A subida é para se ir fazendo devagar, como se estivéssemos a saborear um bom gelado italiano ou a bebida mais fresca numa tórrida tarde de Verão. É assim que se deve caminhar pela Serra do Gerês por estes dias... devagar.
E é devagar que se deve subir a Costa de Sabrosa, saboreando cada momento, cada paragem, cada paisagem, pois esta é única e afunda-se a cada passo. É como se o vale estivesse a deslizar ao nosso lado, nós que subimos pé ante pé, vencendo cada rocha e arfando à medida que os músculos se retesam para incutir a força que nos levará ao prémio. Este, começa a ver-se já quase no final da subida. Mostra-se, perfilante na paisagem e definindo o horizonte que fica ali em frente, a umas escassas centenas de metros, elevando-se numa parede que, desafiante, se nos abre como que se fosse uma escadaria para os céus.
Vencida a encosta e deixando para trás o verde que se fortalece na Albergaria, as mariolas levam-me a passar pelo Lameiro das Ruivas e daqui perto dos Prados Caveiros. Perante mim, eleva-se uma colossal escadaria granítica que há que ir vencendo, ou merecendo vencer. Em silêncio, como que para não despertar um titã adormecido cuja cabeça parece ser representada pela proa de uma embarcação petrificada, pela arca bíblica, que ali repousa depois de um cataclismo que foi moldando estas serras. Há medida que se vai subindo, a escadaria parece que se vai mostrando, como se de alguma forma fosse ganhando o prémio ou merecendo a condescendência do gigante colossal adormecido. No céu, como que a saudar a chegada, vai-se definindo um portentoso halo solar, uma luz que coroa o rei Sol!
E finda a escadaria que vence o titã, chego ao topo e de repente o horizonte expande-se para lá até onde consigo vislumbrar. O Vale do Homem abre-se, imenso, na paisagem rasgado no fundo pelo rio que pelos milénios se vai afundando no granito, moldando-o. A antiga estrada mineira curva-se lá ao fundo como uma serpente nas Curvas do Febra e o Modorno marca a entrada para outro mundo. Tudo é grande! Tudo é imenso! Tudo é a Serra do Gerês, que ali vislumbro como o mais belo local da criação do Universo!
O desgastado marco triangulado marca o topo do Cabeço do Modorno e faz-me lembrar da rudeza destas montanhas. A Serra do Gerês pode ser pequena em tamanho, mas enorme no seu ser! Quem a pensa como montanhas fáceis, não a conhece, não a respeita!...
Por momentos, que agora me parecem tão curtos, fito o imenso que se abre perante mim. Todo o homem e toda a mulher deveriam, em algum momento das suas vidas, ter a oportunidade de serem agraciados com um momento de contemplação perante tal magnitude. É o Gerês em toda a sua pujança. Se nas paisagens de Fafião, o Gerês flecte os seus músculos, aqui grita o seu esplendor!
As profundas corgas marcam o Vale do Homem, alimentam-no de vida e vigor. Estreitam-se e aprofundam-se na paisagem, quase que impenetráveis. A Encosta do Sol alonga-se até se encontrar com os domínios do Teixo e para lá, para as terras do Barroso onde o marco geodésico dos Carris assinala a entrava num Mundo Maravilhoso.
Outros horizontes mostram a bela Soajo, difusa ao longe e encimada pelo Alto da Pedrada. O Outeiro Alvo e o Cabeço de Anamão definem os limites da nobre Peneda, e a silenciosa Amarela guarda bem guardados os segredos e a dor de Vilarinho.
Foi então hora de encetar o regresso passando pela Lomba de Cantarelo e descendo para os Prados da Messe e passando junto da ruína da velha casa dos Serviços Florestais. O regresso ao ponto de partida foi feito pelo usual carreiro que nos leva a passar ao lado do Curral da Pedra e depois Porto de Vacas, Conho e Lomba de Pau, seguindo então pela Gralheira, Chã da Fonte, Preza e Vidoal.
Ficam algumas fotografias do dia...
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
1 comentário:
Fabulosa descrição das paisagens, consegue transmitir exatamente o que se sente perante estes locais de tão grande impacto no nosso olhar. Muito obrigado
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