sábado, 6 de fevereiro de 2021

A história de Lucília

 


Nos últimos dias, e enquanto vou preparando os retoques à segunda edição do livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", tenho tentado juntar o maior número possível de nomes de pessoas que trabalharam nas Minas dos Carris nos seus diferentes períodos de exploração.

Esses nomes já têm surgido em alguns pequenos textos que publiquei aqui no blogue (Os nomes esquecidos das Minas dos Carris e em Nomes que já não estão esquecidos das Minas dos Carris) e irão aparecer com o devido destaque quando o livro voltar a ser uma realidade.

Nem sempre é fácil recordar todos os nomes, e é algo que nem me atrevo a tentar fazer. Porém, existem histórias que merecem desde já ser contadas...

Nas caminhadas que organizo às Minas dos Carris, conto sempre a história de quando, nos primeiros tempos da exploração mineira, os diversos materiais eram transportados desde a Portela de Leonte para o Salto do Lobo, pois nos idos de 1941/1942 não exista ainda a estrada que mais tarde faria a ligação ao complexo mineiro. De facto, recém construída, a estrada somente ligava as Caldas do Gerês à Portela de Leonte, seguindo-se para a Albergaria por um caminho que não permitia a circulação de viaturas de grande porte.

A Mina do Salto do Lobo é registada a 24 de Junho de 1941 e nos meses seguintes a exploração é escassa e desorganizada devido à refrega entre dois grupos com concessões semelhantes que impedem a mineração do filão. Somente em Fevereiro de 1943, com a chegada da Sociedade Mineira dos Castelos, Lda., uma sociedade comercial com sede na cidade do Porto e que tinha como sócio gerente Hans Carl Walter Thobe, é que o cenário se preparar para uma exploração a larga escala do filão. A Sociedade Mineira dos Castelos era de facto uma empresa fachada para os interesses alemães nos filões de volframite existentes na Serra do Gerês e é esta firma que acaba por comprar as concessões ali existentes, e que em Junho de 1943 começa a construir a estrada que ligaria o complexo mineiro à rede de estradas nacionais.

A história de Lucília é a história da realidade das gentes do Gerês naqueles tempos e é um exemplo das dificuldades que foram sendo ultrapassadas com as maiores adversidades. Com vidas difíceis e num país atrasado onde à população escasseia quase tudo, com dez anos de idade, a pequena Lucília levava telhas Lusalite entre as Caldas do Gerês e a mina nos píncaros serranos, passando por Leonte e Albergaria, e dormindo na mina após a árdua jornada pela serra. Por vezes, eram tábuas de forro para a Mina de Borrageiros pelos carreiros de pé posto ao longo da serra.

São estas histórias, e muitas outras noutras situações, que forjaram parte das mulheres que ajudaram a manter as Caldas do Gerês, mas isso é história para outra altura...

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

1 comentário:

semprengalicia@gmail.com disse...

Fico interesado na investigación das Minas dos Carris. Un amigo (fallecido o 4 de janeiro pasado, Xosé Lamela Bautista) fízome visitar Lobios e faloume das Minas... Gostaría poder ter esa documentación. Mellor poder falar co autor no noso programa "Semprengalicia" de Radio Cornellà. Son Xulio Couxil. Obrigado por atenderme...