segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

A empresa Miranda & Chaves, Lda. e a Mina de Borrageiros

 


Após anos de abandono a concessão mineira de Borrageiros vai ficar na posse da empresa Miranda & Chaves, Lda. através do alvará de transmissão n.º 5910 publicado no Diário do Governo a 23 de Julho de 1960 (ou 8 de Julho de 1960, segundo o Boletim de Minas 'Nova Série' n.º 7). A empresa havia arrematado a 12 de Janeiro  em hasta pública no Tribunal de Montalegre, a compra da concessão que se encontrava penhorada devido às dívidas da empresa Azeredo & Osório Lda. O novo plano de lavra era apresentado a 27 de Fevereiro e danos uma ideia das condições da exploração em princípios de 1960.


MINA “BORRAGEIROS”

PLANO DE LAVRA

1) Jazigo – Trabalhos existentes – Nesta mina estão reconhecidos dois sistemas de filões paralelos, com direcções gerais, respectivamente, N-15º-E e N-30º-W. Os dois sistemas são constituídos por filões de quartzo, verticais, com possança variando de 0,5 a 7 cm, muito próximos uns dos outros e distribuindo-se, em cada uma das direcções indicadas, numa largura de 0,60 a 2,5 m. A substância útil que, ocorrendo em todos os filões, deu origem à concessão, foi a Volframite. Posteriormente, em 1942, por se ter reconhecido a existência de Cassiterite nos filões do primeiro grupo, passou a mina a ser considerada de Estanho e Volfrâmio.

Os trabalhos existentes incidiram, principalmente, sobre o primeiro sistema de filões, reconhecendo-o numa extensão de 250 m e numa profundidade de 25 m. É também a este primeiro sistema que se refere o único plano de lavra aprovado, de que temos conhecimento, e que data de 1920. Este plano não pode ser considerado, actualmente, para a exploração da mina, nem foi perfeitamente seguido nos trabalhos até agora executados e que constam, sobretudo, do seguinte:

a) Uma galeria travessa à cota 773 m, que aos 85 m cortou os filões;

b) Um poço, aberto sobre os filões, desde a superfície até à travessa;

c) Uma sanja, com 40 m de extensão e 10 m de fundo, aberta, sobre os filões, para sul do poço;

d) Uma sanja com 15 x 10 m e 6 m de profundidade, aberta no cruzamento dos dois sistemas de filões;

e) Uma sanja com 10 x 5 m e 3 a 4 m de profundidade sobre o segundo sistema de filões.

2) Trabalhos de acesso – Entendemos conveniente abandonar a galeria travessa existente, em consequência dos trabalhos efectuados e da cota a que ela se encontrava não ser aconselhável para definir um piso.

Não podemos também considerar a abertura da travessa projectada no plano de lavra, em virtude do seu comprimento (180 m) e de se situar a uma cota que já não permitiria uma boa localização das instalações exteriores, escombreiras, etc.

Assim, projectamos:

a) Sobre o primeiro sistema de filões: a abertura de um poço, futuro poço mestre, órgão principal de extracção, situado à cota 797 m que será conduzido sobre os filões até à cota 739 m.

Este poço terá as dimensões 2,20 x 4,20 m e será dividido em 3 comprimentos, dois de 1,70 x 1,10 m cada um, destinados à circulação das berlinês e o terceiro, com 1,70 x 1,00 m, onde serão colocados para circulação de pessoal, e as tubarias de água, ar comprimido, etc. As escadas serão em lanços inclinados dispostos paralelamente.

O poço será fortificado com quadros de madeira, espaçados de metro a metro, ligados por longarinas verticais, com revestimento de madeira caso este se afigure necessário.

A compartimentagem será feita com traçais de madeira e guiamento das jaulas será do tipo unilateral central e constituído por carris amarrados ao traçal da divisória.

Sobre o segundo sistema de filões: abertura de galerias em direcção, ao flanco da encosta, às cotas 796 e 768m.

3) Preparação – Às cotas 768 e 742 m serão conduzidas, a partir do poço de extracção, duas galerias em direcção que definirão os dois primeiros pisos. Estas galerias terão inclinações convergentes para o poço de modo a favorecer o transporte e o esgoto, e serão providas de valetas com as dimensões adequadas. A sua secção será trapezoidal com 2,20 m de altura e 1,70 m de base média. A entivação, quando necessária, será feita com quadros de madeira. O número de pisos será oportunamente aumentado, conforme os trabalhos e a mineralização dos filões o permitirem.

As galerias em flanco de encosta abertas às cotas 796 e 768 m definirão os dois primeiros pisos para o segundo sistema de filões.

Assim, à cota 768 m teremos o primeiro piso para o primeiro sistema de filões e segundo piso para o segundo sistema. Para este piso e para os inferiores, no segundo sistema, o órgão de extracção será o poço projectado.

