terça-feira, 18 de agosto de 2009

Regresso à Cumeada (III)

Encosta do Sol, 18 de Agosto de 2009

A última caminhada pela Encosta do Sol em 2009 (ou pelo menos neste Verão) decorreu sem problemas e proporcionou aos sete participantes as paisagens únicas que a Serra do Gerês oferece. Num dia limpo e sem nuvens era possível ver com clareza a Serra Amarela e os contornos da Serra do Soajo e da Serra da Peneda.

A imensidão do Vale do Homem ficou bem patente logo após a subida inicial do magestoso trilho que nos levou até à Amoreira passando pela sombra do Outeiro da Meda e pela plenitude da Lage do Sino.

Do alto da cumeada sobranceira ao Vale do Homem a imagem do trilho dos Carris é algo que sem dúvida marca esta caminhada. A imensidão do vale torna minúsculo quem o percorre. Daquelas alturas é quase como caminhar sobre um mapa do vale, vendo-se em detalhe todos os seus locais de interesse desde a Abilheirinha, Água da Pala, Cagarouço, Febras e Modorno. Do alto, e para quem já percorreu o trilho para os Carris, torna-se evidente a inclinação deste trilho e dá-se o real valor ao esforço dispensado para o superar.


Alturas de silêncio, tivemos a oportunidade de testemunhar a velocidade e equilíbio das cabras selvagens nos píncaros serranos e o imperial voo das águias raínhas dos céus do Gerês.


No regresso á Portela do Homem o usual e triste espectáculo do Verão no Gerês, lixo, lixo e mais lixo, falta de civismo e estupidez humana q.b.... para além das quatro mulas urrantes que desceram o Vale do Alto Homem...

Ficam algumas fotografias...

Fotografias: © Rui C. Barbosa

8 comentários:

pedro disse...

Boa noite.


Desde já espero que compreendas que nunca fiz o percurso dos carris, pelo que sou ignorante na matéria.
Dado que, pelo que vi neste blog, me pareces (muito) experiente na matéria queria que se possível me desses umas recomendações.

Como disse, já li muito do teu blog, mas como é óbvio não o li todo, pelo que não leves a mal se as respostas às minhas dúvidas se encontrarem em alguns posts que eu possa não ter lido.

Estou a pensar em fazer o trilho, eu mais uma pessoa. Somos pessoas responsáveis que respeitam a natureza e temos intenções de deixar tudo tão ou mais limpo quanto encontrarmos. Respeitamos o património que é a natureza e o PNPG. Quanto a isso não haverá qualquer problema.

No entanto ouvi dizer que o percurso é proibido e que pode haver uma coima.

A pergunta é:
Afinal é ou não proibido?
Há alguma autorização que se possa obter? Se sim onde?
(Já agora, a probabilidade de se ser apanhado é elevada? O que acontece se se for apanhado? Duvido muito que tenham gente a olhar por aquilo...)

Se realmente é proibido (ainda que eu de certa forma perceba o motivo da proibição - nem toda a gente tem o mesmo respeito pelo parque) é uma pena pois eu gostava realmente de fazer o trilho e julgo que proibir todos, inclusive quem o quer percorrer de uma forma responsável, é uma medida péssima.


Portanto o que quero saber é se, na tua experiência, recomendas que façamos ou não o trilho.


Esperando que este comentário longo não te aborreça, pois espero apenas obter ajuda e recomendações de alguém mais experiente, despeço-me.

Nuno Valverde disse...

Caro Rui,
Só recentemente, conheci este blog e escrevo-lhe (sufocadamente enterrado) de Lisboa. As minhas raízes são oriundas do Gerês e é na Serra que deixo, todos os anos, algumas pegadas minhas. Dela apenas tiro registos fotográficos e muitas memórias. Ao percorrer este blog, quase que consigo sentir os ventos frescos que ondulam entre os vales da Serra e os mil e um sons daqueles que a ela verdadeiramente pertencem.

