sexta-feira, 14 de agosto de 2009

142... Catalogar os abrigos em Carris

Carris, 14 de Agosto de 2009

Foi finalmente o terminar de um trabalho que havia sido iniciado na Iª Arqueoexpedição às Minas dos Carris que teve lugar entre 25 e 27 de Abril de 2008. Um dos trabalhos levados a cabo foi a catalogação de todos os abrigos de montanha localizados próximo de Carris.

A área tida em conta para este registo está limitada entre o Salto do Lobo, Corga da Carvoeirinha, topo da Lamalonga, Penedo da Saudade e represa de Carris. A presença destes abrigos sempre foi uma das características locais de Carris que mais me intrigou nos últimos anos e a catalogação dos mesmos é apenas um primeiro passo para tentar compreender a finalidade destes abrigos.

Ao mais distraído a resposta à questão "para que servem estes abrigos?" pode parecer simples e a primeira resposta será sem dúvida de que os abrigos seriam usados pelos pastores. Para a resposta mais acertada, mas se tivermos em conta as características do local antes da chegada da exploração mineira, verificamos que ali apenas existia um curral que está situado junto da entrada do complexo mineiro. Por outro lado, seria de esperar a existência de um ou dois abrigos, mas com a catalogação dos 20 abrigos que fiz neste dia, o número total eleva-se a perto de 50 edificações.

É então imperativo colocar a questão "para quê tantos abrigos?" Em primeiro lugar temos de tentar perceber quais as actividades que seriam levadas a cabo na área. Para além da pastorícia, uma actividade socioeconómica importante naquela zona era a produção de carvão e muitos dos abrigos podem ter sido utilizados para abrigar as pessoas que na época se deslocavam para a montanha para produzirem o carvão.

Temos assim já duas actividades que seriam realizadas naquela zona, mas mesmo assim penso não se justificar o elevado número de abrigos. Prestemos então atenção à designação do local, isto 'Carris'. Já em tempos tentei explicar aqui a origem do orónimo 'Carris'. Na altura encontrei duas possíveis explicações para a designação: 1) 'carris' é uma designação de um tipo de pêra do Norte de Portugal - não me parece que a zona seja rica em pereiras e como tal esta explicação foi logo descartada à partida; b) 'carril' pode ser entendido como um trilho de montanha - parece-me uma explicação lógica, pois a zona poderia em tempos ser o local de junção de vários trilhos na montanha.

Mas porquê tantos trilhos naquela zona? Esta área fica na fronteira entre o Minho e Trás-os-Montes, duas regiões marcadamente religiosas, e poderia ser uma zona de passagem de peregrinos tanto para o S. Bento da Porta Aberta como para S. Tiago de Compostela. Isto pode explicar a confluência de muitos trilhos de montanha na zona como pode explicar a existência de muitas edificações que serviam de abrigo aos peregrinos.
Muitos abrigos encontram-se junto de escombreiras e existem também vários na zona do Salto do Lobo, o que me pode levar a concluir que estes podem ter sido utilizados por mineiros que usaram a sua experiência de pastoreio na construção de abrigos de pedra para construírem o seu abrigo no alto da serra ficando assim próximo dos filões que poderiam explorar antes da chegada na extracção mineira em grande escala. O minério extraído por estes mineiros pobres era então vendido à empresa que mantinha assim os seus lucros sem grande infra-estrutura mineira.

Finalmente, alguns dos abrigos podem também ter sido utilizados para o contrabando ou para albergar aqueles que fugiam da polícia política do Estado Novo a caminho da emigração ou do exílio.
...a caminhada. A 142ª visita ás Minas dos Carris correu sem problemas num dia de calor disfarçado pela brisa que soprava na montanha. Neste dia parece ter sido eu o único em Carris onde o silêncio era ensurdecedor, oferecendo assim o perfeito ambiente para o maravilhoso enquadramento paisagístico do local.

Por estar sozinho e pela zona não ter sido utilizada para a pernoita clandestina, mais uma vez fui saudado pelas cabras selvagens que desta vez se encontravam no Penedo da Saudade de onde desapareceram misteriosamente em pouco tempo.

O Sol quente e forte não permitia muito tempo parado e logo após os trabalhos de catalogação iniciei o regresso passando pelo Salto do Lobo. Tinha na ideia me refrescar na Lagoa das Febras e assim fiz. Não havia muita gente por aquelas paragens, mas não houve o 'momento Adão'...

Continuando a descida, e após passar pela Abilheirinha (transformada em esgoto cerebral de algum infeliz) para me abastecer de água fresca, cheguei ao circo do costume em Agosto nas lagoas junto da ponte sobre o Rio Homem. Como um extraterrestre recém chegado do espaço, todos os olhares se voltam para alguém de mochila às costas e queimado pelo Sol... Na Portela do Homem nem vale a pena falar e a única referência vai para alguém que deixou uma prenda para a cabrinha... mas desse falarei em breve...
Fotografias: © Rui C. Barbosa

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá Boa Tarde,
Tenho estado a ver as suas fotos com o meu pai, e ele pede para
informar, que na foto abaixo do tanque, foi a casa aonde os meus avós moraram com as minhas tias e o meu pai.

Na foto do tanque, o meu pai diz ainda que as minhas tias brincavam
junto do tanque e o meu avô tinha uma horta perto desse mesmo tanque.
Se quiser mais informaçõe sobre essa época, por favor contacto-nos

Ana Paula Pereira