Borrageiro / Rocalva, 7 de Agosto de 2009
Esta caminhada tinha dois objectivos muito simples: passar pelo Borrageiro e fotografar a peculiar forma granítica tão usada há muitas décadas atrás nos velhos postais da Serra do Gerês, e atingir a Rocalva, lugar de abrigo de pastores mas também de paisagens únicas na Serra do Gerês.
Começamos a caminhar a partir da Portela de Leonte por entre a chuva ligeira que caía e o nevoeiro que enquadrava a antiga casa das Matas Nacionais num cenário já nosso conhecido, mas um pouco estranho para um mês de Agosto. Por outro lado, isto só é de estranhar a quem não conhece o Gerês que nos habitua a estes estados de alma da noite para o dia. A subida em direcção ao Mourô fez calma e sincopada. Por entre os véus que cobriam a encosta iam surgindo enquadramentos dignos de Stoker e vultos Tolkianos faziam-nos transportar para uma Terra Média encoberta de neblinas eternas.
Mais uma vez passamos a varanda que nos permitiria observar a imponência do Pé de Cabril e as distâncias até à Portela do Homem e à Serra Amarela, sem que tivéssemos a oportunidade de o fazer... um ecrã cinzento turvava a visão com uma mística neblina que se iam assentando sobre o granito. O mesmo cenário encontramos no Mourô; ao longe o som de uma queda de água rompia o silêncio do pequeno abrigo dos pastores e da grande mariola no prado. Depois do abastecimento de água prosseguimos, ladeando as voltas da serra até chegarmos ao alto do vale sobranceiro ao Camalhão e à Freza. Aqui, as nuvens davam já tréguas e o olhar abarcava já alguns quilómetros permitindo ver o nosso primeiro objectivo (a umas centenas de metros dali) e parte do vale que se estende até ao Teixeira. Dali a uns minutos estavamos já na Chã da Fonte e um pouco mais à frente flectimos o trajecto seguindo velhas mariolas até atingirmos o Borrageiro. Este é um altar granítico a partir do qual se tem uma vista única sobre a Serra do Gerês. Um píncaro granítico referido por muitos decanos escritores naturalistas como o ponto mais alto da Serra do Gerês somente ultrapassado pelos Carris. Tal é, como é óbvio, errado pois o Pico da Nevosa com os seus 1534 metros de altitude domina as alturas geresianas.
Aqui, encontramos o característico arco rochoso que tornou esta plenitude granítica tão famosa para os villegiateurs do Gerês. Quem acede ao Borrageiro vindo da antena de comunicação situada nas redondezas, facilmente perde este lugar. Mas é certamente um local que merece uma visita atenta para os montanhistas que se acercam a este ponto que nos permite uma visão quase total da Serra do Gerês. Após muitas fotografias seguimos em direcção à antena de comunicações do Borrageiro e depois começamos a descer para a Rocalva. Por esta altura o nevoeiro já se havia levantado, permitindo ao olhar abarcar as grandes distâncias do Gerês.
Descendo em direcção à Rocalva pelo pequeno vale guardado pela Roca Negra e pela Meda de Rocalva. São as formas que o granito toma que por vezes nos transportam para mundos imaginários e paisagens únicas em Portugal. Rocalva é um pequeno paraíso no meio de um céu que é o Gerês. Ainda me recordo da primeira vez que estive em Rocalva e das sensações que tomaram conta de mim quando pela primeira vez vi aquele cenário. Simplesmente magnífico.
Chegados a Rocalva foi tempo de um descanso, de um almoço temperano e de mais uma sessão de fotografias naturalistas. O local está muito bem cuidado e o abrigo muito bem preservado por parte das gentes de Fafião. Algo que seria também feito no Conho e nos Prados da Messe.
Deixando para trás a Rocalva após mais uma incursão do nevoeiro, seguimos em direcção à Mourisca e ao Conho, passando por um pequeno vale onde corre um dos muitos afluentes do Rio da Touça. Chegamos ao Conho e fizemos um abastecimento de água. O Conho é um pequeno prado facilmente reconhecível pela presença de um grande bloco granítico que em tempos idos ter-se-á desprendido da montanha e que foi arrastado pelos movimentos glaciários até ao local onde hoje se encontra. Uma triste característica do Conho é a grande quantidade de vidro em forma de garrafas que lá se encontra (talvez seja este um centro de reciclagem, mas duvido...). Já anteriormente havia notado esta grande quantidade de garrafas que certamente não só somente para ali trazidas por quem por lá passa... A passagem pelo Conho e posterior ida aos Prados da Messe acabou por ser um bónus extra nesta caminhada.
Após o Conho descemos ao Ribeiro do Porto das Vacas e passados alguns minutos entravamos nos domínios dos Prados da Messe ladeado o Curral da Pedra. Os Prados da Messe impressionam pela sua beleza geresiana, local único em toda a Serra do Gerês. Rodeado por muralhas graníticas, conferem-lhe um aspecto singular. O antigo abrigo de pastores foi no ano 2000 aumentado para um segundo abrigo utilizando-se as pedras das ruínas antigo posto da guarda fiscal ali existente. Ao cenário falta-lhe um lago onde nos possamos banhar, mas o local está dotado de uma bela nascente de água fresca (com esfregão e detergente se necessário...). O banho pode ser feito nas águas correntes do ribeiro que lá passa por perto. Dos Prados da Messe inicia-se uma travessia magnífica até às Minas do Borrageiro, Lagoas do Marinho, Cocões do Concelinho ou Outeiro do Pássaro, mas são caminhadas para outras alturas.
Era chegada a hora do regresso utilizando o mesmo trilho até ao Conho. A surpresa e a fantástica recompensa iria surgir pouco depois de passarmos pelo Ribeiro do Porto da Vacas quando avistamos uma rapina a ensinar as artes da caça ao seu juvenil. São estes curtos momentos que merecem um dia completo na montanha. Uma visão única e um momento único neste dia.
Passados o Conho seguimos em direcção à Lomba de Pau, Lama de Borrageiros e descemos para a Chã da Fonte, Mourô (já devidamente composto por uma manada de gado bovino) e finalmente Portela de Leonte (já devidamente composto por... o já famoso grupo de cobradores de dízimos).
E foi assim... ficam algumas das imagens do dia...
Fotografias: © Rui C. Barbosa
1 comentário:
Fotos muito bonitas.
Parabens Rui
Um abraço
Manel António
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