O prometido dia sem chuva chegou finalmente e com o objectivo traçado, lá rumei à Serra do Gerês para um passeio pelas suas memórias e lugares escondidos.
Os carreiros não eram novos, já os havia percorrido noutras ocasiões, mas o percurso na sua totalidade foi algo que já queria fazer há alguns meses. Assim, o percurso levou-me por velhos currais das vezeiras geresianas, por paisagens glaciárias, por memórias mineiras e pelos momentos «épicos» de mais uma vez chegar ao píncaro geresiano por excelência, o Pico da Nevosa.
O percurso começou na Corga da Abilheira, largo vale que se vai estreitando até atingir o seu colo superior Entre Caminhos. Por muitas vezes que aqui chegue, é de cortar a respiração a paisagem que se vai elevando do chão à medida que nos aproximamos daquele colo. O olhar abarca desde a sombra do Castanheiro, passando pelos Carris, Nevosa, Compadre, Cornos de Candela e Alto de Bezerral. Lá no fundo a Ribeira da Biduiça junta-se a outros cursos de água e forma o Ribeiro Dola, que se faz escutar despenhando-se no seu leito por entre a penedia. A paisagem está coberta por um manto de nuvens ora mais escuras, ora mais claras, mas que se vai dissipando à medida que o Sol vai tomando conta dos recantos da serra. Aqui, o Gerês enche o peito de ar e exibe-se em toda a sua força.
Volteando para a esquerda, dirijo-me para os Currais da Biduiça com o seu abrigo de pastores junto ao ribeiro. Os campos estão ensopados da chuva dos últimos dias, algo de bom para as pastagens que mais cedo ou mais tarde começarão a ser percorridas pelos gados que agora estão abrigados nas aldeias.
Sigo por velhos carreiros que por vezes desaparecem, não gastos de uso, mas esquecidos na memória. Aqui e ali, as mariolas vão-me fazendo recordar por onde ir. Lembrem-se, as mariolas são úteis se sabemos para onde queremos ir! A Ribeira de Biduiça vai fazendo pequenos lagoachos à medida que me acompanha monte acima. Em pouco tempo passo pelo Curral das Rochas de Matança e ali surje a surpresa de encontrar o velho forno alagado que tantas vezes me havia escapado ao olhar.
A paisagem é toda ela rude como o granito que a compõe, suavizando-se ao olhar dos dias épicos e poéticos. O tosco carreiro vai-me levar por paisagens onde há milénios atrás, os glaciares começaram a moldar a paisagem. Se ao passar ao largo do Compadre é notória a presença das moreias glaciárias, em todo o caminho são fartos os sinais do rodopio dos gelos. Após sair do Curral de Rochas de Matança, o carreiro faz um pequeno 'S' acompanhando o percurso do ribeiro e faz-nos entrar na base do Corgo de Lamelas. Aqui, saltamos o ribeiro em busca de melhor terreno para mais adiante voltar novamente à sua margem direita, enveredando encosta acima na direcção dos Currais das Negras. Na subida, o vislumbre de uma mariola que certamente nos conduzirá ao prado na base de Lamelas, destino de futura incursão geresiana!
A chegada aos Currais das Negras proporcionam o vislumbre das grandes montanhas! As massas de ar que arrastam as nuvens, lambem as encostas graníticas e encima a Garganta das Negras bem como o Penedo da Saudade. Não se consegue ver o limite linear da represa dos Carris, mas em pouco tempo as nuvens dissipam-se e a paisagem torna-se demasiado soberba para ser descrita em palavras. Queria tanto ser poeta!
Após uma curta paragem nas Negras e dissipadas as nuvens (e as dúvidas) que nos impediriam de prosseguir o percurso, enveredamos montanha acima passando ao lado da entrada da Mina da Corga das Negras n.º 1 e junto das escombreiras da Mina da Corga das Negras n.º 2. Já na margem direita da Ribeira das Negras, o sinuoso carreiro vai percorrer a Garganta das Negras e levar-nos até ao colo na base da Nevosa.
Chegando junto dos marcos de fronteira, vira-se à direita e inicia-se o percurso até ao Pico da Nevosa. Apesar de termos um céu com nuvens baixas, o olhar abarcava facilmente os píncaros serranos das outras serras do Parque Nacional. De quando em vez, e açoitadas por um vento forte, as nuvens passavam por nós a grande velocidade, turvando a paisagem.
Era hora de regressar e voltamos aos Currais das Negras pelo mesmo trajecto que havíamos utilizado minutos antes. Depois de um pequeno descanso para retemperar forças, iniciamos o regresso ao ponto de partida, mas desta vez passando ao largo dos Currais de Matança e seguindo parte do carreiro que nos poderia levar ao Castanheiro. Porém, a certa altura voltamos à esquerda e descemos para os Currais da Biduiça, regressando então à Corga da Abilheira.
Distância GPS: 16,0 km (percurso incompleto)
Distância odómetro: 16,9 km (percurso incompleto)
Distância GEarth: 15,8 km (percurso incompleto)
Altitude máxima folheto: Não disponível
Altitude máxima GPS: 1.554 m
Altitude máxima GEarth: 1.516 m
Altitude média GEarth: 1.150 m
Altitude mínima folheto: Não disponível
Altitude mínima GPS: 730 m
Altitude mínima GEarth: 737 m
Duração folheto: Não disponível
Duração jornada (GPS): 7h 17 (percurso incompleto)
Avaliação final (máx. 10): 8,5
Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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