terça-feira, 13 de agosto de 2024

"Gerês. Obras na cascata ... com consenso mas sem "bom senso""

 


Notícia da (beata) Renascença para ler aqui.

Apesar das críticas dos ambientalistas, as obras na “cascata ...” já arrancaram com o apoio dos bombeiros e da população. A autarquia de Terras de Bouro justifica a intervenção em nome da segurança. Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade (FAPAS) fala em obra “desajustada” à realidade do Gerês.

Análise crítica à notícia

A notícia da Rádio Renascença apresenta-nos os planos do Município de Terras de Bouro para a Fecha de Barjas que passará por "um miradouro, gradeamento, um cordão de segurança para os banhistas, uma estrutura metálica de acesso e espaço para estacionamento..." Estes são os pontos fulcrais da obra prevista já desde 2022 e que finalmente teve o aval do Governo através do «secreto» parecer condicionado do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e da Ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho.

Assim, teremos um miradouro sobre a Fecha de Barjas com o objectivo de aumentar a segurança das pessoas que escorregam no leito do rio, um passadiço de acesso ao mesmo, um gradeamento que irá impedir o acesso às partes mais problemáticas do leito do rio e estacionamento, muito estacionamento, como convém para lá levar mais gente... o tal «turismo de qualidade» que é composto por multidões.

O texto segue com as palavras de Nuno Oliveira, da Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade (FAPAS), que, com razão, fala numa obra "desajustada" e que certamente trará mais gente ao local.

A seguir, o edil de Terras de Bouro, Manuel Tibo, refere que "lido bem com as críticas", mas que não lida bem com a consciência de perceber que existe mais um acidente e que pode ser mortal, lembrando ainda que a responsabilidade cai sempre para a “Câmara Municipal ou para os decisores políticos”.

Ora, que eu me recorde, de todos os acidente ocorridos em Fecha de Barjas e noutras zonas balneárias do concelho, apenas num caso se tentou imputar culpas à Câmara Municipal. Este parece-me ser um argumento vazio, até porque toda a gente (TODA!) tem consciência do perigo que representa caminhar naquele leito liso e húmido de pés descalços ou com calçado desapropriado, e mais consciente do perigo ficam quando leem os avisos existentes no local. Seguindo este argumento, se alguém tiver um acidente num qualquer percurso de montanha (ou, por exemplo, nos percursos pedestres promovidos pelo município) terá direito a responsabilizar a “Câmara Municipal" ou "os decisores políticos” do concelho. Fica a nota!

Manuel Tibo, que é Presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Terras de Bouro, remata referindo, “Só sabe onde os sapatos apertam quem os calça.”

O comandante dos Bombeiros Voluntários de Terras de Bouro, José Amaro, é referido de seguida no texto noticioso da Rádio Renascença, afirmando que esta é uma “polémica desnecessária” e dizendo "também fizeram um miradouro em Pedra Bela com uma estrutura de ferro e tornou-se ali um ex-libris para ver a paisagem e não danificou nada." Não sei se José Amaro se refere ao miradouro ali construído pela Mata Nacional / Serviços Florestais há cerca de 100 anos ou se se refere à intervenção, em boa hora, realizada mais recentemente pelo município. Seja como for, não entendo a comparação...

José Amaro refere ainda “deixámos de ter ocorrências para aquele miradouro”. Espera lá! Mas, que ocorrências? Nos últimos anos não me recordo de terem ocorrido quaisquer resgates, acidentes ou qualquer ocorrência na Pedra Bela. Posso estar enganado... Referindo-se à ponte sobre o Rio Homem junto da Cascata de S. Miguel, “também fizeram um gradeamento na ponte onde tem, também, uma estrutura de ferro e não danificou em nada a paisagem," esquecendo-se de referir a inclusão de uma segurança na ponte sobre o Rio Forno e o gradeamento na ponte sobre o Ribeiro de Cagademos. Bom, são comparações que não fazem qualquer sentido, mas que podemos explicar a quem não conhece os locais.

Na ponte sobre o Rio Homem, o novo gradeamento - de enquadramento paisagista duvidoso - colocado em Fevereiro de 2020 tornou a ponte mais segura (apesar de diminuir o passeio e obrigar a caminhar na «estrada»), pois a estrutura de ferro inicial era muito baixa e numa situação de desequilíbrio não garantia a SEGURANÇA. O mesmo aconteceu na ponte sobre o Ribeiro de Cagademos, onde não existia qualquer estrutura. Logo, foram intervenções que, de facto, aumentaram a segurança no local e não foi necessário ali se construir miradouros...

A notícia termina com algumas opiniões de habitantes do concelho, que curiosamente não concordam com a intervenção no que diz respeito à colocação do miradouro, mas sublinham a necessidade de aumentar a segurança no local.

Assim, quando se diz que “só sabe onde os sapatos apertam quem os calça,” pode-se também rematar dizendo "uma das maiores virtudes de um homem, é admitir que errou."

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