Continuo a reprodução dos textos do Dr. Ricardo Jorge com os quais pretendia em 1891 traçar uma história das Caldas do Gerês. Estes textos foram publicados nesse ano na obra "Caldas do Gerez - Guia Thermal" e são uma primeira aproximação, que chamarei de académica, para um traçado histórico da vila termal.
Para manter o rigor do texto, decidi não o adaptar ao português actual mantendo assim as características da nossa língua mãe em finais do Século XIX.
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As luctas politicas e o novo regime prejudicaram o Geres, afugentando a aristocracia dos quatro costados, a farda dos capitães-maiores e o burel dos frades bernardos. Nessa epoca tormentosa teve ao menos a boa fortuna da impagável visita d'um medico superior, para alli acossado pelos azares da lucta liberal. Foi o dr. José Pinto Rebello de Carvalho, que se acoitou no Gerez em 28, depois da triste jornada do Belfast, e lá regressou em 35 e 36 para delir nas caldas os seus padecimentos rheumaticos.
Medico dos mais illustrados do seu tempo, Rebello de Carvalho era um geologista eminente, um erudito naturalista, e um apreciavel litterato e poeta. A sua Noticia topographica e physica do Gerez e das aguas thermaes (1848), padrão das altas qualidades do sei selecto espirito, constitue uma soberba monographia, como só saberia fazel-a um hydrologista de cunho revestido d'um sabio. Dados historicos, descripção topographica, geognosia e flora gereziana, genesa das aguas thermaes, de tudo nos dá sapiente lição. De contraste com as riquezas naturaes resaltam as miserias das caldas, severamente estygmatisadas pelo generoso medico.
Creador da hydrologia scientifica do Gerez, opera a primeira analyse chimica das aguas, summaria é certo, mas de consciencia e justa; reconhece o seu tipo hydrothermal, acareando-se com as aguas similares do estrangeiro e sugeitando-as ao criterio da melhor sciencia do seu tempo. Indica-as com empenho para o rheumatismo e nevroses, cahindo no senão d'esquercer-se do seu prestimo para as molestias do figado, já então reconhecido, como lh'o aponta o seu critico, o professor João Ferreira.
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Fotografia: © Rui C. Barbosa
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