segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A Casa do Padre em Couço


Pequenas histórias que a oralidade vai passando de pais para filhos, de avôs para netos, ajudam-nos a preencher o belo quadro que é a História da Serra do Gerês. Lendas e mitos foram surgindo nas longas noites de invernia, contadas ao calor do borralho enquanto que o vento uivava lá fora e a neve ia preenchendo os cantos dos portados.

Uma destas histórias, se bem que recente, é a história do que é hoje conhecida como a 'Casa do Padre', em Couço, Cabril. As ruínas que ali vemos são muito antigas e a sua história perde-se já na penumbra da memória, mas alberga a história de um padre que por ali andou fugido.

Nos princípios do século XX, havia um padre na freguesia de Cabril que se chamava Júlio e que era da freguesia próxima de Ruivães. Em tempos, o Padre Júlio tinha sido capelão da monarquia e como em Portugal a República tinha sido recentemente proclamada, o padre viu-se acoitado pelos repúblicanos. Como o padre Júlio era um fervoroso adepto da monarquia, passou então a ser perseguido e a determinada altura os guardas invadiram a igreja para o prender.

Felizmente, a população escondeu o infeliz padre e lhe colocou uma croça, levando-o serra a cima dissmulado por entre as escarpas e penedias, até à casa rústica que já existia então no Couço, pois nessa altura ainda não existia o Abrigo de Lagoa, somente o forno. A partir dessa altura a casa passou a ser designada pela Casa do Padre, e apesar de pertencer a freguesia de Cabril, a casa foi utilizada até meados do século XX pelas gentes da freguesia, nomeadamente pelos caçadores quando faziam as caçadas (batidas) aos lobos e aos corços.

Há já muitos anos abandonada, nos nossos dias a casa é uma ruína da memória de dias passados no isolamento da serra nos tempos onde as distâncias se mediam em saudade.

Um agradecimento ao Ulisses Pereira pela ajuda na história do Padre Júlio e da Casa do Padre.





Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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