Esta caminhada foi promovida por Rui Barbosa - Hiking & Trekking, levando-nos da aldeia de Xertelo ao Porto da Laje.
O Sol acabara de despertar quando chegamos à pequena aldeia de Xertelo para dar início a uma longa jornada que nos levaria ao Porto da Laje, a 16 km dali, e totalizando cerca de 32 km no final do dia.
Caminhamos pela tranquilidade matinal de Xertelo na passagem para o imenso vale que nos levaria à proximidade da sequência de lagoas no Rio Cabril. No seu livro "Toponímia de Barroso" (pág. 77), José Dias Batista dá-nos uma interessante explicação acerca do topónimo 'Sertelo' que deveria ser utilizado em vez de 'Xertelo'.
"Só pode ser deserto+elo. Do adjectivo latino desertus, inculto, selvagem, pelo que se subentende espaço ou 'terreno' deserto. Dado que os conjuntos silábicos soam todos surdamente não admira que acontecesse uma aférese do de inicial com o consequente deslocamento da tónica após a anexação sufixal elo.
É difícil encontrar um topónimo aplicado com mais propriedade que este! Já tinha esta forma em 1531 mas a ignorância pretensiosa das nossas principais cartas geográficas vai obrigando a escrever Xertelo e outras barbaridades idênticas visto que os académicos não conseguem ou não querem pronunciar o nosso s! São mais que horas de lhe devolver o nome certo!"
A parte inicial do percurso passou junto do curioso moinho de cubo vertical à entrada da levada que nos levaria até à estrada florestal nas imediações do vale do Ribeiro do Penedo. Aqui, tomamos a estrada florestal aberta nos anos 50 pela Companhia Portuguesa de Electricidade para a construção das represas que, através de um conjunto de túneis, conduzem a água do diversos ribeiros para a Barragem de Paradela.
A estrada percorre a encosta da Bela do Loboreiro, descendo à Ponte das Lajes dos Infernos, seguindo depois pela Corga das Quebradas e Corga de Virtelo, passando ao lado dos Currais de Virtelo. Aqui, tomamos um carreiro de pé posto que nos ajudou a cortar caminho até ao Lago Marinho. Este é um local único no Parque Nacional da Peneda-Gerês e segundo Carlos M. Ribeiro (que erradamente a refere como 'Lagoa do Marinho'), o Lago Marinho está "(...) situada no sector sudeste da Serra do Gerês, dentro da bacia de drenagem do ribeiro do Couce (afluente do rio Cabril), a Lagoa do Marinho é uma área endorreica - o escoamento das águas faz-se através de uma depressão interior, sem saída para o mar.
Parte da sua área envolvente está ocupada por uma moreia terminal em forma de arco. Para os menos conhecedores da matéria, as moreias são um amontoado de sedimentos com diversas dimensões, que foram transportados e acumulados pelo glaciar à frente e aos lados da língua glaciar, até quando e onde este se fundiu. Quando observadas ao pormenor, permitem a reconstituição do movimento glaciar, e são um indicador fundamental dos limites de máxima extensão da glaciação. Significa isto que, o limite de um dos glaciares que ocupou a Serra do Gerês, foi a Lagoa do Marinho.
Com uma orientação nne-ssw, esta é ocupada por uma turfeira com cerca de 100 metros de comprimento por 50 metros de largura. A título de curiosidade, as turfeiras são habitats naturais de elevado valor biológico que ocorrem em biótopos permanentemente encharcados. São consideradas um dos maiores reservatórios de carbono do planeta, e a acumulação do CO2 é vista como uma das alternativas para atenuar o aquecimento global - na sua maioria são atapetadas por musgos (género Sphagnum), onde coexistem também bolas de algodão (Eriophorum Angustifoliumas), Urzes (Calluna Vulgaris), Tojos (Ulex Minor) e plantas insectívoras como a Orvalhinha (Drosera Rotundifolia).
Topograficamente, esta lagoa posiciona-se dentro de uma área de relevo aplanado sobre um substracto granítico a cerca de 1200 metros de altitude. (...)."
Após uma breve visita ao Lago Marinho, seguimos na direcção do Abrigo de Lagoa e continuamos por carreiros de pé posto até encontrar novamente a estrada florestal que inicia a longa descida até ao Porto da Laje passando nas imediações do Penedo Redondo e Portas do Abelheiro antes de entrar na Corga de Mão de Carvalho (Cavalo?). Não muito afastado é possível observar um velho e alagado forno pastoril bem como os restos do que seria uma silha. A estrada continua a descer, passando na Ponte do Cambeiro e perto do Curral do Cambeiro, à sombra das Quinas de Arrocela, seguindo pela margem direita do Rio da Pigarreira, chegando finalmente ao Porto da Laje com a sua barragem.
O regresso foi feito no sentido contrário pelo mesmo percurso.
O meu gps marcou apenas 29,3 km devido ao um erro de gravação com um D+ de 1.069 metros, totalizando 2.632,2 km percorridos em 2022 com um total de D+ 115.047 metros.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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