Esta é a segunda de várias histórias sobre o Inverno na Serra do Gerês com particular ênfase nas Minas dos Carris. É possível que já tenha publicado aqui este texto que nos conta a dureza da vida na Serra do Gerês no longínquo ano de 1944 durante um duríssimo Inverno.
As histórias servem também de aviso e conselho para aqueles que nos próximos dias irão demandar as paisagens serranas.
Na transcrição em baixo não foi corrigida a ortografia.
A primeira parte deste artigo pode ser lida em Histórias de Inverno nas Minas dos Carris (I).
A 1 de Março o jornal ‘O Comércio do Porto’ noticiava também o que classificava de “dramática e aflitiva situação” dos mineiros nos Carris.
É dramática e aflitiva a situação de cerca de 200 trabalhadores bloqueados pela neve que, na Serra do Gerez, atingiu cinco metros de altura
Os caminhos estão obstruídos, tornando-se difícil a chegada de socorros ás Minas dos Carris, onde está o maior número de sinistrados, que têm lenha e mantimentos, apenas, para dois ou três dias. De doze homens isolados no lugar do Barraquinho , sem mantimentos e sem lenha para se aquecerem, dois conseguiram juntar-se aos seus colegas nas Minas dos Carris e um ficou sepultado pela neve
GEREZ, 29 – Nas Minas dos Carris, situadas a cerca de 1.500 metros de altitude, a neve bloqueou mais de duzentos trabalhadores.
A direcção das Minas está a empregar todos os esforços para que sejam socorridos e salvos os referidos trabalhadores, tendo pedido o auxílio das corporações de Bombeiros Municipais e Voluntários de Braga e Bombeiros de Vieira do Minho.
Na concessão mineira do Barraquinho, estão perdidos, há três dias, doze homens. A direcção dos Carris também mandou seguir de automóve l, para esse local, um piquete de trabalhadores, que empregará todos os esforços para encontrar os desaparecidos.
BRAGA, 29 – Os Bombeiros Municipais e Voluntários partiram, ao princípio da tarde, para o Gerez, onde vão tomar parte nas tentativas de salvamento de numerosos trabalhadores que estão, desde ontem, bloqueados pela neve.
O grande nevão de que ontem demos notícia, atingiu, no Gerez, proporções extraordinárias. Em alguns sítios – o que parece nunca ter acontecido – a neve mede cinco metros de altura.
Os caminhos ficaram obstruídos por formidáveis muralhas de neve, sendo difícil, portanto, o acesso até junto das minas, que pertencem a Empresa Mineira Lisbonense.
Segundo parece, os sinistrados reuniram-se próximo da cantina e depósitos de lenha, podendo abastecer-se ainda durante dois ou três dias.
O pequeno grupo de doze homens isolado no lugar do Barraquinho não dispõem de mantimentos e lenha. A sua situação é desesperada. Três dos componentes desse grupo, num esforço supremo, tentaram alcançar o Gerez, e, dois deles, exaustos, mais mortos que vivos, conseguiram ver realizados os seus intentos. O outro perdeu-se, ficando sepultado na serra. Chama-se Domingos Pereira e residia, até á pouco tempo, no lugar do Alívio, Soutelo, Vila Verde. Deixa viúva e oito filhos menores.
Fazem-se tentativas arrojadas para socorrer os restantes, e várias colunas de trabalhadores, conduzidas de automóvel, até Ruivães, na estrada Braga – Chaves, tentam atingir, por este lado, subindo a encosta Sul da serra, o lugar onde se julga estarem os desaparecidos.
Os trabalhos de libertação do grupo reunido junto da cantina deve demorar alguns dias.
Texto adaptado de "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês", Rui C. Barbosa - Dezembro de 2013
Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)
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