Esta série de publicações irá mostrar algumas das fotografias do interior das galerias das Minas dos Carris que correspondem à concessão do Salto do Lobo. Algumas destas fotografias já terão surgido no blogue, mas esta é uma série de publicações que irá sequencialmente mostrar essas imagens.
O texto seguinte é retirado do livro "Minas dos Carris - Histórias Mineiras na Serra do Gerês" de Rui C. Barbosa - Dezembro de 2013, e descreve a forma como foi possível fazer o filme que acompanha esta publicação.
"A 18 de Janeiro de 2012 é apresentado no YouTube um filme amador que retrata uma descida pelo velho poço-meste das Minas dos Carris. O vídeo, nascido da imaginação do autor desta obra, representou acima de tudo uma forte vontade de descobrir e de conhecer o nosso passado histórico. Memórias presas numa época amarelecida pelo passar do tempo, a escuridão daquele poço mineiro sempre foi um mistério; como que um véu negro que impedia de ver mais profundamente o que ali se escondia...
Como disse André Gago a quando da apresentação do seu "Rio Homem", a Segunda Guerra Mundial foi para Portugal um acontecimento com um preço muito alto e muito mais duradouro do que muitos podem supor. Na busca de uma vida melhor, dezenas de pessoas procuraram nas serras o sustento para uma parca existência acabando por dar origem a pequenos núcleos mineiros que com o final deste e de conflitos posteriores, ficaram esquecidos na nossa memória como nação. O mesmo aconteceu com as Minas dos Carris...
Na tentativa de saber mais, de tirar a poeira do tempo, surgiu a ideia de se explorar como nunca se tinha explorado. A forma amadora como foram feitas as filmagens deu origem ao filme “Descendo às Minas dos Carris” e ao ímpeto de cada vez querer saber mais, superando as dificuldades que a falta de um título ou de um factor qualquer possa ter incrementado nesta sociedade regulada por uma mediocridade que espezinha a boa qualidade de qualquer um. Gravadas a 1 de Abril de 2007, a ideia inicial do projecto era a de tentar obter algumas imagens do interior de um dos poços mineiros existentes nas Minas dos Carris. Aquele poço mineiro constituiu sempre um mistério e a curiosidade de descobrir o que lá havia só era superada pela noção de segurança e perigo que se deve ter quando nos abeiramos daquele abismo de cerca de 150 metros. Na altura surgiram da nossa várias ideias para a sua concretização, desde fazer descer uma webcam que enviaria imagens através de bluetooth para um computador à superfície, passando por tentar arranjar um sistema automático que nos permitisse guiar uma câmara e ver em pormenor o que aquele poço mineiro nos escondia e até se chegando a pensar em utilizar um mini-helicóptero numa missão quase suicida pelo poço.
Havia muita vontade e imaginação, porém faltavam os meios. Diz-se que a necessidade aguça o engenho e de facto assim foi. Uma tarde de conversa permitiu a criação do projecto que acabou por ser facilitado com a cedência do equipamento de registo de imagem na forma de uma câmara de vídeo não profissional, mas capaz de imagens de alta definição. Porém, o facto de ser uma câmara de vídeo bastante cara, levantava o problema de como a proteger de pedras que pudessem cair ou da água e humidade. Esta última não seria muito problemática pois ao fim e ao cabo o tempo que a câmara passaria no interior do poço não iria implicar qualquer dano aos seus sistemas. Restava o problema de a proteger da água e de como a baixar através do poço. A solução foi encontrada numa pequena e barata caixa de plástico comprada num armazém. A câmara, colocada no seu interior, teria uma abertura numa lateral da caixa através da qual seria projectada a objectiva. No interior da caixa, a câmara era fixada com a ajuda de simples fita aderente.
