quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Recordando os edifícios das Minas dos Carris (V)

Tentar saber qual a utilização e objectivo de cada edifício nas Minas dos Carris foi sempre um dos meus objectivos desde que pela primeira vez completei aquela caminhada em finais dos anos 80. Já nessa altura a destruição do património em Carris era por demais evidente fruto dos poucos anos de vandalismo, mas também o reflexo de um país cujas condições obrigavam a actos de quase sobrevivência.

Tenho referenciados a maior parte dos edifícios das Minas dos Carris. Porém, existem ainda alguns edifícios sobre os quais pouco se sabe, nomeadamente o seu ano de construção e qual a sua utilidade. Dentro do grupo destes edifícios encontram-se as quatro casas que o visitante pode observar à sua esquerda ao chegar às Minas dos Carris através do Vale do Alto Homem. Outra interrogação prende-se sobre a utilidade de uma base de alvenaria que existe entre a Cantina e o Dormitório, e finalmente qual o ano de construção e objectivo de cada edifício naquela que eu chamo de Zona Industrial de Carris onde se encontram os locais de lavagem e processamento de minério.

Qualquer informação que tenham sobre a origem, plantas e construção destes edifícios é sempre bem vinda.

Os edifícios que inicialmente existiam em Carris em princípios dos anos 40 do século passado, deveriam ser edifícios rudimentares de pedra muito semelhantes aos abrigos de pastores que ainda hoje vemos pela Serra do Gerês. Provavelmente, e com uma procura atenta, ainda poderemos encontrar vestígios desses edifícios que tiveram um papel importante para os primeiros exploradores mineiros que povoaram os altos serranos naqueles anos longínquos.

Com a passagem dos registos mineiros para a posse da Sociedade Mineiras dos Castelos Lda., tornava-se necessária a construção de edifícios que pudessem suportar uma exploração intensiva de volfrâmio na concessão do Salto do Lobo. Assim, a 2 de Março de 1944 esta sociedade propõe a construção dos primeiros edifícios modernos naquela zona.

Esta terá sido a primeira grande vaga de construções levadas a cabo naquela zona criando um conjunto de instalações que permitiria o início da exploração intensiva. Posteriormente estes edifícios seriam alargados permitindo assim uma ampliação dos trabalhos mineiros.

Estes edifícios acessórios da exploração mineira incluíam uma Casa de Habitação para o Pessoal Superior da Mina, um Bloco de Casas para Casais, um Escritório e Cantina, uma Enfermaria e um Balneário.

A Casa de Habitação para o Pessoal Superior da Mina era constituída por dois corpos de edifícios distintos sendo um destinado somente à cozinha e dispensa e o outro sendo utilizado para habitação. Este constava de uma sala de jantar, sete quartos e uma casa de banho com retrete (!). A ligação entre os dois edifícios era feita por uma passarela. O edifício utilizado para cozinha era feito em alvenaria ordinária e o telhado era de duas águas com cobertura de lusalite. Por seu lado, a habitação era de alvenaria somente até ao nível do pavimento, tendo as paredes acima deste nível uma armação de madeira com revestimento exterior de lusalite e interior de madeira. A cobertura era de duas águas e feita de lusalite.

O Bloco de Casas para Casais era composto por um edifício de paredes de alvenaria ordinária e coberto a lusalite. Tinha um comprimento de 38,5 metros e uma largura de 5,30 metros. Este edifício poderia albergar sete casais, contendo sete quartos, uma sala de estar com um comprimento de 7,40 metros e uma largura de 4,50 metros, e um compartimento com um comprimento de 4,50 metros e uma largura de 1,90 metros destinado a balneário.

O Escritório e a Cantina era composto de um único pavimento com um comprimento de 29,50 metros e uma largura de 7,00 metros. O edifício era destinado a escritórios, gabinete técnico, gabinete de administração, depósito de minério, cantina e respectivo escritório. O edifício serviria provavelmente de sede da Sociedade Mineira dos Castelos e mais tarde da Sociedade das Minas do Gerês Lda. Parte deste edifício era construído em alvenaria e outra parte era de madeira, sendo a cobertura de duas águas feita em lusalite.

A Enfermaria era um edifício de paredes de madeira revestidas exteriormente a lusalite. Possuía uma cobertura de duas águas em lusalite. Tinha um comprimento de 7,10 metros e uma largura de 4,20 metros e estava dividido em três compartimentos (enfermaria, quarto e hall de entrada). O compartimento destinado à enfermaria tinha um comprimento de 4,30 metros e uma largura de 3,90 metros; o quarto tinha um comprimento de 2,40 metros e uma largura de 1,70 metros e o hall de entrada tinha um comprimento de 2,40 metros e uma largura de 2,00 metros. Esta construção encontrava-se assente em alicerces de alvenaria e o chão era de betonilha.
O Balneário constava de um único pavimento com um comprimento de 8,20 metros e uma largura de 4,50 metros, contendo lavabos, chuveiros e WC. As paredes eram de alvenaria ordinária e a sua cobertura era de duas águas composta de lusalite. O esgoto da instalação sanitária era feito para uma fossa de alvenaria revestida a cimento com um comprimento, largura e altura de 1,50 metros. Esta fossa dista 2,00 metros do edifício.

Fotografias: © Rui C. Barbosa

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