Assisto, tristemente, à sazonal violentação do PNPG pelos turistas mais folclóricos. Este ano, talvez em dose redobrada, atraídos por um qualquer fenómemo televisivo novelesco em que a Serra é usada mais como meio de audiências.
As regras do Parque apenas parecem decorar as tabletas em que se inserem. Sinto que ninguém lhes liga, nem mesmo quem as escreve!
Basta-me dizer que, para muitos (não só alguns) a taxa de passagem pela Mata é entendida como um bilhete de feira popular...

À parte deste desabafo, deixo-lhe um obrigado pelo registo que mantém neste blog. Vale já mais que qualquer guia ou mesmo muito dos livros escritos sobre o PN. E, para quem está longe, é um meio de nos manter um pouco mais próximos.

Já há uns anos que esgotei as estradas marcadas nos mapas. Já percorri alguns dos seus trilhos. Mas é, entre paredes (de cimento e não de granito) que lhe agradeço por me mostrar que, afinal, ainda tenho muito mais para conhecer do PN. Haja tempo, que a saudade não falta!

Mesmo que não seja para breve, espero poder compartilhar consigo um dos muitos trilhos do Gerês.

Abraço, Nuno Valverde.

Rui C. Barbosa disse...

Caro Pedro,

No Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) estão limitadas três zonas de protecção dentro da área do PNPG. A área de protecção total, na qual supostamente ninguém deveria entrar, abrange parte do caminho entre a ponte sobre o Rio Homem e as Minas dos Carris, nomeadamente entre a Abilheirinha e a Ponte das Abrótegas. Assim, a ida aos Carris por este caminho estaria interdita.

No entanto, o que se tem verificado é que o acesso às minas tem sido feito por toda a gente... pelo menos aquela que não pede autorização, pois se pedir autorização o PNPG (ou o ICNB - Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade) simplesmente irá responder que 'segundo o plano de ordenamento do PNPG... blá, blá, blá... não é permitido o acesso'.

As razões que são apontadas são muitas e diferem de quem responde (mesmo dentro das entidades referidas): uns dizem que é por causa da flora, outros da fauna (por exemplo, das cabras selvagens), etc.

De facto, o que tem acontecido é que as pessoas têm caminhado 'livremente' até às Minas dos Carris pelo Vale do Alto Homem sem que nada tenha acontecido, pelo menos a pequenos grupos, ist é três ou quatro pessoas. Em relação a grupos grandes já o caso muda de figura. Tenho conhecimento de grupos autuados por tentarem fazer o trilho mesmo depois do PNPG ter dito que não autorizava.

Em minha opinião pessoal acho que se as pessoas se souberem comportar na montanha, e infelizmente não é o caso da maioria, não deveria haver problema em se fazer o trilho. Obviamnete que há sempre o 'risco' de encontrar tanto os Guardas da Natureza (funcionários do ICNB / PNPG) como os do SEPNA (GNR). Mesmo dentro dos guardas do ICNB/PNPG existem guardas que têm uma acção preventiva e formadora, como também existem aqueles que pensam que a utilização da farda lhes concede uma atitude PIDEsca. Quanto aos guardas do SEPNA não te posso falar por experiência própria pois nunca os encontrei no alto da serra.

Resumindo... é proibido? Sim! Pode acontecer alguma coisa? Talvez, depende de quem encontrares e se encontrares algum dos guardas que falei antes. Tem pessoal a vigiar? Muitíssimo raramente, o PNPG é enorme e não há pessoal para toda a área!

Antes de terminar deixa-me referir uma coisa curiosa. A área que falei anteriormente abrange muitas das lagoas que são frequentadas no Verão por milhares de turistas e a estes nunca ninguém lhes disse que era proibido urem para as lagoas, o que não deixa de ser um contracenso, pois no fundo 99% da porcaria que encontramos no chão é lá deixada por esta gente.

Assim, não tenhas problemas em percorrer o trilho até aos Carris e de desfrutar da fantástica paisagem que o Vale do Homem e a Serra do Gerês nos têm reservado. Se aparecer algum guarda, sorri, dá-lhe uma perto de mão e pensa que ele no fundo não em culpa do que os burocratas e biólogos de secretária fazem.