Um problema que surgiu com a utilização da caixa foi conseguir a sua estabilização durante a descida. Suspensa em quatro pontos, sabia-se que cedo entraria em rotação, pois os quatro pontos de suspensão teriam a origem num único ponto principal de suspensão correspondente ao cabo de descida. A solução seria utilizar um cabo de estabilização que impedisse a rotação da caixa, permitisse a sua estabilização e além disso teria como função extra ser um cabo de segurança que permitiria recuperar a câmara caso acontecesse alguma tragédia. Resolvido o problema da protecção da câmara de vídeo e resolvido o problema da descida, surgiu então um novo problema: como fazer descer? Mais uma vez, o engenho levou à elaboração de um sistema de guincho através do qual iria correr o cabo de suspensão. Fazendo atravessar sobre o poço um cabo mestre que serviria de apoio a uma roldana, seria através desta que iria passar o cabo de suspensão. A roldana era conduzida por um outro cabo que a fazia deslocar para o centro geométrico do buraco! Finalmente, todo o conjunto foi colocado sobre um dispositivo de flutuação... uma bóia de praia que evitaria que a câmara e a caixa afundassem caso encontrassem água na descida.
Munidos de todo o material e de uma equipa técnica composta por cinco pessoas, rumou-se aos Carris. Como é óbvio, e pelas óbvias razões, o projecto não teve o apoio de qualquer entidade oficial, sendo assim um projecto inteiramente privado e financiado por quem o elaborou! Chegados à Serra do Gerês, mais precisamente à Lagoa do Marinho, seguiu-se até aos Carris. Apear de já ser Primavera, era um dia frio e as nuvens para os lados de Pitões das Júnias faziam lembrar os dias de invernia. Chegados ao complexo mineiro procedeu-se à preparação do rudimentar equipamento, montando o sistema de guincho, e preparando a câmara. Estando tudo pronto, iniciou-se uma primeira descida de teste e rapidamente se verificou que a solução de estabilização teria mesmo uma dupla função de segurança. De notar que a câmara iria só à partida filmar um dos lados do poço, isto é o lado que sabia onde existir as galerias. O sistema de estabilização resultou bem, mas somente nos primeiros metros, pois a partir da altura em que o ângulo entre o cabo de suspensão e o cabo de segurança foi nulo, a câmara entrou numa rotação que só iria terminar já no final da filmagem a quando da sua recuperação. Sem saber o que estava a ser filmado, a câmara iria captar e por vezes parar em zonas bastante interessantes. Uma destas paragens permitiu a «descoberta» e posterior exploração de uma abertura de acesso a uma das galerias. Tendo um comprimento limite de entre 70 a 80 metros, acabaríamos por utilizar a totalidade da extensão do cabo, iniciando a sua recolha. À medida que a câmara ia subindo, a separação que ia ocorrendo entre os dois cabos permitiu-nos uma visão de 360º de boa parte do poço levando à «descoberta» de novas galerias. No final, a velocidade de rotação da câmara foi tal que se chegou a temer pela sua segurança, mas felizmente tudo correu pelo melhor e o resultado é o que pode ver em "Descendo às Minas dos Carris"."
Nas publicações seguintes desta série, iremos já descobrir o que se esconde nas galerias das Minas dos Carris.
Como disse André Gago a quando da apresentação do seu "Rio Homem", a Segunda Guerra Mundial foi para Portugal um acontecimento com um preço muito alto e muito mais duradouro do que muitos podem supor. Na busca de uma vida melhor, dezenas de pessoas procuraram nas serras o sustento para uma parca existência acabando por dar origem a pequenos núcleos mineiros que com o final deste e de conflitos posteriores, ficaram esquecidos na nossa memória como nação. O mesmo aconteceu com as Minas dos Carris...
