segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Memórias das minas... Parque Nacional dos Picos de Europa...

Sotama (Tama / Potes - Picos da Europa), 6 de Julho de 2009

Em conversa com o Miguel (http://painhomiguel.spaces.live.com/) chegamos à conclusão que por muito que não queiramos, há uma comparação que acaba por ser inevitável. Este blogue tem como tema principal as Minas dos Carris. Intensamente exploradas durante os anos 40 e 50, as Minas dos carris são quase consideradas como uma 'zonna non grata' pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês. Questiono-me se sempre foi assim?

Nunca se terá considerado recuperar um ou outro edifício mineiro, seja para utilização dos serviços do Parque Nacional, pelos visitantes e praticantes de montanhismo ou pedestrianismo, ou para a criação de um museu. Pura e simplesmente se deixou degradar um espólio a todos os níveis rico em história. História de uma época que marcou a Serra do Gerês e as suas gentes. Foi fonte de riqueza instantânea para pouco, de trabalho árduo para muitos... quase todos...

No entanto, não houve uma cabeça bem formada que fosse capaz de fazer isso, isto é preservar um pouco dessa história. Olhou-se para o extremismo ambientalista e ninguém foi capaz de conciliar ambos os aspectos. Tanto conhecimento para ficar fechado numa burocrática e ineficaz secretária. Renegou-se os Carris, renegou-se a história talvez na esperança, vã, de que todos nós acabássemos por esquecer que ali viveu gente. Talvez seja por isso que o Parque Nacional da Peneda-Gerês nada saiba da história das Minas dos Carris e tão pouco saiba do estado actual das suas instalações, fonte de poluição de uma zona que tanto quer preservar, isolando.

Mas para quê esta conversa. Como disso no princípio, a comparação é inevitável. O Centro de Visitantes de Sotama "...é um edifício singular onde se pretende fundir a tradição e a modernidade. A tradição na utilização de materiais comuns na arquitectura típica da zona, como são a madeira e a pedra, cuja presença nos recorda os dois principais ecossistemas do Parque Nacional (dos Picos da Europa): a alta montanha e o bosque. A modernidade, na utilização de linha e ângulos rectos, na superposição de um volume prismático sobre uma plataforma pétrea de forma trapezoidal, e na plena acessibilidade a todo o edifício." Neste edifício podemos visitar e rever os aspectos mais importantes do Parque Nacional dos Picos da Europa.

Foi interior deste centro de visitantes que me deparei com um facto que me fez pensar ainda mais do porquê de o Parque Nacional da Peneda-Gerês renegar a história das Minas dos Carris. Numa secção do centro de visitantes de Sotama estava a representação do interior de uma mina com um pequeno vagão, alguns instrumentos mineiros e um vídeo no qual se fazia a descrição dos aspectos mineiros que marcaram a paisagem, a história daquelas montanhas e por consequência daquelas gentes. Não se negou a história, não se deixou tudo esquecer.

Numa outra secção mais ampla lá estavam: as fotografias dos principais empresários que deram origem à explorações mineiras, documentos históricos, artefactos mineiros e fotografias, muitas fotografias.

Em Portugal fazemos por esquecer a nossa História. O Parque Nacional da Peneda-Gerês não tece a capacidade de preservar o passado recente, deixou-o apodrecer, cair aos pedaços, deixar esquecer, isolar... Talvez agora seja demasiado tarde...

Fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

1 comentário:

João Pereira disse...

Realmente, é uma pena o que se tem feito no Parque Nacional de Peneda-Gerês. Ainda há algumas semanas estive nos Picos de Europa, mas no lado asturiano, perto do Santuário de Covadonga. Também aí existem, junto dos lagos, alguns túneis de antigas minas que exploravam minérios naquela zona, e encontram-se agora minimamente recuperadas e até incluidas no circuito recomendado pelo parque à volta dos lagos. É uma pena que não seja assim nos Carris, nunca lá estive, mas percebo que é uma pena não se recuperar parte das minas e dar a aprender alguma coisa sobre a actividade mineira no Gerês. No centro de interpretação dos Picos de Europa localizado nos lagos, várias vezes é abordada a actividade mineira, não é esquecida.

Porquê fechar e isolar aquela zona com intenção de protegê-la? As pessoas para entenderem o porquê dessa protecção precisam de conhecer o que devem proteger, e assim é natural que não compreendam. As minas são parte integrante do parque nacional, e todo o vale do Alto Homem, ao menos devia-se proporcionar a possibilidade de circular livremente por certos caminhos no vale, ou criar algum tipo de alojamento de montanha nas minas, recuperando um ou outro edifício, por exemplo. Assim as pessoas compreendiam a zona e o que têm de proteger.

Saudações, João Pereira