4) Traçagem – Cada conjunto de filões será dividido em maciços de desmonte limitados pelas galerias em direcção e por chaminés abertas de 50 m em 50 m, desencontradas, e das quais apenas as dos primeiros pisos atingem a superfície.

As chaminés terão uma secção livre de 1,20 x 1,00 m e, quando necessário serão revestidas com quadros de madeira.

5) Método de desmonte – Para desmonte dos filões adoptar-se-á o método dos degraus investidos, com enchimento de vazios.

6) Maciços de protecção – Deixar-se-ão os maciços de protecção convenientes, tanto à superfície como às serventias de carácter permanente, tais como, poço de extracção, galerias de rolagem, etc.

7) Transporte e extracção – O transporte nas galerias principais far-se-á por meio de berlinês do tipo francês de 500 lts com 0,75 x 1,23 m e 0,90 m de altura acima do carril, circulando sobre via Decauville de 0,60 m e 7k/m. Nos restantes trabalhos o transporte será feito por meio de perus.

Inicialmente a extracção pelo poço far-se-á por meio dum pequeno guincho com baldes de 0,40 m de diâmetro e 0,70 m de altura. Oportunamente será instalada uma máquina de extracção adequada ao accionamento das jaulas no poço mestre cujo projecto apresentaremos para superior apreciação.

8) Ventilação – Normalmente a ventilação será natural, usando-se a ventilação artificial, por meio de ventiladores, nos trabalhos em fundo de saco ou quando a natural se mostrar insuficiente.

9) Esgoto – O esgoto será feito por um grupo Electro-bomba a instalar no fundo do poço mestre, onde se fará o depósito das águas que até ele serão conduzidas pelas galerias principais.

10) Escombreiras – O escombro que sobrar do enchimento será depositado no exterior onde se dispõe de amplos e apropriados lugares.

11) Orçamento e estimativa – Num orçamento – estimativa para trabalhos preparatórios, instalações, materiais, ferramentas e diversos encargos, julgamos necessário o capital de 30.000$00

Porto, 27 de Fevereiro de 1960

O plano de lavra seria analisado pela Circunscrição Mineira do Norte que a 3 de Abril de 1963 emitia uma informação sobre o mesmo. Por entre várias considerações gerais, era referido que “esta mina, embora antiga, nunca teve um desenvolvimento de trabalhos de assinalar, mas o mesmo não se pode dizer do movimento de guias feito pelo anterior concessionário Azeredo & Osório, Lda. o que deu origem à aplicação de várias multas por se verificar que elas cobriam minérios estranhos a esta concessão.”  Na altura a mina estava descrita como “situada no monte dos Borrageiros, serra do Gerês, na encosta da margem direita do Ribeiro do Couce – pertencente à bacia hidrográfica do Rio Cávado – e em terreno acidentado. A estrada mais próxima é a que liga as termas do Gerês às conhecidas Minas dos Carris. Desta estrada sai um caminho que passa pela mina devendo a distância a percorrer ser inferior a uma légua.” A informação da circunscrição mineira concluía que o plano de lavra apresentado satisfazia as exigências legais que então estavam em vigor e que merecia ser aprovado. Merecendo o relatório a concordância do Engenheiro Chefe da Circunscrição Mineira do Norte a 5 de Abril, este seria aprovado pelo Secretário de Estado da Indústria, José Luís Esteves da Fonseca, a 1 de Julho e o seu despacho publicado no Diário do Governo a 31 de Julho de 1963.

São escassos ou mesmo inexistentes os registos dos trabalhos executados pela Miranda & Chaves, Lda. na Mina de Borrageiros, ou se mesmo chegaram a ser executados esses trabalhos numa altura em que os minérios de volfrâmio pouco valiam nos mercados internacionais. Caso tenham ocorrido, os trabalhos então realizados foram de pequena dimensão e a mina abandonada. A mina é visitada por elementos da Circunscrição Mineira do Norte a 27 de Outubro que verificam o seu abandono.

A Miranda & Chaves, Lda. encontrava-se num conjunto de empresas que não enviara os dados estatísticos sobre a sua exploração mineira em 1970 (o mesmo tendo acontecido em anos anteriores), e a 19 de Abril de 1971 é proposta a caducidade da concessão. A empresa é intimada a alegar o que tiver por conveniente para justificar o facto de a mina se encontrar inactiva através de um édito publicado no Diário do Governo a 19 de Maio  após despacho exarado a 6 de Maio pela Repartição de Minas da Direcção Geral de Minas e Serviços Geológicos. Não havendo qualquer comunicação por parte da concessionária, a concessão mineira era declarada abandonada por despacho ministerial de 25 de Fevereiro de 1972. O texto do despacho seria lavrado a 5 de Abril e publicado no Diário do Governo a 21 de Abril de 1972.

Texto adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" (Rui C. Barbosa, Dezembro de 2013)

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)


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