anos e que vou passar a citar :
"... Xertello aqui junto a este lugar está um fojo em que se caça os lobos grandes quando lhe fazem montaria que são humas paredes muito largas na entrada que principiao de hum /valle e assim se vão seguindo athé huma Portela, e dahi /estreitando para a outro abaixo e rematao em huma profunda /cova feita por dentro a esquadria mais larga e rredonda /no fundo que na boca a qual tem cuberta e salpi-/cada com urge verde e assim os tangem com muitos tiros /e cães athé os faser cahir naquella cova e lhe não dão tiros se não des que passao para diante para não retrocederem, e tem posto junça (?) Aos que lhe cortão os Matos ou os queimão dentro daquelas paredes para que os lobos /se bam agachado e escondendo as quaes paredes sao /de nove ou des palmos asimbodas (?) Por Sima e por fora /estão alguns monteiros com tiro de pólvora seca./
...concorrem para as montarias deste fojo todos os moradores dos lugares do valle de o cabril S. Lourenço chello /xertello e Azevedo e tem repartidos os postos /tanto para atirar como para bater o monte e dividi-lo /do seu destrito e algum chamando - fojo o fo-/jo que ache signal de lobo dentro daquelles limites que batem com voses tiros e caens para os faser/fugir dos seus ninhos e escondrigios porque sao muito manhosos."
Quanto a mim sempre fui um admirador do lobo e pela sua sobrevivência até aos dias de hoje, apesar dos ferozes ataques contra eles, e representam mais do que ninguém a liberdade e o ser selvagem.
Texto de Ulisses Pereira
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
domingo, 25 de fevereiro de 2018
Recordando o Entrudo da Misarela (por João Paulo Costa)
Recordando o Entrudo da Misarela, que teve lugar a 10 de Fevereiro de 2018, num registo fotográfico de João Paulo Costa.
Fotografias: © João Paulo Costa (todos os direitos reservados)
sábado, 24 de fevereiro de 2018
257... Regresso às Minas dos Carris pela Abelheira
Dia fantástico para caminhar e nem mesmo o vento frio tirou a beleza e harmonia às paisagens fantásticas que acompanharam o grupo nesta jornada até às Minas dos Carris.
Começamos cedo pela Corga da Abelheira até Entre Caminhos. Aqui a paisagem estava substancialmente diferente da última vez que havia percorrido este vale. Os incêndios do último Verão desnudaram a terra e a paisagem é agora composta por ramos retorcidos e enegrecidos da vegetação rasteira que vai adornando as pedras com os tons de cinza que a chuva ainda não lavou.
Chegando a Entre Caminhos surgiu a oportunidade de contemplar em silêncio a magnificência da Serra do Gerês com o olhar a abarcar desde os Cornos da Fonte Fria, Cornos de Candela, Compadre, Lamelas, Nevosa e Carris, passando pelo Ribeiro Dola, Ribeiro de Biduiça e os Corgos de Candela e Lamas do Compadre. A paisagem que se nos depara é uma verdadeira ode à Natureza. Sublime. Magnífica... desejaríamos eterna!
De Entre Caminhos decidimos enveredar por um velho carreiro na direcção do Castanheiro e passando ao lado do Alto das Eiras até tomar o carreiro que nos levaria ao Alto do Moreira e daqui descemos para os Currais de Matança, atravessando o Ribeiro das Negras.
Após uma pequena paragem junto da eira dos Currais de Matança, prosseguimos em direcção à Lamalonga, passando ao lado do Curral do Teixeira em direcção à Lavaria Nova das Minas dos Carris situada no topo da Corga de Lamalonga. A lavaria está situada no extremo Norte da concessão mineira de Lamalonga n.º 1 e no limite da concessão mineira do Salto do Lobo. Muitas vezes esta zona é confundida com o Salto do Lobo, porém, este fica mais a Este e delimitado por duas paredes graníticas aprumadas.
Vagueando por entre as ruínas das velhas Minas dos Carris, o repasto acabou por ser junto da base onde se encontrava o edifício do pessoal superior da mina e ao lado dos chuveiros.
A jornada continuou em direcção à Represa dos Carris cuja construção foi finalizada em 1956 e depois em direcção ao Colo de Marabaixo, descendo depois pela Garganta das Negras em direcção aos Currais das Negras e passando o ribeiro com o mesmo nome para ver a Cascata das Negras.
Dos Currais das Negras seguimos em direcção ao Corgo de Lamelas e depois passamos a Poente do Compadre, seguindo pela margem direita da Ribeira de Biduiça até ao Curral das Rochas de Matança. Daqui, seguimos para os Currais de Biduiça onde fizemos uma curta paragem antes de subir para Entre Caminhos e por fim, descer a Corga da Abelheira para finalizar este dia de montanha.
Ficam algumas fotografias do dia e o album da jornada.
Fotografias: © Rui C. Barbosa (todos os direitos reservados)
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