Na tentativa de saber mais, de tirar a poeira do tempo, surgiu a ideia de se explorar como nunca se tinha explorado. A forma amadora como foram feitas as filmagens deu origem ao filme “Descendo às Minas dos Carris” e ao ímpeto de cada vez querer saber mais, superando as dificuldades que a falta de um título ou de um factor qualquer possa ter incrementado nesta sociedade regulada por uma mediocridade que espezinha a boa qualidade de qualquer um. Gravadas a 1 de Abril de 2007, a ideia inicial do projecto era a de tentar obter algumas imagens do interior de um dos poços mineiros existentes nas Minas dos Carris. Aquele poço mineiro constituiu sempre um mistério e a curiosidade de descobrir o que lá havia só era superada pela noção de segurança e perigo que se deve ter quando nos abeiramos daquele abismo de cerca de 150 metros. Na altura surgiram da nossa várias ideias para a sua concretização, desde fazer descer uma webcam que enviaria imagens através de bluetooth para um computador à superfície, passando por tentar arranjar um sistema automático que nos permitisse guiar uma câmara e ver em pormenor o que aquele poço mineiro nos escondia e até se chegando a pensar em utilizar um mini-helicóptero numa missão quase suicida pelo poço.
Havia muita vontade e imaginação, porém faltavam os meios. Diz-se que a necessidade aguça o engenho e de facto assim foi. Uma tarde de conversa permitiu a criação do projecto que acabou por ser facilitado com a cedência do equipamento de registo de imagem na forma de uma câmara de vídeo não profissional, mas capaz de imagens de alta definição. Porém, o facto de ser uma câmara de vídeo bastante cara, levantava o problema de como a proteger de pedras que pudessem cair ou da água e humidade. Esta última não seria muito problemática pois ao fim e ao cabo o tempo que a câmara passaria no interior do poço não iria implicar qualquer dano aos seus sistemas. Restava o problema de a proteger da água e de como a baixar através do poço. A solução foi encontrada numa pequena e barata caixa de plástico comprada num armazém. A câmara, colocada no seu interior, teria uma abertura numa lateral da caixa através da qual seria projectada a objectiva. No interior da caixa, a câmara era fixada com a ajuda de simples fita aderente.
Munidos de todo o material e de uma equipa técnica composta por cinco pessoas, rumou-se aos Carris. Como é óbvio, e pelas óbvias razões, o projecto não teve o apoio de qualquer entidade oficial, sendo assim um projecto inteiramente privado e financiado por quem o elaborou! Chegados à Serra do Gerês, mais precisamente à Lagoa do Marinho, seguiu-se até aos Carris. Apear de já ser Primavera, era um dia frio e as nuvens para os lados de Pitões das Júnias faziam lembrar os dias de invernia. Chegados ao complexo mineiro procedeu-se à preparação do rudimentar equipamento, montando o sistema de guincho, e preparando a câmara. Estando tudo pronto, iniciou-se uma primeira descida de teste e rapidamente se verificou que a solução de estabilização teria mesmo uma dupla função de segurança. De notar que a câmara iria só à partida filmar um dos lados do poço, isto é o lado que sabia onde existir as galerias. O sistema de estabilização resultou bem, mas somente nos primeiros metros, pois a partir da altura em que o ângulo entre o cabo de suspensão e o cabo de segurança foi nulo, a câmara entrou numa rotação que só iria terminar já no final da filmagem a quando da sua recuperação. Sem saber o que estava a ser filmado, a câmara iria captar e por vezes parar em zonas bastante interessantes. Uma destas paragens permitiu a «descoberta» e posterior exploração de uma abertura de acesso a uma das galerias. Tendo um comprimento limite de entre 70 a 80 metros, acabaríamos por utilizar a totalidade da extensão do cabo, iniciando a sua recolha. À medida que a câmara ia subindo, a separação que ia ocorrendo entre os dois cabos permitiu-nos uma visão de 360º de boa parte do poço levando à «descoberta» de novas galerias. No final, a velocidade de rotação da câmara foi tal que se chegou a temer pela sua segurança, mas felizmente tudo correu pelo melhor e o resultado é o que pode ver em "Descendo às Minas dos Carris"."
Nas publicações seguintes desta série, iremos já descobrir o que se esconde nas galerias das Minas dos Carris.
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