Um abraço!

Rui C. Barbosa disse...

Caro Nuno!

Obrigado pelo teu excelente comentário ao qual não lhe tro uma vírgula.

Sem dúvida que o Gerês está a ser massacrado por um turismo desordenado e feio, que não respeita nada nem ninguém. Basta passar uns minutos junto da Portela do Homem para se perceber que se entrou num verdadeiro circo desordenado cujos participantes não fazem a mínima ideia onde se encontram. É simplesmente triste.

O blogue pretende ser meso aquilo que disse. Para além de ser uma vista muito pessoal de uma zona que me preenche, é também uma forma de tentar não deixar esquecer o que a Serra do Gerês (e as outras do PNPG) têm de melhor: as suas histórias, paisagens e as suas gentes.

A Serra do Gerês tem sempre algo de novo para nos dar e terei muito gosto em compartilhar umas caminhadas quando o Nuno esteja por estes lados!

Um forte abraço!

MeiaSola disse...

Bom Dia...

Rui ainda doi... Mas como diz o povo, "Mais vale uma mão inchada, do que uma enchada na mão..." LOL

"Eu acho, que tenho quase a certeza", que foi o Rebelo que me empurrou, ele vinha logo atrás de mim... LOL

Bem, brincadeiras à parte, foi uma dia espectacular, pude observar o "velho trilho" das minas de Carris com "outros olhos", só agora me apercebi da inclinação e a extensão do mesmo.

Mais uma vez, deu para ver (infelizmente) a porcaria em que se torna a Portela do Homem por estas alturas, desde lixo (e muito...), carros estacionados junto á ponte (mesmo apesar de ser proibido), pessoas a jantar confortavelmente com as suas mesas e cadeiras em zona proibida. Já para não falar nos grafitis que encontramos pelo caminho, as marcas feitas nas arvores com uma faca ou algo do genero, não esquecendo os 4 cromos que por nós passaram aos gritos...


Pedro, quanto a ti recomendo que vás a Carris por Espanha, pelas "Minas das Sombras".


Abraço a todos e até à próxima caminhada!

Rui C. Barbosa disse...

Foi sem dúvida uma grande caminhada por um trilho fantástico! Voltamos lá para o Inverno!!!

pedro disse...

Muito obrigado pela tua resposta.

Bem, nesse caso como somos só duas pessoas penso que caso apareça alguém, poderão apenas mandar-nos para trás. Mas realmente custa-me a crer que tenham gente a patrulhar aquilo. Mais depressa deviam por guardas ali na Portela do Homem, para apanharem em flagrante gente como o sujeito "da lata para a cabrinha".

Por acaso já frequentei as lagoas da mata da albergaria (claro está, sem pertencer ao grupo dos que fazem da serra seu caixote do lixo) e nem sabia que eram proibidas.

E sim, realmente é triste ver que o PNPG é forçado a aplicar estas medidas, reflexo do fluxo de gente mais "folclórica" (usando o termo bem escolhido pelo Nuno Valverde) sem qualquer respeito e responsabilidade.

Espero bem que a "dose redobrada" de visitantes que o Nuno V. referiu não se verifique, pois uma enchente de gente que quer visitar o Gerês só porque o viu numa telenovela é capaz de fazer grandes estragos.

"Minas das Sombras" nunca tinha ouvido falar mas agradeço a sugestão e como tal vou procurar informação sobre isso.

Obrigado e um grande abraço.

Rui C. Barbosa disse...

Pedro,

As lagoas na Mata da Albergaria não são proibidas, eu refiro-me às lagoas no Rio Homem depois do bosque da Abilheirinha.

Infelizmente o cenário actual no Gerês é mesmo de enchente... de mau turismo e maus turistas.

Quando às Minas das Sombras, são um complexo mineiro contemporãneo das Minas dos Carris mas do lado espanhol. Demora-se quase 1 hora a passar de um complexo para o outro. O trilho não é complicado, mas é necessário ter um bom mapa ou carta militar para se fazer uma boa orientação.